domingo, 30 de setembro de 2012

O estado da cultura em Espanha

Antón Reixa, carismático cantor e poeta do grupo pop-rock galego Os Ressentidos (nos anos 80), é o actual presidente da SGAE, a entidade espanhola equivalente à Sociedade Portuguesa de Autores.
Antón Reixa veio reafirmar aquilo que outros artistas e personalidades da cultura espanhola (como o realizador Pedro Almodóvar) já disseram: que a cultura está (e vai continuar a estar) num processo de degradação absoluta.
Essa degradação deve-se ao aumento do IVA que afecta dramaticamente as actividades culturais e à redução substancial do orçamento do Governo espanhol no apoio à cultura e às artes.
Lamenta Antón Reixa: "Os governantes tendem a compreender a cultura não como algo produtivo mas como algo ornamental. Esta crise está a contribuir para a liquidação da esperança como se a criatividade colectiva e individual e o acesso aos espectáculos culturais fossem algo de supérflúo".
Para Reixa, a "indústria cultural gera autoestima, identidade, riqueza e postos de trabalho", pelo que está decidido a estabelecer todas as linhas de diálogo com o Governo para que a situação calamitosa da cultura em Espanha mude.
Qualquer semelhança com a realidade portuguesa não é mera coincidência.
 

DCD

A revista Arte Sonora entrevistou os Dead Can Dance e revela pormenores interessantes sobre o método criativo (e técnico) para a gravação do recente álbum "Anastasis". Vale a pena ler.

sábado, 29 de setembro de 2012

A alta velocidade de... bicicleta

Estreia para a semana em Portugal um filme de acção que me interessa por um motivo: porque o filme se centra num protagonista que percorre Nova Iorque de... bicicleta. 
E como gosto de bicicletas e ando de bicicleta no tempo livre (na cidade e na montanha), estou curioso para ver como este thriller de acção chamado "Premium Rush" ("Encomenda Armadilhada") se desenvencilha com um ciclista a fugir de perseguidores no meio do trânsito caótico de Nova Iorque. E pensando bem, a verdade é que já se estranhava o facto de haver tão poucos filmes com sequências de perseguição com bicicletas. 
Ao longo dos anos já se filmaram perseguições com todo o tipo de veículos - carros, motas, autocarros, skates, patins em linha, e raramente com recurso à bicicleta. Mas a bicicleta é um excelente veículo para boas cenas de acção vertiginosa, coisa que - a fazer valer este trailer - "Premium Rush" demonstra ter. PS - O actor que encarna o ciclista do filme, Joseph Gordon-Levitt, ficou ferido durante as filmagens: numa sequência a alta velocidade no meio do tráfego nova-iorquino, embateu contra a traseira de um táxi e feriu um braço (levando 30 pontos).
 

quinta-feira, 27 de setembro de 2012

A outra Cinecittà


Chama-se Cinecittà e o título é uma directa referência aos míticos estúdios italianos de cinema com o mesmo nome. Trata-se de uma loja online de cinema e cultura pop, na qual se podem encontrar produtos relacionados com as várias facetas do cinema: filmes em DVD, posters, t-shirts, objectos de decoração, postais, fotografias, etc. A Cinecittà tem produtos que não se encontram facilmente em mais nenhuma loja comercial do país, pelo que é um sítio especial para coleccionadores e cinéfilos em geral.
Link.

O papel da televisão

"A televisão tem um papel muito educativo para mim: sempre que alguém a liga em minha casa corro à prateleira buscar um livro para ler".
Groucho Marx


Desprendimento de tudo

 
 
O escritor Albert Cossery (morreu aos 94 anos em 2008) é um dos meus escritores favoritos. Era um escritor invulgar e original, capaz de escrever sobre assuntos mundanos de forma extremamente polida. Interessava-se pelos "vencidos da vida" e não por heróis romanceados de forma épica.
Nasceu no Egipto mas toda a vida escreveu em francês. Metódico e solitário (viveu 63 anos no mesmo quarto de hotel), Albert Cossery tinha por hábito escrever apenas uma frase em cada dia, durante quase sessenta anos de carreira literária, produção que equivaleu a uns escassos oito livros publicados.
Albert Cossery fazia, na esteira da filosofia epicurista (o prazer e o hedonismo como valores primordiais para a vida), a apologia da preguiça e do ócio, vendo nestas atitudes o espelho de uma rebuscada actividade interior, como métodos valiosos de reflexão sobre a vida e o mundo. Vivia arredado da fama e da vaidade do círculo literário internacional.
O próprio Cossery viveu praticamente toda a vida de forma desprendida e despojada, segundo o próprio, veículos para a felicidade e para o bem-estar existencial.

Eis a prova numa das últimas entrevistas que deu:
 
- "Nunca pensou que as sociedades podem progredir?"
- "Um progresso espiritual, sim, mas não no sentido religioso. Espiritual, quer dizer no espírito. É muito difícil e é por esse facto que a humanidade não avançou nem um centímetro desde há milénios. Hoje vemo-lo um pouco por todo o mundo: as pessoas odeiam-se, entram em guerra, matam-se".
 
- "Qual é a arte de viver?"
- "Desprender-se de tudo o que nos ensinam, de todos os valores e dogmas".
 
- "O que é que caracteriza a arte de viver das personagens que criou?"
- "Em primeiro lugar, a falta de ambição. O que mata as pessoas é a ambição. E também esta tendência para a sociedade de consumo. Quando vejo publicidade na televisão, digo para mim próprio: podem apresentar-me isto anos a fio que nunca comprarei nada daquilo que mostram. Nunca desejei um belo automóvel. Nunca desejei outra coisa senão ser eu próprio. Posso caminhar na rua com as mãos nos bolsos e sentir-me um príncipe. Não é a posse de bens materiais que pode satisfazer um homem inteligente, que compreendeu o mundo em que vive".

terça-feira, 25 de setembro de 2012

Oslo, 31 de Agosto

Anders, toxicodependente recuperado, vagueia pelas ruas de Oslo à procura de um sentido. De um sentido válido e consistente para retomar o seu caminho, a sua vida. Anders ostenta um ar melancólico e distante, tentando não ceder à tentação e ao desgaste emocional de um falhanço eminente. Senta-se num café a escutar, disfarçadamente, as conversas das mesas ao lado. Percebe, angustiado, que as outras pessoas têm vidas, ao contrário do vazio da sua. Procura preencher esse vazio com os amigos de outrora, com o reencontro frustrado com uma namorada antiga. Em vão. Anders continua a vaguear, alienado, feito autómato. No meio da festa, da agitação e da alegria colectiva, sente-se cada vez mais isolado. Almeja conforto, compreensão, confiança.
Nada disso ocorre e Anders afunda-se. A desesperança tolhe-lhe o espírito e não mais conseguirá recuperar. Sente que os seus pecados e os seus erros foram fatais demais para os conseguir ultrapassar. Por isso cede à tentação e volta a comprar o fruto proibido. Ao menos este fruto, ainda que artificial, ainda que (potencialmente) mortal, permite-lhe um sopro de conforto e aconchego. Fátua emoção, porque Anders desistiu para sempre de reencontrar um motivo para continuar.
 

segunda-feira, 24 de setembro de 2012

Blixa e Becker

E agora para algo completamente diferente: uma das músicas mais sedutoras e belas dos anos 90, interpretada em duo por Blixa Bargeld (do grupo alemão Einstürzende Neubauten) e a actriz e cantora Meret Becker. O videoclip foi realizado por Jonathan Batowski:

domingo, 23 de setembro de 2012

sexta-feira, 21 de setembro de 2012

Filme no... telemóvel

Revi o filme "Manhattan" de Woody Allen num... telemóvel. É isso mesmo. Num telemóvel Sony Xperia S. E por incrível que pareça, não cansei a vista nem me desmotivei a vê-lo num ecrã pequeno (ecrã 4,3", resolução 1280 x 720 pixeis).
Já tinha visto, obviamente, muitos vídeos de curta duração num telemóvel, mas foi a primeira vez que vi um filme na íntegra (e logo um clássico do Woody Allen). A sensação, confesso, foi algo estranha, mas ao mesmo tempo satisfatória, dada a qualidade da imagem, do som e da portabilidade do suporte. Segundo os especialistas, este vai ser o futuro do consumo de filmes: efectuar download de filmes directamente de servidores internacionais para equipamentos tecnológicos portáteis (telemóveis, tablets, computadores, consolas de videojogos, etc).
Obviamente que o verdadeiro cinema existirá sempre em grande formato de imagem, mas a minaturização progressiva dos suportes permitem que o consumidor possa ver filmes em telemóveis.
E o futuro é já hoje...
 

quinta-feira, 20 de setembro de 2012

Lohan vs. Taylor

Lindsay Lohan como Elizabeth Taylor? Para além da colagem visual à figura mítica do cinema, será que Lohan conseguirá estar ao nível da Diva?
 

quarta-feira, 19 de setembro de 2012

Plano Nacional de Cinema

Afinal, não são apenas más notícias que assolam Portugal: o Plano Nacional de Cinema, um projecto para promover a criação de novos públicos a partir das escolas, será apresentado na próxima sexta-feira, na Cinemateca Portuguesa, em Lisboa. O Plano Nacional de Cinema será uma iniciativa conjunta da tutela da Cultura com o Ministério da Educação, com o objectivo de introduzir nos planos escolares listas de filmes para os alunos verem.
Esta iniciativa vai ao encontro da legislação que refere que o "Estado promove um programa de literacia para a cinema junto do público escolar para a divulgação de obras cinematográficas de importância histórica", em particular, filmes portugueses.
Em Março, numa visita a uma escola, Francisco José Viegas equiparou o Plano Nacional do Cinema ao actual Plano Nacional de Leitura, que existe para estimular os hábitos de leitura dos estudantes. O objectivo é que os estudantes do ensino básico e secundário melhorem a sua cultura cinematográfica e "percebam que o cinema não começou há cinco anos, começou há cem anos. Nós precisamos de criar públicos, este é o essencial da nossa acção, em termos de política cultural que é insistir no factor educação", defendeu na altura do secretário de Estado.
Segundo dados da SEC, em Portugal há uma reduzida adesão de público ao cinema português: 1,9 por cento, em 2010, e 0,7 por cento, em 2011, quando a média europeia, em 2010, foi de 11,6 por cento.
Durante o presente ano lectivo, o Plano Nacional de Cinema vai decorrer num modo experimental em escolas previamente escolhidas do país. Se a conclusão deste projecto for positiva, certamente que para o ano será alargado a toda a restante rede escolar. Falta agora saber quais serão os filmes destinados aos alunos e que planos pedagógicos complementares serão anunciados. Seja como for, é deveras um passo importante que o actual Governo está a dar para a inclusão do cinema na escola como veículo cultural, artístico e educacional.

terça-feira, 18 de setembro de 2012

Playtime #78

A solução: "We Need to Talk About Kevin" (2011) - Lynne Ramsay
Quem descobriu: Silly Little Wabbit

Rui Eduardo Paes

Portugal está prestes a perder um dos seus melhores críticos, ensaístas e jornalistas musicais: Rui Eduardo Paes. Isto porque um amigo meu me reencaminhou um mail do próprio jornalista a dizer que, caso não encontre trabalho em Portugal brevemente, a solução poderá passar pela emigração.
Rui Eduardo Paes, com uma carreira de 30 anos, lançou há pouco tempo o seu sexto livro sobre música, "Breviário Ilustríssimo", um notável livro sobre as mais variadas correntes musicais de vanguarda (e não só) contemporâneas, portuguesas e estrangeiras. O livro pode ser encomendado online aqui.
Para quem não conhece o trabalho deste importante jornalista no desemprego, eis o que Nuno Catarino escreveu no jornal Público sobre este autor e o respectivo livro:

"O musicólogo Rui Eduardo Paes tem desenvolvido uma intensa actividade na escrita sobre música(s) ao longo dos últimos 30 anos, entre o jornalismo, a crítica e a reflexão ensaística. Tendo estado, nos últimos tempos, mais ligado ao universo do jazz (na qualidade de editor da revista jazz.pt), Paes não abdica de atravessar géneros, com ênfase no experimental.
Ao longo de uma obra vasta – "Ruínas" (1996), "A Orelha Perdida de Van Gogh" (1998), "Cyber-Parker" (1999), "Phonomaton" (2001), "Stravinsky Morreu" (2003) –, Paes tem desenvolvido ensaios que reflectem sobre as questões que caracterizam as "novas músicas". Estes livros serão actualmente quase impossíveis de encontrar, na sequência da falência da editora Hugin, e este novo "Bestiário Ilustríssimo" vem devolver o seu nome às prateleiras das livrarias, fechando um hiato de nove anos sem publicar. Numa edição que recupera o título de uma série de peças publicadas no jornal Blitz há cerca de 20 anos, Paes reúne textos mais recentes, produzidos para finalidades diversas (folhas de sala de concertos, artigos de revista, guiões de conferências e "liner notes" de discos).
São 50 textos, distribuídos por 260 páginas, que divergem em temas e géneros, sendo embora atravessados por algumas questões comuns que acabam por estar presentes de forma recorrente: as problemáticas da improvisação; o papel da tecnologia na produção musical; as ligações entre o jazz e as outras músicas; ou as intersecções entre música e outras artes.
Demonstrando una rara capacidade de criar paralelos entre temas, Paes estabelece metáforas, propondo analogias, questionando e desafiando. Sendo boa parte dos textos acerca de músicos vindos das áreas do jazz e da música improvisada do nosso tempo (como Elliott Sharp, Sei Miguel, Daniel Levin, Red Trio, Peter Brotzmann, Nobuyasu Furuya, Carlos "Zìngaro", Mostly Other People Do The Killing ou Steve Lehman), vai também a extremos diferentes e menos previsíveis – como Paganini, Aki Onda ou Mão Morta. Independentemente da área de proveniência, cada tema é laboriosamente analisado sob originais pontos de vista.
Cada texto engloba um manancial de referências, numa espécie de aura enciclopédica, mas a escrita de Paes favorece uma leitura e descomplicada, sem esforço, que resulta prazenteira. Refira-se ainda a inclusão das deliciosas ilustrações de Joana Pires, que funcionam como excelente complemento à prosa saborosa do escritor."
 
Nuno Catarino no Público (suplemento Ípsilon).
Classificação do livro: ****

segunda-feira, 17 de setembro de 2012

Discos que mudam uma vida - 170

Aphex Twin - "Richard D. James" (1996)

I'm a sick person

"Film lovers are sick people."
Francois Truffaut

Woody em DVD

A revista Sábado anunciou o lançamento de uma colecção de 10 DVDs do Woody Allen (9 filmes e um documentário). O início desta colecção será no dia 27 de Setembro e terminará no dia 29 de Novembro. Todos os DVDs serão distribuídos à quinta-feira com um preço de 4,95€ cada.
Uma oportunidade para quem quer conhecer melhor a obra do realizador e adquirir algumas das suas melhores comédias dos últimos anos.

Os títulos são:

- A Maldição do Escorpião de Jade
- Poderosa Afrodite
- Vigaristas de Bairro
- Balas sobre a Broadway
- As Faces de Harry
- Anything Else
- A Vida e Tudo o Mais
- Através da Noite
- Toda a Gente Diz Que te Amo
- Celebridades
- Wild Man Blues: Um retrato de Woody Allen

domingo, 16 de setembro de 2012

Versão musical alternativa

Se os Monty Python tivessem sido músicos, aposto que tocariam desta maneira (completamente non-sense) a composição de Strauss que abre o filme "2001 - Odisseia no Espaço" de Kubrick:

A importância do chapéu


Nos filmes western há vários ícones. O vestuário de um cowboy faz parte do imaginário dos westerns, para além das paisagens desertas, o cavalo, o xerife, as diligências, o revólver no coldre ou os bares decadentes.
Um desses ícones clássicos que fazem parte do vestuário é o chapéu, adereço indissociável de um verdadeiro e genuíno cowboy americano do velho Oeste. Qual o verdadeiro cowboy, herói ou vilão, que não usava um chapéu? Ao longo da história do cinema a figura do cowboy foi sempre representada com um chapéu, dos mais diversos estilos, feitios, cores e materiais.
Para conhecer um pouco mais a genealogia dos chapéus de cowboy, vale a pena visitar o site Western Movie Hats, que explica tudo sobre os diferentes chapéus que grandes actores de westerns utilizaram.
E há sempre a possibilidade de comprar um modelo, por exemplo, exactamente a este que o Clint Eastwood usou no filme "Outlaw Josey Wales" (1976) ou em qualquer outro western clássico.

sexta-feira, 14 de setembro de 2012

Notas de Bresson #21

"Que no teu filme se sintam a alma e o coração, mas que seja feito como um trabalho manual".

FILMography

Mais exemplos aqui.

"Lincoln"

Foi divulgado há apenas umas horas o trailer oficial do aguardado filme "Lincoln" do realizador Steven Spielberg sobre o presidente norte-americano Abraham Lincoln. Basta assistir ao trailer para perceber que o actor que encarna Lincoln, o sempre sensacional Daniel Day-Lewis, arrisca ser nomeado ao Óscar de Melhor Actor na próxima cerimónia dos Óscares da Academia de Hollywood.
Aguardemos...

quinta-feira, 13 de setembro de 2012

Novo livro de David Byrne

Eis o novíssimo livro do músico David Byrne. Com o título sugestivo "How Music Works", o ex-líder dos seminaisTalking Heads procede a uma série de reflexões sobre a importância e o poder que a música tem nas múltiplas áreas de actividade humana. Sob um ponto de vista científico, cultural e antropológico, David Byrne investiga quais os processos que levam à criação musical e aos diferentes efeitos que esta produz nos ouvintes. 
Este livro ainda não tem tradução portuguesa mas a original pode ser comprada online via Amazon.
 






Anderson e Desplat

O filme "Moonrise Kingdom" de Wes Anderson é um prodígio de imaginação visual, rigor estético e narrativa efusiva. Na linha dos seus anteriores filmes, Wes Anderson está a construir uma linguagem plástica única, com características marcadamente de autor. O ritmo da montagem, o tom suavemente surrealista das histórias, a realização milimétrica, a mise-en-scène obsessiva e a utilização inteligente da banda sonora, fazem da obra de Wes Anderson em geral, e de "Moonrise Kingdom", em particular, uma notável manifestação artística em imagens e sons.
E no que se refere à música, há que dar um grande destaque à soberba e inspiradíssima banda sonora que o compositor francês Alexandre Desplat fez para o último filme de Anderson (uma das melhores bandas sonoras para cinema deste ano, quanto a mim). A partir da obra do compositor britânico Benjamim Britten (cuja música também se ouve no filme), Desplat compôs uma música timbricamente expressiva e de grande sensibilidade estilística.  
Neste particular e belo trecho, a música de Desplat faz lembrar Danny Elfman misturado com Bernard Herrmann:

quarta-feira, 12 de setembro de 2012

Aquele momento certo

Vítor Rua é um músico português consagrado. Foi um dos elementos fundadores do grupo rock GNR e do projecto experimental Telectu durante mais de 20 anos. Tem também larga experiência na composição de música para teatro, performance e bailado.
O seguinte texto que publico é de um post que Vítor Rua publicou na sua página pessoal do Facebook. Trata-se de um pequeno exemplo de como um breve instante pode mudar a vida e a visão artística de um artista:
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"Eu sou dos que acredita, que ler um bom livro, ver um bom filme, olhar um belo quadro ou ouvir uma boa música, pode mudar a vida de uma pessoa; ao guitarrista americano Elliott Sharp, aconteceu-lhe uma dessas coisas que nos fazem mudar; um dia, com 16 anos de idade, ia a passear pela rua 48 em Nova Iorque, e ao passar junto ao Manny´s (uma loja de guitarras), ouviu o som mais estranho que alguma vez tinha ouvido na vida; entrou, e foi à procura da fonte sonora; foi então que viu um tipo de joelhos, virado com uma Fender para o amplificador, só a controlar e a produzir feedback; quando o tipo de levantou e se virou, o Sharp reparou que era o Jimi Hendrix; esta experiência mudou todos os conceitos que o Sharp tinha do que era ser-se guitarrista."
[Vítor Rua]

terça-feira, 11 de setembro de 2012

Filmes até rebentar

Na Bolívia, dois jovens conseguiram ver 92 filmes durante 200 horas, 30 minutos e 50 segundos, sem dormir. O concurso começou com 1400 participantes e os resistentes bolivianos vencedores conseguiram levar a melhor.
O record anterior (2011) era de 60 filmes sem dormir, largamente superado agora com 92 filmes. Os jovens tinham períodos de descanso de 15 minutos entre cada filme e meia-hora para comer. Eram vigiados por médicos para evitar dopagem. O prémio foi de 10 mil dólares.
Mais interessante do que saber que os jovens aguentaram 200 horas a ver filmes, era saber que filmes efectivamente viram. Filmes de acção e aventura? Ou filmes de autor de países do leste asiático? Certamente que a selecção terá contribuído para uma maior (ou menor resistência dos participantes). E sejamos honestos: ao fim de um determinado número de horas (80? 100? 150?) já ninguém consegue "ver" cinema. Apenas se olha sem qualquer concentração, e meio atordoado, para o ecrã...
Seja como for, perante tal avalanche violenta a ver filmes, pergunto-me quando voltarão estes jovens a entrar numa sala de cinema para ver um filme... com verdadeiro prazer de espectador?
 

domingo, 9 de setembro de 2012

Imagens do fim do mundo

O filme "4.44 - Último Dia na Terra" de Abel Ferrara, ainda em exibição nas salas portuguesas, aborda o fim do mundo. Mas, à semelhança do fim do mundo de "Melancholia" de Lars Von Trier, não existem praticamente imagens de destruição do planeta Terra. Em ambos os filmes, o apocalipse é metafórico, emocional, e não de carácter visual.
Ora, um tal Zach Prewitt resolveu pegar nos muitos filmes sobre o apocalipse que se fizeram nos últimos anos e fez uma ardilosa montagem com as sequências mais destrutivas e apocalípticas (são imagens de 22 filmes), desde a destruição provocada por fenómenos devastadores da natureza, até à provocada pela acção humana e alienígena.
Em suma, um verdadeiro compêndio de "cinema-catástrofe" que fará as delícias daqueles que acreditam que o fim do mundo está agendado para o dia 21 de Dezembro de 2012!

quinta-feira, 6 de setembro de 2012

Woody Allen e "Ladrões de Bicicleta"

E por falar em Woody Allen: como se sabe, o seu último filme ("To Rome With Love") tem como cenário a cidade italiana de Roma. Daí que tenha sido desafiado pela imprensa italiana para escolher os seus filmes italianos preferidos. Um dos filmes italianos de que Woody Allen mais gosta (já o referiu várias vezes publicamente) é o magnífico "Ladrões de Bicicletas" (1948), obra-prima de Vittorio De Sica e um marco essencial do Neo-Realismo italiano.
Sobre esta película, Woody explicou os motivos pelos quais considera esta obra como absolutamente admirável. Os seus argumentos são tão simples, nobres e objectivos como o próprio filme em si:
"This, to me, was the supreme Italian film and one of the greatest films in the world. It was out when I was a teenager, in the same era as “Stromboli” and “Bitter Rice,” that wave at the time. When you see it, it seems so simple and effortless. I mean, what could be more simple? A guy has a bicycle which he needs for his livelihood, it gets stolen, and he goes to find it with his son. The boy’s relationship with his father was part anger, part desperate affection. It couldn’t help but make an impression on the most primitive level. You didn’t have to think about anything, you just watched the characters and their predicament. It’s flawless; every part of it works perfectly."

quarta-feira, 5 de setembro de 2012

Luke Scott

Filho de peixe sabe nadar: eis o realizador Luke Scott, filho e sobrinho de dois famosos realizadores, respectivamente, de Ridley Scott e do malogrado Tony Scott. Depois de várias experiências com documentários e vídeos dispersos, Luke Scott aventurou-se numa curta-metragem de ficção científica para testar uma nova geração de câmaras digitais (RED Cameras) que filmam no formato de alta resolução 4k.
O resultado é o filme de ficção científica "Loom" (20 minutos de duração). Como não podia deixar de ser, o estilo visual e a própria história remetem directamente para o universo imagético do emblemático filme de culto do pai, "Blade Runner".
Nota-se que é uma curta-metragem feita com profissionalismo e refinado gosto plástico (qualidade de imagem irrepreensível), na qual o protagonista principal trabalha num misterioso laboratório de clonagem de carne.
Uma interessante experiência que poderá preparar Luke Scott para - é quase certo - uma futura longa-metragem.

Woody Allen e os filmes europeus

Woody Allen, em entrevista ao jornal El País, explica porque é que tem feito filmes nos últimos anos em cidades europeias: basicamente, porque é na Europa que lhe dão o dinheiro  que precisa sem que ninguém exija algo em troca (como nos EUA, onde lhe dão pouco dinheiro e querem saber tudo sobre o argumento e elenco). Diz ainda que concorda que estes filmes realizados na Europa possam ser considerados "guias turísticos", como já o era, o filme "Manhattan" e outras obras filmadas em Nova Iorque.
Vendo bem, são argumentos lúcidos e honestos. O cineasta não é hipócrita: vai ao cerne da questão de forma pragmática. Isto é, assume que o cinema é uma arte cara e filma nos países onde lhe dão dinheiro e liberdade criativa, condições essenciais para a prática cinematográfica em qualquer país do mundo. Faz sentido e não há mal nenhum em assumi-lo. Agora, concluir se esses filmes europeus são bons, maus ou medianos, é outra questão...
Woody Allen explica ainda que já recebeu propostas para filmar em Moscovo, na China e em cidades sul-americanas. Há tempos ventilou-se na imprensa que o presidente da Câmara Municipal de Lisboa terá manifestado interesse em convidar Woody Allen para filmar em Lisboa. Não sei se esta intenção tinha algum fundo de verdade ou não, mas não me repugnaria que Woody aceitasse tal desafio. Mas também é verdade que, até considerando a idade do realizador, os cinéfilos não podem esperar que Allen filme no futuro na sua cidade!
Teria de ter muitos anos pela frente (talvez vidas) para concretizar esta ideia.  
 

segunda-feira, 3 de setembro de 2012

Cinema mudo: novo filão

Li a seguinte notícia no Portal Cinema:
"Michael Pitt está confirmado no elenco de “The First”, uma cinebiografia de Mary Pickford, uma das maiores estrelas norte-americanas do cinema mudo. O Deadline revela que Pitt será Owen Moore, o primeiro marido da atriz. A história deste filme vai explorar os principais eventos da vida e da ilustre carreira de Mary Pickford, que participou em mais de duzentos filmes e contracenou com várias estrelas masculinas como Charlie Chaplin ou Douglas Fairbanks, que nesta produção vai ser interpretado por Jude Law. Lily Rabe dará vida a Pickford. O livro "Pickford: The Woman Who Made Hollywood”, de Eileen Whitford, será a base do enredo desta obra que poderá ser realizada por Jonathan Demme. O início das suas filmagens estão agendadas parra Janeiro de 2013."
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Comentário: está aberto um novo filão de Hollywood. Depois da exploração, até à saciedade, dos remakes, sequelas e prequelas, os estúdios, produtores e realizadores norte-americanos viram-se agora para... o cinema mudo. Faz algum sentido depois do êxito comercial (e de crítica) do filme "O Artista", mas será que o público quer ver um "biopic" de Mary Pickford, actriz que até para os cinéfilos pouco diz nos dias que correm?
Pegando nesta ideia, eis as minhas sugestões para novas películas biográficas de artistas do período mudo que poderiam dar filmes interessantes:
- Louise Brooks
- Katlheene Cliford
- Lilian Gish
- Maria Falconetti
- Rodolfo Valentino
- Douglas Fairbanks
- Harold Lloyd
- Paulette Goddard
- F.W. Murnau
- Eric Von Stroheim
- Emil Jannings
(...)

Notas de Bresson #20

"Uma imagem e um som não devem auxiliar-se, mas trabalhar cada um por sua vez, como se fossem estafetas".

Discos que mudam uma vida - 169

New Order - "Movement" (1981)