sexta-feira, 31 de dezembro de 2010

Clássicos do Cinema em BD para Pessoas com Pressa #3

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Três homens - 307 anos



Estes três homens perfazem, juntos, um total de 307 anos de idade. Três homens cuja envergadura artística e humana perdurará décadas. Três homens que nasceram nos anos inimaginavelmente longínquos de 1907 e 1908.
Na entrada da segunda década do século XXI, estas três personalidades não só continuam vivas como activas profissionalmente:
- Manoel de Oliveira tem 102 anos, cineasta de renome mundial com projectos para os próximos 4 anos (como gosta de referir o próprio).
- Óscar Niemeyer, o único com 103 anos cumpridos, continua a trabalhar afanosamente nos seus projectos arquitectónicos vanguardistas (o último dos quais em Espanha).
- Elliott Carter, já viveu 102 primaveras, é um compositor consagradíssimo de música erudita contemporânea e continua a viajar pelo mundo a mostrar a sua arte.
2011 está aí. E estes homens, estes profissionais e artistas, não se reformaram nem se acomodaram por causa da idade avançada. Continuam a ter vontade de viver, revelando ao mundo novos projectos de vida e de trabalho para este ano que começa e outros que hão-devir.
Afinal, quem disse que o futuro é apenas reservado aos jovens?

quinta-feira, 30 de dezembro de 2010

A distribuição do cinema em Portugal

João Lopes, motivado por um mail de um leitor do seu blogue Sound + Vision, abordou uma questão pertinente sobre a distribuição do filme de animação "O Mágico" de Sylvain Chomet. Basicamente, a questão (ou o problema) reside no simples facto de que o referido filme só se encontrar em exibição em Lisboa e no Porto (e em apenas uma sala).
Ou seja, a pergunta levantada pelo leitor faz sentido: "se os filmes não vão ser vistos pela maioria das pessoas, para quê fazer-lhes publicidade?". João Lopes corrobora esta preocupação questionando - com total legitimidade - o que fazem os agentes envolvidos no sistema de distribuição cinematográfica para conseguir público para os filmes.
Na realidade, parece-me uma verdadeira aberração que só duas ou três salas do país exibam determinados filmes (e não apenas este de Chomet, porque a lógica da distribuição de cinema comercial americano é a inversa: massificação por todos o país e por todas as salas possíveis - com os centros comerciais à cabeça).
Na lista dos melhores filmes do suplemento Ípsilon do jornal Público, reparei num pormenor esclarecedor: 6 ou 7 títulos referenciados (em 10) tiveram unicamente exibição comercial em Lisboa (eventualmente também no Porto). Ou seja, para o Público, a maioria dos melhores filmes do ano foram vistos por uma pequeníssima percentagem de espectadores (os privilegiados das duas grandes cidades portuguesas). Paradoxos difíceis de explicar.
Perante este facto, pergunto: e o resto do país? Um cinéfilo de Bragança ou de Beja tem de se deslocar ao Porto ou a Lisboa para ver um simples filme? É assim com esta deficitária distribuição de cinema de autor que se combate a pirataria? Pelo contrário, só a incrementa. Por isso é que, no meu caso especial, não podendo ver o filme "O Mágico" numa sala de cinema de Lisboa ou do Porto, o procuro na internet.
Dir-me-ão os puristas que não é a mesma coisa. E serei o primeiro a concordar. Claro que não é a mesma coisa. A prioridade para ver um filme é sempre a sala escura. Mas a verdade é prefiro mil vezes ver esse filme que não encontro na sala gravado num DVD ou até num ficheiro avi do que, pura a simplesmente, não o poder ver de todo por falta de oportunidade.
Talvez seja por isso que, ainda há dias, a França chumbou uma proposta de lei que punia a pirataria de filmes e de música.
Acredito que o aceso livre ao conhecimento, à informação e à cultura é um bem mais importante do que os pressupostos e interesses economicistas e comerciais que regem o sistema capitalista que tantas injustiças dissemina por esse mundo fora.

Kubik - o videoclip

O meu projecto musical, Kubik, terá um terceiro disco editado em 2011.
Para já, fica aqui o videoclip do tema de apresentação do álbum "Psicotic Jazz Hall". E como não podia deixar de ser, há uma série de referências cinéfilas neste trabalho:

Joy Division ao peito


No último verão cruzei-me na rua com um miúdo que vestia uma t-shirt dos Joy Division igualzinha a esta. Não tinha mais de 16 ou 17 anos, exactamente a idade com que eu me tornei fanático do grupo de Ian Curtis e que envergava, de igual modo, as t-shirts da mítica banda de Manchester.
Há anos e anos que não vejo ninguém vestido com uma t-shirt de um grupo de que gosto e, especialmente, dos Joy Division. E mais especialmente ainda, por se tratar de um adolescente, e não de um trintão saudosista das bandas de que gostava quando jovem. Nos anos 80 havia o culto das t-shirts das bandas preferidas. E havia t-shirts dos grupos mais estranhos e obscuros. Era como que um ritual de identificação à volta dos gostos musicais cuja representação visual era sustentada, de forma orgulhosa e altiva, pelas inevitáveis t-shirts.
Era assim com a comunidade de amantes de rock alternativo, como era para a de música experimental ou para o grupo de fãs de death-metal. De há uns bons anos a esta parte, parece-me que este fenómeno se esbateu sobremaneira (menos nos jovens que gostam de metal). Os rituais de identificação da cultura juvenil assumiram outros códigos na era da tecnologia digital, talvez mais voláteis e abstractos e, por isso, menos identitários e duradouros.
Claro que o "hype" à volta do filme "Control" de Anton Corbijn e do documentário "Joy Division" de Grant Gee promoveram a banda de Ian Curtis como nunca antes acontecera (recentemente, o filme "(500) Days With Summer" também promoveu a banda com o protagonista envergando uma t-shirt igual a esta).
Mas há uma grande diferença entre a experiência de conhecer a música de "Closer" hoje ou a de ter conhecido em meados dos anos 80, quando ainda se faziam sentir os despojos estéticos da geração pós-Manchester.
Seja como for, confesso que gostei de ver o tal miúdo envergar Joy Division ao peito. Só espero é que fosse por gostar mesmo da música e não por questões meramente estéticas. Fico sempre com esta dúvida desde que perguntei a uma jovem que ostentava uma mala com a figura de Jack Skellington se gostava do filme "Nigthmare Before Christmas" e me respondeu que não sabia o que isso era...

Playtime #37

A solução: "Badlands" (1973) - Terrence Malick
Quem descobriu: João Palhares e Álvaro Martins

quarta-feira, 29 de dezembro de 2010

Tarkovski, 24 anos depois

Faz hoje 24 anos que Andrei Tarkovski morreu.
Que melhor forma de homenagear o cineasta russo do que citar um poema do seu pai, Arseni Tarkovski, cuja poesia tanto o inspirou?
_________
Agora o Verão foi embora
E poderia nunca ter vindo.
O sol está quente.
Mas tem de haver mais.

Tudo aconteceu,
Tudo caiu nas minhas mãos
Como uma folha de cinco pontas,
Mas tem de haver mais.

A vida recolheu-me,
À segurança das suas asas,
A minha sorte nunca falhou,
Mas tem de haver mais.

Nem uma folha queimada,
Nem um graveto partido.
Claro como um vidro é o dia,
Mas tem de haver mais.

A versão definitiva de "Metropolis"


Uma excelente edição DVD: o lançamento do filme "Metropolis" (1927), obra-prima de Fritz Lang. Já havia várias edições desta película marcante do Expressionismo Alemão, mas esta edição revela-se especialíssima: é restaurada digitalmente, tem mais 16 minutos de duração relativamente à versão conhecida (ou seja, corresponde à versão original do realizador) e contém dois discos (um com o filme e outro só com extras).
Está à venda na Fnac por 18€.

segunda-feira, 27 de dezembro de 2010

Clássicos do Cinema em BD para Pessoas com Pressa #2

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Refém dentro do caixão


Um motorista ao serviço do exército norte-americano (interpretação magnífica de Ryan Reynolds) no Iraque é alvo de ataques de rebeldes e acorda, amordaçado, num caixão de madeira, a vários metros debaixo do solo. É este o simples mote dramático para o filme "Buried", do realizador espanhol Rodrigo Cortés (um argumento que faria as delícias de Alfred Hitchcock).
"Buried" é, tenho quase a certeza, o primeiro thriller mainstream integralmente filmado num único espaço (ou décor). Neste caso, o exíguo e claustrofóbico caixão. E não é pelo facto de todo o filme, desde o primeiro ao último plano, se passar dentro do caixão que se torna monótono ou previsível. Muito pelo contrário. Rodrigo Cortés soube filmar superiormente o interior do caixão com o homem lá dentro, com vários ângulos, perspectivas e abordagens visuais (e também com longos planos totalmente negros). A tensão crescente a a angústia daquele personagem enclausurado naquela terrível situação, atinge em cheio o espectador ao nível da ansiedade e da sensação fóbica do espaço reduzido (de referir que a acção decorre quase em tempo real da filmagem).
Paul Conroy (personagem do filme) é preso e feito refém dentro do caixão, tendo apenas um isqueiro, uma lanterna, um telemóvel e um frasco de bebida. Ao que parece, o cerne do filme não é mera ficção: outros casos registados já houve de soldados, jornalistas e outros profissionais ocidentais serem presos nestas situações.
Só que o exército americano tenta encobrir este facto.
O objectivo dos rebeldes é que o prisioneiro, fazendo uso do telemóvel e num tempo limitado, grave uma mensagem de pedido de resgate (5 milhões de euros) e a envie para as autoridades americanas e até para os meios de comunicação. Só que no filme de Cortés percebe-se que o exército está mais preocupado em identificar e aniquilar os rebeldes do que em salvar o malogrado homem...
É também neste aspecto que "Buried" se revela uma aposta ganha: a forma como, a partir de uma situação tão extrema de um homem preso em circunstâncias inéditas, se preconizam críticas tão directas à hipocrisia dos interesses americanos na guerra do Iraque.
Aliás, o final do filme, absolutamente impactante, imprevisível e perturbador (ao nível do final de "The Mist") tem a ver com a manipulação da informação por parte das autoridades americanas. "Buried" é, por isso, uma notável experiência cinematográfica, um prodigioso exercício técnico sem perda de emoção dramática, de uma intensidade quase hipnótica e com uma forte dose de denúncia política.
Só um aviso: esta película não é nada aconselhável para quem sofre de claustrofobia, ansiedade ou tafofobia, ou seja, a fobia que se caracteriza pelo medo mórbido de ser enterrado vivo e acordar preso dentro de um caixão sob o solo (como este célebre episódio de "Hitchcock Apresenta").

sábado, 25 de dezembro de 2010

sexta-feira, 24 de dezembro de 2010

É da praxe

Tarkovsky por Trakovsky


Há dois anos, um jovem estudante russo de cinema chamado Dmitry Trakovsky, realizou um documentário sobre o cineasta Andrei Tarkovsky (a propósito do vigésimo aniversário da sua morte). O documentário procurava aprofundar o legado artístico e filosófico do realizador russo, partindo de alguns dos seus principais temas (explanados no livro "Esculpir o Tempo" e em todos os seus filmes): tempo, memória, morte, espírito, fé, razão, humanidade...
Nesse sentido, o jovem Dmitry Trakovsky (curioso nome...) procurou em "Meeting Andrei Tarkovsky" um olhar poético e conciso sobre a herança do pensamento e da arte de Tarkovsky, através de inúmeras entrevistas com actores que trabalharam com o realizador e familiares directos (o filho e a irmã de Andrei). O documentário foi aclamado pela crítica e acaba de ser lançado em DVD via Amazon. numa edição limitada e assinada pelo realizador.
Por certo um filme a guardar juntamente com outros três documentários (reunidos numa só edição DVD) que fazem luz sobre a obra deste realizador único: "The Andrei Tarkovsky Companion" (com filmes de Chris Marker, Sokurov e Tonino Guerra).
Links úteis: o site oficial do documentário de Dmitry Trakovsky e o Facebook respectivo.
Trailer:

O jovem realizador (nasceu em 1985) Dmitry Trakovsky:

Enquanto não vejo "O Mágico"...


Este é o filme que mais anseio ver neste final de ano e estreia esta quinta-feira em Portugal: "O Mágico" de Sylvain Chomet. Já tinha adorado o seu primeiro filme - "Belleville Rendez-Vous" (2003), e esta nova película de animação é ainda mais sugestiva pelo facto de se inspirar no universo do realizador Jacques Tati (assim como na sua personagem, o carismático e desastrado Sr. Hulot).
Enquanto não vejo "O Mágico" de forma a poder comentá-lo, relembro, a propósito de Tati, o que o cineasta francês referiu numa entrevista à revista Time, em 1958, data da estreia do filme "O Meu Tio" (na imagem), a propósito do paradoxo da modernidade:
"Vejam o que nos está a acontecer - esta especialização. A despersonalização está a tirar todo o significado humano à nossa vida quotidiana. Um homem costumava orgulhar-se da forma como conduzia. Agora um carro guia-se sozinho. Uma mãe costumava orgulhar-se dos seus bolos. Agora eles fazem-se sozinhos. Um rapaz costumava orgulhar-se das coisas que inventava para brincar. Agora está soterrado em brinquedos feitos em fábricas. É triste , não é?"
Essa é uma questão ainda premente na cultura de hoje: a de saber se a evolução tecnológica contribuiu, ou não, a despersonalização das relações humanas e, consequentemente, do sentido de liberdade individual. Um dos grandes críticos da sociedade tecnológica, Paul Virilio, admite que sim, que a tecnologia acabou por afunilar a liberdade do cidadão, derivado da vigilância electrónica do Estado em nome da segurança global.
Virilio critica também o uso da tecnologia em nome da evolução da sociedade, sem olhar aos efeitos colaterais nefastos que, potencialmente, produz no homem.
Claro que era impossível para Tati antecipar a grande revolução tecnológica de hoje (se até Bill Gates se enganou...), e o que ele criticava era, no fundo, as profundas mudanças de hábitos sociais dos anos 50 condicionados pela pretensa modernidade da mecanização da sociedade de consumo e de massas - desde o tráfego automóvel, o comércio, os pequenos utensílios tecnológicos domésticos, a arquitectura massificada das grandes cidades, etc.
Tudo isto condicionou um certo tipo de vida e de relações humanas, que sempre foram mais genuínas e espontâneas na sociedade pré-tecnológica.
Em relação à opinião de Tati propriamente dita, convém enfatizar o ano em que foi proferida: 1958. Nessa altura, a sociedade de consumo e da cultura massificada era um fenómeno crescente e real. E passados mais de 50 anos, só resta outorgar visão a Tati na sua feroz crítica ao excesso de tecnologia mecanizada na vida social contemporânea.

quarta-feira, 22 de dezembro de 2010

O amor em dois filmes

São dois filmes diferentes, é certo. Passam-se em situações muito diferentes, com protagonistas distintos. Mas são dois filmes que se complementam pelo cerne da história, que se unem umbilicalmente pela urgência do amor, do afecto, da compreensão. Os personagens destes filmes, apesar das diferenças de idade, de profissão ou experiências de vida, possuem características comuns. São personagens, cada uma delas à sua maneira, à deriva, sem rumo no seio de uma vida rotineira, solitária e frustrante, na qual os sentimentos são inexistentes ou meramente residuais.
Estes dois pares, estas duas mulheres e estes dois homens, encontram-se fugazmente e vivem, intensamente, uma cumplicidade emocional inesperada. Uma cumplicidade que atenua um certo vazio existencial de que é feito as suas vidas, mas que não é suficiente para acreditar no amor em toda a sua plenitude. Por isso são filmes melancólicos, porque estes personagens anseiam acreditar que o amor os pode salvar, dar-lhes um incentivo para resistir às sombras que os cobrem. E é essa melancolia que faz de "Lost in Translation" e "As Pontes de Madison County" duas obras imensas sobre o amor entre um homem e uma mulher que, subjugados a circunstâncias que não podem dominar, se entregam de corpo e alma a uma relação efémera, mas plena de profundo significado e de esperança.

Playtime #35

A solução: "A Simple Plan" (1998) - Sam Raimi
Quem descobriu: Anónimo

segunda-feira, 20 de dezembro de 2010

A televisão e o cinema


É recorrente as televisões portuguesas programarem filmes de qualidade para horários improváveis (muitas das vezes, madrugada dentro).
Há muitos anos atrás, a RTP fazia verdadeiro serviço público quando passava, às quartas-feiras à noite (21h30), uma sessão de cinema. Filmes de qualidade em horário nobre com apenas um intervalo pelo meio. Isto já para não falar da programação cinéfila de cinema clássico da RTP2, que teve o seu auge até meados da década de 90. Desde que os canais privados entraram no mercado, a programação de cinema de qualidade desmoronou-se.
Desde há uns anos a esta parte, a programação das televisões em horário nobre tem sido monopolizada com telelixo: telenovelas aos molhos, futebol e programas medíocres de entretenimento (reallity shows e afins). E, claro, intervalos infindáveis de publicidade maçuda (um intervalo comercial da TVI dura, em média, 20 intermináveis minutos).
Por isso os filmes, séries e programas de informação de qualidade são relegados para secundaríssimo plano, quase sempre depois da meia-noite. Claro que há alternativas: televisão por cabo e clubes de vídeo. Só que há dezenas de milhares de famílias portuguesas que não podem pagar televisão por cabo ou ser sócio de videoclubes (e mesmo estes têm uma oferta muito limitada). E assim estupidificam-se, de forma passiva, assistindo à boçalidade televisiva diária. A nova televisão digital e os novos pacotes multimédia (Zon e Meo) podem atenuar a nefasta formatação da televisão actual e alargar as possibilidades de visionamento do espectador, mas estes produtos vão levar muitos anos a generalizar-se por toda a população.
Como vivo perto de Espanha habituei-me a ver televisão, desde muito cedo, do país vizinho. Durante anos vi clássicos de aventuras ao sábado à tarde e durante anos vi, pela primeira vez, verdadeiras obras-primas do cinema em horário nobre. Era o caso do excelente programa "Qué Grande es el Cine!" (exibido entre 1995 e 2005) do jornalista e realizador José Luis Garci (na imagem).

Durante esses anos, todas as segundas-feiras à noite depois de jantar, era exibido um filme clássico e depois comentado durante 40 minutos por parte de críticos de cinema e realizadores. Um notável serviço público (e até pedagógico decorrente do debate) quase impensável na televisão portuguesa. Foi neste programa que vi grandes filmes de John Ford, Orson Welles, Murnau, Charles Laughton, Hitchcock, Capra, Truffaut, Nicholas Ray, etc. Aposto que, nos 10 anos que durou o programa, este contribuiu para formar o gosto cinéfilo de muitas pessoas (uma geração?) para a verdadeira arte do cinema.
Era com critérios destes que se deveria reger toda e qualquer televisão pública.

Punks no cinema - o guia completo


Eis um livro curiosíssimo sobre uma matéria que, à primeira vista, se julgaria insuficiente para preencher 600 páginas: os punks no cinema! E aqui assume-se como punk o conceito ligado à génese histórica do movimento inaugurado pelos Sex Pistols, mas também o conceito que resultou nas múltiplas variações e fusões de cultura urbana derivadas do espírito punk original.
"Destroy All Movies - The Complete Guide to Punks on Film" acaba de ser editado e está à venda na Amazon.
Contém dezenas de entrevistas com músicos, actores e realizadores, centenas de ilustrações e imensas recensões a filmes de categoria trash e série B que incluem as múltiplas manifestações da cultura punk.
Eis um vídeo no qual se podem ver pormenores sobre este livro.

domingo, 19 de dezembro de 2010

sábado, 18 de dezembro de 2010

Quem matou Nancy?


O ícone da cultura punk, Sid Vicious, ex-Sex Pistols, foi sempre uma espécie de mistério. Não tanto pela movimento punk em si e tudo o que significou em termos de ruptura estética, mas mais pela suspeita (nunca resolvida) da morte da namorada, Nancy Spungen, com quem viveu um romance alucinado.
Ambos formaram o casal típico de rebeldes sem causa, dinamitando convenções sociais e envolvendo-se num submundo de drogas, álcool e violência. Nancy era uma toxicodependente (viciada em heroína) e uma prostituta a tempo parcial, mas nem por isso Sid Vicious deixou de se apaixonar por ela. Os amigos de Sid tentaram afastá-la dele, sobretudo os outros elementos dos Sex Pistols. Em vão.
Após o fim da banda que iniciou o tumultuoso movimento punk em Londres, Sid foi morar com Nancy para Nova Iorque, no mítico hotel Chelsea, em 1978. Num casal com temperamentos explosivos, havia discussões sérias e, um certo dia (Outubro de 1978), Sid Vicious encontrou a namorada morta na banheira do quarto nº100 do hotel, com uma fatal facada no abdómen. Versões contraditórias alimentaram a imprensa: Sid estaria drogado e matou Nancy; um traficante que vivia no hotel teria assassinado a jovem; uma terceira versão refere que Nancy se suicidou ou que ambos tinham um pacto suicida. Sid Vicious foi preso e acusado de homicídio. Tentou suicidar-se várias vezes na prisão e consta-se que escreveu poesias e músicas em homenagem à namorada.
Sem provas conclusivas, a justiça libertou o músico e, em Fevereiro de 1979, com apenas 21 anos, Sid Vicious injecta uma dose letal de heroína, morrendo de overdose. "Vive rápido e deixa um cadáver bonito", a máxima da cultura hedonista herdada do primeiro mártir da cultura pop, James Dean.
Mais de 30 anos depois, a dúvida subsiste: quais as verdadeiras causas de morte de Nancy Spungen? Quem a matou e porquê? Sid teve alguma responsabilidade na morte da namorada? Para tentar responder a estas e outras perguntas, o realizador Allan G. Parker (não confundir com o outro cineasta Alan Parker), realizou o documentário "Who Killed Nancy?".
Parker já tinha feito há três anos um documentário sobre a carreira de outra decisiva banda do punk, os Clash, e com este seu documentário explora os contornos misteriosos da morte da namorada do baixista dos Sex Pistols.
O trailer é suficientemente interessante para suscitar o reavivar da memória histórica do movimento de contracultura punk e de procurar pistas concretas sobre o envolvimento (ou não) de Vicious na morte de Nancy. Mais de 100 entrevistas a personalidades, directa e indirectamente ligadas ao caso, montagem de imagens de arquivo com animação 3D, fazem deste "Who Killed Nancy?", um documentário audaz em termos formais.
A relação tumultuosa e alucinada entre Sid e Nancy foi levada ao cinema em 1986, por Alex Cox, com um estreante Gary Oldman na pele de Sid Vicious e Chole Webb como Nancy Spungen. O filme chama-se "Sid & Nancy: O Amor Mata".

sexta-feira, 17 de dezembro de 2010

The Art of Noise


Silêncio. Ruído. Na actual sociedade prevalece o ruído, já o sabemos. Não há praticamente lugar nenhum no qual consigamos sentir o silêncio. Ruído, música, sons da natureza e do meio ambiente, perfazem o registo auditivo do nosso quotidiano. E quem foi o primeiro a reconhecer que o ruído era um elemento essencial da sociedade industrial do século XX?
Um italiano, futurista e contemporâneo de Marinetti, escritor e poeta, principal impulsionador do Futurismo. Chamava-se Luigi Russolo e lançou as bases, em 1913, para a música industrial dos anos 70 e 80 (aquela que recorre ao ruído na sua estrutura musical). Essas bases teóricas estão compiladas num manifesto (em livro, edição espanhola) chamado "El Arte de los Ruidos" ("A Arte dos Ruídos").
Neste verdadeiro manifesto artístico, Russolo refere que até ao Século XIX e ao advento da Sociedade Industrial, o ruído não fazia parte da sociedade. A partir do início do Século XX, o ruído começou a ser parte integrante do quotidiano, com as fábricas, os meios de transporte e outras diversas máquinas. Então, o pintor e compositor italiano achava que se deveria incluir esses ruídos e sons (tidos como não-musicais) na linguagem musical convencional. Que era o mesmo que dizer, romper com as próprias convenções.
Para tal, Russolo inventou um conjunto de máquinas e instrumentos de fazer ruído, a que deu o nome de Intonarumori (existe um projecto norte-americano de música experimental com esta designação).
Em 1914, o primeiro concerto futurista de 18 destes instrumentos (nas imagem), provocou um enorme escândalo em Milão (quase tão grande quanto a estreia da obra "A Sagração da Primavera" de Stravinsky em Paris, um ano antes, a qual marcou o início do modernismo na música do século XX).

E, a partir desse momento, uma revolução estética foi gerada: durante o resto do século XX, o ruído foi utilizado como elemento musical em muitos géneros e compositores, levando a vasta discussão e teorização sobre a importância do ruído na música, na arte e na vida (vide John Cage).
E eis um vídeo curioso no qual o músico Mike Patton experimenta as sonoridades específicas de máquinas sonoras reconstruídas por Luciano Chessa (2009).

quarta-feira, 15 de dezembro de 2010

Uma viagem à electrónica do século XX


Ainda só está em pré-reserva, mas este livro é já um título a incluir numa exigente “guest list” de qualquer amante de música em geral, e música electrónica, em particular. “Journey to a Plugged in State of Mind: Electronic Music: 100 Years of Experimentation and Exploitation” de Dave Henderson (ex-director das revistas Q, Mojo e Kerrang!).
Segundo a sinopse da editora, trata-se de uma obra que aborda as raízes da experimentação electrónica desde o início do século XX até aos nossos dias, um dos movimentos musicais mais inovadores e influentes de toda a história da música do século XX.
Um século de intensas e diversificadas experiências estéticas, desde Edgar Varèse a Brian Eno, desde Stockhausen a Aphex Twin, passando por Cabaret Voltaire ou o Krautrock. Estará à venda apenas a partir de 1 de Julho de 2011 na Amazon.

Os erros no cinema não interessam


Para o cinéfilo comum o site MovieMistakes.Com não é novidade.
Trata-se de um sítio onde se compilam, meio a brincar, meio a sério, os erros (“goofs”, “bloopers”) que os filmes contêm. Ou seja: erros de continuidade, de montagem, de realização, de efeitos visuais defeituosos, anacronismos históricos, de intromissões visuais inesperadas, interpretações disparatadas, etc.
Pessoalmente, é matéria "fait-divers" que não me interessa muito porque não tenho tendência "voyeurista" que me leve a dissecar um filme ao pormenor. Mas a verdade é que, sendo um site construído com a colaboração dos próprios espectadores, há quem consiga descortinar os erros mais indecifráveis e ocultos que passam despercebidos a 99% dos espectadores (e só possíveis de detectar com o inevitável recurso do DVD e muitas horas de visionamento obsessivo e repetido).
Há muito tempo que não consultava o site. E fiquei algo boquiaberto ao constatar que o filme com mais “mistakes" é um dos meus filmes preferidos: “Apocalypse Now”, com referência a 391 erros detectados (!).
Por seu lado, outro filme meu preferido, "The Shining" do Kubrick tem 299 erros referenciados. E na lista dos filmes estreados em 2010, surge em primeiro lugar "Shutter Island" de Scorsese com 33 erros. Custa a acreditar que obras-primas deste calibre, que realizadores e técnicos tão experientes, sejam capazes de deixar passar erros cinematográficos. O facto é que no afã do visionamento de um determinado filme, raramente o espectador comum tem percepção de erros visuais - sejam ínfimos ou mesmo óbvios.
De qualquer modo, estou em crer que o MovieMistakes.Com não passa de um site de curiosidades divertidas (talvez interesse apenas aos profissionais do ramo cinematográfico), e que nem com 1000 erros detectados certos filmes perderiam o carisma e a qualidade (refiro-me a "Apocalypse Now").
Mais: como espectador, prefiro até viver na ignorância sobre eventuais erros de quaisquer filmes (de forma a preservar o meu imaginário cinéfilo intacto) do que saber se, por exemplo, num filme do Lynch existe um qualquer erro patético de continuidade (como nas imagens que ilustram este post).

terça-feira, 14 de dezembro de 2010

A arte de bem escrever para cinema


Há quatro anos, a Associação de Argumentistas Norte-americanos elegeu os 101 Melhores Argumentos de sempre para cinema. A escolha fez-se entre 1400 filmes.
Eis a lista final dos 10 melhores argumentos de sempre:
1 - "Casablanca", Argumento de J. & Philip G. Epstein e Howard Koch
2 - "O Padrinho", Argumento de Mario Puzo e Francis F. Coppola.
3 - "Chinatown", Argumento de Robert Towne
4 - "O mundo a seus pés", Argumento de Mankiewicz e Orson Welles
5 - "Eva", Argumento de Joseph L. Mankiewicz
6 - "Annie Hall", Argumento de Woody Allen e Marshall Brickman
7 - "O Crepúsculo dos Deuses", Argumento de C. Brackett e Billy Wilder
8 - "Escândalo na Televisão", Argumento de Paddy Chayefsky
9 - "Quanto mais Quente Melhor", Argumento de Billy Wilder
10 - "O Padrinho, Parte II", Argumento de Francis Coppola e Mario Puzo
_________
A lista final inclui sobretudo clássicos mas também filmes mais recentes como "Os Suspeitos do Costume" de Brian Singer, lado a lado com "Os Condenados de Shawshank", de Frank Darabont. Woody Allen aparece na lista com, nada mais nada menos, do que com quatro títulos - "Annie Hall" (1977), "Manhattan» (1979), "Crimes e Escapadelas" (1989) e "Ana e as suas Irmãs" (1986).
O segundo mais citado é Charlie Kaufman, por "Being John Malkovich" (1999), "Inadaptado" (2002) e "O Despertar da Mente" (2004).
Não deixa de ser espantoso - mas totalmente compreensível - que Francis F. Coppola esteja duas vezes representado no top 10 pela saga "O Padrinho". E que Woody Allen seja citado com quatro títulos. E repare-se que não há nenhum filme na lista dos 10 mais que seja posterior à década de 80. Quererá dizer alguma coisa?
Há uns anos, ao assistir a uma conferência proferida pelo realizador português António Pedro Vasconcelos sobre, precisamente, escrita para cinema, perguntei-lhe no final se achava mesmo que o argumento de "Casablanca" era o melhor jamais escrito. Resposta: "sem dúvida". E já agora, que tal ler o argumento original do filme de Michael Curtiz?!

segunda-feira, 13 de dezembro de 2010

Playtime #33

A solução: "The Black Book" (2006) - Paul Verhoeven
Quem descobriu: Toni

Instituições e comunidade


O British Film Institute comemora este ano 77 anos de existência.
Há dois anos, esta autêntica instituição do cinema europeu solicitou a 75 personalidades ligadas ao cinema e às artes, uma votação intitulada "Visions For The Future", para cada uma delas nomear apenas um filme que fosse uma marca para o futuro do cinema.
Entre artistas consagrados e outros desconhecidos, revelaram-se algumas boas surpresas: a actriz Cate Blanchett escolheu "Stalker" de Tarkovski; o realizador Ken Russell optou por "Metropolis"; Julien Temple seleccionou a obra-prima de Jean Vigo, "L'Atalante"; para o compositor Michael Nyman, o filme que marcaria o futuro é "Silent Light" do mexicano Carlos Reygadas (de quem se diz ser o maior discípulo de Tarkovski); o produtor Mark Herbert escolheu um dos últimos filmes de Werner Herzog, "Grizzly Man".
Outros filmes escolhidos: "Do The Right Thing" de Spike Lee, "Pulp Fiction" de Tarantino, "Raging Bull" de Scorsese, entre dezenas de outros.
Este é um tipo de iniciativa que raramente vemos acontecer no panorama cultural e institucional nacional. A título de exemplo: a Cinemateca vive encerrada sobre si mesma, não solicita ou desafia a comunidade artística e muito menos a sociedade em geral. Era importante que as estruturas culturais se abrissem mais à comunidade artística (e não só), lançando desafios de colaboração e de envolvimento, apelando à contribuição dos cidadãos (anónimos ou reconhecidos) para uma dinâmica cultural mais interactiva e actuante na sociedade.

domingo, 12 de dezembro de 2010

Buñuel e o Anjo Exterminador

É uma das grandes edições DVD deste final de ano: "O Anjo Exterminador" (1962) de Luis Buñuel. Com edição remasterizada digitalmente, este surpreendente e esplendoroso filme é um marco essencial da filmografia do realizador espanhol.
Com um humor surrealista corrosivo e demolidor, Buñuel põe a nu a podridão das convenções sociais da pretensa alta sociedade (burguesia e aristocracia) num certo jantar de gala. Jantar esse em que os convidados estão, por uma razão desconhecida, impossibilitados de sair de casa durante semanas. É nesse período de desconcerto e imprevisibilidade que as máscaras sociais caem estrepitosamente, que os instintos humanos mais básicos se revelam, que o conflito, o medo, a angústia e a depravação degeneram em comportamentos... antisociais.
"O Anjo Exterminador" é, no contexto da história do cinema, uma película originalíssima (pelo argumento, pela construção narrativa, pela encenação) que se materializa num crítica feroz de Buñuel à sociedade que cultiva valores vazios: a aparência, a falsidade e a presunção.
Uma obra-prima que deveria ser de visionamento obrigatório em aulas de sociologia e psicologia.

Nota: Só por curiosidade: antes de ter decidido pelo título deste blogue, estive quase na iminência de optar pela designação "O Anjo Exterminador".

sábado, 11 de dezembro de 2010

Os tesouros desconhecidos do cinema europeu

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Europa Filme treasueres é um portal que disponibiliza centenas de filmes europeus via streaming, isto é, permite visualização sem possibilidade de download. Este imenso e riquíssimo arquivo de filmes (restaurados, recuperados...) menos conhecidos da história do cinema estão disponíveis na Internet devido ao esforço conjugado de dezenas de instituições europeias vocacionadas para o arquivo e memória do cinema.
São filmes desconhecidos mas nem por isso menos importantes. Há verdadeiras preciosidades históricas em curtas-metragens do tempo do cinema mudo, e é possível pesquisar por vários critérios: género, país, realizador, época histórica, etc.
O portal pode ser acedido através de cinco línguas diferentes e está extremamente bem conseguido em termos de informação, conteúdos e navegabilidade: todos os filmes têm uma sinopse, ficha técnica e artística, e têm a possibilidade de serem visionados com legendas em inglês, italiano, espanhol ou francês.
O projecto Europa Film treasures é mais um contributo para a solidificação da globalização cultural estimulada pela comunicação digital. Sem este projecto disponibilizado online para toda a comunidade virtual que o queira utilizar, seria impossível conhecer tantos filmes esquecidos da arte das imagens, nomeadamente, dos primórdios da afirmação da 7ª Arte (destaco os documentários e filmes de animação).
Abrir link.

Discos que mudam uma vida - 127


The Young Gods - "The Young Gods" (1987)