terça-feira, 31 de janeiro de 2012

Philip Glass - 75 anos


Hoje é o dia dos 75º aniversário de um dos meus compositores contemporâneos favoritos (e já muitas vezes citados neste blog - tem 45 entradas): Philip Glass.
Amado e odiado em igual medida, como quase todos os grandes artistas o são, Philip Glass é um compositor que atravessou as últimas quatro décadas com espantosa capacidade de reinvenção criativa. Inicialmente conotado com o minimalismo, Glass inovou e conseguiu trilhar um caminho musical único com base numa linguagem estética assente numa forte identidade artística.
A sua vasta e diversificada obra é prova de um trabalho intenso e ecléctico, com peças para orquestra, teatro, ensemble, óperas, documentários, bailado, exposições e filmes de ficção. Em 2007, quando Philip Glass completou 70 anos, o realizador Scott Hicks (o mesmo que fez "Shine" (1996) sobre o pianista esquizofrénico David Helffgot) acompanhou-o durante mais de um ano para a realização de um documentário sobre o compositor.
Deste trabalho resultou o muito interessante filme "Glass: a Portrait of Philip in Twelve Parts", um magnífico documentário que revela o método criativo de Glass, a sua relação com os seus músicos, assim como os seus momentos familiares mais recatados. Um documentário honesto e descomprometido que faz justiça à grandeza artística do autor de algumas das bandas sonoras mais memoráveis dos últimos 25 anos.

segunda-feira, 30 de janeiro de 2012

Kubrick vs Scorsese

Depois de passar 25 dias a ver os 34 filmes de Stanley Kubrick e Martin Scorsese, um cinéfilo chamado Leandro Copperfiled aventurou-se numa minuciosa montagem com 500 das mais emblemáticas cenas das filmografias de ambos.
Um trabalho que lhe levou muitas horas mas que resultou numa belíssima homenagem que é também uma amostra incrível das melhores imagens que Kubrick e Scorsese nos deixaram (Scorsese até à data).

Claustrofobia num elevador


Ainda há surpresas: na minha última investida na Fnac, comprei um DVD (por uns irrisórios 5€) que não conhecia mas que me suscitou muita curiosidade: "Lady in a Cage" (1964) realizado por um tal Walter Grauman.
O título português é bombástico: "Bárbaros do Século XX", e a capa referia que se tratava de um "soberbo filme-choque", com a participação de um jovem James Caan (no seu primeiro papel importante no cinema). Foram motivos suficientes para comprar o DVD.
O filme conta com a excelente actriz Olivia de Havilland, duas vezes vencedora de um Óscar (ainda é viva com 95 anos!), lançada para o estrelato em 1938 com "As Aventuras de Robin Hood"). Sozinha na sua residência durante um fim-de-semana de intenso calor, uma viúva (Olivia de Havilland) vê-se acidentalmente presa no elevador que tem dentro de casa, devido a uma falha de electricidade.

A partir deste ponto, o seu mundo meticuloso e bem organizado é posto em causa quando o elevador, parado três metros acima do chão, se torna uma claustrofóbica câmara de tortura - uma verdadeira jaula. Incapaz de se libertar, a sua situação torna-se desesperada quando o alarme de emergência atrai uma mão cheia de indesejáveis intrusos - um alcoólico e a sua amiga prostituta, bem como um trio de jovens delinquentes (liderados por um notável e quase adolescente James Caan), que embarcam numa espiral de vandalismo e brutalidade que culmina em violência e mortes.

O ponto de partida para este filme de suspense propicia situações de grande angústia e desespero, com a invasão da casa por parte dos assaltantes e delinquentes. James Caan é soberbo no papel de líder tresloucado de um bando de delinquentes sem códigos de honra. Olivia de Havilland é magnífica na forma como encena a sua própria claustrofobia e a tensão crescente. A realização é fenomenal no modo como enquadra os planos, a montagem e alterna movimentos de câmara surpreendentes.

"Lady in a Cage" foi proibido em Inglaterra pela sua violência e brutalidade. É compreensível no ano em que foi feito, 1964, mas aos olhos do espectador de hoje já não choca. No entanto, não deixa por isso de ser um belíssimo exercício de suspense na esteira de um "Psycho" de Hitchcock que estreara apenas 4 anos antes. E é também uma película de referência para todos os filmes que se seguiram sobre invasão de privacidade e violência juvenil.
Em suma, uma preciosa descoberta que se tornou num filme de culto.

domingo, 29 de janeiro de 2012

As semelhanças

O mundo do espectáculo é um mundo que tem tanto de contrastante como de idêntico. O site Totally Looks Like é um divertido sítio onde encontramos, sobretudo, grandes semelhanças físicas entre actores, actrizes, músicos e outros artistas. Semelhanças que nos desconcertam e sobre as quais, quiçá, nunca nos ocorreram (como as últimas duas imagens deste post!). Outras são, de tal forma óbvias, que saltam à vista.





"Klip"


Li no site C7nema a informação de um filme que está a suscitar muitas expectativas no festival de cinema de Roterdão. O filme em questão chama-se "Klip" e é realizado por uma jovem (28 anos) sérvia de nome Maja Milos.
"Klip" retrata a vida caótica de um grupo de jovens obcecados por sexo, drogas e violência. O sexo é duro e explícito, e a utilização das drogas e da violência é muito realista. Certamente um filme que dificilmente será exibido nos EUA.
Os mais atentos sabem que esta fórmula explosiva já foi testada na obra polémica de Larry Clark, com os filmes-choque "Kids" (1995) e "Ken Park" (2002). Ao que parece, a realizadora não nega a influência directa.
A reportagem completa sobre este filme pode ser lida aqui.

sábado, 28 de janeiro de 2012

Monty Python!


É incontornável: a notícia da reunião dos impagáveis Monty Python para uma nova comédia de ficção científica chamada "Absolutely Anything", é a melhor notícia cinematográfica de 2012 até à data. Ao que consta, falta apenas a confirmação da participação do actor Eric Idle (o segundo da direita na imagem) para a trupe dos cinco humoristas anárquicos ficar completa (faltaria Graham Chapman, se fosse vivo). Um verdadeiro presente para os fãs (como eu) dos Monty Python e do seu humor absurdo.
E convenhamos que o mote da história deste filme promete: extraterrestes com poderes... humanos!

sexta-feira, 27 de janeiro de 2012

Resnais: Auschwitz e Marienbad

Lembrei-me do realizador francês Alain Resnais por dois motivos: primeiro, porque é o realizador que filmou, pela primeira vez, o campo de extermínio nazi de Auschwitz no brilhante documentário "Noite e Nevoeiro" (1955) - e hoje comemoram-se 67 anos da libertação desse campo; segundo, porque Alain Resnais é também o cineasta do filme que agora serve de imagem inicial a este (renovado) visual do blogue: "O Último Ano em Marienbad".
E que filme é este? Provavelmente, um filme mais comentado do que realmente visto. Um filme de uma estirpe formal e estética rara no cinema actual. E o que conta este filme? Muito, pouco ou nada, conforme a interpretação: num luxuoso e enorme hotel, um estranho quer convencer uma mulher casada para fugirem juntos. Porém, parece difícil ela lembrar-se que tiveram um caso (ou talvez não tiveram) no último ano em Marienbad. Este é o mote de um dos mais enigmáticos e fascinantes filmes de sempre: "L'Année Dernière à Marienbad" (título original). Uma obra que, mais do que qualquer outra, evoca uma inusitada energia os labirintos da consciência e da memória. O cineasta disse, a propósito deste filme: "Fiz uma tentativa crua e primitiva para captar a complexidade do pensamento e os seus mecanismos."
Tudo é enigmático e barroco nesta obra de Resnais, desde as personagens ao ambiente criado, à voz off que narra acontecimentos em forma de poesia onírica, a realização em longos planos-sequência, a montagem elíptica, os hipnóticos movimentos de câmara, a narrativa cerebral. Visualmente, "O Último Ano em Marienbad" é um filme belo como poucos, feito de uma expressividade plástica depuradíssima. Para o sucesso artístico do filme muito contribuiu o texto e argumento de Alain Robbe-Grillet (um dos expoentes do chamado "Novo Romance" francês"), perfeito para a visão barroca de Alain Resnais.

As personagens são todas anónimas, sem alma, e vítimas de um qualquer encantamento que povoa o palácio internacional (e o seu vasto jardim) onde toda a acção do filme se desenrola - uma espécie de cela dourada e labiríntica, afastada do mundo real, quase num universo paralelo de consciência. A personagem feminina principal, mulher enigmática e sem nome (tal como o homem que a seduz), é encarnada por uma fascinante e bela actriz: Delphine Seyrig (trabalhou também com Truffaut e Buñuel). Os diálogos e pensamentos que o espectador lê são verdadeiros textos poéticos, plenos de luz e de sombras, de evocações e emoções, de enigmas e memórias.

Depois, a câmara de Alain Resnais filma o majestoso palácio e as personagens como raramente se viu no cinema, através de movimentos de câmara que mais parecem movimentos de volúpia e de sedução - planos-sequência de tirar o fôlego de tanta beleza. Quase como se a câmara de filmar não existisse e fosse substituída pelo olhar do próprio espectador, atento aos mais ínfimos pormenores da arquitectura, das estátuas, dos olhares e movimentos, da subtileza das decorações barrocas daquele espaço.

Em suma, um filme mítico, hipnótico, ousado, que se revê sempre com renovado prazer e surpresa e cuja modernidade intrínseca sobreviveu, sem mácula, ao desgaste das décadas.

Cinema português: a encruzilhada

Para ler e reflectir sobre o futuro do cinema português:

quinta-feira, 26 de janeiro de 2012

Estreias aos pontapés


Hoje regista-se mais uma avalanche de estreias comerciais nas salas portuguesas: oito filmes! Tem sido esta a média de filmes que estreiam todas as semanas em Portugal. Em cada mês, uns 30 filmes novos nas salas. Quase um por dia. Um ritmo louco que não corresponde às proporções do mercado cinematográfico português (perdeu 800 mil espectadores em 2011) nem abona a favor do sistema de distribuição dos filmes.
É como se as distribuidoras lançassem para as feras filmes aos magotes só para despachar mercadora, sem critério nem rigor objectivo. E isto quando se sabe que há bons filmes que vão directamente para o mercado de venda de filmes (DVD) ou para a exibição nas televisões e dezenas de filmes perfeitamente dispensáveis que inundam os cartazes semanais das salas comerciais.
E o nicho dos filmes de autor e independentes, que percorrem festivais internacionais de cinema, que ganham prémios de reconhecimento, que outorgam grandeza artística à palavra "cinema", está cada vez mais a reduzir-se em termos de expressão.
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Não esquecer outro dado importante e sintomático dos tempos que correm: nos últimos dois anos, duas capitais de distrito ficaram sem salas de cinema: Évora e Bragança. E a ameaça paira no ar noutras cidades capitais de distrito. Apesar das críticas que se possam fazer aos critérios de distribuição dos filmes e da mediania (ou mediocridade) da maior parte deles, a verdade é que é sempre um drama maior ficar sem nenhuma sala de cinema numa cidade média portuguesa. Mal por mal, em cada 10 filmes estreados, há-de haver um ou outro, de tempos a tempos, que valha realmente a pena ir ver ao cinema...

Saudades das férias

Facelift

A razão pela qual este blog redefiniu visualmente o seu "layout" tem a ver com o facto da necessidade que tenho sentido, há muito tempo, de aumentar o espaço disponível para imagens e vídeos.

A nova imagem do blog é retirada do filme "O Último Ano em Marienbad" (1961) de Alain Resnais.

quarta-feira, 25 de janeiro de 2012

Playtime #68


A solução: "Nostalgia" (1983) - Andrei Tarkovski
Quem descobriu: Rui Gonçalves

"I Will Find You"

Vale a pena perder (pouco mais) de 3 minutos para ver esta bela curta-metragem de animação intitulada "I Will Find You", de Andrei Bakhurin. Não só o filme em si é delicioso (com um twist final da história ao mesmo tempo terno e tenebroso) como também vale a pena pela música dos excelentes Estradasphere:

terça-feira, 24 de janeiro de 2012

O adeus a Theo


A notícia de hoje mais relevante e importante do mundo cinematográfico não tem a ver com as nomeações dos Óscares.
A notícia de hoje mais relevante e importante do mundo cinematográfico tem a ver com a morte súbita e trágica de um grande cineasta contemporâneo que ainda estava em plena actividade (aos 76 anos): Theo Angelopoulos.
RIP.

Música para grutas



Ainda não vi o documentário "A Gruta dos Sonhos Perdidos" de Werner Herzog. Mas um amigo meu, cujo gosto cinéfilo tenho muito em conta, contou-me que já o viu e, ainda por cima, na versão disponível em 3D.

Garantiu-me que se trata de um belo filme sobre as fascinantes e misteriosas Grutas Chauvet, em França, e que a utilização do 3D está muito bem conseguida ("Parece mesmo que o espectador está lá em baixo nos abismos da gruta", disse-me).

Outro aspecto que salientou do documentário de Herzog é a utilização da música original, a qual contribui para o envolvimento quase espiritual da exploração das grutas. E como também confio no gosto musical do meu amigo, fui pesquisar quem é o autor da música: Ernst Reijseger (na imagem), um violoncelista e compositor holandês com larga experiência no jazz de vanguarda, na música improvisada e na erudita contemporânea (já não é a primeira vez que faz música para filmes de Werner Herzog).

Ouvi vários excertos da música original de Ernst Reijseger e gostei bastante. Poderia dizer que, mesmo não tendo visto o documentário, senti que a sua música evoca fortes imagens, ambientes misteriosos e uma especial dialéctica lírica entre homem e natureza. Gosto especialmente da força espiritual que emana desta composição:

Agora que já ouvi a música, resta-me ver o filme...

segunda-feira, 23 de janeiro de 2012

"Inception" by... Fritz Lang!

O jornal Daily Mail divulgou há dias uma interessante reportagem subordinada a uma simples e desafiadora questão: "E se os modernos blockbusters tivessem sido feitos na década de 50?" Pegando nesta premissa, o artista gráfico americano Peter Stults reinventou os posters de filmes como "Inception", "Pulp Fiction" ou "Trainspotting", criando imagens totalmente vintage. Para além da óbvia curiosidade dos posters feitos na forma estética dos anos 50 e 60, é também curioso os nomes dos créditos artísticos.
Assim, o filme "Trainspotting" seria realizado por Jean-Luc Godard e interpretado por uns jovens Michael Caine e Anthony Hopkins; ou o "Inception" realizado por Fritz Lang e interpretado por Burt Lancaster e Rita Hayworth! E quem melhor para actor em "Drive" do que... James Dean?!
Eis as provas:

domingo, 22 de janeiro de 2012

A saga dos "biopics"



Parece que, depois das sequelas e prequelas, Hollywood vai investir em força nos filmes biográficos de personalidades famosas das artes do espectáculo.

Na última década, houve dezenas de "biopics" sobre outras tantas figuras históricas mundiais: Bob Dylan, Edith Piaf, Ian Curtis, Bettie Page, Truman Capote, John Lennon, Harvey Pekar, Margareth Thatcher, Winston Churchill, Kurt Cobain, Nelson Mandela, Harvey Milk, Coco Chanel, Stravinski, Che Guevara, Ian Dury, Johnny Cash, Ray Charles, Howard Hughes, Frida Kahlo, Marilyn Monroe, etc. (até em Portugal já pegou a moda: depois de Amália Rodrigues e Aristides de Sousa Mendes, está em marca o filme biográfico do António Variações).

A mais recente notícia de um projecto para um filme de cariz biográfico é "Grace of Monaco", sobre a actriz e princesa Grace Kelly. O filme será realizado por Olivier Dahan, conhecido pelo filme biográfico de Edith Piaf, "La Vie en Rose". Entretanto, parece que se confirma que Megan Fox vai encarnar a diva Elizabeth Taylor num filme sobre esta actriz que reinou na era dourada de Hollywood.

Se algum produtor de Hollywood ler este blog, eis as minhas sugestões de nomes (cinema, música, pintura e literatura) para futuros "biopics":


- Erik Satie

- Marcel Duchamp

- Antonin Artaud

- Francis Bacon

- Katharine Hepburn

- Lou Reed

- René Magritte

- Humphrey Bogart

- John Cage

- Frank Zappa

- Alfred Hitchcock

- Ozzy Osbourne

- Ingrid Bergman

- Greta Garbo

- Charles Bukowski

- Louise Brooks

- Montgomery Clift

- Dennis Hopper

- Janis Joplin

- Samuel Beckett

- John Wayne

- William S. Burroughs

- Glenn Gould

- Boris Vian

- Malcom McLaren

- Eric von Stroheim

- Jacques Tati

- Jimi Hendrix

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Acredito que, com actores e actrizes adequados a cada personalidade e o realizador ideal, poderiam sair daqui grandes filmes.


ADENDA: Acabo de ler no jornal Expresso que, afinal, quem vai interpretar Elizabeth Taylor é a actriz Lindsay Lohan, num filme com o título "Elizabeth & Richard".


Lindsay Lohan?...

sábado, 21 de janeiro de 2012

Os filmes de Payne



Estou muito curioso para ver "Os Descendentes" de Alexander Payne. Por um motivo especial: gostei muito dos dois filmes anteriores deste realizador: "About Schmidt" (2002) e "Sideways" (2004).

Ambos são obras notáveis que exploram um género muito difícil de alcançar com qualidade reconhecida: a comédia dramática (cuja referência maior no cinema contemporâneo é Woody Allen). Conseguir equilibrar a comédia e o drama num só filme, com um argumento astucioso e equilibrado e interpretações convincentes, não é para todos.

Alexander Payne tem conseguido gerir sabiamente estes elementos e os dois filmes referidos são exemplos da forma como, criticando certos hábitos e sectores da sociedade americana, consegue levar a bom porto os seus intentos. São também filmes que exprimem um certo sentimento melancólico da vida e uma visão desapaixonada da sociedade moderna.



"Sideways", sobretudo, é uma película brilhante que parte do vinho como metáfora da vida, através da viagem de despedida de solteiro de dois homens pela viciante Califórnia vinícola. A interpretação memorável de Paul Giamatti como escritor frustrado depressivo e pessimista, em contraponto à visão boémia do seu amigo, é um dos aspectos que dá especial brilho a esta sensível (e divertida) história sobre relações humanas fracassadas.
Sobre o filme "About Schmidt", com um fantástico Jack Nicholson, escrevi isto há tempos.

quinta-feira, 19 de janeiro de 2012

Requiem pelo MOTM


Hoje é um dia triste para a comunidade cinéfila (e não só) da internet e da blogosfera: as autoridades norte-americanas fecharam o sítio Megaupload, um dos mais conhecidos e populares servidores de partilha de informação à escala global.
Esta medida afecta muitos milhões de utilizadores da internet, entre os quais o criador do fantástico blog My One Thousand Movies.
Este blog, único a nível nacional e até internacional, disponibilizou 2700 filmes ao longo de quase 4 anos de intensa actividade. 2700 filmes de irrefutável qualidade artística, o melhor do melhor que a história do cinema nos deu estava neste sítio que foi um espaço de partilha e de fruição de filmes clássicos, de autor e raros. Mas havia muito mais: filmes representativos de todas as décadas da história do cinema, de variadíssimas cinematografias mundiais (portuguesa incluída), com sinopse detalhada para cada filme apresentado e um resumo vídeo do YouTube. E ainda muitos títulos que nem sequer têm edição nacional em DVD.
Ao longo destes anos, muitas centenas ou milhares de pessoas puderam conhecer filmes e cinematografias através do MOTM, numa espécie de processo de formação cinéfila online que muito enriqueceu, sobretudo, as novas gerações de amantes da 7ªArte. Eu próprio, enquanto cinéfilo, conheci e vi muitos, muitos filmes que o MOTM tinha no seu sítio.
Em suma, uma verdadeira mina de ouro e um serviço público irrepreensível para cinéfilos que agora foi completamente dizimada por causa desta medida.
Em segundos, os 2700 filmes disponíveis online, desapareceram como que levados por um tornado de leis que querem defender os "direitos de autor" de uma minoria e beneficiar economicamente deste encerramento forçado (e se as propostas de leis antipirataria PIPA e SOPA foram aprovadas nos EUA, é certo que a liberdade de informação na internet, tal como a conhecemos, vai ser fortemente abalada e até destruída).
A morte do MOTM constitui, pois, uma verdadeira perda para o ideal de liberdade da partilha da informação e da circulação do conhecimento nesta nova era digital.
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Por isso, resta-me agradecer, com enorme respeito e sentimento de gratidão, o trabalho incansável do Francisco Rocha, autor do My One Thousand Movies, pela sua paixão pelo cinema, pela sua abnegação e pela forma como enriqueceu as vidas de muitas pessoas com o seu labor diário.
Como forma simbólica de homenagem, deixo aqui ao Francisco o trailer do seu filme preferido de sempre. Eu sei que ele já viu muitas vezes este trailer e este filme, mas serve apenas de reconforto e de estímulo para continuar, quiçá por outra via, a demonstrar o seu amor pelo cinema. Obrigado!

Genealogia de Fotogramas #16












"Blue Valentine" (2010) - Derek Cianfrance