segunda-feira, 30 de junho de 2008

O tamanho do preservativo


Esta é uma foto de um grupo de fãs no concerto dos Tokio Hotel. Já sabemos que grupos de adolescentes imberbes dormiram uma semana ao relento para ver o concerto na primeira fila. Sabemos, também, que a média de idades se situou nos 14/15 anos. Mas os jornalistas repararam em crianças de 8 e 10 anos de idade. Algumas acompanhadas com os pais, outras completamente soltas de supervisão adulta. Como já escrevi uma vez, há qualquer coisa de irracional nesta euforia descontrolada de crianças e jovens à volta de um fenómeno musical que, estou certo, daqui a uns anos poucos se lembrarão. E há também comportamentos cuja precocidade e ousadia desconcertam os adultos.
Parece que o vocalista do grupo alemão, Tom Kaulitz, é um sex symbol para estas teenagers que dizem que o grupo tem um "estilo musical próprio". Repare-se nesta fotografia da Rita Carmo (revista BLITZ): uma fã não tem pejo nem timidez em mostrar um cartaz manuscrito que revela, digamos, intenções bem pragmáticas. Só não percebo se escreveu "Tom I Love XXL Condoms" ou "Tom I Have XXL Condoms". Seja como for, a diferenção não é muita. Ao menos vê-se que a moça se preocupa com o tamanho. Ah, e na prevenção das doenças sexualmente transmitidas, claro.

À procura do som da velocidade


Há pelo menos dois anos que quero comprar este livro espanhol: "El Sonido de la Velocidad - Cine y Música Electrónica". Trata-se de um livro que compila diversos textos de jornalistas e críticos de música espanhóis (mais um excelente prólogo do DJ Spooky, aka Paul D. Miller - pode-se descarregar o PDF no link). A abordagem do livro é sobre a relação entre o cinema e a música electrónica, desde as primeiras experiências até à actualidade. Como me interessa tanto o cinema como a música e as interligações estéticas daí resultantes, este livro é uma prioridade para mim. Acontece que não o consigo encontrar à venda em lado nenhum. Só tentando na tal livraria madrilena especializada em cinema.

Matthew Barney


Matthew Barney tem sido um dos mais destacados e intrigantes artistas contemporâneos. Pintor, escultor, fotógrafo, performer, realizador. A sua obra interpela os sentidos, balanceando a sensibilidade delicodoce com a sensibilidade grotesca. Desde 1995 que se tornou conhecido com a série "Cremaster" (parou no volume 5 em 2002), uma espécie de fusão entre cinema experimental, performance, música e pintura. "Cremaster" é uma obra visualmente poderosa, surreal, simbólica, lúgubre e provocadora. Junta ópera, multimédia, música, teatro, performance, poesia, num trabalho de minúcia, de questionamento das linguagens estéticas convencionais. Uma obra conceptual que foi alvo dos mais rasgados elogios como das mais violentas críticas (apenas visionei dois filmes da série, pelo que não poderei dar uma opinião definitiva sobre o conjunto da obra "Cremaster").
Em 2006 consegue nova atenção dos media quando se junta à cantora (e companheira) Björk para a realização da obra "Drawing Restraint 9". Ben Lewis, um cineasta que se tem dedicado à realização de documentários sobre jovens artistas contemporâneos, realizou um trabalho sobre Matthew Barney. Em "Art Safari - Matthew Barney" (2005), Ben Lewis foi à procura do significado e do mistério à volta da série "Cremaster". O documentário pode ser visto no incontornável portal Ubuweb.

Nova realidade, novas formas de consumo


É mais um exemplo de como se pode contornar a crise discográfica que afecta editoras e artistas. No programa "Câmara Clara" (RTP2) de Paula Moura Pinheiro, a fadista Aldina Duarte explicou como teve de sair da editora EMI e arriscar para investir numa editora com vista à edição dos seus próprios discos. Apesar desta solução não ser inédita, não deixa de configurar um investimento deveras arriscado para os tempos que correm. Ou seja, a edição de autor afigura-se como uma das vias possíveis para a sobrevivência dos músicos, uma vez que as editoras arriscam cada vez menos (ou praticamente nada) em artistas que não assegurem lucros mínimos. A cibercultura e seus novos hábitos de consumo alteraram profundamente as regras do jogo.
O panorama está de tal ordem que acredito ser uma questão de tempo até que o suporte físico (CD) se extinga para dar lugar a uma nova forma de consumo cultural. E essa nova modalidade de consumo só pode passar pela imaterialidade do objecto físico, isto é, a internet vai passar a ser o meio tecnológico de compra directa de discos e filmes (livros são outra matérias distinta, mas a ver vamos...). As editoras discográficas, durante décadas imprescindíveis, vão deixar de ser importantes como mediadoras do processo editorial. Por isso, os concertos vão ser (são já) uma das mais importantes fontes de rendimento para o músico. Não digo nenhuma novidade, sei-o bem, mas tenho reparado que ainda existe muita gente descrente nesta possibilidade do consumo cultural passar a ser feito, exclusivamente, por via virtual (internet), sem mais nenhum formato físico e material (supremacia do ficheiro mp3) .
Apesar dos recorrentes movimentos nostálgicos e resistentes em redor do culto do vinil e do CD, a verdade é que os sinais do mercado apontam para um processo irreversível de extinção dos mesmos (ou pelo menos, de redução dos objectos a uma expressão residual). Não defendo que seja bom ou mau, sou dos que aprendi a gostar de música (também) pelo lado fetichista do objecto, pela capa dos discos de vinil, das gravações em cassetes áudios e da compra de CDs. Só que a velocidade da sociedade da informação digital e as mudanças que esta acarreta para todos nós, dita leis que alteram os hábitos culturais.

domingo, 29 de junho de 2008

Cinema - os italianos


O cinema italiano, à semelhança do francês, é um cinema que teve períodos de grande relevância histórica, cultural e estética na história do cinema mundial. São dois países cujas marcas de autor e de originalidade mais se fizeram sentir ao longo de décadas. Se em Itália emergiu o movimento "Neo-Realista" (Rossellini, Vittorio De Sica, Visconti) logo no pós-guerra, em França surgiu a não menos importante "Nova Vaga" na década de 60 (Godard, Truffaut, Rohmer, Rivette...), que trouxe uma nova sensibilidade e uma nova forma de fazer cinema que marcaria para sempre a sétima arte.
Numa deambulação pela internet, deparo-me com uma lista dos 10 melhores cineastas italianos de sempre. E é esta:
10 - Robert Benigni
9 - Sergio Leone
8 - Pier Paolo Pasolini
7 - Franco Zeffirelli
6 - Roberto Rossellini
5 - Luchino Visconti
4 - Vittorio De Sica
3 - Bernardo Bertolucci
2 - Michelangelo Antonioni
1 - Federico Fellini

As listas valem o que valem, mas custa-me a acreditar que Bertolucci seja considerado melhor realizador do que Visconti ou Vittorio De Sica. Assim como me causa certa estranheza ver o Zeffirelli à frente de Pasolini e do Sergio Leone. Já os dois primeiros lugares - Fellini e Antonioni - são, quanto a mim, inquestionáveis.

O fantasma de Salazar


No passado dia 27 passou mais um aniversário da morte de António Oliveira Salazar, esse lúgubre timoneiro da pátria durante 40 obscuros anos da vida portuguesa. Como professor, lido com muitas crianças e jovens. E ano após ano, quase sempre por ocasião do 25 de Abril, tenho-me deparado que as novas gerações revelam mais desconhecimento e ignorância perante o Portugal salazarista e do Estado Novo (e esta constatação não advém apenas da preocupação recentemente veiculada pelo Presidente Cavaco Silva). A última vez em que pude constatar mais um flagrante exemplo de ignorância dos jovens perante o período do Estado Novo e da figura de Salazar, foi no dia 27 de Maio. Nesse dia, o Café Concerto do TMG recebeu o músico e cantor Pedro Abrunhosa para uma conversa numa tertúlia informal (moderada por mim). Durante uma hora e meia, os temas da conversa foram variados (de música à política) e sempre objecto de uma análise acutilante por parte de Pedro Abrunhosa.
Goste-se ou não da sua música (e eu não gosto) ou da sua imagem (e eu não gosto), a verdade é que Abrunhosa revela um discurso fluente, assertivo e pragmático - com opiniões próprias. Considera que as suas opiniões são quase sempre inconvenientes e inconformadas, fruto da sua formação política adquirida ainda muito jovem (foi no 25 de Abril, quando o cantor tinha 13 anos, que a sua consciência social e política desabrochou). Pedro Abrunhosa confessou-se desiludido com a classe política, com o estado débil da democracia e com o conformismo da sociedade portuguesa perante os problemas crescentes. Considera que os políticos deveriam ouvir o que têm para dizer os artistas (filósofos, músicos, escritores), visto que encontra na arte o último recurso para desvendar novas soluções para os problemas da sociedade. Defende ainda que o papel da arte deve ser o de subverter e o de inovar, de modo a alargar os horizontes culturais, ideológicos e estéticos da população.
E onde se encaixa o tema de Salazar neste contexto? Aqui: num determinado momento da conversa, Abrunhosa disserta sobre o panorama político, soltando as mais rudes críticas à actuação dos políticos perante uma depressiva situação social e cultural do pais. Num dado ponto do seu discurso, refere o estado lastimoso a que chegou a educação e a gritante ausência de coordenadas políticas no sector cultural. Quando os espectadores da tertúlia puderam intervir formulando perguntas ao cantor, houve uma jovem estudante (do secundário ou superior, não posso precisar) que fez a seguinte pergunta (cito de memória): "o Pedro Abrunhosa disse que a educação em Portugal está má e que isso se deve ainda à herança de Salazar; mas não concorda que Salazar era um maior defensor da educação e da cultura do que os actuais políticos?". Pedro Abrunhosa respondeu peremptoriamente que não concordava, e passou a explicar porquê, dando uma autêntica aula de história de Portugal à jovem. No fundo, explicou o óbvio a uma estudante que ignorava os factos ou fazia de conta que os desconhecia: referiu porque é que o ditador do antigo regime era um político amarrado no tempo, avesso ao progresso, retrógrado nas ideias, ultra-conservador e responsável pelo atraso cultural, educativo e social de um povo aprisionado na trilogia dos três F’s defendida por Salazar: Fátima, Futebol e Fado.
Não sei se este caso desta aluna reflecte a realidade geral dos jovens, mas a verdade é que grassa muita ignorância sobre os valores perniciosos do regime fascista e sobre as conquistas da Revolução de Abril. Culpa das escolas? Dos políticos? Dos jovens que vivem afanosamente o presente e desprezam a história do passado recente? Da contra-informação disponível na net que legitima a figura fascista do "Obreiro da Pátria"? É que basta entrar neste site para ficar, seriamente, assustado (o desvario vai ao cúmulo de se lançar um abaixo-assinado para substituir a designação de ponte 25 de Abril por ponte Oliveira Salazar!).

Díptico - 12


sábado, 28 de junho de 2008

Livros que mudam uma vida - 8


"A primeira lei que a natureza me impõe é gozar à custa seja de quem for." - Marquês de Sade (1740 - 1814)

sexta-feira, 27 de junho de 2008

Raymond Scott - documentário a caminho


Em Setembro próximo assinalam-se 100 anos do nascimento de Raymond Scott (1908 - 1994), um dos mestres musicais mais polivalentes do século XX. E quando me refiro a polivalente refiro-me ao facto de Scott ter sido, durante décadas (dos anos 50 aos 80): músico de jazz, orquestrador, inventor de instrumentos electrónicos (colaborou com Robert Moog), sonoplasta, engenheiro electrónico, pianista, percursor dos estúdios de música electrónica (nos anos 50!) e de música de computador (quando os computadores eram uma excentricidade cara que ocupavam o espaço de uma sala inteira). Destacou-se, igualmente, como um inovador compositor de bandas sonoras para cartoons da Looney Tunes (Bugs Bunny, Daffy Duck...), juntamente com Carl Stalling e Spike Jones.
Em suma, Raymond Scott foi uma das figuras mais originais e influentes da música da segunda metade do século passado, um visionário possuidor de uma criatividade e engenho únicos. O seu génio fez-se (faz-se, ainda) sentir numa vastíssima legião de músicos, de bandas e de campos de criação musical muito diversificados: do rock ao jazz, da electrónica experimental à electro-acústica, da pop à vanguarda, do easy-listening à composição musical para cinema e audiovisual. A música de Raymond Scott ajudou a desenvolver o imaginário de músicos tão diferentes como Hal Wilner, DJ Spooky, Henry Rollins ou David J, dos Bauhaus e Love and Rockets, que refere: "As for millions of other kids raised on Bugs and Daffy, Raymond Scott's wonderful idiosyncratic music seeped into my childhood subconscious and never left. It became the abstract soundtrack to my-dreams."
No centenário do seu nascimento, o seu filho Stan Warnow (realizador) está a ultimar um documentário sobre a vida e o imenso legado de seu pai. Chama-se "Raymond Scott: On To Something" e vai trazer, com toda a certeza, mais visibilidade a um autor e a uma obra que mercem um reconhecimento mais alargado.

Música ambientalista


Coldcut - "Timber"

Coldcut - "Natural Rhythm"

Cristo inspira Greenaway


O controverso realizador Peter Greenaway anunciou que vai iniciar as filmagens de uma longa-metragem sobre a vida de Jesus Cristo, inspirado pela filha de sete anos, que lhe perguntou "por que é que Jesus teve dois pais". O cineasta de "Os Livros de Próspero" ficou pensativo e, num repente, sentou-se a escrever o guião para um filme sobre a dúvida suscitada pela filha. Mais: o filme sobre Cristo será um filme cru e denso e dirigido a adultos, pelo que a filha não o vai poder ver.
Agora imagine-se se a filha tivesse perguntado ao pai: "por que é que a Virgem Maria deu à luz Jesus se ela era virgem?" Gostaria de ver um filme realizado por Greenaway dissecando este insondável enigma metafísico.

Díptico - 11


O actor Guy Pearce interpreta duas personalidades reais: Andy Warhol no filme "Factory Girl" (2006) e Harry Houdini em "Houdini - O Último Grande Mágico" (2007 - estreia esta semana).

quinta-feira, 26 de junho de 2008

"Haxan" - a bruxaria através dos tempos


O site dvdgo.com anuncia uma edição em DVD como um grande destaque editorial no panorama da cinefilia caseira. E não é para menos. Trata-se da versão especial remasterizada (som e imagem) de um dos mais míticos e sublimes filmes do período mudo: "Häxan", realizado em 1922 pelo cineasta dinamarquês Benjamim Christensen. "Häxan", um dos primeiros grandes filmes fantásticos de sempre (é do mesmo ano de "Nosferatu" de Murnau), documenta as perseguições movidas contra as feiticeiras e os actos de bruxaria numa Europa medieval conspurcada pela intolerância religiosa e pela Inquisição. A prodigiosa fotografia do filme, as encenações de rituais e de possessões demoníacas, e o ambiente visual expressionista recriado viria a influenciar outras obras-primas do cinema, como o clássico de Carl Dreyer, "A Paixão de Joana D'Arc" (1928). Muito do imaginário de terror psicológico e visual dos filmes das décadas posteriores (aliás, até aos nossos dias), foi gerado a partir deste filme escandinavo. Há muito de "Häxan" no filme "O Exorcista" (1973); e os produtores do filme-fenómeno "The Blair Witch Project" (1999), deram o nome de "Häxan Films" à sua produtora. E até inspirou a criação de um grupo homónimo de música... Black Metal.
Também é verdade que o filme de Christensen foi, durante décadas, censurado e banido, quer pelas autoridades religiosas, quer pelas autoridades políticas, tornando-se num filme marginal e num verdadeiro fenómeno de culto internacional. Mas nessa suposta marginalidade existia imensa criatividade e inovação estética.
Esta edição especial traz além da versão original restaurada, a rara edição americana lançada em 1968 com narração do poeta beat William S. Burroughs (grande admirador do filme) e com o subtítulo "A Bruxaria Através dos Tempos" (no segundo disco do DVD). Imperdível, portanto.

Dois românticos resistentes


Longe vão os tempos em que o espaço da publicidade televisiva servia, não só como veículo promocional de produtos comerciais, como também de produtos culturais: CDs, filmes em estreia no cinema e até livros. Os tempos mudaram, os métodos de promoção dos discos são outros e com o advento maciço e global da Internet, já não faz mais sentido gastar dinheiro na televisão para promover um CD ou um filme. Certo? Nem tanto. Hoje de manhã, num intervalo publicitário da televisão, vi dois anúncios que promoviam o lançamento de CDs: um "best of" (mais um) de Marco Paulo e um "best of" (mais um) de Richard Clayderman. Percebo a intenção: os admiradores inveterados de Marco Paulo são de uma geração que não têm familiaridade com a Internet e as novas formas de consumo cultural. Logo, faz sentido que a televisão seja ainda o meio de comunicação por excelência para chegar ao público-alvo pretendido. E os consumidores de Marco Paulo ainda compram os CDs na feira ou em lojas de discos (originais ou pirateados, isso é outra história).
O Richard Clayderman é um caso à parte. Não faço ideia quem possa comprar os seus discos. Clayderman representa tudo o que mais detesto num intérprete (basta ver as suas cândidas capas de disco comparáveis - em qualidade estética - às do português Eurico Cebolo): pose pirosa, olhar sedutor à macho ariano, visual pseudo-dandy, flores e castiçais em cima do piano num embrulho de romantismo saloio, e reportório de baladas comerciais (da pop ou da clássica). Se quisermos ser mais radicais, Clayderman insere-se numa tipologia cultural pimba, ainda que o seu reportório pretenda ser sério e de autores consagrados. Já vendeu mais de 60 milhões (!) de discos em todo o mundo e é tão respeitado quanto parodiado - lembremos a sátira que o Herman José fez de Richard Clayderman há uns bons anos num dos seus programas - "Richard Peyderman" - em que o intérprete tocava piano ao mesmo tempo que soltava... gases. Juro que nunca percebi como é que Richard Clayderman conseguiu criar, à volta de si, um verdadeiro fenómeno musical à escala planetária e durante tantos anos.
Os publicitários é que deverão ter mais conhecimento de como se processam estes fenómenos e quais as estratégias para os tornar cada vez mais mediáticos e populares. E sabem, com certeza, que apesar de vivermos num mundo da cultura digital onde o aparecimento e o desaparecimento de fenómenos culturais se processa a uma alta velocidade, há certos fenómenos que se enraízam fortemente no imaginário da opinião pública. Marco Paulo e Richard Clayderman (como tantos outros), fazem parte desse grupo de artistas resistentes à mudança e que, para sobreviverem no mundo em que se habituaram a ter sucesso, continuam a precisar da televisão para afirmarem a sua identidade no panorama artístico e para divulgarem os seus novos CDs.

quarta-feira, 25 de junho de 2008

Díptico - 10


Joy Division: o regresso em documentário


Já tem estreia marcada para Portugal: 17 de Julho. Falo do filme "Joy Division" de Grant Gee, um documentário que promete revelações sobre o quarteto fantástico de Manchester e do malogrado Ian Curtis. Depois do sucesso de "Control" de Anton Corbijn, "Joy Division" trará, certamente, um novo olhar sobre um dos mais influentes e importantes grupos de sempre. isto porque o filme de Grant Gee se baseia em entrevistas aos músicos sobreviventes do grupo, assim como a amigos, técnicos e pessoas que conheceram e viveram de perto todo o fenómeno meteórico dos Joy Division. Uma das pessoas entrevistadas é a jornalista Hanick Honoré, amante de Ian Curtis na fase final da vida do cantor e letrista. Será particularmente interessante verificar a versão de Honoré em relação à sua ligação a Curtis, uma vez que a mulher legítima, Deborah Curtis, discordou da versão sentimental apresentada no filme de Corbijn. O filme estreou há pouco mais de um mês na Inglaterra e teve óptimas críticas. Grant Lee não é novato em documentários sobre música, visto ter realizado um sobre os Radiohead e outros sobre Scott Walker.
O documentário, com distribuição da Midas Filmes, será apresentado à imprensa no dia 27 de Junho e a estreia comercial será no dia 17 de Julho.

terça-feira, 24 de junho de 2008

Spermcube - esperma artístico


A arte contemporânea não pára de surpreender. Para os que defendem que a originalidade é um conceito inexistente no mundo da arte de hoje em dia, que tudo foi já inventado, e que todas as soluções artísticas foram idealizadas, é melhor apreciar esta proposta. Nos anos 60, um artista italiano discípulo de Marcel Duchamp - Piero Manzoni - inventou a obra "Merda de Artista" (90 latas de fezes do próprio artista). Agora, o artista francês Philippe Meste propõe uma proposta assaz semelhante na premissa e relacionado com um fluido corporal: pretende reunir 1 metro cúbico de... esperma humano (na imagem). Exactamente isso: sémen.
O projecto, chamado SpermCube, pretende que um cubo transparente com 1 metro cúbico (1000 litros) de capacidade seja enchido com esperma de qualquer homem no mundo. Qualquer homem pode participar (o autor refere a universalidade do projecto), ajudando assim a "criar" a obra de arte para ser exposta numa galeria de arte. O site de Philippe Meste, que pode ser acedido aqui, envia um kit completo para o dador interessado poder doar o seu esperma e enviá-lo por correio. Ah, de tempos a tempos também existem recolhas de esperma em galerias de arte. O esperma contido no "Spermcube" será depois congelado, para manter as suas propriedades intactas, e assim nascerá uma obra de arte "construída" por todos. Já há referência na internet que se trata de uma obra... machista, visto que só os homens podem contribuir. Afinal a arte encontra novas formas de intervenção e de romper cânones estabelecidos nesta espécie de "ready-made" interactivo reinventado. Será que os bancos de esperma estão a ficar desfalcados com o desvio de sémen para este projecto?
Seja com for, agora o artista precisa é de dadores de todo o mundo, pois ao que parece, está ainda longe de encher os 1000 litros de esperma no seu cubo (é um "work-in-progress").
Alguém se oferece como dador?

segunda-feira, 23 de junho de 2008

Cossery - o escritor desprendido



Lembro-me do momento em que um amigo mais velho me deu a conhecer a obra do escritor Albert Cossery (morreu ontem aos 93 anos). Foi em meados dos anos 90. Dizia-me esse amigo que Cossery um escritor invulgar e original, capaz de escrever sobre assuntos mundanos de forma extremamente polida, que se interessava pelos "vencidos da vida" e não por heróis romanceados de forma épica. Albert Cossery fazia, na esteira da filosofia epicurista (o prazer e o hedonismo como valores primordiais para a vida), a apologia da preguiça e do ócio, vendo nestas atitudes, o espelho de uma rebuscada actividade interior, como métodos valiosos de reflexão sobre a vida e o mundo. O próprio Cossery viveu praticamente toda a vida de forma desprendida e despojada, segundo o próprio, veículos para a felicidade e para o bem-estar existencial.
Apenas li três dos seus oitos livros: "Mendigos e Altivos", "A Violência e o Escárnio" e "Conversas Com Albert Cossery". Este último título, um conjunto de entrevistas ao escritor egípcio, é particularmente interessante para compreender o pensamento e a escrita de Albert Cossery:
- "Nunca pensou que as sociedades podem progredir?"
- "Um progresso espiritual, sim, mas não no sentido religioso. Espiritual, quer dizer no espírito. É muito difícil e é por esse facto que a humanidade não avançou nem um centímetro desde há milénios. Hoje vemo-lo um pouco por todo o mundo: as pessoas odeiam-se, entram em guerra, matam-se".
- "Qual é a arte de viver?"
- "Desprender-se de tudo o que nos ensinam, de todos os valores e dogmas".
- "O que é que caracteriza a arte de viver das personagens que criou?"
- "Em primeiro lugar, a falta de ambição. O que mata as pessoas é a ambição. E também esta tendência para a sociedade de consumo. Quando vejo publicidade na televisão, digo para mim próprio: podem apresentar-me isto anos a fio que nunca comprarei nada daquilo que mostram. Nunca desejei um belo automóvel. Nunca desejei outra coisa senão ser eu próprio. Posso caminhar na rua com as mãos nos bolsos e sentir-me um príncipe. Não é a posse de bens materiais que pode satisfazer um homem inteligente, que compreendeu o mundo em que vive".
- "O que lhe dizem os seus leitores mais frequentemente?"
- "Os meus leitores nunca me dizem: escreveu um belo romance, como acontece com muitos escritores; dizem-me: salvou-me a vida. Muitos jovens vão para o Egipto - Cairo - porque leram os meus livros. E muitos ficaram por lá".
Uma recensão breve - mas concisa - sobre a vida e obra de Albert Cossery pode ser lida no blogue Boca de Incêndio.
PS - na capa do livro "Conversas com Albert Cossery" pode ver-se, atrás do escritor, o famoso Café de Flore, famoso espaço de artistas e tertúlias de Paris, já abordado neste post.

George Carlin - the king of comedy

É verdade que não era muito conhecido em Portugal. Mas os amantes do humor (os que escrevem e lêem) e da arte da stand-up comedy (de Nuno Markl a Ricardo Araújo Pereira) sabiam bem quem era George Carlin. Carlin morreu ontem vítima de problemas cardíacos e era, há várias décadas, um dos mais corrosivos e inteligentes humoristas norte-americanos, tendo influenciado autores tão diversos como Woody Allen, Jon Stewart ou Jerry Seinfeld. Era, como alguém disse, o verdadeiro "king of comedy".
Herdeiro do génio e da irreverência criativa de Lenny Bruce (Dustin Hoffman encarnou no cinema este virulento personagem do humo negro), George Carlin granjeou controvérsia e admiração por todo o mundo com as suas vibrantes actuações e programas de televisão. Quando muitos humoristas referem a necessidade do humorista saber não ultrapassar os limites da decência através do humor, George Carlin defendida precisamente o contrário: "acho que é dever do comediante descobrir onde está o limite e cruzá-lo deliberadamente". Nenhum tema era imune à crítica feroz de Carlin - política, sociedade, aborto, mundo do espectáculo e, com não rara polémica, religião. É sobre religião um dos mais famosos e acutilantes discursos humorísticos de George Carlin, aqui reproduzido com legendas em português (versão brasileira).

No seguimento deste vídeo, vale a pena conhecer a desconcertante teoria de George Carlin sobre os Dez Mandamentos.

Marcar na agenda: Maio 2011


Estamos em Junho de 2008 e foi agora anunciado a estreia do filme "Homem-Aranha 4" para Maio de... 2011. Que me recorde, é a primeira vez que uma produtora publicita a estreia de um filme com tanto tempo de antecedência (o máximo habitual é de um ano). A forma de produzir, realizar e promover um filme mudou muito nos últimos anos. Na vertigem da sociedade de informação digital, interessa às produtoras cinematográficas fazerem uma espécie de marcação do território, mas por antecipação. Antigamente, os filmes eram produzidos e realizados sem especiais campanhas de marketing (a não ser que houvesse problemas ou escândalos mediáticos durante a produção do mesmo). Essa campanha de marketing comercial à volta de um filme tinha início umas semanas antes para promover o filme. Agora publicita-se a estreia de um filme ainda mesmo antes de se saber qual vai ser o seu realizador, quais serão os actores principais (Tobey Maguire ainda nem foi sondado para interpretar o papel do super-aracnídeo), sem se saber, sequer, qual o argumento definitivo. No entanto, o mundo tem de saber que em Maio de 2011, "Homem-aranha 4" vai estar nas salas de cinema. Isso é que é importante. Sobretudo para marcar posição comercial face aos filmes blockbusters concorrentes.
O exagero deste anúncio da saída de um filme com 3 anos de antecedência revela novas formas de fazer marketing a longo prazo. Com que resultados práticos? Com que objectivos definidos? Para que os fãs do "Homem-Aranha" contem, ansiosamente, os anos, meses e dias que faltam para ver mais um filme de super-herói igual aos outros?
PS - Não me admira que brevemente possamos assistir ao anúncio da estreia de "Harry Potter 6" para Junho de 2012, "O Pirata das Caraíbas 5" para Dezembro de 2014 ou o regresso de uma mega-produção do "Super-Homem" para Julho de 2016.

Os leitores são todos velhos?


São duas revistas sobre música. Duas referências na divulgação da música pop-rock. Estas são as capas dos últimos números das revistas "Uncut" e "Mojo". Na capa, grupos que foram referências há mais de 30 anos: Sex Pistols e Crosby Stills Nash & Young. É uma tendência recorrente na imprensa musical internacional e nacional: capas com músicos ou grupos com 30 ou 40 anos e, pior ainda, que já nem sequer existem. Repare-se em Portugal o que tem acontecido com a revista Blitz, única publicação sobre música.
No último ano, as capas têm sido praticamente apenas sobre grupos com décadas de existência: Doors, Joy Division, Rolling Stones, Jimi Hendrix, Police, Led Zeppelin, Pink Floyd, Queen... Haverá uma razão para esta opção? Significará que os leitores destas revistas já não são jovens e, consequentemente, as respectivas referências musicais dizem respeito ao passado (longínquo)? Ou trata-se apenas de um fenómeno passageiro de revivalismo cultural?

domingo, 22 de junho de 2008

sábado, 21 de junho de 2008

Um crítico musical à margem


A música não é só ouvida. É também lida. E sobretudo em livros tão bons quanto este, que pretende analisar as múltiplas ramificações da chamada música de "vanguarda". Na sua já considerável travessia jornalística por variados jornais de relevo - do "Jornal de Letras" ao "Blitz", d' "O Independente" ao "Expresso" (para já não citar publicações estrangeiras) - Rui Eduardo Paes tem-se dedicado, afanosamente - e não raras vezes enfrentando obstáculos à sua actividade - ao estudo e divulgação das chamadas "novas músicas". Eis o seu último manifesto.
De que fala este livro intitulado «Phonomaton – As Novas Músicas no Início do Séc. XXI» de Rui Eduardo Paes? Fala, na essência, sobre o mesmo que os seus três livros anteriores – todos editados pela Hugin (e com distribuição nas boas livrarias): a problemática das músicas contemporâneas de índole experimental e a significação das estéticas de ruptura face aos valores culturais instituídos. Dito de outro modo, aborda todas as expressões artísticas tidas como de vanguarda, nas suas múltiplas formas e configurações - música electroacústica, improvisada, electrónica, multimédia, erudita contemporânea, computer music, novo jazz e outras derivações estéticas radicais e alternativas face à cultura "mainstream" dominante.
Rui Eduardo Paes tem sido uma voz crítica única no panorma jornalístico nacional e, neste trabalho em particular, recorre a uma argumentação extremamente bem urdida, lúcida e com uma visão histórica dos factos simultaneamente original e pertinente. Analisa eloquentemente os fenómenos artísticos, disseca-os com auxílio de teorias não só musicais como filosóficas e literárias, citando para tal autores tão prementes para a cultura contemporânea como Virilio, Camus, Borges, Sartre, Lyotard, Deleuze, Debord, Heidegger ou Cioran. Além disso, explora a congeminação de relações entre distintas áreas do pensamento ensaístico, tentando estabelecer elos de ligação entre correntes específicas do pensamento artístico (surrealismo, dadaísmo, pós-modernidade, teoria do Caos, minimalismo, nihilismo...) com outras tantas correntes musicais e artísticas (free jazz, música concreta, electrónica, improvisação, instalações multimédia, cinema experimental, pintura conceptual...).
Rui Eduardo Paes contribui assim, com esta obra e com o conjunto dos seus livros (ver no seu site), para a clarificação histórica e evolutiva dos processos criativos mais avançados da cultura contemporânea, dando um especial destaque (com entrevistas) ao panorama nacional e seus principais intérpretes: Rafael Toral, Major Eléctrico, Miso Ensemble, Telectu, Carlos Zíngaro, Emídio Buchinho, Vitriol, René Bertholo, etc.
Não se veja em "Phonomaton" um estudo académico de musicologia; Rui é avesso a redundantes academismos formais. Não é, igualmente, um livro sobre objectos culturais fáceis e imediatos. O livro representa antes uma plataforma de análise e de reflexão múltipla sobre as músicas emergentes do século XXI (e suas correspondentes ramificações noutras artes), num âmbito quiçá distante do senso comum e da superficialidade crítica. De qualquer modo, este sensível manifesto de Rui Eduardo Paes, essencial para quem gosta de música, revela-se também intelectualmente estimulante para qualquer leitor avesso à massificadora sociedade do espectáculo - e todas as suas referências culturais adjacentes -, a mesma sociedade à qual o fulminante pensador Gilles Lipovetsky classificou de "era do vazio".

Sérgio Godinho: músico com veia anarquista


Em 1997 entrevistei para o jornal "Terras da Beira" o músico Sérgio Godinho.

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Sérgio Godinho é um músico raro: a uma generosa e vincada personalidade (humana e artística) alia também um desejo voraz em perscrutar a realidade, os sons e a vida, num processo estético que só pode desembocar na criação de canções imersas num lirismo contagiante. Discurso sóbrio e honesto, postura humilde mas desconcertante, são alguns ingredientes revelados nesta entrevista a um dos últimos grandes «escritores de canções» portugueses.

Já tens uma longa carreira cimentada à custa de muito empenho e porventura de alguns dissabores. É para ti mais fácil olhar com nostalgia para o passado do que encarar a incerteza do futuro?
Eu acho que as duas coisas se complementam naturalmente, porque nunca reneguei o passado e tudo aquilo que fiz acaba por me alimentar para o futuro. Eu não sou revivalista a não ser que projecte esse revivalismo para o futuro porque, acima de tudo, sou uma pessoa do momento presente e se as minhas canções antigas continuam a fazer sentido, eu canto-as naturalmente.

E essa noção de «sentido» das canções vem do público?
Não, para mim vem da coerência poética e musical da própria canção e de sentir que a mesma funcionou. É evidente que o «feedback» do público em relação a determinadas canções também acaba por me influenciar e me estimular num certo sentido ou noutro, até porque não sou imune à receptividade do público visto que, estar no palco, é um espectáculo de comunicação, de trocas, de estímulos.

Analisando sob o prisma do presente, que importância outorgas à chamada «canção de intervenção política» que marcou a tua geração desde os finais dos anos 60?
Penso que isso sempre existiu e é uma das componentes da canção que é importante, no sentido de olhar para a sociedade e ver o que está bem e o que está mal e falar naturalmente disso. Eu sempre integrei nas minhas canções - nalguns discos e nalgumas alturas - um certo conteúdo sócio-político que eu acho importante existir. Penso é que o termo «intervenção» é um termo redutor e que só por si não explica grande coisa. O rap é um estilo contemporâneo que também expressa uma preocupação sócio-política...

É por isso que tens colaborado com jovens músicos ligados ao rap e ao hip-hop?
Sim, de certa forma sinto-me próximo dessa linguagem: a maneira como eu largo a frase, aproveito as frases ritmicamente e o facto de partir de uma base musical - quando estou a compor uma canção - para depois encontrar palavras que tenham essa consonante rítmica constitui, para mim, algo de muito próximo ao rap; não faço rap puro, obviamente, mas há de vez em quando coisas que faço que têm a ver com o universo rap. Acontece é que eu sou um «melodista» e o rap não vive muito da melodia.

As tuas experiências artísticas no estrangeiro, com o «Living Theatre» e com a ópera rock «Hair», contribuíram de certa forma para a consolidação da tua veia estética, enquanto músico?
Sim, absolutamente. Ambas as experiências foram diferentes: o meu primeiro contacto com o «Living Theatre» foi em Paris e depois fui em digressão para o Brasil acabando por ser preso devido ao radicalismo estético e à atitude anarquista preconizada por esta companhia, e acabei por me confrontar com essas experiências radicais e alternativas. Eu sempre me senti atraído por ideias anarquistas, quer na estética quer ao nível político. No caso do «Hair», era uma comédia musical integrada numa corrente da «Broadway» e foi nesse momento decisivo que eu aprendi a estar à vontade no palco, encarando-o como se fosse a minha casa.

Essas ideias anarquistas de que falaste tornaram-se numa forma de vida?
De certo modo sim, na medida em que tenho sobretudo uma liberdade e uma independência ferozes que eu sempre conservei e que procuro prosseguir e mostrar. Seria incapaz de pertencer a um partido político tendo em conta que a ideologia anarquista recusa ideias políticas sejam de esquerda sejam de direita. A anarquia representa para mim uma forma de lucidez, de independência, é como que uma escolha de actuação perante a vida.

És um músico que dás bastante importância à palavra e à poesia. A música deve-se subalternizar relativamente à palavra?
Não, nas minhas canções uma coisa não vive sem a outra: as minhas palavras ficariam muito empobrecidas se não tivessem um suporte musical e vice-versa. Mas se tivesse que me definir, diria que sou essencialmente um músico apesar de jogar com o universo poético, com uma estilística que é poética e de ser um apaixonado pelas palavras; agora, o que eu gosto é de as ver dançar ao som da música!

E a inovação na música far-se-á pela descoberta de novos domínios da palavra?
Quando falo na palavra tenho também de falar na frase, que é a maneira como as palavras são compostas, assim como dinâmicas que a música cria para as frases. Em cada frase há uma musicalidade própria e tenho por hábito registar a maneira como as pessoas falam no quotidiano, dando atenção ao ritmo, à cadência, à melodia, podendo haver nesta matéria o véu para a descoberta de novas formas de expressão musical. Existem frases e palavras quotidianas que, deslocadas para um determinado contexto musical, se tornam insólitas e criativas, numa espécie de «ready-made».

Propunha-te um desafio: a uma palavra tu respondes com um comentário breve de uma frase.
Vamos ver.

Concerto.
É o sumo mais doce e mais rico que posso beber como músico.

Zeca Afonso.
Foi quem abriu janelas onde nem paredes havia.

Giacometti.
Salvou a música portuguesa (talvez sem saber).

Rock.
É um dos lados de mim.

Paris.
Foi o Maio de ’68 e o «Hair»: o ponto dourado das experiências no estrangeiro.

Poema.
É aquilo que se está sempre a reinventar nas formas e na lírica.

Pimba.
Mau gosto instituído: é um abastardamento de formas musicais pelo menor denominador comum.

Sucesso.
É uma coisa relativa, efémera e que não nos pode nunca ofuscar.

Inspiração.
É uma borboleta que pode ou não pousar nos nossos ombros

Sérgio Godinho.
Espero poder pousar durante muito tempo, levemente, como uma borboleta, na sensibilidade das outras pessoas.

quinta-feira, 19 de junho de 2008

Abraham Obama


A arte e os crimes de Ron English

Visões de adepto

Jornalista: "Então o que acha deste ambiente de apoio à selecção?"
Fátima Lopes (estilista): "É óptimo, vive-se um grande euforismo!"
//////
Jornalista: "Qual o jogador que gostariam de conhecer pessoalmente?"
Um grupo de raparigas: "O Nuno Gomes! Ele é tão bom! Comiamo-ziu todo!"
//////
Jornalista: "Quem é que acha que vai marcar um golo hoje?"
Senhora de cara pintada: "O Nuno Gomes outra vez!"
Jornalista (com espanto): "O Nuno Gomes outra vez?!"
Senhora de cara pintada: "Sim, o Nuno Gomes outra vez!"

Fonte: noticiários televisivos da RTP e da SIC.

quarta-feira, 18 de junho de 2008

O exemplo de John Williams

Não é dos meus compositores para cinema favoritos, mas é indiscutivelmente, um dos maiores: John Williams. Recebeu o incrível número de 6 Óscares ao longo da sua brilhante carreira, entre os quais, as memoráveis bandas sonoras de "Tubarão", "E.T.", "Star Wars" ou "A Lista de Schindler". Todos realizados por Steven Spielberg, pois claro (corrijo: "Star Wars" foi realizado por George Lucas). Por vezes, creio que John Williams se enreda demasiado por um clacissismo académico que tende a explorar fórmulas orquestrais repetitivas, sem grandes explosões de criatividade e de abertura estética (ao contrário de um Howard Shore, um Tyler Bates ou de um Danny Elfman). Porém, é bem verdade que algumas das mais impactantes bandas sonoras feitas, desde os anos 70 aos nossos dias, foram compostas por Williams. E como se prepara e trabalha este compositor para compor a música dos filmes? Tomemos como exemplo a música do filme "O Resgate do Soldado Ryan" (1988) de Steven Spielberg. No clip a seguir, John Williams explica como abordou o trabalho de relacionar a música com o dramatismo das imagens.

O cantor de barbas brancas

Robert Wyatt é um extraordinário songwriter inglês que fez parte dos lendários Soft Machine, banda fulgurante do rock psicadélico e progressivo dos anos 60 e 70. Um fatal acidente em 1973 confinou-o para sempre a uma cadeira de rodas (ficou paraplégico). Não foi por causa disso que deixou de fazer música, lançando-se numa irregular mas muito fértil carreira a solo. Ao longo dos anos trabalhou com Henry Cow, David Gilmour, Elvis Costello, Marc Ribot, Björk ou Carla Bley, e alguns dos seus discos são verdadeiras pérolas como "Old Rottenhat" (1985), "Dondestan" (1998), "Cuckoland" (2003). Tal como o seu mais recente trabalho, "Comicopera", editado em finais de 2007. Na altura em que saiu ouvi-o apenas uma vez e não me despertou particular interesse. Achei até estranho que tivesse sido escolhido, por muita imprensa especializada (portuguesa e estrangeira), como um dos melhores discos editados em 2007.
Passado quase um ano, voltei a ouvir "Comicopera" e percebi que na primeira audição tinha subvalorizado, enormemente, o trabalho de Wyatt. Com colaborações de Phil Manzarena (Roxy Music), Paul Weller e do grande Brian Eno, "Comicopera" contém algumas das mais inspiradas canções do músico de Bristol. Notáveis canções cantadas em várias línguas (inglês, italiano, espanhol) no seu registo vocal inconfundível (e tecnicamente impressionante - a sua tessitura vocal atinge 5 a 6 oitavas). Dividido em três partes, o cantor de longas barbas fez em "Comicopera" um magnífico trabalho de cozedura sonora, com melodias de puro encantamento (vide "Just As You Are" ou "Del Mundo") e estruturas instrumentais de grande rigor estrutural. Sem dúvida um grande disco de 2007, de 2008 e de qualquer ano.

Díptico - 8


Vida de um pobre

Nota: no entanto, apesar deste indicador, não deixa de ser curioso que os 75 mil bilhetes (a 60€ cada) para o concerto da Madonna tenham sido vendidos numa única semana.

A boa televisão às 2h da madrugada


Boa notícia: para quem nunca viu ou quer rever o magnífico filme “O Pianista” de Roman Polanski, pode fazê-lo hoje na RTP1.
Má notícia: o filme está programado passar às 02h00!
Há muitos anos atrás, a RTP fazia verdadeiro serviço público quando passava, às quartas-feiras à noite (21h30), a sessão de cinema. Filmes de qualidade em horário nobre com apenas um intervalo pelo meio. Isto já para não falar da programação cinéfila de cinema clássico da RTP2, que teve o seu auge até meados da década de 90. Desde há uns anos a esta parte, a programação das televisões em horário nobre tem sido monopolizada com telelixo: telenovelas aos molhos, futebol e programas medíocres de entretenimento. E, claro, intervalos infindáveis de publicidade maçuda...
Por isso os filmes, séries e programas de informação de qualidade são relegados para secundaríssimo plano, sempre depois da meia-noite (pior: madrugada dentro). Claro que há alternativas: televisão por cabo e clubes de vídeo. Só que há dezenas de milhares de famílias portuguesas que não podem pagar televisão por cabo ou ser sócio de videoclubes. E assim estupidificam-se, de forma passiva, assistindo à boçalidade televisiva diária. A nova televisão digital e os novos pacotes multimédia (Zon e Meo) podem atenuar a nefasta formatação da televisão actual e alargar as possibilidades de visionamento do espectador, mas estes produtos vão levar muitos anos a generalizar-se por toda a população. Voltando ao filme de Polanski: a obscenidade de programar um filme desta qualidade às duas da manhã, a meio da semana, deveria ser um acto punido com uma severa coima aplicada pela Alta Autoridade Para a Comunicação Social.

Díptico - 7


"Dogville" (2003) e "Maderlay" (2005) - Lars von Trier

terça-feira, 17 de junho de 2008

O ruído

Alguma vez o ruído soou assim num filme?

"Eraserhead" (1977) - David Lynch

O coro

Alguma vez um coro soou assim num filme?

"Amadeus" (1984) - Milos Forman
Música: Mozart

A guitarra

Alguma vez uma guitarra soou assim num filme?

"Paris, Texas" - Wim Wenders (1984)
Música de Ry Cooder

O piano

Alguma vez um piano soou assim num filme?

"O Piano" - filme de Jane Campion (1993)
Música de Michael Nyman - "The Heart Asks the Pleasure First"

segunda-feira, 16 de junho de 2008

A educação: Finlândia e Portugal


No jornal da RTP, a propósito dos exames escolares, vejo uma reportagem sobre uma conferência internacional em Lisboa cujo tema principal é a educação nos países desenvolvidos. Nessa conferência estavam representantes de vários países cujos sistemas de educação constituem um modelo de sucesso a nível mundial. Não apenas no aspecto estatístico (como parece ser a obsessão do Ministério da Educação português) mas também numa perspectiva do próprio sistema de ensino-aprendizagem, da qualidade do mesmo, da relação professor-aluno, da qualidade dos equipamentos escolares, etc.
Como não podia deixar de ser, a Finlândia, país considerado o mais evoluído em termos de educação, fez-se representar. Questionado pelo jornalista de serviço sobre quais as reais razões do sucesso educativo no país nórdico, o representante da Finlândia argumentou que é por causa da alta qualificação dos professores e do acompanhamento - desde o ensino primário (1º Ciclo do Ensino Básico em Portugal) - de alunos com dificuldade. Ouvi e achei a explicação demasiado simplista. Portugal também tem bons e qualificados profissionais de educação (também tem maus, é verdade, como em todas as profissões) e as crianças também têm um acompanhamento pedagógico desde que ingressam na escola. Ora, a realidade é que no sistema de ensino português continua a haver um elevado índice de abandono escolar, insucesso escolar, desmotivação profissional na comunidade educativa (alunos, professores e funcionários). Um abismo separa a Finlândia e Portugal em todos os índices de desenvolvimento. É impossível explicar o sucesso do modelo educativo da escola finlandesa apenas com os dois critérios apontados. É toda uma política diferente que está em jogo, uma filosofia de ensino que incentiva a criatividade, o empenho e o trabalho dos alunos. Os equipamentos escolares são muitíssimo mais bem apetrechados e organizados, possuem mais recursos, mais dinheiro, mais qualificação especializada, entre muitos outros aspectos que incutem dinâmica ao sistema. Para além disso, não esqueçamos um ponto fulcral: a Finlândia é um dos países mais desenvolvidos do mundo, onde o investimento na cultura, na vertente social, na educação, são traves mestras de toda uma sociedade.
Mesmo que Portugal conseguisse, a partir de hoje mesmo, implementar os mesmos critérios finlandeses de desenvolvimento, só daqui a duas ou três gerações é que teríamos resultados visíveis. Daí que o atraso português no domínio da educação é de várias décadas comparativamente com a Finlândia. Só.

Discos que mudam uma vida - 18


Love and Rockets - "Seventh Dream of Teenage Heaven" (1985)

A angústia do guarda-redes antes do penalty


O Euro 2008 soma e segue. Ontem jogou-se o decepcionante Portugal-Suíça. No momento da conversão do penalty por Yakin, frente ao guarda-redes Ricardo, veio-me à memória um livro cujo título tudo tinha a ver com aquele momento. Refiro-me ao livro “A Angústia do Guarda-Redes Antes do Penalty”, do escritor austríaco Peter Handke (na imagem). Livro que foi adaptado ao cinema pelo alemão Wim Wenders, filme que nunca tive a oportunidade de ver (apesar de grande admirador do cinema de Wenders). Mas o livro conheço-o bem. Li-o há mais de dez anos, numa edição de 1987 da Relógio d’Água.
Na altura recordo-me que o livro partia do universo do futebol para fazer um retrato da sociedade moderna. Ou seja, o futebol como metáfora da vida. O sucesso e o fracasso, o sofrimento e a alegria, a vitória e a derrota, a frustração e a excitação, a angústia e a ansiedade. Emoções que dominam o desporto-rei, tal como a vida. No fundo, a angustia causada pelo penalty (valha a verdade, tanto para o guarda-redes como para o futebolista rematador) não passa de uma metáfora da vida, de um espelho de duas faces. Todos nós podemos ser, a dada altura da vida, Joseph Bloch.
Peter Handke conta no seu livro - num escrita extremamente escorreita e quase visual - a história de Joseph Bloch, um canalizador que fora em tempos um conhecido guarda-redes de uma conhecida equipa de futebol. Um dia, sem nada o fazer prever, é despedido. Bloch começa então a deambular pela cidade, a frequentar hotéis decadentes e a conhecer personagens tão perdidas e solitárias quanto ele. Num dia, e sem motivo aparente, assassina uma amante ocasional e entrega-se à vida errante num mundo sem sentido. “A Angustia do Guarda-Redes Antes do Penalty” reflecte sobre um mundo onde essa mesma angústia grassa a todo o momento e se infiltra no meio de nós. Uma angústia existencial que transforma a realidade numa coisa baça e desprovida de sentido.

MC Escher visto pela Lego - 1


MC Escher (1898 - 1979)

MC Escher visto pela Lego - 2




MC Escher (1898 - 1979)

domingo, 15 de junho de 2008

John Zorn


Ao ler o programa do sempre interessante festival "Jazz em Agosto" (1 a 9 de Agosto) da Fundação Gulbenkian, deparo-me com o concerto de John Zorn (saxofone) e Fred Frith (guitarra) e a projecção do filme documentário "The Bookshelf on the Top of the Sky - 12 Stories About John Zorn" da realizadora alemã Claudia Heuermann. O programa refere que a realizadora irá estar presente para uma conversa com a assistência após a exibição do referido documentário. O documentário é de 2004 e está à venda em DVD na Amazon (onde o comprei há três anos). O filme demorou quase dez anos a concluir, abordando diversas facetas do percurso artístico de John Zorn.
Zorn é tão admirado como odiado na cena musical de vanguarda internacional. Pode-se até dizer que, dentro do panorama underground e alternativo das músicas experimentais, Zorn encarna uma espécie de figura pop mediática. A diversidade do seu trabalho (da música judaica ao free jazz, do rock mais visceral à improvisação), a enormidade da sua produção discográfica e a extrema velocidade com que a sua criatividade oscila (para cima e para baixo), torna-o um músico à margem e com grande visibilidade na comunicação social especializada. Uma espécie de vulcão criativo imparável. Os grupos que fundou - como Painkiller, Naked City, ou Masada - são verdaderias referências estéticas da música contemporânea (assim como a editora Tzadik).
O documentário de Claudia Heuermann tenta abordar 12 facetas do trabalho de John Zorn, mas nem sempre o resultado é muito feliz. Enreda-se por vezes em explicações redundantes e estende-se em situações de ensaio demasiado exaustivas. Por outro lado, Zorn é avesso a entrevistas, facto que dificulta a tentativa de compreensão do seu trabalho estético. O mais interessante de "The Bookshelf on the Top of the Sky" são as diversas sequências de concertos em colaboração com grandes figuras da cena musical de vanguarda nova-iorquina: Mike Patton, Ikue Mori, Dave Douglas, Fred Frith, Marc Ribot, Bill Laswell, Dave Lombardo, entre muitos outros.
Nota: o "Jazz em Agosto" não é só feito com John Zorn. De resto, o concerto mais esperado será aquele que irá encerrar o festival no dia 9 de Agosto: Peter Brötzmann Chicago Tentet.

sábado, 14 de junho de 2008

Livros a mais ou leitores a menos?


Apesar da crise económica, apesar de Portugal ter baixos níveis de hábitos de leitura, a indústria livreira e o seu respectivo mercado, valem cerca de 530 milhões de euros (o último grande negócio foi a compra da editora Dom Quixote pelo grupo Leya). Para um pais com a dimensão de Portugal (dimensão geográfica, editorial ou cultural), não deixa de espantar o frenético dinamismo editorial existente. A título de exemplo, em 2007, foram publicados cerca de 40 livros por dia, ou seja, 1250 por mês e cerca de 15 mil num só ano. Há uma desproporção ente a oferta editorial e a procura de leitura, uma vez que as estatísticas levadas a cabo pela Marktest, referem que 77% dos portugueses lê menos de um livro por ano e apenas 17,9% lê dois livros por ano. Cada vez mais o livro é entendido como um produto meramente comercial, vendido como se vendem batatas ou latas de ervilha. Os bestsellers pulverizam as listas de venda e transformam-se no objectivo primordial dos grandes grupos editoriais. As estantes das livrarias enchem-se de centenas de títulos que pretendem emular o sucesso de obras como “O Segredo” e “O Código Da Vinci”.
A ideia de negocio puro e duro ergue-se no cenário livreiro português. Sobretudo desde que, no início deste ano, a Leya irrompeu como um grupo livreiro aglutinador e economicamente poderoso, ao ponto de ter exigido à organização da feira do Livro de Lisboa, um espaço só para si (daí a polémica e o atraso na abertura da Feira). Perante este cenário, não é de espantar que um dos editores portugueses mais experientes – Nelson de Matos, ex-líder da Dom Quixote que editou Cardoso Pires ou Saramago – tenha saído de cena para regressar à edição em formato intimista, criando uma pequena e independente editora, a Edições Nelson de Matos. Com tempo para ler os manuscritos e editá-los em limitadas edições de 1000 a 1500 exemplares. Sem pressões de outra ordem que não as relacionadas com o verdadeiro valor literário. Um regresso ao tempo em que Nelson de Matos podia fruir o gosto pela descoberta e pela aposta em autores menos conhecidos mas de reconhecida qualidade.

"Alexandra" - Sokurov espiritual


Uns posts mais abaixo abordei o díptico referente aos dois filmes de Alexandr Sokurov, “Mãe e Filho” e “Pai e Filho”. Ora, esta semana foi estreado o último filme do cineasta russo: “Alexandra” (na imagem), uma viagem à guerra da Chechénia empreendida por uma senhora idosa (a Alexandra do titulo) para visitar o neto soldado. Como é óbvio, ainda não vi o filme, mas retive as críticas elogiosas que saíram na imprensa. Vasco Baptista Marques refere no Expresso que “Sokurov encarna a unidade estética, ética e metafísica, debruçando-se sobre as relações de poder, os afectos familiares e a condição decadente do homem”. O crítico de cinema termina o seu texto com uma frase categórica: “a menos que Andrei Tarkovsky ressuscite, não veremos outro filme assim em 2008”.
Por seu lado, o crítico do Público, Luís Miguel Oliveira, começa por dizer que este filme de Sokurov poderia chamar-se “Avó e Neto” e que, apesar de ser um cineasta espiritual, o realizador russo sabe que não se pode pensar o espírito sem o corpo. E à semelhança do crítico do Expresso, Miguel Oliveira reforça: “Alexandra” é um dos filmes mais ricos, mais misteriosos, mais interpelativos, que veremos este ano”.
Na revista “Notícias Sábado” do DN, o critico João Lopes não poupa elogios artísticos a esta obra de Sokurov, e serve até para, numa coluna de opinião à parte, dissertar sobre “O Lugar dos Russos”. Nesta coluna de opinião, Lopes aproveita a estreia do filme “Alexandra” para reflectir sobre a ignorância do espectador comum face à cultura cinematográfica russa. O conteúdo da sua reflexão não traz nada de novo, mas acaba por suscitar questões pertinentes sobre o valor do excesso da informação dos media nos dias de hoje: “Será que o espectador comum identifica os nomes de Dziga Vertov, Sergei Eisesntein ou Aleksandr Dovjenko como referencias decisivas para compreender a história da Rússia (e da URSS) e também como pilares essenciais da história do cinema? A resposta é, genericamente, e infelizmente, negativa. Assim como as televisões n\ao param de escavar as memórias dos heróis do futebol, assim também grandes capítulos da vida artística das gerações passadas estão remetidos para a condição de curiosidades mais ou menos esotéricas. Vivemos num mundo em que a acumulação de informação pode produzir exactamente o contrário daquilo que proclama. Ou seja: desconhecimento e ignorância”.