sábado, 28 de fevereiro de 2009

Todos querem ser Dalí


Todos querem ser Salvador Dalí no cinema: Antonio Banderas, Al Pacino, Johnny Depp e até o veterano Peter O'Toole querem interpretar o artista surrealista. A questão é que não é fácil encontrar um bom argumento para ser adaptado ao grande ecrã, que garanta fidelidade e respeito pela obra e vida do pintor espanhol. A Fundação Gala-Salvador Dalí não cede os direitos de autor enquanto não encontrar um argumento que não desvirtue a vida de Dalí (pródiga em escândalos e polémicas). O presidente da Fundação, Manel Sevillano, garante que "a última coisa que faltava a Dalí era que um mau filme sobre a sua vida tivesse êxito". Por isso já recusou 11 argumentos, quase todos vindos de Hollywood. Argumentos à parte, gostaria muito de ver Johnny Depp a interpretar o pintor de bigode excêntrico. Quem fez um excelente trabalho na interpretação de Ed Wood, faria também uma óptima encarnação de Dalí.

Saudade

Não é propriamente um videoclip - porque alguém se limitou a colar umas pindéricas paisagens de postal ilustrado a uma música que exigia referências estéticas visuais mais elevadas. Mas o que importa é a música. Sempre que ouço esta belíssima música penso que o guitarrista português Carlos Paredes a poderia ter composto. Mas não. Foram os ingleses Love and Rockets, que provaram que a saudade não é um sentimento exclusivo português.

O novo coppola


Fixem esta imagem. É parte do próximo e aguardado filme de Francis Ford Coppola, "Tetro". Conta-se que se trata do projecto mais pessoal do criador de "O Padrinho", tanto mais que o argumento é original, escrito pelo próprio realizador e baseado nas suas memórias de infância (a história de dois irmãos desavindos). O elenco é multinacional: as espanholas Maribel Verdú e Carmen Maura, o austríaco Klaus Maria Brandauer, o argentino Rodrigo De la Serna e o americano Vincent Gallo (na imagem).
"Tetro" ainda não tem data prevista de estreia mas já tem site - ainda que pouco desenvolvido. No entanto, para os interessados em seguir os pormenroes do filme, há a possibilidade de se registar para receber via mail novidades sobre o mesmo. Não é querer ser provocador, mas anseio muito mais por este novo Coppola do que pelo novo Tarantino.

Díptico - 54


Ben Stiller (nos Óscares) e o ex-actor-agora-cantor Joaquin Phoenix

sexta-feira, 27 de fevereiro de 2009

Massacre memorável


O tiroteio que encerra o fabuloso western "The Wild Bunch" ("A Quadrilha Selvagem", 1969) do grande e pouco citado Sam Peckinpah, é considerado o mais brutal e complexo jamais rodado: quatro homens enfrentam duzentos e ninguém sobrevive. A cena dura dez intensos minutos, para os quais foram necessários 27 dias de filmagem. Usaram-se mil armas e mais de noventa mil carregadores de munição de fogo. A novidade que Peckinpah introduziu neste filme foi a de mostrar o impacto dos disparos em câmara-lenta ("super-slow motion") e o sangue jorrar, estetizando a violência gráfica como raramente se tinha visto até então. Ainda para mais, "The Wild Bunch" é o primeiro filme no qual se vêem protagonistas dispararem contra crianças que se escondiam atrás de mulheres. Perante tamanha encenação coreográfica da violência, Sam Peckinpah foi censurado e acusado de pouco realista. Ao que respondeu: "O realismo não me itneressa nada; eu faço filmes, não faço documentários", declarou o cineasta, mestre e referência de realizadores como John Woo ou... Tarantino.

quinta-feira, 26 de fevereiro de 2009

O novo Tarantino


Admiro profundamente os dois primeiros filmes do realizador Quentin Tarantino: "Reservoir Dogs" (1992) e "Pulp Fiction" (1994). Duas obras-primas essenciais da década de 90. Tarantino resgatou referências do cinema de acção e violento de série B dos anos 70 e redefiniu-o com uma linguagem estilística repleta de energia e originalidade esfuziante. "Jackie Brown" (1997) e o díptico "Kill Bill" já não me entusiasmaram tanto. O último filme de Quentin Tarantino, "Death Proof" (2007), achei um exercício de exacerbada, presunçosa e redundante citação cinéfila, sem rasgos criativos como outrora.
Agora, a esperança renasce com o aguardado "Inglourious Basterds" (estreia em Agosto), sobre a França ocupada durante a segunda Guerra Mundial (Brad Pitt como actor principal). Vi o trailer já há tempos e, apesar de ser prematuro arriscar qualquer prognóstico, a verdade é que não vislumbrei quaisquer novidades estéticas. Será que Tarantino se quer auto-citar e parodiar o resto da carreira? Depois, a "tagline" usada para promover o filme irrita-me pela sobranceria que acarreta: "You haven't seen war until you've seen it through the eyes of Quentin Tarantino". Pois.
Muito mais cínico e pessimista em relação ao novo Tarantino está o crítico de cinema Paul Maclness do jornal britânico The Guardian. Sem pejo nas palavras, refere mesmo que "Inglourious Basterds" será o "pior filme jamais feito", e que "o realizador já não tem mais nada de novo a dizer". Será o fim do culto Tarantino? Esperemos para ver.
O artigo desenvolvido do Guardian.

Elenco de luxo


O cineasta Woody Allen sempre fez questão de ter grandes actores como protagonistas dos seus filmes. Ainda nada se sabe nada sobre o tema ou o título da sua próxima película, mas já se sabe qual vai ser o grupo de actores com os quais vai trabalhar. Dois dias apenas depois de se saber que a actriz indiana de "Slumdog Millionaire", Freida Pinto, vai fazer parte do elenco do próximo filme de Woody Allen, agora é a vez do reconhecido actor espanhol Antonio Banderas se juntar ao grupo de actores já contratados: Naomi Watts, Josh Brolin e Anthony Hopkins. Um elenco de luxo que irá começar a filmar no próximo Verão em Londres às ordens do realizador americano. Veremos se até lá não se juntarão ainda mais actores e actrizes...

Díptico - 53


"Sorte do Diabo" - Ian Kershaw e "Operação Valquíria" de Jesús Hernández

quarta-feira, 25 de fevereiro de 2009

Two Fingers - um dos dedos é de Amon Tobin


Não sou um ouvinte regular de hip-hop. Apesar disso, há muitos anos, acompanhei com muito entusiasmo a carreira de grupos essenciais como Public Enemy, De La Soul, Disposable Heroes of Hiphoprisy, MC Sollar, Us3, Digable Planets, Arrested Develpment, Beastie Boys, Consolidated, Fugees, entre outros artistas similares. Posso estar enganado, mas sou da opinião que, durante a última década, a produção de hip-hop decaiu sobremaneira com rappers que mais não fazem do que repisar os estereótipos formatados da linguagem hip-hop. A previsibilidade é um dado quase adquirido quando falamos de hip-hop. Na maior parte deste género muisical urbano (mesmo nos grupos mais underground), o fraseado rap não me surpreende, instrumentalmente, as fórmulas são repetitivas, e o discurso de rebelião não me interessa. Por isso têm sido poucos os projectos de hip-hop que tenho ouvido nos últimos anos com interesse e devoção (tirando os Subtle e os Dalek, que são projectos que arriscam uma linguagem própria).
Isto tudo para dizer que, finalmente, descobri um magnífico disco de hip-hop. Um disco que traz uma frescura criativa inusitada ao mundo do hip-hop (e não só). O projecto dá pelo nome de Two Fingers e o disco tem o título homónimo. Mas a verdade é que este álbum não é um genuíno disco de hip-hop. É breakbeat e dubstep, é trip-hop e electrónica experimental com fusões étnicas. Isto porque, na génese do trabalho musical dos Two Fingers, está um senhor chamado Amon Tobin. São da sua responsabilidade as sinuosas e irresistíveis programações rítmicas e os incríveis ambientes sonoros constantes em “Two Fingers”. Mas Amon Tobin não está sozinho neste projecto. Com ele, fazem parte "Doubleclick" Chapmam (músico que conheceu quando Amon viveu em Brighton) e conta com as colaborações de MC como Sway, Ms. Jade, Ce'Cile, Durrty Goodz e Kevin Tuffy. "Two Fingers" é um álbum poderoso, belo e agreste, e que se perfila, sem delongas, como um dos notáveis discos de 2009. Pode ser ouvido um tema aqui e descarregado o álbum na íntegra aqui.

Discos que mudam uma vida - 50


Kubik - "Oblique Musique" (2001)

Óscar português

Valham o que valham, subvalorizados ou sobrevalorizados, vistos como prémios artísticos ou comerciais, a verdade é que os Óscares constituem os prémios mais conceituados do mundo do cinema. Estive a consultar a lista de Óscares desde o início da sua história. Espanha, nuestros hermanos, já arrecadaram quatro Óscares para Melhor Filme Estrangeiro e dois Óscares pelas categorias de Melhor Actor. É obra, para um país como Espanha.
Quando é que o cinema português terá possibilidade de singrar nos Óscares? Quando terá força suficiente, em termos de produção e de projecção internacional, para movimentar um lobby junto da Academia? Já se falou, por diversas vezes, que filmes portugueses poderiam integrar a lista de nomeados à categoria de Melhor Filme Estrangeiro - Manoel de Oliveira, Pedro Costa, Miguel Gomes, João Botelho -, mas tal nunca aconteceu. Alguma vez acontecerá?

Coraline e os dois mundos



O filme “Coraline”, de Henry Selick, o mesmo realizador do celebrado “O Estranho Mundo de Jack” e do menos conseguido "James e o Pêssego Gigante, é uma pequena jóia de cinema de animação. Baseado numa história de Neil Gaiman, “Coraline” é uma variação muito interessante do universo de “Alice no Mundo das Maravilhas” - a criança Coraline descobre uma porta secreta pela qual se aventura num mundo, aparentemente, perfeito. Mas as ilusões enganam (qual “Alegoria da Caverna” de Platão) e por detrás da aparente perfeição e felicidade desse mundo, esconde-se uma malévola força do mal. A ilação moral a retirar da história do filme é óbvia: é preferível o mundo com as suas pequenas imperfeições (desde as relações humanas até às condições materiais) do que um mundo onde julgamos viver uma (falsa) e efémera felicidade.
Visualmente, “Coraline” é assombroso, e visto na sala de cinema em 3D torna-se uma experiência deveras impactante para o espectador. Concebido, basicamente, com a técnica de “stop motion”, o filme de Henry Selick recorre também a técnicas digitais para produzir determinados efeitos especiais, criando dois universos paralelos de um fascinante imaginário visual. “Coraline” não se equipara à qualidade geral (sobretudo à história e à estética) de “O Estranho Mundo de Jack”, mas anda lá perto. A música eficaz do compositor francês Bruno Coulais e da banda They Might Be Giants (apenas um tema) enriquecem sobremaneira as aventuras da personagem Coraline. A versão portuguesa de “Coraline”, traduzida e adaptada por Nuno Markl, está muito bem conseguida, assim como a dobragem dos actores. Em suma, o filme de Henry Selick é um magnífico filme de animação, formalmente sofisticado e criativo, que cumpre rigorosamente a sua função e que avança um passo largo na evolução do cinema de animação “stop motion”.

terça-feira, 24 de fevereiro de 2009

Perseguição no asfalto


A primeira longa-metragem do então jovem realizador Steven Spielberg, “Duel – Assassino Pelas Costas” (1972), é particularmente interessante por vários motivos. Primeiro, porque se tratou de uma excelente adaptação para cinema de um conto originalmente pensado para a televisão, numa realização segura e vibrante. Segundo, por causa da extraordinária mas eficaz economia narrativa: história de dois antagonistas que e uma perseguição visceral na estrada: um automobilista e um camião nas estradas desérticas dos EUA. Terceiro, “Duel” é um notável tratado de montagem e de trabalho de sonoplastia. A banda sonora original, escassa mas contundente, é concebida apenas com base em ruídos e sons do meio ambiente (quando o camião cai pelo desfiladeiro, os sons que se ouvem parecem os de um leão a rugir).
Filmado em apenas 13 dias e com um soberbo Dennis Weaver como condutor perseguido e desnorteado, “Duel” é um magnífica obra de suspense em crescendo de intensidade (que Hitchcock não desdenharia) cimentada numa alucinante perseguição automóvel pelo deserto norte-americano. É quase como se John Ford filmasse um western no qual, em vez de cavalos em perseguição, existissem viaturas. Neste thriller de Spielberg, nunca se vislumbra a cara do camionista assassino, facto que aumenta a tensão no espectador. Da mesma forma, nunca se sabe qual a razão da perseguição mortal. E neste aspecto há uma referência directa a uma película de Hitchcock, na qual não se sabe o motivo da manifestação do Mal: “Pássaros”. Um excelente filme que se tornou de culto e que ainda é, para muitos amantes da obra de Spielberg, um dos favoritos da sua filmografia.

Expresso em grande



Quem gosta de ler jornais sabe que, tão importante como a qualidade da informação, é a qualidade do design gráfico. Um grafismo moderno, apelativo, equilibrado, é hoje essencial para a definição de um projecto jornalístico de referência. A este nível, o semanário Expresso tem sabido adaptar-se às exigências dos tempos modernos, redefinindo o seu grafismo com superlativa criatividade, de tempos a tempos.
Desde a última redefinição do modelo gráfico (há poucos meses), o Expresso melhorou a olhos vistos, principalmente, no que se refere à inovadora concepção da revista Única e ao formato do próprio jornal (já quanto aos conteúdos, é outra história...). Prova desta qualidade gráfica do jornal de Balsemão é o facto da Society For New Design (Nova Iorque) ter premiado o semanário português com o prémio referente ao jornal mais bem desenhado do mundo. Repare-se: do mundo! Já o tinha sido em 2008, e volta a ser granjeado em 2009 com tão prestigiado reconhecimento no mundo dos media. Para se ter uma ideia da dimensão deste prémio, basta dizer que a concorrência que disputou o galardão estava cifrada em 346 jornais de 43 países. Um motivo de orgulho para a imprensa escrita portuguesa.

segunda-feira, 23 de fevereiro de 2009

O livro em tempos de crise


aqui tinha chamado a atenção para a excessiva edição de livros em Portugal. Que mercado consegue aguentar uma avalanche diária de 40 novos livros por dia? Uma média de 13 a 15 mil títulos novos são lançados todos os anos pelas mais de 200 editoras existentes em Portugal. As livrarias já não conseguem escoar tantos livros, os críticos literários não se decidem quanto ao próximo livro a criticar, e os leitores comuns ficam desnorteados com tamanha quantidade de oferta. Estou em crer que grande quantidade de oferta não significa maior investimento na cultura ou maior acesso a ela.
O semanário Expresso publicou esta semana uma reportagem sobre o estado actual do mercado livreiro. Como seria de esperar, a crise económica está já instalada nas livrarias e editoras, apesar de não ser consensual a sua aceitação. Célia Henriques, da Bertrand do Chiado, refere que “vende-se muito menos agora do que há um ano”. A mesma sensação tem a Fnac, que já sentiu as quebras de venda neste Natal. João Alvim, administrador da Editorial Verbo, afirma sem problemas que “há uma crise no sector desde meados de 2008”. Afinando pelo mesmo diapasão, Manuel Valente, da Porto Editora, desabafa que “muitos livreiros se queixaram de uma quebra de vendas e que os intermediários estão a ter mais prudência na compra de novidades”.
Porém, muitos agentes do sector do livro não admitem, ainda, a crise, preferindo não falar em números. António Lobato Faria, da Oficina do Livro, é mais radical e antecipa um futuro negro, quando afirma “os livros não são imunes ao que se passa com os rendimentos das famílias, pelo que, se este ano editarmos da mesma maneira que no passado, é o desastre”. Mais optimista é o argumento de Jaime Bulhosa, da editora Pó dos Livros: “o mercado vai sofrer menos com a crise porque as pessoas ficam mais em casa e têm mais tempo para ler”. Mas em que sentido este argumento justifica a não existência de crise no livro? As pessoas que ficam em casa por causa da crise vão necessariamente ler? Só se lerem livros que compraram há anos e que se amontoavam naquela estante com a indicação “a ler oportunamente”...
A ver vamos como é que o livro vai resistir à onda de crise durante o resto de 2009.

Óscares - o rescaldo


A 81ª Cerimónia dos Óscares foi, sem dúvida, a melhor dos últimos dez anos. A Academia tinha prometido muitas novidades e uma renovação do formato televisivo em termos de produção e de conteúdo. E as expectativas foram claramente superadas, com um espectáculo de televisão magnífico, altamente profissional e surpreendente. Hugh Jackman, como apresentador e anfitrião da cerimónia, demonstrou ser um excelente comunicador, dançarino e cantor (fez lembrar os melhores momentos de Billy Cristal), surpreendendo com os números musicais e as tiradas humorísticas. O ritmo da entrega das estatuetas douradas foi equilibrado e muito melhor apresentado do que nas mornas edições dos últimos anos, com inovações no modelo de apresentação e entrega dos Óscares das categorias principais (como nas de interpretação, em que surgiam cinco actores ou actrizes em palco).
Eis os momentos, quanto a mim, altos e memoráveis desta edição dos Óscares:
- O estilo dandy de Mickey Rourke.
- A excelente prestação de Hugh Jackman.
- O dueto musical entre Hugh Jackman e Anne Hathaway.
- O discurso de agradecimento de Penélope Cruz.
- A emocionante ovação de pé a um debilitado Jerry Lewis.
- A soberba montagem – acompanhada pela canção de Queen Latifah - do momento de evocação das personalidades do cinema falecidas em 2008, finalizando com as imagens de Sydney Pollack e Paul Newman.
- O discurso de Kate Winslet e o momento em que agradece ao pai e diz: “Não sei onde estás, assobia para te ver!”. Então ouve-se um sonoro assobio do meio da plateia.
- O discurso do realizador japonês vencedor do documentário de curta-metragem em que disse, umas 10 vezes, “sank you” (thank you).
- O excelente medley de canções nomeadas ao Óscar com o dueto Hugh Jackman e Beyoncé e o momento musical ao vivo do tema "Jai Ho" de “Slumdog Millionaire”.
- O discurso com conotações políticas do argumentista de “Milk”.
- O discurso honesto e espontâneo de Danny Boyle: elogiou o espectáculo dos Óscares e fez um raro “mea culpa” vindo de um realizador – pediu perdão a um actor indiano que não foi incluído nos créditos do filme.
- A reacção emocionada da actriz Anne Hathaway aos elogios da veterana actriz Shirley MaClaine.
- O olhar emocionado e de respeito de Angelina Jolie, Brad Pitt e Cristopher Nolan no momento do agradecimento do Óscar póstumo a Heath Ledger.
- A derrota, na categoria de Melhor Filme Estrangeiro, dos filmes “A Valsa com Bashir” e “A Turma”.
- O magnífico discurso de Sean Penn, finalizado com uma referência ao concorrente Mickey Rourke, “because he´s back rising again!”.
- A duração bastante mais curta da cerimónia (3h30m) relativamente a edições anteriores (que chegavam às 5h).

sábado, 21 de fevereiro de 2009

Música e cegueira


O meu primeiro professor de música era cego. Teria uns 9 ou 10 anos e recordo-me da impressão que me fazia ver um cego a tocar tão bem piano e guitarra. “Como é que ele consegue?”, perguntava na minha ingenuidade infantil. A verdade é que só mais tarde percebi que os cegos têm uma aptidão especial para a aprendizagem musical. Mais tarde, já no curso superior de música, estudei os mecanismos cerebrais para a aquisição e desenvolvimento da linguagem musical, que nos cegos são particularmente desenvolvidos. Reporto-me, uma vez mais, ao livro Musicofilia de Oliver Sacks. Nem de propósito, no capítulo 13 do livro, o neurologista aborda o tema: “Um Mundo Auditivo: Música e Cegueira”. Oliver Sacks começa por dizer que, quando era miúdo e aprendeu musica, julgava que todos os afinadores de piano eram cegos. Diz ainda que num estudo, descobriu que 40 a 60 por cento das crianças cegas tinham ouvido absoluto (a capacidade de identificar notas musicais isoladas e seus intervalos só pela audição). Nos músicos com visão normal essa capacidade é de apenas 10 por cento, enquanto que nos músicos cegos sobe para uns incríveis 60 por cento. É a prova de que o córtex cerebral responsável pela aprendizagem da linguagem musical se desenvolve mais nas pessoas cegas.

A imagem do músico cego (e do poeta cego) tem uma ressonância histórica quase mítica no imaginário popular. Durante séculos foram os músicos cegos que animavam as festas populares. Tocadores cegos de flauta, harmónica, harpa, cavaquinho, sanfona ou concertina existiam um pouco por todos os povos europeus (assim como na Ásia). O encaminhamento das pessoas cegas para a interpretação é, em parte, um fenómeno social, visto que os cegos eram considerados como estando impedidos de exercer muitas outras profissões. Já durante o século XX, talentosos cantores e tocadores cegos conseguiram fama e reconhecimento artístico, sobretudo, no blues, jazz e gospel: Stevie Wonder, Ray Charles, Art Tatum, José Feliciano, Doc Watson, Ronnie Milsap ou Rahsaan Roland Kirk. Muitos outros músicos juntaram ao seu nome a palavra “Blind”, quase como um título honorífico: Blind Lemon Jefferson, Blind Willie McTell, Blind Willie Johnson e Blind Boys of Alabama. Em Portugal houve uma considerável tradição de músicos e bardos cegos que tocavam nas aldeias. De forma a homenagear o papel desses músicos cegos, o cantor e músico César Prata (ex-elemento dos Chuchurumel) efectuou uma pesquisa de canções tocadas por cegos e dinamizou o projecto “Canções do Ceguinho”, no qual canta canções que outrora fizeram parte do repertório de cegos. Uma forma especial de preservar parte do património musical popular e tradicional português. São canções que contam histórias de faca e alguidar e que povoavam o universo sonoro das feiras e romarias de antigamente.

O poder da música

"Li muitas vezes que a musica é uma realidade completamente distinta. Foi só nos últimos dias de vida do meu pai que comecei a compreender o poder da musica. Quase com cem anos, o meu pai começara a perder a noção da realidade. Devido à doença de Alzheimer, o seu discurso começou a ficar desconexo, os pensamentos isolados, a memória fragmentada e confusa. Quando a conversa começava a ficar dispersa colocava um CD de musica clássica de que ele gostasse, carregava no play e via a transformação.O mundo do meu pai passava a ser lógico e claro. Já não havia confusão, falhas, não ficava perdido e, o mais surpreendente de tudo, não se esquecia. Era um território familiar. Por vezes o meu pai respondia à beleza da musica chorando simplesmente. Como é que podia emocionar-se com esta musica se se tinha esquecido de todas as outras emoções da sua vida – a minha mãe, a minha irmã e eu em crianças, as alegrias do trabalho, da comida, do viajar e da família? Onde é que a música lhe tocava? Onde está a paisagem onde não há esquecimento? Como é que se libertou de outra memória, uma memória do coração que não está presa ao tempo ou ao lugar, aos acontecimentos ou mesmo aos seus amados?"

Carta de Kathryn Koubek a Oliver Sacks, in “Musicofilia” (Relógio D’Água)

sexta-feira, 20 de fevereiro de 2009

Antevisão dos Óscares (talvez fraudulenta, mas...)


Circula na net um documento atribuído à Academia de Artes e Ciências Cinematográficas de Hollywood, com as presumíveis decisões finais sobre os Óscares. Não sei até que ponto este documento é credível ou meramente fraudulento. Mas vou achar piada se os actores e filmes premiados com o Óscar no próximo dia 22 coincidirem, categoria a categoria, com estes aqui referidos (clicar para aumentar).

Sem apoios, morre

O cinema português já anda pelas ruas da amargura, em termos de financiamento e de apoios. Está a definhar. Os realizadores e técnicos desesperam. O panorama nacional agrava-se e mais ano, menos ano, pode vir mesmo a desaparecer.

Díptico - 52


"Bird" (1988) de Clint Eastwood e "Round Midninght" (1986) de Bertrand Tavernier

quinta-feira, 19 de fevereiro de 2009

A ilusão


("Piratas das Caraíbas" - antes e depois dos efeitos digitais por computador)

Nazismo e cultura


Em 2009 assinalam-se 70 anos do início da Segunda Guerra Mundial. Os órgãos de comunicação vão acordar para este facto quando, a 1 de Setembro próximo, se comemorar 70 anos da invasão da Polónia por Hilter, verdadeiro ponto de partida para o início do devastador conflito mundial. O Centro Cultural de Belém resolveu adiantar-se e programar um interessante evento denominado "O Nazismo e a Cultura: Confrontações", que decorre de 5 de Fevereiro a 1 de Março. Uma iniciativa que coloca inúmeras questões pertinentes sobre a relação que o Terceiro Reich manteve com as diversas manifestações artísticas (da literatura à música, do cinema às artes plásticas) e que herança deixou o Nazismo decorrente dessa relação. Um programa recheado de conferências, exposições, debates, cinema e concertos. O programa de filmes é de excelente qualidade (Resnais, Bergman, Fassbinder, Schlöndorff, Riefenstahl...), mas para ser completo faltaria incluir uma mão cheia de outras obras - como o recentemente comentado filme "Vem e Vê" de Klimov (a perspectiva histórica do Nazismo vista pelo lado da USSR) ou o fundamental documentário "Shoah").
E no campo das conferências/debates, julgo que é clamoroso não haver um tema à volta da última grande obra literária criada a partir da memória histórica do Holocausto - "As Benevolentes" de Jonathan Littell. Seja como, o ciclo "O Nazismo e a Cultura: Confrontações", não deixa de ser um excelente momento de recuperação da memória histórica recente (sobretudo para as novas gerações - é que só agora reparei na quantidade estúpida de propaganda neo-nazi que prolifera no youtube!).

O papel da vida de Elizabeth Taylor


Poucos filmes existem com uma interpretação feminina tão intensa e perfeita quanto "Quem Tem Medo de Virginia Woolf?" (1966) de Mike Nichols. Elizabeth Taylor é a perturbada Martha, mulher de meia idade, alcoólica e emocionalmente instável, que numa única noite afunda o seu casamento com George (Richard Burton) numa espiral de violência e degradação como raramente de viu no grande ecrã. Um trabalho de composição verdadeiramente notável e arrepiante num intrépido drama filmado com parcos recursos: apenas quatro personagens, uma sala de estar como elementos principais.
Um olhar frio sobre as contradições e derrapagens emocionais de um casamento à beira da ruptura e da total desorientação, no qual o amor e o ódio se revelam faces da mesma moeda. Nomeado a 13 Óscares e vencedor de 5 - incluindo o Óscar para Taylor - "Quem Tem Medo de Virgina Woolf?" é uma prodigiosa demonstração de uma obra extremamente bem conseguida ao nível da realização, fotografia, interpretação e argumento (baseado no livro de Edward Albee).
Elizabeth Taylor prova os seus incríveis recursos de actriz encarnando a débil e atormentada Martha, um dos papéis mais difíceis e exigentes da sua carreira. E custa a acreditar que tenha aceite contracenar com Richard Burton num drama tão dilacerante, tanto mais que, na dita vida real, estavam casados.
A seguinte sequência, entre outras do filme, exemplifica bem a qualidade da interpretação de Elizabeth Taylor, os diálogos acutilantes, e a fotografia a preto e branco que denunciam uma viagem ao desespero - sem regresso - na relação entre um homem e uma mulher:

quarta-feira, 18 de fevereiro de 2009

Os Portishead e o futuro


A crise de inspiração chega a todos os artistas. Inclusive, a artistas tão reputados e amados como os Portishead. Terminado o contrado com a editora Universal, a banda da cantora Beth Gibbons debate-se agora com o... futuro. O que fazer? Quando editar o próximo álbum e de que forma? Talvez apostar como os Sonic Youth e assinar por uma editora independente? Ou fazer como o célebre caso dos Radiohead e editar gratuitamente o disco na Internet? Geoff Barrow, membro da banda de Bristol, manifestou-se preocupado e escreveu uma nota no myspace. Mais: é tal a indecisão do grupo que até aceitam sugestões da parte dos fãs (estiveram um dia inteiro a pensar no futuro sem nenhuma solução encontrada)! Quem quiser contribuir com ideias criativas, é favor ler primeiro o comunicado de Geoff. Abrir aqui.

100 anos de um Manifesto revolucionário


A primeira vanguarda histórica das artes do século XX surgiu nestas páginas do jornal francês Le Figaro. As premissas teóricas do Futurismo de Filippo Marinetti foram publicadas pela primeira vez no jornal francês, em forma de Manifesto Futurista. Foi no dia 20 de Fevereiro de 1909. Faz agora 100 anos. Marinetti considerava que os habituais recursos da arte - forma e cor - já não bastavam para expressar a complexidade social, cultural e política do mundo moderno e industrializado que então começava a despontar nas sociedades ocidentais. Assim, era necessário incorporar outros elementos para estabelecer uma ruptura radical com o passado: o movimento, a velocidade, a vida moderna, a violência e as máquinas, foram tópicos desenvolvidos pela arte Futurista.
O Futurismo italiano estendeu-se, igualmente, à pintura, à literatura e à música. Com Marinetti houve outro grande visionário, Luigi Russolo, inventor das "máquinas de fazer ruído", que já abordei neste post. Foi com Russolo que o ruído foi, pela primeira vez na história da música, utilizado com intencionalidade estética e artística. O Futurismo extinguiu-se ainda antes do fim da primeira Grande Guerra (1916), mas deixou uma indelével herança teórica por toda a Europa, despoletando outros movimentos de vanguarda, como o Dadaísmo e o Surrealismo.
Um dia tive um professor de artes visuais que me disse que nunca mais houve, em todo o século XX, um período tão rico e inovador em termos de ideias e de experiências artísticas como no período das duas primeiras décadas do século XX. Duas décadas de total libertação de convenções, de libertação ao encontro da novidade, da transgressão, da audácia criativa. Não foi de imediato, mas ao fim de alguns anos acabei por achar que esse professor tinha total razão.

Filippo Marinetti

Discos que mudam uma vida - 49


Young Marble Giants - "Colossal Youth" (1980)

terça-feira, 17 de fevereiro de 2009

Um filme que é uma viagem à loucura da guerra



Já conhecia a fama do filme de há uns anos a esta parte. Sabia que estava à venda na Midas Filmes há mais de um ano. Sabia que havia comentários referindo que se tratava de um dos mais impressionantes filmes de guerra jamais realizados. Sabia que a edição do DVD estava esgotada na Fnac há meses. Daí que tenha recorrido ao óbvio: encomendar directamente da distribuidora portuguesa. Vi-o há dias e garanto: é dos filmes mais espantosos que alguma vez na vida. Chama-se "Vem e Vê" (título retirado do livro do Apocalipse) e foi realizado pelo russo Elem Klimov em 1985. Klimov nunca mais voltou a realizar depois desta obra. Porquê? Simplesmente porque, segundo o próprio, tudo o que tinha a dizer disse-o neste brutal documento sobre a segunda guerra mundial. E assim é.
A história é a de um adolescente (um rapaz de 16 anos) que testemunha os horrores Nazis cometidos em aldeias da Bielorússia (dizimaram 600 aldeias!). Uma descida total, frenética e sem concessões aos abismos da mais pura loucura que nem o Coronel Kurtz em "Apocalypse Now" terá experienciado. Uma descida aos infernos de pura alucinação e horror psicológico derivados da violência e do desespero presenciado pelo ingénuo rapaz. E não se trata de mera ficção, uma vez que "Vem e Vê" parte de um episódio verídico ocorrido durante a segunda Guerra Mundial.
Foram usados uniformes verdadeiros e munição real, para acentuar o realismo do filme, e quase toda a película foi filmada com recurso a "Steadycam" (incrível trabalho de câmara), fazendo parecer que a câmara se cola permanentemente à acção e aos personagens. O protagonista Florya (interpretado por um espantoso acotr de nome Alexei Kravchenko) tenta fugir dos horrores sem deles conseguir escapar. Kravchenko tem, aqui, uma das mais incríveis interpretações do cinema levadas a cabo por um adolescente. O terror está estampado no rosto como que se fosse esculpido de angústia e perplexidade. Passou por verdadeiras privações durante a rodagem do filme, de tal forma que o realizador Klimov quis hipnotizá-lo, nas cenas mais violentas, para não as não presenciar! O jovem actor recusou.
Há outros elementos fulcrais no filme que o tornam único. A primeira metade do filme lembra "A Infância de Ivan" (1962) de Tarkovski, sobretudo nas sequências na floresta, plenas de lirismo visual filmadas em plano-sequência com uma brilhante fotografia. A segunda metade do filme, quando a violência desponta e o desnorte se apodera do jovem, entramos num patamar de demência raramente vista em filmes de guerra. A música original é densa e claustrofóbica e o trabalho de sonoplastia é de puro mestre (como quando o Florya fica surdo devido a uma explosão: o som que ouvimos é um som cavo e filtrado, tal e qual o que o protagonista sentia).

E depois, depois há o final. Um final absolutamente surpreendente e apocalíptico, que não deixa margens para dúvidas: Elem Klimov fez um filme para denunciar a tragédia do Holocausto e revelar ao mundo a pura e dura natureza malévola do homem. Esse final, de alguns minutos sufocantes, é constituído por momentos de grande tensão dramática, com o jovem Florya, possesso de raiva, rosto envelhecido e revoltado perante as atrocidades que não compreendia, dispara contra um quadro de Hilter estendido no meio da lama. Ouve-se o "Requiem" de Mozart (como nunca o ouvimos) e vemos as imagens de arquivo da ascensão do Nazismo fazerem um retrocesso no tempo, ao ritmo dos disparos de Florya (e mais não conto para não servir de "spoiler" para quem não viu o filme). "Vem e Vê" é uma experiência de cinema verdadeiramente arrebatadora e difícil de suplantar. E será certamente um dos melhores filmes de guerra jamais feitos. Uma obra-prima de rara beleza estética, artística e de inequívoca grandeza documental/histórica.

As sequelas impossíveis (digo eu)

Já que vem aí uma sequela do filme de culto "Donnie Darko", proponho que haja, de igual modo, sequelas dos seguintes filmes:
- "A Noite do Caçador"
- "Blade Runner"
- "Eraserhead"
- "Reservoir Dogs"
- "Aguirre: A Cólera de Deus"
- "Wild Bunch"
- "A Laranja Mecânica"
- "Blue Velvet"
- "Morte em Veneza"
- "Paris, Texas"
- "O Feitiço do Tempo"
- "O Eclipse"
- "A Pianista"
- "Lost in Translation"
- "Hiroshima meu Amor"
- "A Estrada"
- "Seven"
Sempre queria ver a "coragem" dos produtores de Hollywood...

Uma sucessão de hábitos


“O hábito é o balastro que prende o cão ao seu vómito. Respirar é um hábito. A vida é um hábito. Ou melhor, a vida é uma sucessão de hábitos, porque o indivíduo é uma sucessão de indivíduos. Hábito é pois o termo genérico para os inúmeros contratos celebrados entre os inúmeros sujeitos que constituem o indivíduo e os seus inúmeros objectos correlativos. Os períodos de transição que separam as consecutivas adaptações representam as zonas perigosas na vida do indivíduo, perigosas, penosas, misteriosas e férteis, em que, por um momento, o tédio de viver é substituído pelo sofrimento de ser.”
Samuel Beckett, in "À Espera de Godot”

As dimensões do diálogo

segunda-feira, 16 de fevereiro de 2009

A violência sobre os terráqueos como nós

Alertado pelo meu amigo e blogger Rolando, fiquei a conhecer um documentário perturbante sobre os direitos dos animais – “Earthlings” (“Terráqueos”). Confesso que nunca tinha ligado muito à teoria do Especismo, a qual, basicamente, preconiza que os interesses de um indivíduo são de menor importância pelo mero facto de se pertencer a uma determinada espécie. Defende, também, os direitos dos animais até às últimas consequências. O Especismo está ligado ao movimento vegetariano (ou Vegan).
Ora, depois de ver o dito documentário “Earthlings” (2005), realizado por Shaun Monson e narrado pelo actor e activista Joaquin Phoenix (é vegetariano e membro da PETA, a maior organização mundial de defesa dos animais) fiquei com a clara ideia de que o estado civilizacional a que o homem chegou se encontra, para com os direitos dos animais, numa espécie de idade das trevas. Paradoxo? Nem por isso. “Earthlings” relata a dependência da humanidade em relação aos animais (terráqueos como nós) para obter alimentação, vestuário e diversão, além do uso em experiências científicas. Câmaras ocultas vasculharam indústrias de alimentação animal, científicas e de diversão (circos) para mostrar ao mundo as torturas, mortes e sofrimentos a que são submetidos os animais. Sangue e horror a jorros é o que podemos ver, não sem indignação moral, neste filme que agitou consciências e alertou o mundo para um repensar da relação dos humanos para com os animais.
Impressionante é, igualmente, a narração da voz off do actor Joaquin Phoenix. Com total domínio emocional vocal e sem sentimentalismos fáceis (apesar da dureza das imagens), Phoenix relata friamente as terríveis imagens que são visionadas. A música original do artista Moby ajuda a criar densidade dramática. É um documentário duro, violento, cruel e perturbante, mas que tem o condão de alertar consciências colectivas e denunciar os maus tratos a que são sujeitos animais tão dóceis e indefesos como os golfinhos, macacos, porcos, gatos, cães, vacas, etc.
Como não está ainda no mercado de DVD nacional, vale a pena ver “Earthlings”, integralmente e com legendas em português, aqui.

domingo, 15 de fevereiro de 2009

Díptico - 51


"Donnie Darko" (2001) de Richard Kelly e "S.Darko" (2009) de Chris Fisher.
"S.Darko": uma sequela, ainda por estrear, de um dos mais singulares filmes independentes e de culto da última década. É preciso coragem!

Stephen King - as adaptações ao cinema


Se há um nome incontornável da literatura moderna de terror esse nome só pode ser Stephen King. Herdeiro da tradição literária dos contos góticos e fantásticos de Edgar Allan Poe e Lovecraft, King desenvolveu um extraordinário talento para contar histórias de notável suspense e horror, sobrenaturais ou não. E não esqueçamos que King se revelou, não apenas como escritor do género de terror, como também ao nível da ficção que nada tem a ver com o medo. São os casos dos livros "Stand by Me" e "Shawshank Redemption".
Por outro lado, se há escritor cujas obras foram, bastas vezes, adaptadas ao cinema (e à televisão), Stephen King também lidera a lista. Foram, literalmente, dezenas e dezenas de filmes com base em contos, novelas e romances do mestre do terror fantástico. Muitas adaptações são sofríveis porque apenas exploraram o filão comercial do nome do escritor sem quaisquer resultados em termos artísticos. Mas muitos outros realizadores conseguiram transpor para o grande ecrã as histórias de King com grande mestria. E há até realizadores que, praticamente, só fazem filmes com base em histórias de King (como Frank Darabont). De todos os filmes que conheço baseados na obra de Stephen King, eis os meus 12 filmes favoritos:

12 - "A Janela Secreta" (2004) de David Koepp
11 - "Pet Sematary" (1989) de Mary Lambert
10 - "1408" (2007) de Mikael Håfström"
9 - "Christine" (1983) de John Carpenter
8 - "Carrie" (1976) de Brian De Palma
7 - "The Green Mile" (1999) de Frank Darabont
6 - "The Mist" (2007) de Frank Darabont
E o magnífico top 5:
5 - "Misery" (1990) de Bob Reiner

4 - "The Dead Zone" (1983) de David Cronenberg

3 - "Stand by Me" (1986) de Bob Reiner

2 - "Os Condenados de Shawshank" (1994) de Frank Darabont

1 - "The Shining" (1980) de Stanley Kubrick

sábado, 14 de fevereiro de 2009

Um fio de sangue pela mão abaixo

De todas as notáveis fotografias que venceram o World Press Photo 2008, a minha favorita é esta. Uma imagem tirada nos motins da Grécia pelo fotojornalista grego Yannis Kolesidis. É espantoso o momento captado: o pormenor do sangue a escorrer pela mão de alguém que segura, zelosamente, uma pasta vermelha (cor de sangue) com os escudos da polícia de choque em segundo plano. Um momento de grande tensão e incerteza. Apesar de ter sido tirada num ambiente de grande agitação de massas, o fotógrafo parece ter tido o discernimento suficiente para focar a subtileza terrível daquele fio de sangue. Uma imagem que quase parece saída de um plano de um thriller realizado por um cineasta de grande domínio visual e plástico (não arrisco nomes). Uma imagem que poderia ser o cartaz de um filme político. O espectador olha (tal como olhou a objectiva da câmara fotográfica) para esta imagem e pergunta-se que ferimento teve este homem? Sentia o sangue que lhe escorria pela mão? O que trazia na pasta? Provavelmente, nunca o saberemos. E nem importa muito, na verdade.
Nota: carregando na imagem vê-se melhor a qualidade plástica da fotografia.

Piores capas de sempre?

Ouvi (ou li) algures que os Scorpions vão brevemente regressar ao nosso país. Sempre que ouço falar desta banda alemã fico com os pelos eriçados. Se há banda pela qual tenho uma repulsa imediata é com os Scorpions. Pode ser problema meu, não sei. Mas não nunca consegui aguentar aquelas baladas rock FM como a intragável "Still Loving You" ou "Loving You Sunday Morning", que tanto soaram nos tops dos anos 80. Mas para além da música, sempre abominei o visual da banda (como tantas oturas dos dourados anos 80 como os Europe) e, sobretudo, as capas dos discos. Dignas de qualquer ranking das piores capas de sempre. Se um dia a Taschen se lembrar de editar um álbum com a história do design kitsch (no pior sentido), de mau gosto e sentido piroso das capas de disco pop-rock, pode começar pela discografia completa dos Scorpions.
Apreciem-se alguns exemplos paradigmáticos (enfoque especial na capa "Virgin Killer"):








Peter Gabriel mandou os Óscares às urtigas

Ainda há artistas que preservam a sua integridade e recusam sujeitar-se às infames e ditatoriais regras comerciais ditadas pelo (neste caso) "show business TV". O cantor Peter Gabriel foi convidado a cantar na cerimónia de entrega dos Óscares. A canção é "Down to Earth", pertence ao filme da Pixar "WALL-E", e Gabriel é nomeado juntamente com Thomas Newman. No entanto, quando Peter Gabriel soube que teria apenas um-minuto-um para cantar essa canção, recusou. Ao recusar a sua presença nesta cerimónia, recusou, igualmente, a visibilidade mediática à escala de milhões de espectadores. Mas o ex-Genesis mostrou-se irredutível e fiel às suas convicções e preferiu não esquartejar a sua dignidade artística com esta cedência comercial perfeitamente ridícula. Palmas, por favor.

sexta-feira, 13 de fevereiro de 2009

N.A.S.A (órbita musical)

O projecto musical chama-se N.A.S.A., mas nada tem a ver com a agência espacial norte-americana. A sigla significa North America/South America e é um projecto musical constituído por dois DJs de hip hop -Squeak E. Clean e DJ Zegon. O primeiro é de Nova Iorque e o segundo de São Paulo. Vão editar brevemente o primeiro álbum de originais, intitulado "The Spirit of Apollo", disco que está a dar que falar pelo rol impressionante de colaborações musicais. A saber: Chuck D (dos Public Enemy), Seu Jorge, Tom Waits, Kanye West, George Clinton, John Frusciante (Red Hot Chili Peppers), David Byrne, Santogold, M.I.A., Method Man, Kool Keith, entre outros. Os N.A.S.A. lançaram um primeiro single de antecipação do álbum, "Money", cujo videoclip é simplesmente magnífico (e muito cáustico, também, em termos de mensagem). Versatilidade estética não lhes falta, uma vez que este tema conta com a participação vocal de David Byrne, Seu Jorge e Chuck D.

Como compreender o cinema


"Um filme devia valer por si próprio. É absurdo se um cineasta precisar de dizer o que um filme significa por palavras. O mundo que está no filme é criado e as pessoas, às vezes, adoram entrar nesse mundo. Para elas, esse mundo é real. E, se as pessoas descobrirem certas coisas sobre como algo foi feito, ou como isto quer dizer isto ou aquilo quer dizer aquilo, da próxima vez que virem o filme estas coisas entram na experiência. E então o filme torna-se diferente. As pessoas, por vezes, dizem que têm dificuldade em compreender um filme, mas eu creio que compreendem muito mais do que têm consciência. Porque todos somos abençoados com a intuição - todos temos o dom de intuirmos coisas. É assim que compreendemos uma arte abstracta como a música, e é assim que compreendemos o cinema."
David Lynch, in "Em Busca do Grande Peixe"