O escritor Albert Cossery (morreu aos 94 anos em 2008) é um dos meus escritores favoritos. Era um escritor invulgar e original, capaz de escrever sobre assuntos mundanos de forma extremamente polida. Interessava-se pelos "vencidos da vida" e não por heróis romanceados de forma épica.
Nasceu no Egipto mas toda a vida escreveu em francês. Metódico e solitário (viveu 63 anos no mesmo quarto de hotel), Albert Cossery tinha por hábito escrever apenas uma frase em cada dia, durante quase sessenta anos de carreira literária, produção que equivaleu a uns escassos oito livros publicados.
Albert Cossery fazia, na esteira da filosofia epicurista (o prazer e o hedonismo como valores primordiais para a vida), a apologia da preguiça e do ócio, vendo nestas atitudes o espelho de uma rebuscada actividade interior, como métodos valiosos de reflexão sobre a vida e o mundo. Vivia arredado da fama e da vaidade do círculo literário internacional.
O próprio Cossery viveu praticamente toda a vida de forma desprendida e despojada, segundo o próprio, veículos para a felicidade e para o bem-estar existencial.
Eis a prova numa das últimas entrevistas que deu:
Eis a prova numa das últimas entrevistas que deu:
- "Nunca pensou que as sociedades podem progredir?"
- "Um progresso espiritual, sim, mas não no sentido religioso. Espiritual, quer dizer no espírito. É muito difícil e é por esse facto que a humanidade não avançou nem um centímetro desde há milénios. Hoje vemo-lo um pouco por todo o mundo: as pessoas odeiam-se, entram em guerra, matam-se".
- "Qual é a arte de viver?"
- "Desprender-se de tudo o que nos ensinam, de todos os valores e dogmas".
- "O que é que caracteriza a arte de viver das personagens que criou?"
- "Em primeiro lugar, a falta de ambição. O que mata as pessoas é a ambição. E também esta tendência para a sociedade de consumo. Quando vejo publicidade na televisão, digo para mim próprio: podem apresentar-me isto anos a fio que nunca comprarei nada daquilo que mostram. Nunca desejei um belo automóvel. Nunca desejei outra coisa senão ser eu próprio. Posso caminhar na rua com as mãos nos bolsos e sentir-me um príncipe. Não é a posse de bens materiais que pode satisfazer um homem inteligente, que compreendeu o mundo em que vive".
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