sábado, 31 de março de 2012

O futuro visto por George Lucas

O primeiro filme realizado por George Lucas é uma obra de autor espantosa que, à altura da estreia (1971), fazia prever uma carreira altamente promissora (o filme é uma adaptação da curta-metragem que Lucas fez na época na faculdade).
"THX 1138" é uma obra negra e apocalíptica sobre um futuro asséptico onde a população é forçada a viver em grandes cidades subterrâneas controladas por computadores. Valores como liberdade, religião, desejos, indivualidade e sexo são proibidos, numa visão fria e perturbadora do futuro.

Todos são controlados por drogas que reprimem os seus pensamentos e os deixam dóceis para fazerem as suas funções na sociedade de maneira que não interfiram no "equilíbrio" da máquina social. Até que o humano THX-1138 (magnífico Robert Duvall) com a sua parceira desafiam o sistema, não apenas para defender o seu amor (que é proibido), mas para tentar escapar da cidade subterrânea e viverem livres no "mundo de cima". Parábola amarga, "THX 1138" faz uma avaliação do perigo da crescente dependência de tecnologia nas nossas vidas, coisa que já "Metropolis" (1927) de Fritz Lang antecipara. Mas George Lucas não abandona a crença de que, mesmo o homem mais comum, pode ser um rebelde e insurgir-se contra regimes altamente opressores.
Os cenários e a densa fotografia transmitem o vazio da sociedade, os personagens todos carecas assustam com as suas expressões mórbidas e padronizadas, os agentes da autoridade são autómatos com máscaras e o branco asséptico predomina como elemento de forte perturbação visual, psicológica e emocional.
A supressão do indivíduo pelo totalitarismo do sistema ganhou uma dimensão nova neste filme. E não é dificil notar as profundas influências de obras famosas como "Admirável Mundo Novo" de Aldous Huxley e "1984" de George Orwell.
George Lucas foi muito ousado e criativo nesta fabulosa estreia no cinema. Curiosamente, tão ousado e brilhante como a estreia do seu colega e amigo Steven Spielberg com a sua primeira longa-metragem "Duel" (também realizada em 1971).
Para quem nunca viu, poderá fazer o download do filme aqui.

sexta-feira, 30 de março de 2012

Posters de 8 BIT

E se filmes modernos tivessem posters com o grafismo de 8 BIT?




Kathryn Bigelow vs. Bin Laden


É uma notícia surpreendente - ou talvez não: a realizadora Kathryn Bigelow (na imagem a rodar o oscarizado "The Hurt Locker" sobre a guerra do Iraque) encontra-se neste momento a filmar o seu próximo filme intitulado "Zero Dark Thirty". O argumento tem por tema central a morte do terrorista Osama Bin Laden pelo exército norte-americano no Afeganistão, há quase um ano atrás.
A expectativa é grande para saber se Kathryn irá respeitar a versão oficial dos acontecimentos veiculada pelo governo de Barack Obama, ou se fará uma versão livre, misturando ficção e realismo (e até, porventura, com críticas implícitas à Administração Obama).
Ainda vamos ter de esperar para ver o resultado deste aliciante novo filme de Kathryn Bigelow, uma vez que a estreia (americana) de "Zero Dark Thirty" está agendada apenas para Dezembro deste ano.

Para acabar de vez com a cultura

Esta cultura.

quinta-feira, 29 de março de 2012

O musical de Woody Allen

Há um filme de Woody Allen pouco apreciado e citado: "Everyone Says I Love You" (1996). O musical que o realizador sempre quis fazer.
Não sendo uma obra-prima, é uma película deveras singular na filmografia de Allen e uma bela homenagem ao género musical que tanto marcou o cineasta na sua juventude. De todas as sequências do filme, aquela de que gosto mais é esta: "Vive le Captain Spaulding" (nome do personagem de Groucho Marx no filme "Animal Crackers"), uma magnífica homenagem aos impagáves irmãos Marx:

quarta-feira, 28 de março de 2012

Cineclube, hoje


Que papel representam, hoje, os Cineclubes na divulgação e exibição do cinema?
Estou em crer que continuam a ter um papel importante, mas certamente não tão importante como há algumas décadas atrás. Parece-me que o período de ouro do cineclubismo em Portugal já terminou há uns bons anos. Tiveram uma função essencial de descentralização do cinema nos anos 60 a 90, mostrando o melhor do cinema clássico e de autor a novas gerações, em sessões e ciclos temáticos que preservaram a memória do cinema.
Desde há dez anos, sinto que os Cineclubes têm perdido força e capacidade de atracção, muito por culpa das alterações profundas dos hábitos culturais e da falta de condições financeiras para gerir uma associação deste tipo. Claro que ainda há bons exemplos de Cineclubes com dinamismo e até com público, mas a verdade é que nos últimos tempos muitos fecharam por esse país fora e outros estão com muitas dificuldades para atrair novos públicos.
Os hábitos de consumo e fruição do cinema mudaram muito na última década, e as novas gerações já não se revêem na necessidade de ir a um Cineclube para ver cinema. Os canais de TV por cabo, a Internet, os videojogos, as novas tecnologias de entretenimento, o DVD e Blu-Ray, entre outros factores, acabam por diminuir, fortemente, o papel de um Cineclube tal como outrora desempenhava.

terça-feira, 27 de março de 2012

A blogosfera em livro

Em 2011, este blogue O Homem Que Sabia Demasiado foi nomeado na categoria de “Melhor Blogue de Cinema” através do concurso lançado pelo blogue Aventar e também foi nomeado (em dois anos consecutivos) pelos TCN Blog Awards. Na sequência directa destas nomeações, como autor deste blogue, fui convidado pela editora Bubok para fazer parte de um livro que irá ser editado brevemente sobre a blogosfera e os melhores blogues portugueses.
Novidades em breve.

Discos que mudam uma vida - 161


The Cinematic Orchestra - "Motion" (1999)

Uma imagem do Bronx

Há imagens raras de celebridades que são um verdadeiro primor. Imagens que retratam um momento muito especial da vida dessas celebridades. É o caso desta fotografia. Assim à primeira vista, dificilmente alguém conseguiria descortinar quem são estas crianças.
De facto, a verdadeira figura célebre é a do menino que se vê na imagem, sorridente e divertido. Historicamente, conseguimos deduzir que a época em que foi tirada a fotografia ficará algures nos anos 30 ou 40 do século passado.
Mas afinal, quem são este meninos?
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Resposta: o realizador Stanley Kubrick (com 9 anos) e a sua irmã Barbara Kubrick (com 3 anos) no Bronx, em 1937.

domingo, 25 de março de 2012

Gilliam antes dos Python

Enquanto não esperamos pelo novo filme da trupe Monty Python, podemos recordar algumas obras antigas que fizeram história... ainda antes da própria história dos Monty Python ter começado. É o caso da carreira de Terry Gilliam (o único elemento americano do grupo) que revelou o seu peculiar talento - visual e humorístico - com as suas animações que viriam a ser um dos elementos de maior destaque na estética “pythoniana”.
Ainda antes do programa que celebrizou o grupo “E Agora, Algo Completamente Diferente” ter ido para o ar na televisão britânica, Terry Gilliam tinha já desenvolvido a linha visual e o tom de humor nonsense que iria caracterizar os monty Python. A prova disso é a curta-metragem realizada por Gilliam em 1968, intitulada “Storytime”:

sábado, 24 de março de 2012

25 filmes com títulos de Saul Bass

Brilhante trabalho de montagem e edição a partir do original trabalho de Saul Bass enquanto criador de genéricos e títulos para filmes. Em menos de dois minutos, todos os grandes trabalhos de design de Saul Bass estão aqui revelados (25 filmes, para ser exacto), numa homenagem a um artista de visão única.
Montagem de Ian Albinson.
Eis os filmes representados por ordem cronológica:
Carmen Jones (1954)
The Big Knife (1955)
The Seven Year Itch (1955)
The Man with the Golden Arm (1955)
Around the World in Eighty Days (1956)
Vertigo (1958)
Anatomy of a Murder (1959)
North by Northwest (1959)
Spartacus (1960)
Psycho (1960)
Ocean’s Eleven (1960)
West Side Story (1961)
Walk on the Wild Side (1962)
Nine Hours to Rama (1963)
It’s a Mad Mad Mad Mad World (1963)
Bunny Lake is Missing (1965)
Seconds (1966)
Not with My Wife, You Don't! (1966)
Grand Prix (1966)
That’s Entertainment, Part II (1976)
The War of the Roses (1989)
Goodfellas (1990)
Cape Fear (1991)
The Age of Innocence (1993)
Casino (1995)

Rui Eduardo Paes - Novo livro


Sobre o crítico musical e ensaísta Rui Eduardo Paes, escrevi este post a propósito do seu livro "Photomaton". Nove anos depois, Rui Eduardo Paes edita um novo livro com textos seus sobre as novas correntes estéticas, entrevistas a músicos, reportagens de festivais, artigos de revistas, etc.
Chama-se "Breviário Ilustríssimo" (edição Chili Com Carne) e vai ser apresentado no próximo dia 17 de Abril. Para quem não conhece, Rui Eduardo Paes é um dos mais importantes ensaístas portugueses dos últimos 25 anos que se tem dedicado ao estudo e divulgação das músicas de vanguarda, sendo um incansável amante e divulgador das novas tendências do jazz contemporâneo, música improvisada, free-rock, erudita experimental, electroacústica, etc.
Altamente aconselhável, portanto.

quinta-feira, 22 de março de 2012

Genealogia de Fotogramas #19











"Somewhere" (2011) - Sofia Coppola

Novo Cronenberg em 34 segundos

O filme "Cosmopolis" de David Cronenberg, com produção do português Paulo Branco e participação financeira da RTP, vai estrear em Maio e é já um dos mais aguardados do ano.O primeiro "teaser" oficial foi anunciado hoje e é incrível como apenas 34 segundos de imagens bastam para despertar e aguçar o interesse na nova obra de David Cronenberg. Há já quem diga que é o regresso do realizador canadiano à sua vincada estética de violência gráfica (e psicológica) tão em voga nos anos 80 e 90. Ou seja, o regresso à sua melhor forma.
Destaque especial para a montagem e a música (de Howard Shore) deste "teaser", os quais conferem uma ambiência verdadeiramente ameaçadora e intrigante. Repito: em apenas 34 segundos de imagens.

quarta-feira, 21 de março de 2012

Dia Mundial da Poesia

"We don't read and write poetry because it's cute. We read and write poetry because we are members of the human race. And the human race is filled with passion. And medicine, law, business, engineering, these are noble pursuits and necessary to sustain life. But poetry, beauty, romance, love, these are what we stay alive for.
To quote from Whitman, "O me! O life!... of the questions of these recurring; of the endless trains of the faithless... of cities filled with the foolish; what good amid these, O me, O life?" Answer. That you are here - that life exists, and identity; that the powerful play goes on and you may contribute a verse. That the powerful play 'goes on' and you may contribute a verse. What will your verse be?"
John Keating, in "Dead Poet Society" (1989)

terça-feira, 20 de março de 2012

Brincar ao cinema mudo


Com a tecnologia existente é hoje possível realizar tarefas que eram inimagináveis há apenas meia dúzia de anos atrás. Como por exemplo, fazer um pequeno filme sem recurso a máquinas de filmar profissionais e técnicos especializados. Com um Smartphone bem artilhado é já suficiente para realizar filmes. Prova disso é a primeira longa-metragem, de título “Olive”, realizada integralmente com um telemóvel Nokia N8 que vai estrear brevemente em 2012 nas salas de cinema nos EUA. Sem querer ser tão ambicioso quanto a este feito, a verdade é que qualquer pessoa pode brincar ao cinema recorrendo aos (cada vez mais) potentes e avançados programas de filmagem e edição de imagens.

É o caso do programa “Silent Film Director”, um software barato que se adapta a qualquer equipamento Apple (iPhone, iPad, iPod - via AppStore) ou smartphone com sistema Android instalado. Trata-se, simplesmente, de uma aplicação extremamente simples e intuitiva de trabalhar. É possível filmar qualquer sequência de vídeo (de preferência uma sequência curta mas filmando em HD), e depois editá-la recorrendo a efeitos visuais que remetem para a estética do cinema mudo dos anos 1920 (tão popular agora por causa do sucesso do filme “O Artista”), ou para o “home vídeo” dos anos 60, a tonalidades sépia, a preto e branco, em “slow motion”, etc. É possível também definir a velocidade do vídeo, a definição de imagem, colocar legendas, montar e aplicar pequenos efeitos visuais. Convém dizer que a aplicação já traz incluída música de piano para acompanhar os vídeos (da autoria do compositor profissional Kevin MacLeod) no verdadeiro estilo das comédias burlescas dos anos 1920.

No fim, o que resultar da experiência, o realizador amador poderá partilhar nas redes sociais ou disponibilizar o projecto na galeria “Show Time”: um sítio na internet onde os utilizadores de todo o mundo publicam vídeos de um minuto para qualquer pessoa ver (e classificar). E é incrível constatar como em apenas um minuto existem tantos vídeos criativos e com ideias bem interessantes (alguns recorrem a montagens de sequências de cinema conhecidas, mas devidamente montadas e alteradas). As características de “Silent Film Director”, apesar de obviamente limitadas e amadoras, são suficientes para proporcionar momentos de puro divertimento a “brincar ao cinema”!
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Eis um simples exemplo da utilização do "Silent Film Director" que um alguém fez a propósito do lançamento do iPad 2:

Ver aqui a review sobre o funcionamento deste programa.

segunda-feira, 19 de março de 2012

Notas de Bresson #14

"O futuro do cinematógrafo está numa nova raça de jovens solitários que filmarão e apostarão até ao último centavo sem se deixar derrotar pelas rotinas materiais do ofício".

domingo, 18 de março de 2012

Do jazz à música de circo


Segundo a página da Wikipedia dedicada ao grupo Mr. Bungle, as influências que a banda de Mike Patton assumiu durante a sua carreira (1985 - 2000) são as seguintes: funk, free jazz, surf rock, punk, heavy metal, klezmer, ska, kecak, avant-jazz, folk, noise rock, pop, doo-wop, funk metal, electronica, swing, space age pop and exotica, death metal, rockabilly, bossa nova, progressive rock, country & western, circus music, video game and cartoon music.
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Sim, pode parecer exagero, mas a verdade é que o eclectismo musical e a diversidade estética explorados pelos Mr.Bungle reflectiu todas estas (e porventura outras) referências musicais. Aliás, como bem se percebe ouvindo esta obra-prima musical chamada "Ars Moriendi" (do Álbum "California" de 1999):

"Temos de Falar Sobre Kevin"


"Temos de Falar sobre o Kevin" é o título de um filme que vai estrear em Portugal no dia 5 de Abril e é já um forte candidato à lista dos melhores filmes do ano. Parte de um romance de ficção publicado em 2003 por Lionel Shriver (a edição portuguesa é da Bertrand), que trata sobre um massacre escolar fictício segundo a perspectiva da mãe do assassino, Eva Khatchadourian, que relembra o passado de seu filho, Kevin, ao mesmo tempo em que naufraga na culpa, por aquilo em que ele se tornou.
Eva deixou as suas ambições profissionais de lado para dar à luz a Kevin. A comunicação entre mãe e filho começa logo por ser muito complicada. Quando chega aos 16 anos, Kevin comete um crime irreparável sem explicação. Eva fica destroçada entre a culpabilidade e o seu sentimento materno. O romance foi adaptado para cinema pela realizadora escocesa Lynne Ramsay, autora do interessante filme "Movern Callar" de 2002.
"Temos de Falar Sobre Kevin" é um intenso e imersivo thriller psicológico (e psicanalítico) de dimensões freudianas, na medida em que analisa a relação difícil entre uma mãe e um filho e a tendência deste para a prática do mal (sem aparente motivação racional). A realizadora construiu o filme numa alternância constante entre o passado e presente (recorrendo a flashbacks), visando reconstituir a relação de Eva e seu filho Kevin, desde a gestação, assim como mostrar a realidade da mãe após a tragédia. E é também um filme pungente sobre a comunicação (e a falta dela) no seio familiar e sobre o lado tremendamente obscuro da natureza humana (neste caso, expressa numa criança).
Desde a fabulosa primeira sequência que a cor vermelha é utilizada pela realizadora como elemento carregado de uma força simbólica permanente: o vermelho da intensidade emocional e o vermelho do sangue.
A actriz Tilda Swinton é absolutamente fascinante na forma como encarna esta mãe despedaçada entre a culpa e a responsabilidade, e o jovem Ezra Miller - que interpreta o filho Kevin com 16 anos - é também espantoso e inquietante no modo como imprime um ambiente assustador e imprevisível à segunda parte do filme (o seu rosto emana uma permanente tensão). O actor John C. Reilly, no papel do pai incrédulo perante as inquietações da mãe, cumpre na perfeição.
A realizadora Lynne Ramsay conseguiu equilibrar as tensões que o filme gera, com uma magnífica fotografia e uma montagem minuciosa.
"Temos de Falar Sobre Kevin" é uma obra de cinema esplêndida, uma surpresa muito positiva no panorama actual do cinema contemporâneo e será pena que passe despercebida no meio do turbilhão de estreias semanais no nosso país.
Trailer do filme.

sábado, 17 de março de 2012

Cinema experimental: o DVD


É uma edição já de 2005, mas continua a ser uma referência no género: "Avant-garde: Experimental Cinema of the 1920's and 30's". São dois DVDs (da prestigiada Kino Video) contendo 24 curtas-metragens e um total de 360 minutos de tempo. Cinema de vanguarda e experimental dos anos 20 e 30 do século XX, uma época de grandes revoluções estéticas e artísticas, de fusões de linguagens, de inovação e ousadia formal.
Apesar de não estarem representadas todas as obras-primas do cinema mudo experimental, esta edição contém uma grande variedade e qualidade de filmes. Alguns deles realizados por artistas plásticos que também experimentaram a linguagem do cinema, como Man Ray ou Marcel Duchamp. De cineastas propriamente ditos, vale a pena descobrir verdadeiros tesouros cinematográficos de Hans Richter, Watson & Webber, Fernand Leger, Joris Ivens, Dimitri Kirsanoff, Jean Epstein, ou Orson Welles (nos primórdios da sua carreira).
Eu comprei esta edição há alguns anos na Amazon americana, mas ainda se consegue comprar (só por importação) via Amazon inglesa, aqui.
Entretanto, em 2007 foi editada a série 2 desta colecção (menos interessante), com filmes experimentais compreendidos entre 1928 e 1954.

sexta-feira, 16 de março de 2012

45 anos de um grande disco

Um dos mais lendários e influentes álbuns rock de toda a história da segunda metade do século XX assinala hoje 45 anos da edição original (1967): “The Velvet Underground & Nico”. Lou Reed, vindo do rock, e John Cale, da música erudita contemporânea (influenciado pelo grupo Fluxus e John Cage), foram apadrinhados pelo guru da Pop Art, Andy Warhol (a capa mítica é da sua autoria) que também foi o responsável por incluir a cantora Nico no alinhamento do disco (cantando em três temas).
Desta mistura artística, no seio da efervescente e criativa Nova Iorque da década de 60, surgiu o álbum “The Velvet Underground & Nico”, um álbum feito de canções perfeitas (na sua própria imperfeição) sobre temáticas controversas: consumo de drogas, desvios sexuais, prostituição ou sadismo. Musicalmente, todas as canções do álbum emanam uma energia e uma sedução sonora raramente superadas (ou até alcançadas), com uma instrumentação densa, ritmos maquinais e vocalizações à beira do abismo (sobretudo os temas cantados por Nico). E o rock nunca mais foi o mesmo…

Tragédia: ficção e realidade


Andei dois dias a tentar recordar qual era o filme que a tragédia do acidente do autocarro na Bélgica me fazia lembrar. Hoje lembrei-me: "O Futuro Radioso" ("Sweet Hereafter") do realizador canadiano Atom Egoyan.
A brutalidade da morte de 22 crianças (e seis adultos) no acidente com o autocarro no túnel é muito semelhante à história que dá o mote ao filme de Atom Egoyan: no regresso de viagem num autocarro escolar, este despista-se no gelo e morrem 20 crianças de uma pequena comunidade.
A comunidade a que elas pertenciam fica em estado-de-choque. Um advogado oferece-se então para representar a destroçada comunidade numa acção judicial que irá provocar fortes reacções emocionais nos pais destroçados pela tragédia...
O filme de Egoyan lida com o devastador sentimento de perda de crianças inocentes, e é esse sentimento que deve estar a destroçar, neste momento tão real e doloroso, os pais e familiares belgas que perderam os seus filhos. Só espero que não surja - como no filme - um advogado (ou vários) sem escrúpulos para tentar aproveitar-se do drama com o intuito de sacar dinheiro e garantir mediatismo nos meios de comunicação social.

quinta-feira, 15 de março de 2012

Ironias de carreira

Jackie Coogan, o menino que aos 5 anos emocionou o mundo e revelou ser um verdadeiro prodígio de interpretação ao lado do mestre Charlie Chaplin no filme "The Kid" (1921), com o seu olhar ternurento e amoroso (no papel de uma criança orfã), acabou a carreira a interpretar o sinistro Uncle Fester na série televisiva "Família Addams", na década de 60.

quarta-feira, 14 de março de 2012

A sagacidade de Gonçalo M. Tavares


O escritor Gonçalo M. Tavares tem mais de 20 livros editados (em 10 anos) e está traduzido em 45 línguas. A propósito da edição do seu livro "Aprender a Rezar na Era da Técnica" em Espanha, o jornal El País entrevistou-o e o resultado é, mais uma vez, uma cabal demonstração de sagacidade e de inteligência por parte do escritor.
Com um olhar acutilante e extremamente atento ao mundo que o rodeia, Gonçalo M. Tavares disserta, numa linguagem acessível e objectiva (própria de sábios humildes), sobre os mais diversos temas: a criação literária, a religião, a crise económica, a Europa, o lugar do homem no mundo, a política, etc.
Para além de outras ideias interessantes veiculadas por Gonçalo M. Tavares, do que li ressalta-me na memória uma afirmação que dá que pensar: "Os episódios violentos na Europa não virão com metralhadoras mas sim com leis".
Vale bem a pena ler a entrevista.

terça-feira, 13 de março de 2012

"Metropolis" a preço de ouro


Quem viu o post mais abaixo sobre o projecto "Movie Poster" sabe que eu me interesso sobre a iconografia visual dos posters clássicos de cinema. Ora, um amigo chamou-me a a tenção para um dos mais originais e icónicos posters do cinema mudo: "Metropolis" (1927) de Fritz Lang, obra-prima do expressionismo alemão.
Acontece que esta imagem reproduz o poster original concebido pelo artista de arte deco Heinz Schulz-Neudamm que, ao que consta, criou apenas quatro cópias. Duas estão em museus e a outra encontra-se numa colecção privada.
O site MoviePosterExchange disponibiliza o quarto exemplar deste poster para venda. Seria uma boa oportunidade para adquirir um clássico da história do cinema com mais de 80 anos de vida. O problema é o preço: 850,000.00 dólares!
Para os interessados na eventual compra desta raridade dos posters, é favor clicar aqui.

Discos que mudam uma vida - 160


The Beatles - "Revolver" (1966)

Danny Elfman: três apontamentos


Apontamento 1: Fui confirmar se o compositor Danny Elfman, colaborador de longa data do realizador Tim Burton, vai continuar a compor bandas sonoras para o criador de "Eduardo Mãos de Tesoura". Resposta: sim, e este ano de 2012 vamos poder assistir a duas obras criadas em parceria. Isto porque Tim Burton vai estrear dois filmes durante este anos: já em Maio lança o filme "Dark Shadow" e em Outubro, "Frankenweenie". Ambos, claro está, com banda sonora de Danny Elfman.

Apontamento 2: Entretanto, a propósito de Danny Elfman, soube também que ele colaborou, em 2007, com a banda de rock Avenged Sevenfold. Aliás, basta ouvir o tema "A Little Piece of Heaven" para perceber que a orquestração é criação tipicamente danny 'elfmaniana'.

Apontamento 3: Danny Elfman vai fazer a música original para um filme de fantasia intitulado "Oz: The Great and Powerful", com realização de Sam Raimi (com quem já colaborou por diversas vezes). Irá estrear apenas em 2013 e será uma prequela do clássico "The Wizard of Oz".

segunda-feira, 12 de março de 2012

"Movie Poster" by Kubik

O meu projecto musical Kubik apresentou sábado passado o concerto "Movie Poster", que consiste em apresentar música para determinados géneros cinematográficos em formato de poster (filmes de guerra, terror, western, comédia, ficção científica, noir....).
Estes são excertos desse projecto.
Eis a explicação mais pormenorizada do "Movie Poster".

domingo, 11 de março de 2012

Woody Allen como... gigolo

Uma notícia bem interessante: em 1986 o actor John Turturro fez parte do elenco de um dos melhores filmes de Woody Allen, "Hannah and Her Sisters".
Depois destes anos todos, nunca mais se encontraram profissionalmente. Até agora. O actor (e também realizador) John Turturro convidou Woody Allen a participar no seu próximo filme, com o sugestivo título "Fading Gigolo". E Allen é o actor que irá interpretar o papel de gigolo, na companhia de duas actrizes bem fogosas: Sharon Stone e Sofia Vergara.
Veremos como Woody Allen se vai aguentar nesta comédia de John Turturro (que, diga-se a talhe de foice, é o actor princinpal do meu filme preferido dos irmãos Coen - "Barton Fink").

Os gatos no cinema

O leitor gosta mais de gatos ou de cães? Independentemente da resposta, este post é sobre gatos. E gatos no cinema. Desde os primórdios do cinema que os animais fazem parte das histórias e narrativas, sobretudo animais domésticos como cães, gatos e aves.
Ora, um blogger amante de gatos criou há algum tempo um blogue - "Cats on Film" - dedicado à importância dos gatos nos filmes (está algo desactualizado de momento). O autor defende que os gatos desempenharam um papel mais preponderante no cinema do que os cães, e explica porquê nos vários exemplos que revela aos leitores.
Seja como for, é um blogue bem curioso para conhecer o papel que este felino doméstico teve ao longo de muitas décadas de história do cinema.
Eis apenas dois exemplos:

"Breakfast at Tiffany's" (1961) - Um manso gatinho acorda lentamente Audrey Hepburn...

"Os Três Mosqueteiros" (1948) - O perverso Cardinal Richelieu a fazer festas no gato...

sábado, 10 de março de 2012

A influência das actrizes clássicas

Sou da opinião - já o expressei neste blogue - de que as actrizes clássicas são deveras mais glamorosas, belas e sensuais do que as actrizes da nova geração. Na era dourada de Hollywood (anos 30 a 60), as actrizes eram, não só talentosas, como carregavam charme irresistível. Hoje em dia, claro está, há actrizes bonitas, mas nem todas têm o mesmo talento nem ostentam a mesma sensualidade.
Daí o interesse de uma reportagem da revista Vanity Fair que comparou actrizes de uma época e de outra, alegando influências de estilo e até semelhanças físicas. De facto, numa me tinha apercebido da semelhança física entre Katharine Hepburn e Tilda Swinton, ou Audrey Hepburn e a recente estrela Rooney Mara. Mas para além da óbvia semelhança exterior, há toda uma diferença entre o talento das actrizes clássicas e o das actrizes contemporâneas.
Para constatar outros exemplos da revista, clicar aqui.

Katharine Hepburn vs. Tilda Swinton

Audrey Hepburn vs. Rooney Mara

sexta-feira, 9 de março de 2012

Wes Anderson em Cannes

É hoje notícia de que a abertura do próximo festival de cinema de Cannes será feita com o novo filme de Wes Anderson (autor da interessante comédia dramática "The Darjeeling Limited", 2007).

Esta nova (e imprevisível) obra de Anderson intitula-se "Moonrise Kingdom" (argumento de Wes Anderson e Roman Coppola). Com um interessante elenco constituído por Bruce Willis, Edward Norton, Bill Murray, Frances McDormand e Tilda Swinton.

O trailer é apetitoso e suscita muita curiosidade:

quinta-feira, 8 de março de 2012

Lee Miller - Modelo, fotógrafa e intrépida mulher do século XX


No Dia da Mulher, evoco uma mulher pouco conhecida mas de grande valor: Lee Miller (1907 - 1977). Lee Miller foi uma bela modelo que fascinou Nova Iorque e Paris nos anos 30 e 40. E foi a musa inspiradora dos surrealistas, tendo servido de modelo e de objecto estético de Man Ray, de Jean Cocteau e de Picasso. André Breton, Picasso e Max Ernst têm também trabalhos sobre ela.
Depois desta aventura como modelo, Lee Miller, qual mulher à frente do seu tempo, pegou na máquina fotográfica e começou ela própria a captar o mundo à sua volta. Retratos, paisagens de diversos países e, sobretudo, a reportagem fotográfica sobre a 2ª Guerra Mundial, valeram-lhe grande reconhecimento internacional. Famosa ficou a fotografia que tirou na banheira de Hitler, no dia 30 de Abril de 1945, em Munique, no mesmo dia em que o ditador alemão morreu no bunker de Berlim.
Dizem que era uma mulher desassombrada, corajosa e ousada como poucas. Depois da Guerra investiu o seu talento na revista de moda Vogue e vagueou por países como Marrocos e Egipto à procura de sombras e de despojamento.
A sua fotografia é feita disso mesmo, de sombras, de despojamento, de intrepidez e de grande plasticidade estética.
Na Amazon existe um lista rica e variada de livros e biografias sobre a vida e obra de Lee Miller.