sábado, 31 de julho de 2010

The Beatles - Uma história alternativa

Esta semana celebram-se os 50 anos dos Beatles, banda mítica e fundamental da história do pop-rock do século XX. Este livro pretende ser, não sem polémica, um contributo para uma releitura (alternativa) da história da música popular (com enfoque particular no rock) desde o início do século XX à década de 70. Os Beatles são particularmente focados nesta obra, na qual o seu autor, Elijah Wald, acusa o quarteto de Liverpool de ter construído e destruído toda uma mitologia do rock, as polémicas à volta das drogas, mulheres e outros excessos, explicando o sucesso da banda em comparação com o insucesso de outros músicos igualmente talentosos (para além de outros tópicos analisados).
O livro tem recolhido os mais rasgados elogios da imprensa internacional especializada, e até Tom Waits, tão pouco dado a comentários a discos ou a livros, disse isto a propósito de "How The Beatles Destroyed Rock'n'Roll: "I couldn't put it down. It nailed me to the wall, not bad for a grand sweeping in-depth exploration of American music with not one mention of myself. Wald's book is suave, soulful, ebullient and will blow out your speakers."
Mais informação aqui.

M.I.A. e os clones

O Ípsilon de sexta-feira passada tem na capa a controversa M.I.A., responsável por um dos mais controversos videoclips dos últimos anos (comentado neste post). A artista vai actuar ao vivo no Festival Sudoeste no próximo dia 5 de Agosto.
M.I.A. apresentou ao vivo o incendiário tema "Born Free" (que parte de um sample dos Suicide) no programa "Late Show" de David Letterman, no passado dia 13 de Julho. A forma como o fez é que foi deveras original e única: primeiro, porque um dos elementos dos Suicide, Martin Rev, (que eu já tive a oportunidade de entrevistar, ler aqui), estava ao leme dos teclados; segundo, porque em palco não havia uma M.I.A., mas sim dez! Dez clones da cantora que executavam a mesma performance, gerando uma espécie de bizarra ilusão de óptica . A páginas tantas, nem se percebe quem é a artista original e quem são os clones. Uma ideia inédita que prova a visão original de espectáculo de M.I.A.
Agora resta esperar se no Festival Sudoeste também se vai fazer rodear destas dez réplicas.

sexta-feira, 30 de julho de 2010

Ouvir os filmes

E se em vez de "vermos" os filmes, "ouvíssemos" os filmes? A partir deste pressuposto, este livro "Hearing the Movies: Music and Sound in Film History", pretende esclarecer de que forma as imagens do cinema se interligam com a banda sonora, a sonoplastia e os diálogos, de forma a alcançar uma linguagem artisticamente coerente. Para tal, os autores recorrem a uma grande variedade de exemplos, ilustrações e comentários sobre a complexidade da música e do som na estética cinematográfica.


O artista e o seu contexto

Esta é uma experiência quase ready-made à Duchamp: retirar do contexto formal de uma sala de concerto um violinista famoso e consagrado e colocá-lo a tocar, anonimamente, numa estação de metro. Para quê? Para perceber que a valorização artística que qualquer pessoa faz de um determinado fenómeno ou acto depende, e muito, do contexto em que este ocorre. O vídeo em baixo descreve-se em poucas palavras: alguém entra na estação do metro de Washington, vestindo jeans, camisa e boné, encosta-se próximo à entrada, tira o violino da caixa e começa a tocar com entusiasmo para a multidão que passa por ali, na hora de ponta matinal. Como quase sempre acontece, os transeuntes ignoraram a interpretação violinística do músico durante 45 minutos de actuação
O interessante vem agora: o músico que tocava não era nenhum músico de 3ª categoria a tentar sacar umas moedas para comprar um Big Mac. Era, simplesmente, aquele que é considerado como um dos melhores violinistas mundiais: Joshua Bell, executando peças musicais consagradas, num instrumento raríssimo e valiosíssimo, um esplendoroso Stradivarius de 1713, estimado em mais de 3 milhões de dólares.
Alguns dias antes, Bell tinha tocado no Symphony Hall de Boston, onde os melhores lugares custam a bagatela de 1000 dólares. Esta iniciativa foi realizada pelo jornal The Washington Post e a intenção era a de lançar um debate sobre três tópicos intimamente ligados: valor, contexto e arte. O Washington Post concluiu que o virtuoso violinista Joshua Bell era uma obra de arte sem moldura. Um artefacto de luxo sem etiqueta de marca. Talvez. As convenções sociais ligadas à apreciação estética são orientadas para dar mais valor ao contexto do que ao conteúdo e à forma. Repare-se:

O que gostaria era de ver uma experiência ao "contrário": um músico amador e sem currículo a tocar com uma grande orquestra numa grande instituição consagrada à fruição erudita das elites bem pensantes. O contexto estava definido, a arte bem enquadrada. E o valor? Dependeria dos dois primeiros pressupostos? Pois...

Ideias novas e ideias velhas


"Não percebo porque é que as pessoas têm medo das novas ideias. Eu tenho medo é das velhas."
John Cage

quinta-feira, 29 de julho de 2010

O assassino e "Citizen Kane"

O alegado autor do triplo homicídio, Francisco Leitão, vivia numa espécie de mundo da fantasia, no qual cabiam poderes imaginários e um castelo feito à medida e imagem de... Charels Foster Kane. Segundo a edição de hoje do Correio da Manhã, o homicida inspirou-se na mansão do protagonista do filme "Citizen Kane" de Orson Welles para construir o seu castelo (na imagem).
O "Rei dos Gnomos", Francisco Leitão, terá visto o célebre filme de Welles há 5 anos e ficou impressionado com a grandiosidade da mansão e da respectiva decoração, pelo que tentou imitá-la. Até no nome: "Xanadu". Não acredito que Francisco Leitão seja um cinéfilo inveterado ao ponto de querer imitar a casa de um filme de que gostasse. Fê-lo apenas porque terá uma personalidade desequilibrada.
Agora imaginem se, em vez da mansão de Citizen Kane, o assassino se tivesse inspirado na casa de Pee Wee Herman (do filme homónimo de Tim Burton). Seria ainda mais "creepy":

quarta-feira, 28 de julho de 2010

O discurso

Charlie Chaplin ("O Grande Ditador", 1940 ) e Adolf Hitler (Nuremberga, 1934)
Discurso final de Hynkel (Chaplin):
"O caminho da vida pode ser o da liberdade e da beleza, porém, seguimos por outro caminho. A cobiça envenenou a alma dos homens, levantou no mundo as muralhas do ódio e tem-nos feito marchar a passo de ganso para a miséria e os morticínios. Criámos a época da produção veloz, mas sentimo-nos enclausurados dentro dela. A máquina, que produz em grande escala, tem provocado a escassez. Os nossos conhecimentos tornaram-nos cépticos; a nossa inteligência, empedernidos e cruéis. Pensamos em demasia e sentimos muito pouco. Mais do que máquinas, precisamos de humanidade; mais do que de inteligência, precisamos de afeição e doçura!"

Young - Jarmusch

Raramente uma guitarra soou tão bem num filme como neste "Dead Man" (1995) de Jim Jarmusch. E a guitarra é dessa grande referência chamada Neil Young. Esta colaboração Young - Jarmusch é das mais frutíferas do cinema contemporâneo.

Momentos e Imagens - 67


Woody Allen e Carla Bruni, esta terça-feira no centro de Paris, a rodar o novo filme do realizador, intitulado "Midnight in Paris".

terça-feira, 27 de julho de 2010

Béla Tarr - um realizador único


Se me perguntarem qual o melhor realizador vivo em actividade, muito provavelmente responderia: Béla Tarr. No panorama do cinema de autor contemporâneo, Béla Tarr é o realizador mais talentoso e original. Mais do que Sokurov, do que Kaurismaki, do que Nuri Ceylan, o cineasta húngaro é o esteta por excelência, o visionário que desenvolveu uma linguagem visual própria (só filma a preto e branco), que abordou a deriva existencial do homem moderno em filmes fascinantes. Os seus filmes são como poemas visuais em permanente estado de graça. Personagens cruas e paisagens desoladoras, histórias minimalistas e místicas (na senda da inevitável referência Tarkovski), fotografia absorvente e intrigante. Depuração plástica a toda a prova. Tarr é um estilista da imagem que joga com a luz e as trevas. E trabalha os movimentos de câmara com uma perícia e minúcia como mais ninguém faz hoje.
Béla Tarr filma como se não existisse câmara, como se o olhar do espectador fosse a própria câmara. A forma como compõe a extraordinária "mise-en-scène" dos seus filmes e o modo como opera os longos movimentos de câmara (tem planos-sequência de 10 minutos) são estímulos para os sentidos. Gus Van Sant é um admirador do cineasta realizou o magnífico filme "Gerry" a pensar em Béla Tarr (não só este filme, como também "Elephant"). Conheci o seu trabalho com uma edição em DVD de dois dos seus mais célebres filmes: "Damnation" (1988) e "Werckmeister Harmonies" (2000), à venda na Amazon.com.
Béla Tarr é um dos realizadores mais radicais na opção pelo recurso do plano-sequência. Impressiona pela maneira como os seus filmes progridem como se se tratasse de um transe colectivo, que contamina os actores, a encenação e, por consequência, o espectador, desde que este se deixe envolver pelas histórias que se transformam em adágios visuais a preto e branco.
A obra de Tarr mais ambiciosa, bela, negra e épica é o filme "Sátántangó" ("Satan's Tango"), com sete horas de duração. Um espantoso fresco moderno sobre a vida conturbada de uma família rural húngara. Não é um cinema fácil e de aceitação imediata, sobretudo para os espectadores habituados à linguagem "videoclip" do cinema de Hollywood (ou de grande parte do cinema de Hollywood). O cinema de Béla Tarr é um cinema de estilo e austero, de muitas subtilezas visuais, de um ritmo pausado e de grande exigência formal, que solicita do espectador uma atenção e assimilação especiais.
O seu último filme, estreado no festival de Cannes 2008, baseado num conto do escritor policial George Simenon, é o magnífico "The Man From London" (é o único filme em DVD de Tarr à venda em Portugal) sobe o qual escrevi neste post.
Béla Tarr é um assumido "outsider", não tem site oficial, recusa entrevistas de jornalistas, não faz campanhas de promoção dos seus filmes. É um genial artista solitário e misantropo, como tantas das suas personagens dos seus filmes. Dedica-se de corpo e alma à sua arte.
De seguida, uma sequência do filme "The Man From London", das poucas sequências disponíveis no YouTube deste filme. É um único plano-sequência de 2'30''. Repare-se na mestria como a câmara se move e filma os personagens. Quem mais filma desta maneira em todo o mundo? Mais: em comparação do que escrevi a propósito da música no filme "Inception", constate-se a forma como a música é empregue nesta sequência: brilhantismo e total originalidade.

segunda-feira, 26 de julho de 2010

Inception = Deception


Como começar? Talvez dizendo que, quanto a mim, o único filme verdadeiramente extraordinário de Chris Nolan é "Memento". Não achei deslumbrante "The Dark Knight", apenas um bom filme de entretenimento que contou com a memorável interpretação de Heath Ledger. "Insomnia" e "The Prestige" foram filmes que gostei, mas não foram suficientes para ver em Nolan um novo Hitchcock como alguma imprensa quer fazer querer. Nolan é um realizador talentoso, sem dúvida, sabe mexer-se entre vários géneros cinematográficos, cultiva um gosto pelos tons sombrios da mente humana (tema que me agrada), sabe imprimir ritmo à montagem, mas ainda assim não é Scorsese quem quer (muito menos Hitchcock).
"Inception" desiludiu-me. Ponto.
Tanto alarido à volta dos (alegados) revolucionários efeitos visuais e nada que tivesse espantado por aí além. O filme conta com duas ou três cenas de efeitos especiais mais impactantes - Paris a dobrar-se, as explosões no meio dos protagonistas impávidos, as sequências com gravidade zero... Parece que Nolan iria, à semelhança do primeiro "Matrix", marcar a história do cinema com inovadoras sequências de acção. Nada mais errado. E por falar em acção: a segunda parte do filme, está demasiado recheada de cenas de acção puramente banais e repletas de clichés (excessiva cedência comercial?): tiroteios, perseguição automóvel, explosões, mais tiroteios, luta corpo a corpo... Para alguns estes momentos podem funcionar como catarse, excitação, empolgamento. Para mim foram... aborrecidos e previsíveis. Nolan ainda não atingiu a perfeição de um Michael Mann no que se refere a como filmar insuperáveis cenas de acção.
Quanto ao argumento, tido por muitos como complexo (a exigir um segundo visionamento) é, quanto a mim, um debitar de lugares-comuns sobre o consciente e subconsciente da mente, filosofar sobre o real e o virtual, uma abordagem freudiana-via-Ficção-Científica sobre os enigmas eternos do desejo, da culpa, do medo, do controlo da vontade humana, da manipulação. O filme aborda esse mundo enigmático e fascinante do sonho, mas mesmo sem a sofisticação dos efeitos especiais do filme de Nolan, há mais surrealismo, fantasia, mundos paralelos, exploração do subconsciente razão vs. onírico num qualquer filme de Luis Buñuel do que neste "Inception".
Parece óbvio que o conceito "Matrix" serviu de paradigma a Nolan para o argumento do filme: a "Alegoria da Caverna" de Platão - a dicotomia realidade - mundo das sombras (ou dos sonhos) - é esmiuçada sem grandes surpresas. Veja-se até a similitude entre a forma como, em "Matrix", Morpheus explica a Neo, nas ruas da cidade, a diferença entre a realidade e o mundo alternativo e a forma como DiCaprio explica a Ellen Page quase o mesmo nas ruas de Paris. Os pressupostos são quase idênticos. O argumento tem pontas soltas, elementos sem explicação, mesmo no contexto da fantasia dos sonhos (não quero aprofundar esta matéria para não causa "spoilers"). Leonardo DiCaprio parece repetir, em piloto automático, o papel que tivera, um ano antes, em "Shutter Island" (sem a vertente paranóica do personagem do filme de Scorsese).
Ellen Page não tem maturidade e experiência para um papel tão exigente - nunca convenceu como a grande arquitecta dos sonhos. Até Mariion Cotillard parece subaproveitada num papel previsível que se adivinhava ser o cerne do problema de toda a história (engraçado o facto da música "La Vie en Rose" servir de mote para a acção, quando foi esta actriz francesa que encarnou Edith Piaf há uns anos).
Outro aspecto que me desagrada nos filmes de Cristopher Nolan e que está bem patente em "The Dark Knight" e neste "Inception": o excesso de música. Gosto muito de música para cinema e até considero que a partitura de Hans Zimmer é expressiva e com força dramática. Só que 90% (se não for mesmo 95%) da duração do filme têm música. E o excesso de música num filme como este acaba por ser contraproducente. Sobretudo na última meia hora de película, a música quase que se sobrepõe à acção e aos diálogos, sem dar descanso ao espectador, sem dar importância aos sons do meio ambiente do filme (sonoplastia), ao silêncio, tão importante quanto a banda sonora. À força de o realizador querer incutir emoção e dramatismo com a omnipresença da música, acaba, quanto a mim, a produzir um efeito contrário: indiferença, previsibilidade e cansaço. Senti-me mesmo esgotado no final do filme (e não era só porque o filme acabou às 3 da manhã), sensação idêntica à que senti no final do "The Dark Knight".
Jorge Mourinha, do Público, refere que Nolan será dos poucos cineastas a trabalhar no "mainstream" de Hollywood com marca de autor. Percebo o teor desta afirmação, mas custa-me a acreditar nela. Nolan é um realizador competente, um artífice com créditos firmados, tem ideias interessantes para os seus filmes, mas "Inception" não me arrebatou nem me fez convencer que estamos na presença de um "novo" Hitchcock (pelos motivos apontados). A grandiosidade operática em jeito de thriller revelou-se, afinal, uma opereta superficial-arty sem resultados artísticos irrefutáveis. "Inception" valoriza o lado frio, matemático e cerebral da narrativa, em detrimento da emoção, da fruição, do prazer estético.
E mais surpreendente, para mim, é constatar que "Inception" esteja já no terceiro lugar da lista dos 250 melhores filmes de sempre do Imdb.com. Um exagero apenas com justificação no reino dos sonhos mais profundos...

domingo, 25 de julho de 2010

As curtas-metragens de David Lynch


David Lynch é, por excelência, o mestre do cinema bizarro e o responsável por algumas das mais ousadas cinematografias contemporâneas.
Autor de obras tão marcantes como “Eraserhead”, “O Homem Elefante”, “Um Coração Selvagem”, “Lost Highway”, “Mulholland Drive”, ou "Inland Empire", Lynch tem marcado a história do cinema com propostas visuais tão perturbantes quanto enigmáticas. A sua visão estética baseia-se num aturado sentido surrealista e perverso da realidade, em que o lado negro, o sonho, a violência e o amor grotesco se encadeiam de forma sublime. Mas isto já todos sabem (ou quase).
O que talvez nem todos saibam é que David Lynch começou por fazer filmes logo após ter concluído o curso de cinema, com a realização de diversas curtas-metragens que já continham todos os ingredientes futuros da sua arte visual, assim como os temas essenciais da sua obra. “The Grandmother”, por exemplo, de 1970, é uma curta-metragem que mais parece saída de uma tela de Francis Bacon. Uma experiência audiovisual inquietante e macabra (misto de imagem real e animação e no qual o som tem um papel criativo preponderante) e que se refere ao início de carreira de um autor maior do cinema contemporâneo (ainda antes do marcante "Eraserhead").
Quem estiver interessado pode comprar (como eu fiz) o DVD (com outras 3 curtas-metragens do mesmo período) "The Short Films of David Lynch" na Amazon.
Já agora, um excerto:

Ainda a propósito dos filmes de Woody Allen

Quem faz filmes a um ritmo de um por ano como Woody Allen, acaba, tendencialmente, por comprometer a qualidade e a regularidade criativas. Para mim, o último grande filme de Allen da última década é, sem dúvida, o espantoso “Match Point”, um retrato negríssimo da alma humana, da casualidade da vida, da imprevisibilidade do amor e dos efeitos hediondos da ambição revestida de obsessão.
Quase, quase ao mesmo nível de “Match Point” está o filme “O Sonho de Cassandra” (2007), outro fresco brutal sobre as paixões humanas extremas que levam à morte, à destruição das relações, ao desabar do sonho de dar sentido à existência (“Scoop”, de 2006 é já uma comédia mediana com parcos rasgos de criatividade assinaláveis).
Os dilemas morais e existenciais, as angústias e medos interiores que perpassam por estes dois filmes da carreira de Woody Allen tomam proporções emocionais insuportáveis. Para os personagens e para os espectadores. São duas obras de um pessimismo pragmático (longe das coordenadas do humor “nonsense” a que nos habituou Allen) que olham a condição humana com uma frieza perturbante e cínica, pejada de pecados infames, sem apaziguamentos de qualquer ordem moral, sem esperança nem redenção.
Woody Allen já tinha mostrado ao mundo um filme que espelhava esta visão desesperada da moral ambígua, quando realizou o sublime filme “Crimes e Escapadelas” (1989), com um Martin Landau estarrecedor. É como se autores pessimistas como Schopenhauer, Emile Cioran e Thomas Bernard contaminassem o espírito de Woody Allen - tirando os momentos em que faz comédias mais "light" como os seus recentes filmes.
“Match Point” e “O Sonho de Cassandra” podem ser considerados um díptico e, se juntarmos o referido “Crimes e Escapadelas”, teremos a configuração de um portentoso tríptico. É a veia mais lúgubre e arrasadora de Woody Allen, que destila crimes sem sentido, mortes por “obrigação moral”, ódios mundanos e metafísicos, desnorte existencial e pitadas de um subtil humor negro. São obras que ficarão para a história do cinema como referências absolutas de um cinema de autor extremamente pessoal, que desenvolveu uma abordagem temática própria. Uma temática com preocupações filosóficas e morais que belisca (se é que não queima) o conceito que temos de natureza humana, de esperança na vida, no mundo e no homem. É o Woody Allen mais exitencialista que se possa imaginar, sem esperança de redenção nem fé no que quer que seja, com um olhar clínico sobre o desejo, a morte, o medo, a consciência, o pecado, o perdão.
Era este Woody Allen que gostaria de ver mais vezes.

Discos que mudam uma vida - 113


Sonic Youth - "Goo" (1990)

sábado, 24 de julho de 2010

Woody Allen descontente com os seus filmes


Durante uma conversa com o The Times, Woody Allen revelou que não está feliz com o seu trabalho:
“Eu consegui uma oportunidade que as pessoas matariam para ter. Eu tenho liberdade artística plena. Outros realizadores não conseguem isso durante as suas vidas. Eu tenho filmes bem pobres se virmos as oportunidades que eu tive. De 40 filmes eu deveria ter 30 obras-primas, 8 nobres falhas e 2 vergonhas, mas não foi assim que funcionou. Muitos dos meus filmes são interessantes, mas nada que se compare com os filmes de cineastas que fizeram belas coisas - Kurosawa, Bergman, Fellini, Buñuel, Truffaut."
No final, o realizador mencionou os 6 filmes preferidos da sua filmografia: "Purple Rose of Cairo", "Match Point", "Bullets Over Broadway", "Zelig", "Husbands and Wives", e "Vicky Cristina Barcelona".
Agora pergunto eu: E "Annie Hall"? E "Manhattan"? E "Hannah and Her Sisters"?
E "Crimes & Misdemeanors"? E "Broadway Danny Rose"? E...
Ou é modéstia em demasia, ou Woody Allen está a ficar, humm, senil...

As segundas-feiras ao sol


Na cidade onde vivo vão ser despedidos 350 trabalhadores de uma fábrica. Já tinham sido dispensados, há alguns meses atrás, outras centenas de operários e funcionários. Estes homens e mulheres, vão passar, infelizmente, os próximos dias, semanas, meses e até anos, "ao sol à segunda-feira".
É esta a triste analogia que faço entre a vida real dos desempregados e o tema central do filme espanhol "Los Lunes al Sol" (2002) de Fernando Léon de Aranoa (Javier Bardem é um dos protagonistas). Um filme realista e frontal sobre o drama social de homens de meia-idade afectados, brutal e inesperadamente, pelo estigma do desemprego, enfrentando um futuro angustiante de incerteza e precariedade.
Uma película que olha de forma impiedosa sobre o actual panorama da crise económica que grassa na nossa sociedade. Mais informação aqui.

sexta-feira, 23 de julho de 2010

O "Uivo" de Ginsberg no cinema


Allen Ginsberg, Jack Kerouac e William S. Burroughs, incendiaram a cultura dos anos 50 e 60 com a "Beat Generation", ao som de jazz e literatura "libertária".
O poema de Ginsberg, "Howl - Uivo", (considerado por muitos obsceno e pornográfico - pode ser lido aqui) foi o livro de poesia mais vendido da história dos EUA, tendo vendido mais de 1 milhão de exemplares em pouco tempo. "Howl" foi também um enorme grito de revolta de uma geração assumidamente insurrecta e ávida de novas experiências (artísticas e existenciais), imbuída de festas hedonistas repletas de sexo, música jazz e aventuras deambulatórias pela geografia norte-americana. Juntamente com "Naked Lunch" de William S. Burroughs e "On The Road" de Jack Kerouac, "Howl" completaria a trilogia da contracultura da Geração Beat.
Bob Dylan, Jim Morrison, Lou Reed, Leonard Cohen entre muitos outros músicos, foram sempre fãs incondicionais da poesia de Allen Ginsberg. E até os portugueses Mão Morta partiram do poema "Uivo" para conceberem o seu álbum "Nus" (2004). Depois de contaminar a literatura, a música, a poesia e as artes plásticas, era uma questão de tempo até que a vida e obra do poeta beat fossem transpostas para o universo da Sétima Arte.
Rob Epsteins e Jeffrey Friedman, mais conhecidos por documentários, levaram Ginsberg ao grande ecrã, com o actor James Franco no papel do poeta. O filme, intitulado "Howl", começa no momento em que Ginsberg é julgado no tribunal de São Francisco por causa da sua controversa obra. Pelo meio, consta que o filme - a estrear em Setembro - relata as desventuras de Ginsberg com os seus amigos escritores homossexuais e todo o ambiente de contracultura que se vivia naqueles efeverscentes anos.
Na imagem da esquerda, Allen Ginsberg, na direita, James Franco como Ginsberg.
Trailer do filme "Howl":

quinta-feira, 22 de julho de 2010

A "Doutrina do Choque"

Naomi Klein é uma jornalista que obteve sucesso mundial com o livro "No Logo - O Poder das Marcas", uma perturbante denúncia em forma de livro, sobre o poder comercial das marcas no mundo globalizado, a retórica propagandística das agências de publicidade e os seus lucros obscenos.
Naomi Klein identifica no consumidor um mero portador de código de barras, cego pelo poder sugestivo das marcas e da publicidade, inerte e passivo perante a agressividade da sociedade consumista. "No Logo" era um livro pessimista sobre uma sociedade doente e envenenada com as falsas promessas das empresas económicas mundiais. Uma sociedade que expia os seus pecados através de outros pecados, numa espiral de decadência na qual os políticos têm grande parte da responsabilidade.
A jornalista e escritora lançou o seu segundo livro, também controverso, também denunciador: "A Doutrina do Choque". Klein defende que este livro desmonta e identifica os mecanismos segundo os quais as grande potências mundiais e os grandes interesses económicos conseguem manipular a sociedade de modo a atingir os seus próprios objectivos políticos e económicos. Não poderia ser mais apropriado face à crise financeira e económica mundial vivida nos últimos dois anos.
A "doutrina do choque" é, para Naomi Klein, uma espécie de filosofia política e económica que sustenta que a melhor oportunidade para impor as ideias radicais da economia global é no período posterior ao de um grande choque. Esse choque pode ser uma catástrofe económica (como a actual recessão económica global). Pode ser um desastre natural (como um terramoto ou o furacão Katrina). Pode ser um ataque terrorista (como os que ocorreram nos EUA e na Inglaterra). Pode ser uma guerra (como o Iraque e o Afeganistão)...
O objectivo dos grupos de grande poderio económico mundial é que estas crises, esses desastres, esses choques abrandem a sociedade. Desorientem as pessoas e as deixem numa espécie de adormecimento latente de forma a não questionarem as decisões dos políticos e a estrutura do capitalismo global.
Como complemento do seu livro, Naomi Klein convidou o realizador mexicano Alfonso Cuarón, autor do muito interessante filme "Filhos do Homem" (2006) para realizar um curto documentário (6 incisivos minutos) que pretende fazer uma síntese ideológica das teses defendidas em "A Doutrina do Choque". O filme começa nas técnicas de choque dos prisioneiros da CIA para acabar nas regras nefastas do mercado económico ultra-liberal à escala global.
Vale a pena ver para reflectir em que raio de mundo estamos.
A Terapia do Choque, realização de Alfonso Cuarón:

Já não se fazem capas assim

Como uma vez escrevi aqui a propósito das capas de disco dos Scorpions, nunca perceberei a mensagem e a estética das capas de certos discos hard 'n' heavy.



quarta-feira, 21 de julho de 2010

Fotografias de decadência urbana


Chama-se "Urban Ghosts" e o título não poderia ser mais apropriado.
Trata-se de um site cujo objectivo é revelar o lado mais decadente e ignóbil das cidades modernas: edifícios e lugares completamente abandonados, à mercê da intempérie, da degradação paulatina e do total esquecimento colectivo. Lugares que outrora tiveram dinamismo e actividade, mas que agora já nem a memória preservam.
São espaços fantasmas, arquitectura morta, cemitérios de tempos idos: hospitais, cinemas, fábricas, edifícios públicos e privados, bairros inteiros, estações de metro, túneis, hotéis, estradas, teatros, igrejas, jardins, escolas, etc. A decadência urbana exposta sem espinhas com magníficas fotografias que denunciam a morte lenta da nossa sociedade.


"The Shawshank Redemption"


Sabia que o realizador Bob Reiner esteve para realizar "The Shawshank Redemption"? Para tal contava com os actores Tom Cruise e Harrison Ford nos principais papéis. E que Alfonso Freeman, filho de Morgan Freeman, participou no mesmo filme? Estas e mais dez curiosidades sobre "The Shawshank Redemption" aqui.

terça-feira, 20 de julho de 2010

A Lanterna Mágica de Bergman


Gosto muito de auto-biografias. Sobretudo de escritores, músicos, realizadores e actores. No capítulo das auto-biografias de realizadores, há muitos anos li uma auto-biografia que me impressionou particularmente: "O Meu Último Suspiro", de Luís Buñuel, escrita apenas 3 anos antes da sua morte (já falei dela aqui no blogue). A auto-biografia de Charlie Chaplin, Marlon Brandon e Andrei Tarkovski (este último não é bem no registo de auto-biografia convencional) também constituem fascinantes e derradeiros testemunhos de vida e de percurso artístico.
A última auto-biografia interessante que li é a do cineasta sueco Ingmar Bergman, intitulada "Lanterna Mágica". E surpreendeu-me a vários níveis: muitíssimo bem escrito, "Lanterna Mágica" ultrapassa o habitual registo de apontamentos biográficos, provando que uma auto-biografia pode ser, também, uma inequívoca obra literária. Ingmar Bergman escreve de forma extremamente sóbria e pragmática, com ironia e finura estilística. Quase como se fosse um romance.
Para meu espanto, aborda pouco a sua carreira como cineasta, interessando-se mais por contar o seu irregular (mas nem por isso menos importante) percurso como encenador de teatro. E escreve, sem pejo nem constrangimentos, sobre os mais diversos acontecimentos da sua vida: desde os amores e desamores com as mulheres, a primeira vez que se masturbou (!), as inúmeras doenças que o atormentaram desde cedo (enxaquecas, cólicas renais...), a relação difícil com o pai autoritário, a sua admiração juvenil por Hitler, a sua visão da crítica de teatro, a sua forte ligação com os actores com quem trabalhava, os altos e baixos da sua carreira (despedimentos, humilhações, prémios, consagrações...), etc.
Um verdadeiro manual para conhecer, muito mais a fundo, a obra e a vida de um dos grandes realizadores de cinema do século XX.
PS - Este livro está à venda, a um preço de promoção, na Fnac.

segunda-feira, 19 de julho de 2010

Filmes num minuto


É deveras divertido. E, a seu modo, esclarecedor. Refiro-me ao à série "Movies in a Minute". O conceito é simples: no tempo exacto de um minuto, é apresentada a história (quase nunca à letra) de um filme famoso em animação. Há uma grande variedade de títulos abordados (dependendo da perspectiva: arrasados): "O Sexto Sentido", "Rambo", O Senhor dos Anéis", "Matrix", "Kill Bill", "Die Hard", "E.T.", etc.
O humor sarcástico e demolidor, a acutilante síntese do enredo de cada filme, o trabalho de voz dos personagens, a sonoplastia e o estilo eficaz de animação, fazem desta série uma divertida abordagem ao mundo do cinema. Como os filmes duram apenas 1 minutos, no final a legenda que surge é qualquer coisa do género: "Poupou 1h e 47 minutos" (com o filme "Sixth Sense").
Uma outra forma de ver filmes!

domingo, 18 de julho de 2010

Facebook, Fincher e Reznor


Em Outubro estreia o novo filme do realizador David Fincher, "The Social Network", sobre o fundador da rede social Facebook, Mark Zuckerberg (na imagem). Há dias surgiu um novo trailer que revela algo mais do que poderá ser esta nova película do autor de "Zodiac" e "Se7en".
Se à partida a ideia de uma longa-metragem sobre uma rede social da internet poderia parecer algo fútil e sem substância dramática, a verdade é que, vendo o novo trailer e lendo algumas informações complementares, o filme de Fincher pode confirmar-se como um interessante e sugestivo filme.
Para já tem a segurança e mestria da realização e direcção de actores, já comprovadíssima, de David Fincher. Depois, o tema acaba por ter potencial para a construção dramática que um bom filme deve conter. Consta-se que o filme não é apenas sobre a história do surgimento da rede Facebook. É muito mais do que isso. É também uma metáfora sobre o papel da tecnologia e da comunicação global na era moderna, afectando assim (para o bem e para o mal) as próprias relações humanas e o entendimento do mundo actual.
Particularmente interessante é a escolha da música para este filme. O trailer é acompanhado pela versão "Creep" (dos Radiohead) pela mão do grupo coral feminino Scala & Kolacny Brothers (este grupo belga é conhecido pelas versões "a cappella" de temas pop e rock dos U2, Nirvana, Depeche Mode, Lou Reed, Muse, etc). Mais relevante, neste capítulo da música do filme, é que Trent Reznor, dos Nine Inch Nails, é o compositor da banda sonora original. Reznor já tinha colaborado nas bandas sonoras dos filmes "Lost Highway" e "Natural Born Killers", mas apenas como consultor.
Neste projecto de Fincher, Reznor tem um papel bem mais criativo na composição musical. O próprio músico avisa, no site oficial dos NIN: "Speaking of the film... it's really fucking good. And dark!".
Enquanto o filme não chega, fiquemos com as sugestivas imagens do trailer acompanhadas com a versão coral de "Creep":

"Faust" de Sokurov


Tenho um amigo que trabalha há 10 anos em animação 3D e efeitos visuais para publicidade, televisão e cinema. Começou a trabalhar em Londres, agora está na Finlândia. Fez trabalhos para a FIFA, Coca-cola, MTV, Diesel, Ubisoft, BBC, The Guardian, etc.
Estando em férias em Portugal, ontem estive com ele e perguntei-lhe em que é que estava a trabalhar. Para minha (agradável) surpresa, disse-me que a sua equipa criativa da empresa na qual trabalha, acabou de fazer a pós-produção do próximo filme (a estrear brevemente) do russo Alexander Sokurov.
O filme tem por título "Faust", baseado no célebre conto alemão no qual um homem vende a alma ao diabo em troca de sabedoria (e que Murnau adaptou ao cinema, magistralmente, em 1926). O meu amigo explicou-me, inclsuive, que tipo de efeitos visuais Sokurov pediu para o filme.
Moral: fiquei muito contente por saber que um amigo trabalha ao mais alto nível na criação de animação 3D e efeitos visuais para cinema, e logo com um dos mais importantes realizadores da actualidade.

sábado, 17 de julho de 2010

Discos que mudam uma vida - 112


Tom Waits - "Swordfishtrombones" (1983)

Um Chaplin desconhecido


Esta imagem pertence a um filme que se julgava perdido de Charlie Chaplin. Tem por título "A Thief Catcher", é uma curta-metragem de apenas 10 minutos e data de 1914. Nem os historiadores e biógrafos da obra do comediante inglês sabiam da sua existência. E como surgiu só agora ao mundo esta revelação?
Segundo o jornal Telegraph, um historiador de cinema norte-americano, de nome Paul Gierucki, comprou uma caixa com velhos filmes da Keystone numa feira de antiguidades de Michigan. O dito historiador julgava que se tratavam de filmes vulgares e já conhecidos da série de comédia burlesca "Keystone Cops" (muito popular no período do cinema mudo). Por isso só ao fim de alguns meses é que Paul Gierucki visionou as velharias, quando se surpreendeu ao ver Charlie Chaplin num filme que nunca constou da sua filmografia oficial.
Há dias de sorte...

sexta-feira, 16 de julho de 2010

Melhor do que os títulos originais

Estes títulos dizem mais sobre os respectivos filmes do que os verdadeiros e originais:







Uma música das profundezas da alma


Se há música em contacto directo com a divindade, essa música é a dos monges (monks) budistas tibetanos. De todas as tradições musicais do mundo (world music), a música tradicional do Tibete é aquela que exerce, quanto a mim, um maior poder de fascínio e emoção. Um fascínio quase mágico.
Nunca me esquecerei, há muitos anos, quando ouvi pela primeira vez a música ritual de uma orquestra tibetana. O canto gutural tântrico dos monges, capazes de emitirem dois a três tons diferentes ao mesmo tempo (chamado canto diafónico), os espantosos instrumentos de sopro e os ritmos das percussões repetitivas (pratos, címbalos e pequenos tambores) fazem desta música uma experiência no limite do sensorial, do religioso (mesmo para quem não é crente). A cultura tibetana refere que os monges que conseguem cantar determinados cantos de maior complexidade harmónica, são aqueles que já alcançaram um nível de pureza espiritual mais elevado. Uma música das profundezas da alma.
Um dos grupos que mais tem feito para a divulgação da arte musical tibetana são os Gyuto Monks, que têm percorrido o mundo com as suas actuações de grande impacto musical e místico. Philip Glass, um budista assumido, soube como ninguém apreender a linguagem da música tibetana para o excelente filme "Kundun" (1997) de Martin Scorsese, tendo composto uma banda sonora de impressionante envolvência emocional.
Recordemos o trailer:

Filmes maus... bons



Há filmes tão maus, tão maus, mas tão maus, que acabam por se tornar... bons. Bons numa certa acepção de culto por objectos cinematográficos bizarros e totalmente mal concebidos, na esteira de um Ed Wood dos tempos modernos.
Nesta lista, não sei se os realizadores tinham, ou não, intenção clara de fazer um filme sério e profissional. Mas a verdade é que, vendo os respectivos trailers, confirma-se a mediocridade ridícula e embaraçosa (e às vezes divertida) destes filmes. Um "must" para cinéfilos, portanto.

quarta-feira, 14 de julho de 2010

Sitges 2010


Quem goste de cinema e tiver férias em Outubro e esteja a pensar passar uns dias em Barcelona, eis uma óptima sugestão: assistir à 43ª edição do Festival Internacional de Cinema Fantástico de Sitges (Catalunha), que decorre entre 7 e 17 de Outubro.
Para além de ser um dos mais prestigiados festivais do mundo no domínio do fantástico e do terror, Sitges 2010 vai contar com uma programação muito interessante: aproveitando o 30º aniversário da estreia do clássico "The Shining", a organização vai prestar uma especial homenagem a esta obra-prima de Stanley Kubrick, com documentários, conferências e outras iniciativas paralelas (o cartaz do festival é inspirado na célebre imagem das inquietantes gémeas do Overlook Hotel). O filme de Kubrick vai ser exibido num cópia digital e com mais 30 minutos de metragem do que a versão conhecida.
O festival vai também recordar os 25 anos da trilogia "Back to the Future" e os 50 anos de outro filme de terror seminal: "Psycho" de Alfred Hitchcock. Só estas razões seriam suficientes para fazer já as malas...

terça-feira, 13 de julho de 2010

O som no cinema de Tarkovski


"In the 'The Sacrifice' there is no music only the S:t Matthew Passion at the beginning and the end. There is this woman's voice and the Japanese flute. Which is why all the other sounds functioned as music instead. So it all grow into something quite natural."
Estas palavras pertencem a Owe Svensson, editor de som sueco que trabalhou com o realizador russo Andrei Tarkovski no seu último filme, "O Sacrifício" (1986). É sabido que Tarkovski era um perfeccionista a todos os níveis da arte cinematográfica: realização, fotografia, montagem, interpretação, som e música. Neste último capítulo, a edição de som e a música (banda sonora original ou adaptada), o cineasta dedicava uma atenção muito especial. Para os seus filmes alternou a composição original do compositor Eduard Artemiev (o primeiro músico a compor música electrónica para filmes russos, em 1963) e composições clássicas de Bach, Haendel, Beethoven, entre outros.
Na sua última obra, "O Sacrifício", que contou com o extraordinário trabalho de fotografia do já desaparecido director Sven Nykvist (colaborador de Ingmar Bergman), Tarkovski utilizou apenas excerto da obra "Paixão Segundo São Mateus" de Bach e uma melodia de uma flauta japonesa - sem contar com o sempre minucioso trabalho de sonoplastia.
Owe Svensson, citado no início, foi o responsável pelo som deste filme de Tarkovski e nesta interessante entrevista explica como foi trabalhar com o realizador russo, quais foram os critérios artísticos envolvidos e como Tarkovski interpretava a importância do som no (seu) cinema.