sábado, 31 de outubro de 2015

Viver de trás para a frente



A brincar a brincar, não me importaria:

"Na minha próxima vida, quero viver de trás para a frente. Começar morto, para despachar logo o assunto. Depois, acordar num lar de idosos e ir-me sentindo melhor a cada dia que passa. Ser expulso porque estou demasiado saudável, ir receber a reforma e começar a trabalhar, recebendo logo um relógio de ouro no primeiro dia. Trabalhar 40 anos, cada vez mais desenvolto e saudável, até ser jovem o suficiente para entrar na faculdade, embebedar-me diariamente e ser bastante promíscuo. E depois, estar pronto para o secundário e para o primário, antes de me tornar criança e só brincar, sem responsabilidades. Aí torno-me um bébé inocente até nascer. Por fim, passo nove meses flutuando num "spa" de luxo, com aquecimento central, serviço de quarto à disposição e com um espaço maior por cada dia que passa, e depois - "Voilá!" - desapareço num orgasmo!" 

Woody Allen

quarta-feira, 28 de outubro de 2015

O primeiro filme sonoro... de sempre

Não se trata de um filme no sentido literal, até porque tem apenas 17 segundos de duração. Mas é um registo audiovisual absolutamente histórico: trata-se da primeiríssima captação em filme conhecida de som no cinema, muitos anos antes do clássico "The Jazz Singer" (1927). Corria o longínquo ano de 1894, um anos antes ainda do aparecimento do popular cinematógrafo dos irmãos Lumière.

Este curto registo de cinema gravado por uma rudimentar câmara foi realizado no estúdio de Thomas Edison (um dos cientistas responsáveis pelo desenvolvimento do cinema) e capta o realizador William K. Dickson a tocar violino durante escassos 17 segundos, o suficiente para fazer História.

terça-feira, 27 de outubro de 2015

Remédios musicais para a alma

"Musicoterapia de A a Z" de Pietro Leveratto

Cada um de nós, em certos momentos, precisou de música. Quando o fluir das notas atinge a nossa atenção damo-nos conta de que a música, como uma banda sonora que acompanha cada gesto quotidiano, é necessária. Protagonistas das páginas deste volume são, pois, os sons mais adequados para emoldurar os acontecimentos da vida, eventos e sensações, a beleza e o sofrimento, o desejo e a sua ausência. O leitor poderá reencontrar as melodias que o acompanharam em ocasiões memoráveis ou para esquecer, deparar-se com histórias bizarras, divertidas e autênticas. Ou ir ainda, mais simplesmente, à procura do tema certo para a ocasião certa. 


Quer se trate do pavor de voar, de dependência do trabalho ou da agorafobia, de uma dieta ou de um ataque de tosse ou de vontade de desaparecer, as receitas de Musicoterapia oferecem remédios e conselhos através de sugestões musicais ou graças à experiência de um músico, indo do rock à experimentação contemporânea, da Viena de Mozart à ilha de Tonga, de Schubert a Bob Dylan, da Bossa Nova de Jobim aos Beatles, de Bach a Coltrane. É uma pequena enciclopédia, um repertório, um manual para ficar melhor. Ao som da música. 

domingo, 25 de outubro de 2015

Maureen O'Hara

Maureen O'Hara, diva com cabelo cor de fogo do cinema clássico morreu aos 95 anos. A primeira vez que a vi foi no belo filme "How Green Was My Valley" (1947) de John Ford. Por causa dela (ok, não só por causa dela) este filme tornou-se no meu Ford favorito. Considerava-a uma das mais talentosas e belas actrizes da época de ouro de Hollywood.

sábado, 24 de outubro de 2015

A sociedade segundo Guy Debord

Guy Debord, nascido em 1931, em Paris, suicidou-se em 1994, nas montanhas de Auvergne. Foi filósofo, cineasta e crítico cultural. Co-fundador, em 1957, da Internacional Situacionista, foi seu co-dissolvente em 1972.

Publicado em 1967, o livro "A Sociedade do Espectáculo" é a obra filosófica e política mais famosa de Guy Debord e uma análise impiedosa e arrasadora da invasão de todos os aspectos do quotidiano pelo capitalismo moderno. Uma crítica feroz à sociedade do consumo e do predomínio da imagem. Este livro esteve na base do movimento estudantil do Maio de 68 em Paris. O espectáculo, segundo o autor, é "uma droga para escravos" que empobrece a verdadeira qualidade da vida, é apontado como uma imagem invertida da sociedade desejável, na qual as relações entre as mercadorias suplantaram os laços que unem as pessoas, conferindo-se a primazia à identificação passiva, em detrimento da genuína actividade. Uma teoria que está mais actual do que nunca.

Debord fez um filme em 1973 que mais não é do que a versão audiovisual do livro que o celebrizou, no qual expõe os seus conceitos sobre a ditadura do consumo, da imagem e do espectáculo na sociedade moderna:
 

quinta-feira, 22 de outubro de 2015

O rock enérgico das Savages

O grupo feminino de rock Savages vai lançar um novo álbum no início de 2016 ("Adore Life"). Para aguçar o apetite, acabam de editar o primeiro single: "The Answer" é um espantoso tema de pura e enérgica efervescência rock, provando que as Savages são das melhores propostas de rock dos últimos anos. Tal como os fãs do videoclip (filmado em Lisboa), ao ouvir esta música só apetece saltar em movimentos descontrolados do corpo.
 

terça-feira, 20 de outubro de 2015

O universo perturbador de Ballard

Aqui está uma edição que nenhum admirador do universo literário de J.G. Ballard pode perder: pela primeira vez no mercado nacional é editado "High Rise", em português "Arranha-Céus", escrito em 1975.

O livro decorre no espaço fechado de um arranha-céus onde moram duas mil pessoas, condomínio fechado de onde ninguém precisa de sair para o exterior. Criado o ambiente claustrofóbico e pós-histórico típico do universo ballardiano, este prédio é um simulacro da vida social moderna onde tudo parece correr bem até começarem a surgir os primeiros indícios de crime e violência que vão transformar o arranha-céus numa paisagem primitiva, onde o humano dá lugar a um bestiário de predadores: primeiro atacam-se os automóveis na garagem, depois os moradores. Um incidente conduz a outro e, acossados, os vizinhos agrupam-se por pisos possuídos por instintos animalescos. Quando aparecem as primeiras vítimas, a festa mal começou. É então que o personagem Richard Wilder, realizador de documentários, resolve avançar, de câmara em punho, numa viagem por uma inexplicável orgia de destruição, testemunhando o colapso do que nos torna humanos.

Entre a alucinação e a anarquia, a visão violenta e pessimista de J.G. Ballard oferece-nos um retrato demencial de como a vida moderna nos pode empurrar, não para um estádio mais avançado na evolução, mas para as mais primitivas formas de sociedade.

O romance foi adaptado ao cinema e deve chegar às salas ainda este ano, com a assinatura de Ben Wheatley (tem nos principais papéis os actores Jeremy Irons, Sienna Miller e Tom Hiddleston). No próximo ano, a editora Elsinore conta reeditar "Crash", celebrizado no sublime e perturbador filme homónimo de David Cronenberg.


segunda-feira, 19 de outubro de 2015

O que diz Tarkovski #23

"Na minha infância a minha mãe sugeriu que eu lesse 'Guerra e Paz' e, durante muitos anos, ela citou frequentemente o romance, chamando-me a atenção para a subtileza e as particularidades da prosa de Tolstoi. Desse modo, 'Guerra e Paz' tornou-se para mim uma espécie de escola de arte, um critério de gosto e profundidade artística. Depois desse livro nunca mais consegui ler porcarias literárias que sempre me causaram profundo desagrado."

quinta-feira, 15 de outubro de 2015

Hitchcock no universo de Kubrick (ou ao contrário)

Retirado do blog Bitaites:

"As personagens que James Stewart desempenhou em três filmes de Hitchcock – «Janela Indiscreta», «O Homem que Sabia Demais» e «A mulher que Viveu Duas Vezes» – são perseguidas por uma trupe de vilões dos filmes de Stanley Kubrick. 
Por outras palavras: esta é uma curta-metragem com James Stewart e Jack Nicholson nos papéis principais. «The Red Drum Getaway» junta dois actores que nunca contracenaram e dois realizadores cujos universos jamais se cruzaram. Foi criado por uma agência francesa de criativos ligada à Publicidade, Gump. 
Vejam-no – se gostam deste tipo de experiências, vão adorar. É mais um tributo às maravilhas do digital e do «mashup». «Mashup», para quem não saiba, designa uma combinação de elementos diferentes e às vezes opostos – em vídeo ou em música – para criar uma obra derivada: os elementos que a constituem são familiares mas os resultados podem ser humorísticos, sarcásticos, críticos ou simplesmente bizarros."
Uma preciosidade criativa para cinéfilos, portanto.

Ver aqui em ecrã grande.

quarta-feira, 14 de outubro de 2015

Compositores à volta de uma mesa

Os compositores para cinema Marco Beltrami (The Homesman), Danny Elfman (Big Eyes), John Powell (How To Train Your Dragon 2), Trent Reznor (Gone Girl) e Hans Zimmer (Interstellar) juntaram-se à volta de uma mesa redonda para falarem sobre os processos criativos, os instrumentos utilizados, os métodos de trabalho, a relação com os realizadores, etc.
Uma conversa altamente interessante e pedagógica sobre a relação entre o cinema e a música. Destaque pessoal para Danny Elfman e Trent Reznor, os meus compositores para cinema favoritos desta mesa.
Abrir link aqui.

terça-feira, 13 de outubro de 2015

Demasiado

Cada vez mais me convenço disto: 
- Há demasiada produção cinematográfica para cada vez menos amantes de cinema; 
- Há demasiada edição de livros para tão poucos leitores; 
- Há demasiado pouco tempo livre para conhecer tanta produção musical.

sexta-feira, 9 de outubro de 2015

Cinema e saúde mental

No âmbito das comemorações do Dia Mundial da Saúde Mental da Escola Superior de Saúde de Viseu, fui convidado a dissertar sobre a relação entre o cinema e a saúde mental. Aceitei o desafio como aceitei, há três anos, dissertar sobre o suicídio e o cinema (ver aqui) num simpósio sobre o tema. O título que escolhi: "A Psique Cinematográfica: A Saúde Mental Representada no Cinema".

Foi um bom desafio que me obrigou a ver (ou rever) uma série de filmes e a investigar literatura especializada. Após elaborar uma pré-selecção de 60 filmes, reduzi a apresentação para 35 títulos que me pareceram absolutamente incontornáveis. Dois critérios essenciais serviram para essa selecção: a qualidade cinematográfica/artística de cada filme escolhido e a relevância temática.

Cheguei à conclusão que os distúrbios mentais mais frequentes abordados pelo cinema são: múltiplas formas de esquizofrenia, paranóia, transtorno obsessivo-compulsivo, comportamentos psicóticos, psicose maníaco-depressiva, transtorno bipolar, transtorno dissociativo de personalidade, etc.

A minha apresentação na Escola Superior de Cinema decorreu no dia 8 deste mês num auditório com 200 lugares lotados com estudantes de saúde mental, professores, enfermeiros, psicólogos e psiquiatras. Mostrei uma apresentação visual na qual constavam o título do filme, o realizador, o ano de produção e uma imagem ilustrativa (como estas duas que ilustram este post: "Shock Corridor" de Samuel Fuller e "Spider" de David Cronenberg). Depois ia dissertando sobre cada filme...
No final apresentei uma bibliografia especializada: cinema como terapia, loucura e cinema, psiquiatria e filmes, etc. Já não houve tempo para debate com a assistência.

Para dar o mote ao início da prelecção citei uma frase de uma personagem do filme “Grand Canyon” (1991) de Lawrence Kasdan: “Se estás com problemas vai ao cinema. Os filmes têm a resposta para todos os problemas da vida.” 

Os filmes foram citados por ordem cronológica.



"O Gabinete do Dr. Caligari” (1920) – Robert Wiene
“A Page of Madness” (1926) – Teinosuke Kinugasa
“Un Chien Andalou” (1929) – Luis Buñuel
“M - Matou” (1931) – Fritz Lang
“Spellbound” (1945) – Alfred Hitchcock
“The Snake Pit” (1948) – Anatole Litvak
“Él – O Alucinado” (1952) – Luis Buñuel
“As Três Faces de Eva” (1957) – Nunnally Johnson
“Psycho” (1960) – Alfred Hitchcock
“David e Lisa” (1962) – Frank Perry
“Shock Corridor” (1963) – Samuel Fuller
“Fogo Fátuo” (1963) – Louis Malle
“Repulsa” (1965) – Roman Polanski
"Persona" (1966) - Ingmar Bergman
“Uma Mulher Sob Influência” (1974) – John Cassavetes
“Jaime” (1974) – António Reis
“Voando Sobre um Ninho de Cucos” (1976) – Milos Forman
“Eraserhead” (1977) – David Lynch
“The Shining” (1980) – Stanley Kubrick
“Nostalgia” (1983) – Andrei Tarkovsky
“Misery” (1990) – Bob Reiner
“Despertares” (1990) – Penny Marshall
“Garota, Interrompida” (1999) – James Mangold
“Uma Mente Brilhante” (2001) – Ron Howard
“K-Pax” (2001) – Iain Softley
“As Horas” (2002) – Stephen Daldry
“Spider” (2002) – David Cronenberg
“O Aviador” (2004) – Martin Scorsese
“O Maquinsta” (2004) – Brad Anderson
“Loucuras de um Génio” (Doc, 2005) – Jeff Feuerzeig
“Bug” (2006) – Wiliam Friedkin
“Cisne Negro” (2010) – Darren Aronofsky
“Take Shelter” (2011) – Jeff Nichols
“Alive Inside” (Doc, 2013) – Michael Rossato-Bennett
“Pára-me De Repente o Pensamento” (Doc, 2014) – Jorge Pelicano
“Esta é a Minha Casa” (Doc, 2014) – Pedro Renca
“Birdman” (2014) – Alejandro Gonzalez Iñárritu

quarta-feira, 7 de outubro de 2015

John Ford

Um livro para conhecer a fundo os westerns e os filmes de guerra do grandioso John Ford:

segunda-feira, 5 de outubro de 2015

O soldado Pyle



Foi em 1987 que estreou o filme "Full Metal Jacket" ("Nascido para Matar") de Stanley Kubrick. Curiosamente, vi-o numa sessão da meia-noite, com meia dúzia de espectadores perplexos perante a violência psicológica da primeira metade do filme. Não é o meu Kubrick favorito, apesar de gostar muito dele. Tem uma força e uma progressão narrativa muito peculiares.

A primeira metade do filme, desde a admissão na tropa até ao brutal suicídio do soldado Pyle (impressionante Vincent D'Onofrio), é Kubrick puro, sem concessões, direcção feroz de actores e realização férrea. Lembro-me de me ter ficado na memória, durante muito tempo, esta imagem do soldado Pyle sentado na sanita com olhar demencial (ainda hoje quando me lembro deste filme, é a primeira imagem que me vem à cabeça). O soldado Pyle era um soldado gorducho e pouco apto para a exigência dos treinos militares, constantemente humilhado pelo temível Sargento Hartman. Até que a sua saúde mental se degrada entrando num estado de total loucura e alucinação.

E é essa loucura assustadora que vemos nos olhos de Pyle. Quando olha para o soldado Joker (Matthew Modine) com uma expressão de puro ódio e demência, de quem já não tem medo de nada, nem tem nada a perder. E é aí, nessa sequência de pura tensão na casa de banho (espaço muito do agrado de Kubrick), que Pyle explode, matando o sargento e suicidando-se de seguida. Apesar de não ser um filme de terror, "Full Metal Jacket" encerra, nesta perturbante cena, muito do terror psicológico que o realizador já experimentara no soberbo "The Shining" (1980). E é das sequências de cinema de que mais gosto de toda a obra kubrickiana.

sábado, 3 de outubro de 2015

Bergman - O som e o silêncio

Foi publicado há apenas um mês e só agora o descobri: magnífico e original livro sobre o cinema de Ingmar Bergman e a sua relação com a música, o som, a voz, o ruído e o silêncio. Que eu tenha conhecimento é o primeiro ensaio aprofundado sobre esta temática da estética de Bergman e por certo é uma obra imperdível para os fãs do cineasta sueco.   
Está disponível via Amazon.