quarta-feira, 31 de outubro de 2012

Curtis tinha razão

Este ano ainda não vi no cinema nenhuma cena tão intensa como esta. Trata-se de uma cena central do filme "Take Shelter", no qual o actor Michael Shannon encarna uma personagem (Curtis) obcecada e alucinada (ou talvez não) com tempestades e furacões devastadores. Nesta cena, o personagem de Shannon explode enraivecido e diz - aos que o consideram louco - que uma tempestade terrível está a chegar e ninguém está preparado para ela: "There's a storm coming like nothing you've ever seen, and not a one of you is prepared!"
É uma cena da espantosa prova do talento de Michael Shannon e aufere uma grande intensidade dramática ao ambiente do filme. E esta frase adquire uma perturbadora actualidade, já que poderia ter sido dita a todos os habitantes da costa Leste dos EUA, com a chegada destruidora do furacão Sandy.

segunda-feira, 29 de outubro de 2012

"Homeland", a boa ficção em televisão

Há quem defenda que, desde há uns anos a esta parte, se tem visto melhor ficção em certas séries de televisão do que no cinema. Estou tentado a concordar. Não só pelo exemplo de excelentes séries recentes ("The Sopranos", "Lost", "Dexter", "Mad Men", "House", etc), como séries que têm pouco mais de um ano de vida.
Refiro-me especificamente a "Homeland" ("Segurança Nacional") transmitida em Portugal pelo canal Fox. Com excelentes interpretações dos protagonistas, Claire Danes e Damian Lewis, "Homeland" é um prodígio de boa escrita para televisão. Não terá sido por acaso que, ao fim da primeira temporada, ganhou os Emmys que pareciam destinados à consagrada série "Mad Men".
Em Portugal apenas está a ser exibido o terceiro episódio da segunda temporada (quase em simultâneo da exibição nos EUA), e a qualidade geral mantém-se sempre a crescer.

domingo, 28 de outubro de 2012

sábado, 27 de outubro de 2012

Para conhecer Miles Davis

Miles Davis, um dos maiores génios da história do jazz, é o objecto de análise neste magnífico documentário "The Miles Davis Story" (2001). 
Realizado para a BBC, o documentário aborda os momentos mais importantes do incrível e rico percurso de vida e de artista de Miles, desde os primórdios da carreira em St. Louis até às múltiplas colaborações com outros grandes nomes do jazz.
Músico inovador e sempre à procura da originalidade, Miles Davis é, ainda hoje, dos mais influentes músicos de sempre, porque o seu legado estético se estendeu por várias décadas e explorou as fusões estilísticas mais inusitadas. 
Por isso vale a pena ver "The Miles Davis Story", pela qualidade do conteúdo, mas também pela forma sóbria como é realizado e montado.
 

sexta-feira, 26 de outubro de 2012

Amon Tobin em registo de violência

Eis um videoclip para a polémica: o novo videoclip do projecto Two Fingers de Amon Tobin. Musicalmente não traz grandes novidades, com o estilo habitual electrónico (breakbeat/dubstep) a que nos habituou Amon.
É nas imagens que a controvérsia se instalou. A violência gráfica desmedida num contexto claramente infantil. Uma espécie de massacre gore e sanguinário sem escrúpulos com brinquedos de criança. Claro que é preciso ver o videoclip até ao fim para perceber o significado de tanta violência, mas não deixa, por isso, de ser um notável trabalho de animação (porventura com uma mensagem subliminar...).
-----
Já agora, eis o que o press release informa:
Amon Tobin presents the next brutalist masterpiece wired up under his Two Fingers guise, "Vengeance Rhythm." A low-slung exercise in violence, brooding power and pure production smarts, in the words of a recent Resident Advisor feature, it's "a little like dubstep built on an interplanetary scale." The tune has been brought to life (and death) in a truly jaw-dropping video from stop-frame animator and director Chris Ullens. Ullens transforms a pile of toys, a love of super slo-mo explosions and a huge pile of mince into the funniest, most eye-popping and shocking exercise in animated ultra-violence since Walt Disney discovered Mickey and Donald were engaged in Un-American Activities together

Scorsese "lynchiano"

Há um filme pouco amado e reconhecido de Woody Allen“Zelig” – e há um filme pouco amado e reconhecido de outro grande cineasta: Martin Scorsese.
Conheço a filmografia toda de Scorsese, desde os seus primeiros filmes (como “Who’s That Knocking at My Door”, “Boxcar Bertha” ou “Mean Streets”) até ao último “A Invençãod e Hugo”. Mas há dois filmes menos lembrados (e até subvalorizados) de Scorsese pelos quais nutro um carinho muito especial. São eles: “O Rei da Comédia” (1983) e “Nova Iorque Fora de Horas” (1985).
O primeiro é uma notável comédia dramática com Robert De Niro e Jerry Lewis; o segundo, mais rebuscado e excessivo, é uma alucinante viagem 'kafkiana' pela noite de Nova Iorque de meados da década de 1980. Lembro-me de ver esse filme há muitos anos numa sessão da meia-noite. E recordo-me de sair do cinema a pensar, meio estupefacto: “Que filme incrível foi este?”. Revi-o há tempos no canal Hollywood e a mesma sensação persiste no meu espírito.
“Nova Iorque fora de Horas” é, sucintamente, a história louca de um homem que, por mero acaso e sem saber muito bem como ou porquê, empreende uma incursão imprevisível na zona do Soho à procura de uma rapariga. A partir deste simples expediente, o homem começa uma viagem surrealista e repleta de peripécias insondáveis, num registo misto de humor negro e realismo dramático, delirante e caótico, este filme de Scorsese é também um dos seus mais refinados exercícios de realização (obteve o Prémio de Melhor Realização no Festival de Cannes).
A montagem vertiginosa (espantoso trabalho da montadora Thelma Schoonmaker) dá um toque ainda mais alucinado ao filme, que conta com personagens bizarras, diálogos de puro delírio existencialista e situações improváveis que parecem nascer dos mais negros e distorcidos pesadelos. Aliás, quase era capaz de dizer que este “After Hours” (título original) é o filme mais 'lynchiano' que alguma vez Martin Scorsese fez. E Griffin Dune, o actor que encarna o protagonista do filme, é extraordinário na forma como expressa a confusão mental que o corrói (podia ter tido uma grande carreira depois deste filme, coisa que não aconteceu).
Sem dúvida um dos filmes de maior culto de Scorsese e um clássico instantâneo do cinema dos anos 80.

terça-feira, 23 de outubro de 2012

Henry, de novo

O blog My One Thousand Movies - o melhor sítio da internet portuguesa para descarregar filmes de autor raros e de qualidade - publica hoje um dos filmes mais marcantes do género thriller psicológico e de assassinos em série: "Henry - Retrato de um Assassino" (1986). Sobre esta impressionante primeira longa-metragem do realizaor John MacNaughton escrevi o post "O Horror em Estado Puro".
E é mesmo disso que se trata. De um filme que não faz concessões narrativos ou de estilo, detentor de uma frieza gélida e de um despojamento estético incomparável.
Para fazer o download do filme, é favor carregar aqui.


Be afraid. Be very afraid.


As "taglines" (ou slogans) de promoção de um filme são quase tão antigas quanto a própria história do cinema.
Basicamente, são frases publicitárias e de marketing referentes a um determinado filme. Algumas "taglines" revelam parte concreta da história do filme, outras são mais abstractas e subtis, outras ainda, sintetizam numa frase a essência do filme, despertando o apetite do espectador. Há frases também sem interesse e sem imaginação.
Ou seja, há "taglines" para todos os gostos e muitos filmes têm até mais do que um. Poucas são verdadeiramente interessantes e conseguem mobilizar o espectador para ver o filme (há algumas que são autênticos desastres). E há também frases más para filmes bons e vice-versa.
Os exemplos de frases promocionais que se seguem são meramente pessoais e listados por ordem cronológica. Não quer dizer que sejam as melhores ou as mais famosas frases de promoção de um filme. São algumas das minhas preferidas. Há muitas outras "taglines" famosas, mas estas são para mim, exemplos de frases promocionais de objectos fílmicos que representam pequenas obras-primas de criatividade e capacidade de síntese:

"The shadow of this woman darkened their love." - "Rebecca" (1940)
"They had a date with fate in Casablanca." - "Casablanca" (1942)
"Life is in their hands, death is on their minds!" - "12 Homens em Fúria" (1957)
"Check in. Relax. Take a shower." - "Psycho" (1960)
"You are cordially invited to George and Martha's for an evening of fun and games." - "Quem Tem Medo de Virgina Wolf" (1966)
"Being the adventures of a young man whose principal interests are rape, ultra-violence and Beethoven." - "Laranja Mecânica" (1971)
"On every street in every city, there's a nobody who dreams of being a somebody." - "Taxi Driver" (1976)
"In space no one can hear you scream." - "Alien" (1979)
"He loved the American Dream. With a Vengeance." - "Scarface" (1963)
"Be afraid. Be very afraid." - "A Mosca" (1986)
"It's a strange world." - "Veludo Azul" (1986)
"Harry Angel is searching for the truth... Pray he doesn't find it." - "Angel Heart" (1987)
"Exterminate all rational thought." - "Festim Nu" (1991)
"You won't know the facts until you've seen the fiction." - "Pulp Fiction" (1994)
"Movies were his passion. Women were his inspiration. Angora sweaters were his weakness." - "Ed Wood" (1994)
"The greatest fairy tale never told." - "Shreck" (2001)
"Dark. Darker. Darko" - "Donnie Darko" (2002)
"Intelligence is Relative" - "Destruir Depois de Ler" (2008)
"Why so Serious?" - "Dark Knight" (2008)

sábado, 20 de outubro de 2012

Clichés sonoros

O mundo do cinema está cheio de clichés, não só narrativos e visuais, mas também sonoros. Exemplos? Sempre que alguém começa a falar num microfone, esse alguém faz sempre um ruidoso "feedback". Numa sequência de perseguição automóvel, tem de se ouvir sempre o som do chiar dos pneus no asfalto. Se um personagem se encontra em Paris, ouve-se música de acordeão; se estiver em Londres, o som do Big Ben; em Hong Kong, o som de um gongo; durante muito tempo, nos filmes clássicos de terror, qualquer porta que se abrisse ou fechasse, rangia assustadoramente. E por aí fora.
O site Film Sound tem uma deliciosa listagem de clichés sonoros nos filmes.
Ver aqui.

quarta-feira, 17 de outubro de 2012

O homem duplicado em "Copy Shop"

Widrich Virgil é um realizador e artista multimédia austríaco que tem sido galardoado com dezenas de prémios internacionais por todo o mundo. E não admira que assim seja, uma vez que o seu trabalho é deveras original e de grande qualidade artística.
É talvez mais conhecido pela sua fantástica curta-metragem de animação "Fast Film" (2003), que fazia a evocação da memória do cinema através de imagens icónicas da Sétima Arte. No entanto, há quem prefira (como eu) o seu filme "Copy Shop" realizado dois anos antes (2001). Trata-se de uma curta-metragem de apenas 11 minutos em que cada minuto transpira inovação e frescura. De ideias e de concepção estética.
Basicamente, "Copy Shop" conta a história de um homem (que trabalha numa loja de fotocópias) e que, inesperadamente, fotocopia a sua própria mão. A partir deste incidente, o homem cria clones atrás de clones até ao desenlace fatal. Sem diálogos e recorrendo a um trabalho visual incrível, Widrich Virgil constrói uma narrativa surreal e desconcertante, de um grande cuidado plástico e com uma narrativa fluída. Este filme pode ser interpretado como uma crítica à monotonia da actividade do homem moderno; ou uma crítica aos modelos de ficção padronizados de Hollywood...
"Copy Shop" fartou-se de ganhar prémios em festivais internacionais (entre os quais, o Prémio do Júri no festival IMAGO da Covilhã) e chegou a estar nomeado aos Óscares na categoria "Live Action Short". E não espanta, porque este filme é de uma qualidade rara.

terça-feira, 16 de outubro de 2012

Vertov e Alloy Orchestra

Caro leitor: se nunca viu o filme "O Homem da Câmara de Filmar" (1929) de Dziga Vertov, esta é uma oportunidade ideal. Se já viu, aconselho a rever esta versão.
Isto porque se trata da versão (que eu adquiri em DVD há 7 anos) com música original da Alloy Orchestra (na imagem). É certo que há uma versão mais famosa com música composta pela Cinematic Orchestra (aqui), mas eu prefiro esta.
Alloy Orchestra, apesar do nome, é um trio de músicos norte-americano especializado, há muitos anos, em compor bandas sonoras originais para cinema mudo. Já fizeram música praticamente para todos os grandes clássicos dessa época ("Metropolis", "Nosferatu", "The General", "Blackmail", "Strike", etc). De todos os trabalhos que conheço desta Alloy Orchestra, considero que o melhor é mesmo o que fizeram para a obra-prima de Vertov.
Uma música incisiva, ao mesmo tempo séria e lúdica (ao bom estilo dos anos 1920), com um rigor sonoplástico, orquestral e rítmico verdaderamente notáveis.
Ver o filme de Dziga Vertov com esta música é, de facto, outra experiência. Acreditem. 
 

domingo, 14 de outubro de 2012

Perguntas Indiscretas #44

As únicas cópias mundiais em Blu-Ray de todos os filmes de David Lynch estão guardadas num baú de uma casa antiga. Há um incêndio e você só tem tempo de salvar um dos filmes e decidir-se num minuto. Qual o filme que salvaria?

Hopkins na pele de Hitchcock

Não sei se é uma impressão só minha, mas depois de ter visto o trailer de "Hitchcock", a figura de Anthony Hopkins pareceu-me demasiado forçada, pouco credível, quase caricata. Não sei se é um problema de caracterização (parece artificial e pouco natural). 
Acredito, porém, que sendo Anthony Hopkins um actor de enorme talento e versatilidade, possa surpreender quando vir o filme por inteiro. 
Ah, e espero que Scarlett Johansson seja deveras credível como Janet Leigh!
Aguardemos, portanto...

sábado, 13 de outubro de 2012

Buster Keaton em fotografias

Para quem procura imagens de boa resolução da vida e da carreira do grande actor e realizador Buster Keaton, basta entrar neste site. 
Encontram-se neste sítio fotografias (muitas originais e pouco conhecidas) do cineasta da comédia burlesca do cinema mudo, oriundas de filmagens, eventos informais, familiares e até GIFs. 

sexta-feira, 12 de outubro de 2012

Reconstruir "O Espelho"

Aqui está um exemplo do poder da montagem  e da música. O filme "O Espelho" ("Zerkalo", 1975), obra maior de Andrei Tarkovski, foi editado por Romana Vujasinovic e, recorrendo à excelente música "One of These Days" dos Pink Floyd, atribui outro significado visual e estético às imagens e sequências do filme do cineasta russo. O resultado é brilhante, porque não desvirtua a essência do filme em causa, e revela outra abordagem de estilo muito bem conseguido (porque o ritmo das imagens como que é conduzido pelas várias dinâmicas da música):

quinta-feira, 11 de outubro de 2012

Renato Seabra num filme de Lumet

Renato Seabra está por estes dias a ser julgado em Nova Iorque pelo homicídio do jornalista Carlos Castro. Um jurí constituído por onze jurados vai decidir o veredicto final: culpado ou inocente. Este caso faz-me lembrar um dos melhores filmes da história do cinema: "12 Homens em Fúria" (1957) de Sidney Lumet.
No filme de Lumet, 12 homens, com personalidades e formações díspares, cujos nomes não conhecemos, fazem parte de um jurado que se reúne numa sala do tribunal para decidir qual a sentença a aplicar a um jovem que é acusado de ter assassinado barbaramente o pai. A pena máxima prevista para o réu é a condenação à morte. No início da reunião, onze jurados estão convencidos da culpabilidade do réu. Apenas um, o jurado nº8 - interpretado por um enorme Henry Fonda - levanta dúvidas sobre a culpa do jovem e tenta convencer os demais da sua tese...
Dado que não há unanimidade entre os jurados e todos têm opinião diversa sobre os acontecimentos do crime, vão ocorrer conflitos nas negociações e lutas verbais acérrimas, para encontrar a verdade. Aos poucos, os jurados vão mudando de posição e o ambiente torna-se incrivelmente tenso e emotivo. A cada nova votação para alcançar um veredicto, a tensão cresce até ao desenlace final dramático... No fim do filme, nunca saberemos se o jovem era realmente culpado ou não, mas o que este filme, brilhantemente filmado e adaptado por Sidney Lumet, vem trazer à baila é a fragilidade e o poder da justiça, a possibilidade de juízos morais dúbios, o preconceito como entrave à verdade (tal como diz um dos jurados: "Os preconceitos ocultam sempre a objectividade da verdade").
A sala onde os jurados discutiam, "em fúria", o veredicto final - qual ringue de combate - era, igualmente, um microcosmos da sociedade americana da época, com homens com idades diversas e diferentes visões do mundo, de condições sociais e culturais muito distintas, que se servem daqueles momentos para exercer um poder que o Estado lhes concedeu.
-----
Imagino que o julgamento de Renato Seabra possa ter circunstâncias análogas à história de "12 Homens em Fúria". Resta saber se os jurados (homens e mulheres de várias idades) terão tantas dúvidas e preconceitos como no filme de Lumet para chegar ao veredicto final. Mais uma vez, a realidade mistura-se com a ficção (ou vice-versa).
 

quarta-feira, 10 de outubro de 2012

Um filme diferente para o Halloween


Agora que se aproxima o Halloween, eis um dos mais míticos e sublimes filmes do período mudo: "Häxan", realizado em 1922 pelo cineasta dinamarquês Benjamim Christensen.
"Häxan", um dos primeiros grandes filmes fantásticos de sempre (é do mesmo ano de "Nosferatu" de Murnau), documenta as perseguições movidas contra as feiticeiras e os actos de bruxaria numa Europa medieval conspurcada pela intolerância religiosa e pela Inquisição.
A prodigiosa fotografia do filme, as encenações de rituais e de possessões demoníacas, e o ambiente visual expressionista recriado viria a influenciar outras obras-primas do cinema, como o clássico de Carl Dreyer, "A Paixão de Joana D'Arc" (1928).
Muito do imaginário de terror psicológico e visual dos filmes das décadas posteriores (aliás, até aos nossos dias), foi gerado a partir deste filme escandinavo. Há muito de "Häxan" no filme "O Exorcista" (1973); e os produtores do filme-fenómeno "The Blair Witch Project" (1999), deram o nome de "Häxan Films" à sua produtora. E até inspirou a criação de um grupo homónimo de música... Black Metal. O escritor beat William S. Burroughs era grande admirador do filme.
Também é verdade que o filme de Christensen foi, durante décadas, censurado e banido, quer pelas autoridades religiosas, quer pelas autoridades políticas, tornando-se num filme marginal e num verdadeiro fenómeno de culto internacional. Mas nessa suposta marginalidade existia imensa criatividade e inovação estética.
Para além disso, esta obra é interessante para compreender a bruxaria através dos tempos. Um tema muito apropriado para a próxima temporada do Halloween, portanto.
Trailer.

terça-feira, 9 de outubro de 2012

segunda-feira, 8 de outubro de 2012

As legendas!

Segundo esta notícia, a Cinemateca Portuguesa vai ser obrigada a cortar nas legendas dos filmes que exibe devido aos cortes orçamentais impostos pelo Governo. Esta notícia é sintomática e prenuncia tempos cada vez mais difíceis para a cultura.
Por um lado, porque representa o minar gradual de toda e qualquer actividade cultural. Por outro, porque significa que o desinvestimento no apoio às artes e à produção cultural é uma clara opção política e governativa de Passos Coelho (que por acaso é o "Ministro da Cultura!").
Uma instituição de inestimável serviço público nacional como a Cinemateca chegar ao ponto de não ter dinheiro para pagar legendas é grave. E é um prenúncio de que coisas piores hão-de acontecer a curto e médio prazo, até à destruição definitiva da memória cinematográfica deste país.
Mas o que se passa com a Cinemateca passa-se com muitas outras instituições, associações e grupos de índole artístico e cultural de Portugal: a asfixia económica está, aos poucos, a deitar por terra projectos de valor a todos os níveis e a reduzir a pó a ideia de cultura em todos os seus sentidos.
 

domingo, 7 de outubro de 2012

"The Killing"

"The Killing" (1956) é a terceira longa-metrgem de Stanley Kubrick. Uma incursão do mestre pelo cinema negro através de uma história intrincada de um assalto a um banco. Neste filme revela-se um Kubrick já a caminho da maturidade artística, com uma sensibilidade cirúrgica na construção de personagens e na encenação da violência. 
Em Portugal não existe edição em DVD, mas encontrei na Fnac esta magnífica edição da editora Criterion (como sempre, com excelente capa e interessantes conteúdos extra). O problema é o preço (por ser de importação): 39,90€. 

Notas de Bresson #22

"Respeitar a natureza do homem sem a querer mais palpável do que ela é"

sábado, 6 de outubro de 2012

A vez de Grace Kelly

É mesmo uma moda: a indústria do cinema continua apostada fortemente em biografias de personalidades famosas. Sobretudo de personalidades do mundo do espectáculo que tiveram vidas pessoais e artísticas atribuladas e mortes trágicas.
Agora é a vez da actriz Grace Kelly ser levada ao grande ecrã pela mão de Nicole Kidman no filme "Grace of Monaco". A espanhola Paz Vega interpretará Maria Callas no mesmo "biopic". Outra curiosidade: o filme será realizado pelo mesmo realizador que fez a biografia fílmica ("La Vie en Rose") de Edith PiafOlivier Dahan.
Veremos no que dá...
 

quarta-feira, 3 de outubro de 2012

"The Lodger" em DVD!

Na sequência do meu post anterior sobre a relação entre múscia e cinema, o Alexandre Batista avisou-me de que o filme clássico mudo "The Lodger" (1927) de Alfred Hitchcock, tinha sido lançado recentemente em DVD. Este é considerado pelos historiadores o primeiro filme verdadeirmante hitchcockiano do realizador, revelando os aspectos formais e de abordagem ao thriller que foram marcas de autor do cineasta durante as décadas posteriores.
Agora a notícia que interessa: nos últimos anos "The Lodger" foi alvo de um minucioso restauro em alta definição pela Fundação Scorsese e pelo British Film Institute. Mas não é tudo: tratando-se de um filme mudo (realizado mesmo no dealbar do sonoro), "The Lodger" tinha de ter uma banda sonora original a condizer com a qualidade da restauração e do próprio filme. Para tal, foi convidado o músico britânico (de ascendência indiana) Nitin Sawhney, conhecido sobretudo nos anos 90 e 2000 com as suas fusões de electrónica drum'n'bass com ritmos indianos. Só que desta vez, Nitin Sawhney foi mais ambicioso e compôs uma partitura para ser interpretada pela London Symphony Orchestra, num registo simultaneamente clássico e moderno. Este projecto teve apresentação pública em Julho na cidade de Londres. Agora acaba de ser editado (final de Setembro) em DVD e está já disponível para venda aqui. 
A avaliar por este curto e interessante trailer (pela qualidade das imagens e da música), atrevo-me a dizer que se tratará de uma das mais importantes edições DVD do ano.

terça-feira, 2 de outubro de 2012

Música para cinema - uma abordagem




O cinema existe desde 28 de Dezembro de 1895, data em que as experiências incipientes dos irmãos Auguste e Louis Lumière, com o “cinematógrafo”, espantaram o público burguês do Grand Café de Paris. Os inventores do cinema lançaram as bases desta emergente linguagem artística com filmagens de um minuto, nas quais mostravam a vida quotidiana de cidadãos comuns.
Apesar do sucesso popular imediato daquelas sessões de projecção cinematográfica (por onde passou o escritor Eça de Queiroz), os irmãos Lumière não auguravam futuro para o cinema. Felizmente que outro francês, George Méliès (realizador do célebre filme “Viagem à Lua”, considerada a primeira ficção do cinema), não pensava da mesma forma e desenvolveu, sobremaneira, a linguagem cinematográfica, ainda que muito ligada à estética teatral. Depois, outros notáveis realizadores se encarregariam de desenvolver a linguagem do cinema de distintas formas.
O que é certo é que durante os primeiros 30 anos da sua história, o cinema foi mudo, mas não totalmente silencioso. Significa isto que o som estava ausente das imagens, apenas havendo um ou outro acompanhamento de piano ou de uma pequena orquestra durante a exibição pública, geralmente tocado por detrás da tela de projecção. Algumas ténues experiências foram feitas na conjugação som-imagem, nomeadamente, na utilização que alguns realizadores fizeram utilizando a música de compositores clássicos, como Saint-Saëns, Pizzetti ou Satie. Curiosamente, outros grandes compositores como Stravinsky, Bartók, Ravel ou Schoenberg, que se aventuraram na criação de música para filmes, manifestaram-se ineptos criadores de bandas sonoras para cinema. Daí que a relação entre o cinema e a música seja uma relação artística complexa e problemática, uma vez que se reveste de múltiplas facetas e visões distintas, levantando determinadas questões pertinentes que praticamente se mantêm vivas até hoje: será a música para cinema meramente ilustrativa? Os compositores para cinema são compositores de primeira ou de segunda? A banda sonora para filme é um género à parte da restante produção musical? Um filme fica mais rico se tiver sempre uma partitura original (como nos filmes Spielberg) ou bandas sonoras adaptadas (como nos filmes de Kubrick)?

Nos primórdios, por impossibilidade técnica, o filme era desprovido de som (banda sonora ou diálogos), e os realizadores e espectadores pouco se importavam com isso. A interpretação dos actores era mais física e expressiva, uma vez que o som dos diálogos era inexistente. Dava-se relevo às imagens e suas múltiplas formas expressivas. Quando o sonoro surgiu, no filme “The Jazz Singer” (1927, com o actor Al Jonhson a imitar um cantor de jazz negro), houve alguma resistência por parte de grandes vultos do cinema à novidade técnica do som. O próprio Charlie Chaplin chegou a dizer que o som iria “matar o cinema”. E Greta Garbo foi das poucas actrizes que se conseguiu afirmar no período sonoro com a mesma veemência com que o tinha feito no mudo. A revolução do sonoro tinha começado. Apesar da ausência de som e de música, este foi um período extremamente criativo no que se refere à consolidação da linguagem artística do cinema, enquanto forma estética (montagem, realização, fotografia, cenários) e objecto semiótico (narrativo, ficcional, documental).

Determinados filmes foram efectivamente silenciosos durante décadas. Chaplin musicou, ele próprio, os filmes “Luzes da Cidade” (1931) e “Tempos Modernos” (1936) apenas durante a década de 60.
Buñuel fez o mesmo com a obra-prima “Un Chien Andalou” (1929), à qual adicionou a banda sonora (tango argentino) 35 anos depois da estreia. Ou seja, os realizadores de cinema cedo se aperceberam da grande importância que a música detinha como complemento das imagens. Por isso Eisenstein trabalhou logo em 1938 com o compositor Sergei Prokofiev, que compôs a banda sonora épica do filme “Alexander Nevsky”, num exemplo acabado da perfeita sincronia criativa entre imagem e som. Os sons (no sentido da sonorização da narrativa) e a banda sonora (a música propriamente dita com funcionalidade dramática) desempenham um motor emocional próprio no espectador, desencadeando reacções que não seriam possíveis caso não houvesse essa componente sonora.

Durante o período áureo da indústria de Hollywood - dos anos 40 a 60 do Século XX – revelaram-se grandes compositores para cinema: Bernard Herrmann. Elmer Bernstein, Nino Rota, Ennio Morricone, Henri Mancini, Alfred Newman entre muitos outros. Hoje qualquer cinéfilo identifica a ligação estética entre determinados cineastas e músicos: David Cronenberg e a música de Howard Shore, Sergio Leone e a música de Ennio Morricone, Steven Spielberg e a música de John Williams, Hitchcock e a música de Bernard Herrmann, Tim Burton e a música de Danny Elfman, Peter Greenaway e a música de Michael Nyman, etc. Durante os últimos anos, uma das estratégias de reabilitação do cinema mudo tem sido conseguido com o fenómeno dos cine-concertos (ou filmes-concertos).

Isto é, filmes que são acompanhados com música original interpretada ao vivo e em tempo real da projecção. Há inclusive compositores e grupos musicais que se dedicam exclusivamente à criação de bandas sonoras para filmes mudos. Projectos de diversas proveniências estéticas e nacionalidades têm criado música original para filmes imortais do período mudo: Art Zoyd, Pet Shop Boys, Cinematic Orchestra, Alloy Orchestra, Clã, Mário Laginha, Nuno Rebelo, etc.
No fundo, novos campos de experiências estéticas se abriram com a confluência dos filmes com os concertos ao vivo.