quarta-feira, 28 de janeiro de 2009

Fios de tinta na tela


Se fosse vivo, Jackson Pollock faria hoje 96 anos. No entanto, morreu muito mais cedo, com uns ainda jovens 44 anos. O mestre do Expressionismo Abstracto sempre me fascinou. A visão insubmissa que tinha da arte era todo um programa de intervenção, de subversão de cânones instituídos. A inovação do processo criativo através da "action painting" revelou-se um dos mais originais e influentes paradigmas artísticos da pintura do século XX. Os fios de tinta que Pollock atirava para a tela, de forma aleatória (mas com um sentido estético assumido), eram fios da vida, aqueles fios que durante anos estiveram quase a quebrar-se com as sucessivas depressões e devaneios existenciais do artista. Pollock viveu e trabalhou sempre no fio da navalha.
O actor Ed Harris realizou (e interpretou), em 2000, o filme "Pollock", um brilhante retrato do artista plástico. Um dos momentos mais sublimes da película diz respeito ao momento em que, em total crise de inspiração, mostra Jackson Pollock a olhar para uma tela branca na parede, sem saber muito bem por onde começar a pintar. De repente, uns pingos de tinta caem de uma lata, molhando uma tela no chão. Pollock olha, não sem deslumbre, para o efeito visual desses pingos. É então que, com a sua habitual fúria, atira uma enorme tela para o chão e, sem grandes conceptualizações, começa a implementar a técnica da "action painting". É uma sequência sublime que revela a luta interior de um artista consigo mesmo, à procura de um sentido para o seu trabalho e, em última análise, para a sua própria vida.

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