sábado, 31 de outubro de 2009

Discos que mudam uma vida - 80


Air - "Moon Safari" (1998)

Isto é o verdadeiro Halloween

Não há volta a dar: Halloween só há um, o do Jack Skellington e mais nenhum. Aqui não é o esqueleto andante que canta "This is Halloween", a clássica canção de abertura do insuperável filme "Nightmare Before Christmas" de Tim Burton, mas sim os Panic! At The Disco, numa versão bem conseguida da genial música do compositor Danny Elfman (ainda assim, prefiro a versão mais "dark" de Marilyn Manson).

Ir ao cinema noutros tempos

Antes da era consumista dos centros comerciais e dos seus multiplexes com dez salas de cinema, os filmes eram vistos em grandes e sumptuosos teatros. Os títulos dos filmes estavam bem visíveis em neon e os espectadores esperavam longas filas para conseguirem bilhetes. Eram tempos em que ir ao cinema era, não só um hábito cultural, como também um ritual social. Tempos em que a fruição de um filme não se resumia à escolha de um filme qualquer dos seis ou sete que estreiam numa semana, seguido do acto de levar para a sala (igual a tantas outras: insossas e insípidas) baldes industriais de pipocas e de coca-cola. A arquitectura dos grandes teatros impunha outra dignidade ao acto de ver filmes. Um acto quase, quase religioso.

The Arden Theater, Lynwood, Los Angeles, 1944

The Regal, Chicago, 1941

Huntington Cinema, Huntington Beach, 1964

The Fox Alcazar Theater, California, 1946
The Chapultepec Theater, Mexico City, 1944

La Reina Theater, Sherman Oaks, 1938

sexta-feira, 30 de outubro de 2009

"Green Porno" by Isabella Rossellini


A célebre actriz Isabella Rossellini dedicou-se nos últimos tempos à concretização de um projecto muito especial: "Green Porno". O nome é sugestivo quanto baste e, basicamente, trata-se de um projecto de divulgação científica no qual o tema central é o sexo no reino animal. Isabella encarna (literalmente) diversos animais (desde gafanhotos) a baleias para explicar, de forma divertida e pedagógica (mas com rigor científico), as práticas sexuais animais.
Acaba de ser editado um livro com as fotografias e um DVD com as curtas-metragens deste projecto. No site do Sundance Chanel pode assistir-se aos vários vídeos e fotografias da série "Green Porn".

quinta-feira, 29 de outubro de 2009

O tempo na música de Satie


Um dia John Cage resolveu interpretar a peça "Vexations" do pianista francês Erik Satie (1867-1925). Satie foi conhecido como um músico excêntrico e inventivo (ainda hoje). A partitura original (na imagem) tem apenas uma página e levaria normalmente um minuto a dois a interpretar, mas no topo aparece esta instrução de Satie: "Para poder tocar este motive 840 vezes, será necessário estar preparado com antecedência e no silêncio mais absoluto e manter-se seriamente imóvel." A peça foi escrita em 1893, mas só descoberta em 1949, tendo sido considerada precursora do minimalismo repetitivo dos anos 60.
Cage levou esta instrução a sério e, em 9 e 10 de Setembro de 1963, no Pocket Theatre de Nova Iorque, apresentou "Vexations" na sua forma completa (repetição de 12 compassos 840 vezes). Cage queria explorar o conceito de tempo numa obra musical. Uma equipa de doze pianistas tocou a peça numa longa maratona desde as 18 horas até às 12h40 do dia seguinte. O The New York Times correspondeu à exibição enviando um bando de oito críticos para cobrirem o evento. Na audiência, durante algum tempo, estava Andy Warhol. que relembrou a experiência quando fez o filme de oito horas sobre o Empire State Building no ano seguinte.
O local do concerto estava equipado com um relógio de ponto que os participantes marcavam ao entrarem e ao saírem. Os ouvintes foram reembolsados de cinco cêntimos por cada vinte minutos que esperassem no "foyer". Os que assistiram a todo o concerto receberam uma senha com o valor de vinte cêntimos. Um tal Karl Schenzer, ex-actor da Broadway, foi o único a receber o reembolso total, tendo ficado sentado no "foyer" dezanove horas. Ao Times, Schenzer disse: "Sinto-me divertido e nada cansado". "Não foi muito tempo a ouvir a música?", perguntou o jornalista. "Tempo? O que é o tempo? Nesta música, a dicotomia entre vários aspectos de formas de arte dissolve-se".
A peça de Satie soa assim.
O último pianista a interpretar "Vexations" foi Michal Nyman (desconheço se foi integral).

A cena mais cara da televisão

Recordam-se deste post onde dava conta de um soberbo spot publicitário da Philips realizado numa sequência sem cortes e com a imagem congelada? Pois bem, agora foi a vez da série de televisão CSI Las Vegas abrir a 10ª temporada com uma sequência muito parecida (diria quase plagiada). A técnica de realização é a de "Bullet Time", a qual permite filmar uma sequência em diversos ângulos (quase em 3D) mas com a imagem congelada no tempo (e sem montagem), podendo-se observar os pormenores mais ínfimos da mesma. Claro que a sequência tem muito tratamento digital mas é sempre uma experiência visual impactante para o espectador. Ao que consta, esta é e cena mais cara da história da televisão: custou 265 mil euros, gastos em apenas dois minutos de televisão. O resultado é este:

A visão do terror segundo Kubrick


Finalmente vejo o meu filme preferido de Stanley Kubrick, "The Shining" (1980), em destacadíssimo numa lista de preferências no que se refere a melhores filmes de terror (apesar desta obra-prima de Kubrick ser mais do que um simples filme de terror). O site The Sci-Fi Online elaborou uma lista dos melhores filmes de terror de todos os tempos, sendo que "The Shining" foi classificado em primeiro lugar e, logo a seguir, o magnífico "Rosemary's Baby" (1968) de Roman Polanski.
Nos dez mais constam ainda grandes filmes como "Psycho" (1960) de Alfred Hitchcock, "Alien" (1979) de Ridley Scott, "A Noite dos Mortos Vivos" (1968) de George A. Romero, "Halloween" (1978) de John Carpenter, e "Jaws"(1977) de Steven Spielberg.

terça-feira, 27 de outubro de 2009

The Eight Legs of the Devil

The devil has designed my death
And is waiting to be sure
Plenty of his black sheep died
Before he finds a cure

Oh Lord Jesus
Do you think I served my time?
The eight legs of the devil now
Are crawling up my spine

Sobre Diamanda Galás.

Momentos e Imagens - 42


Ingmar Bergman dá instruções a Ingrid Bergman no filme "Sonata de Outono" (1978).

Ingmar Bergman observa a actriz Julia Dufvenius no filme "Saraband" (2003).

Blitz - 25 anos

Durante longos anos comprei o jornal Blitz, religiosamente, todas as terças-feiras. Era (quase) a única fonte de informação sobre as novidades do mundo da música (muito antes do advento da internet). Para os nostálgicos desses tempos, há a possibilidade de recordar as antigas edições do semanário Blitz em suporte online, como referi aqui.
Desde que passou a revista mensal e mudou de "sexo", passei a ser um leitor muito irregular da Blitz. Porém, creio que valerá a pena comprar a próxima edição comemorativa dos 25 anos deste título da imprensa portuguesa. Para além dos 25 anos, a revista faz também um balanço dos últimos 50 anos de música portuguesa (com oferta de um CD). Uma edição especialíssima para guardar, não só pelo conteúdo que se antecipa interessante, como também pelo excelente design gráfico apresentado. À venda a partir da próxima sexta-feira.

segunda-feira, 26 de outubro de 2009

Mike Patton e a música para filmes


Não sei se o filme vale de alguma coisa ou não (as crónicas são pouco abonatórias): "Crank: High Voltage", realizado por um tal Mark Neveldine (pelo trailer parece-me um filme de acção algo desmiolado). O que sei é que quero vê-lo o quanto antes porque tem a banda sonora de Mike Patton (Fantômas, Mr. Bungle, Faith No More, Tomahawk, Peeping Tom...). Depois de ter feito a música para o filme "A Perfect Place", comentado aqui, Patton regressa à experiência criativa que sempre o fascinou: a música original para cinema. O seu universo estético retorcido (no bom sentido) reflecte-se no trabalho realizado para "Crank: High Voltage": cruzamento de ambientes sonoros antagónicos, abordagem pouco ortodoxa de estilos musicais, influências assumidas de Ennio Morricone e Nino Rota com heavy metal, electrónica e experimentalimos vários.
Os 32 temas da banda sonora podem ouvir-se no Youtube.
Grande e imparável Mike.

Woody Allen - dois filmes em vez de um


Este homem não pára. Sempre julguei que "Whatever Works" se tratava do último filme de Woody Allen. Afinal, já tem outro pronto que irá estrear apenas em 2010: "You Will Meet a Tall Dark Stranger", título que levanta muita curiosidade. Esta notícia é tão recente que nem o Imdb.com a divulgou. A nova película de Woody, rodada em Londres em Julho passado, conta com um elenco talentoso e diversificado - Anthony Hopkins, Josh Brolin, Naomi Watts, Gemma Jones, Freida Pinto e Lucy Punch e a história gira em volta dos desencontros amorosos dos elementos de uma família (onde é que já ouvi isto?).
Mas vamos com calma: aguardemos primeiro pela estreia de "Whatever Works" e só depois por "You Will Meet a Tall Dark Stranger"...

Perguntas indiscretas - 7


Ambos foram figuras centrais do cinema mudo, nomeadamente, da comédia burlesca americana. Ambos fizeram filmes geniais. Ao longo das suas carreiras, ambos resistiram a escândalos, adversidades, problemas vários. Ambos souberam explorar os sentimentos contraditórios da condição humana: a felicidade e o drama. Ambos foram actores e realizadores talentosos, respeitados, influentes, e determinantes na história do cinema.
Mas, afinal, a ter de escolher entre Buster Keaton e Charles Chaplin, qual dos dois foi o realizador/actor mais importante e decisivo?

domingo, 25 de outubro de 2009

Eastwood: o rebelde americano


"American Rebel: The Life of Clint Eastwood" de Marc Eliot (que também escreveu biografias de Cary Grant, James Stewart, Walt Disney, Bruce Springsteen, Ronald Reagan (enquanto actor), The Eagles...).

Nick Cave: de músico a escritor


Sempre apreciei a figura e a música de Nick Cave, cuja carreira acompanhei desde os tempos turbulentos do fim dos anárquicos The Birthday Party até ao fulgurante início da carreira a solo com os The Bad Seeds. Confesso que me desinteressei da sua carreira a partir do álbum "The Boatman's Call" (1997), altura em que Cave renegou àquilo que eu mais gostava dele: a visceralidade estética, o sentimento de inconstância interior, o rock directo e a contundência das letras. A fase das baladas ao piano em louvor a Jesus e ao amor ao próximo, deixou-me indiferente (não foi por acaso que Blixa Bargeld deixou os Bad Seeds). Em boa hora o seu projecto Grinderman voltaria a abordar a estética deixada para trás com os Bad Seeds mais recentes.
Quanto à carreira literária de Nick Cave, confesso que nunca me despertou particular interesse. Lembro-me de ter lido umas passagens, numa livraria, do seu primeiro livro, "And the Ass Saw the Angel" (1989) e de não ter gostado por aí além. Mas pode ter sido uma análise prematura da minha parte. Já o mais recente livro, "The Death of Bunny Munro" (editado em Portugal em Setembro), me suscita mais curiosidade. Segundo rezam as crónicas, trata-se de um possante romance construído à volta de uma viagem autodestrutiva (álcool e drogas) de um homem cuja mulher se suicida e, a partir daí, encontra na vida uma forma de excomungar os seus próprios pecados. Uma história de redenção, portanto.
Nick Cave anda em digressão mundial a promover a sua nova obra literária (por Portugal não passa, creio) e esteve ontem mesmo em Barcelona, onde apresentou o livro, assim como leu passagens do mesmo. Cave refere que a mensagem central do livro é esta: "Ou nos amamos ou morremos". Eu sou um pouco mais pessimista e diria mais (mesmo sem ter lido o livro): amamos e morremos, exactamente ao mesmo tempo.

Segredos das capas de discos

De quem são os rostos e os corpos que surgem em famosas capas de disco? Alguns exemplos:

Artista: The Smiths
Álbum: "Strangeways, Here We Come" (1987)
Capa: O actor Richard Davalos, que contracenou com James Dean no clássico filme "A Leste do Paraíso" (1955).

Artista: U2
Álbum: "Boy" (1980)
Capa: o rapaz da capa é o irmão de um artista amigo de Bono, Peter Rowan (actualmente um artista de renome). A imagem do rapaz foi retirada no mercado americano devido a receios de acusações de pedofilia.

Artista: The Smiths
Álbum: "The Smiths" (1984)
Capa: Morrissey criou o grafismo da capa do disco de estreia dos Smiths, tendo como base um fotograma do filme "Flesh" de Andy Warhol com o actor Joe Dallesandro.

Artista: Roxy Music
Álbum: "Country Life" (1974)
Capa: Bryan Ferry conheceu as modelos Constanze Karoli e Eveline Grunwald em Portugal e convenceu-as a posar para a memorável (e posteriromente censurada) capa dos Roxy Music.

Artista: Radiohead
Álbum: "The Bends" (1995)
Capa: O artista Stanley Downood criou uma imagem de fusão entre o rosto de Thom Yorke e um "medical dummy".

Artista: Pixies
Álbum: "Surfer Rosa" (1988)
Capa: uma amiga de amigos dos músicos posou em topless em pose de bailarina de flamenco. A fotografia é da autoria de Simon Larbalestier, responsável pela maior parte do "artwork" da banda.

Artista: Pantera
Álbum: "Vulgar Display Of Power" (1992)
Capa: o homem que leva o murro é anónimo mas sabe-se que recebeu dinheiro para a sessão fotográfica que resultaria na capa dos Pantera. Consta-se que levou trinta murros até conseguir a imagem perfeita (da capa).

Artista: Black Grape (Shaun Ryder)
Álbum: "It's Great When You're Straight… Yeah" (1995).
Capa: o rosto da capa é a do terrorista Carlos, o Chacal, pintado num estilo "pop art"

Artista: "The Rolling Stones
Álbum: "Sticky Fingers" (1971)
Capa: o actor fetiche de Andy Warhol, Joe Dallesando, posou para a capa do disco

Artista: Rage Against The Machine"
Álbum: "Rage Against The Machine" (1992)
Capa: Thích Quung Dúc, monge budista vietnamita que se auto-imolou pelo fogo em Saigão (1963) em protesto pela opressão exercida sobre os monges.

sábado, 24 de outubro de 2009

Os influentes


Realizadores mais influentes de sempre não significa, necessariamente, os realizadores melhores de sempre. O site Movie Maker pegou na premissa e elaborou, em 2002, uma lista com os 25 realizadores mais influentes de sempre. Explicando, devidamente, o que quer dizer "influente":
Influence is defined as that intangible power which can affect a person, thing or course of events. Many believe that motion pictures, more than any other art form in the past century, have had a profound influence on modern life. If one also accepts the generally held premise that directors, more than any other creative force in the film industry, are responsible for steering and shaping motion pictures, then perhaps film directors as a group have had a vastly underestimated effect on the way society thinks and behaves.
But who has had the most influence on other directors, as well as the public? In the past 100 years, which directors have made an indelible impact on our lives, and on the face of the movie industry? In what ways have these directors helped to define cinema as we know and see it today? With the help of some of our most celebrated moviemakers and industry professionals, we have counted down the directors who made the most difference—and continue to do so today.
____________
É uma excelente lista. Apenas trocaria a ordem de alguns realizadores (puxava uns para cima e outros para baixo), mas todos eles foram, segundo o conceito explicado, muito influentes.

20 filmes de terror com crianças


A propósito do post sobre o filme "Orphan", deparei-me hoje com uma lista dos 20 melhores filmes de terror com crianças como protagonistas. A lista é deveras interessante e, apesar de não conhecer todos os filmes citados (por exemplo: nunca vi os dois títulos que estão em 1º e 2º lugares), estou em crer que constam as películas mais representativas do género (como o incontornável clássico "Village of the Damned" de 1960, na imagem).
Ah, o filme "Orphan" consta numa honrosa e merecida 10ª posição.

sexta-feira, 23 de outubro de 2009

Uma grande história em 1'17''

É extraordinário como em pouco mais de um minuto se desenvolve uma ideia de forma tão rica: este spot publicitário do Canal Plus explora uma ideia tão simples quanto eficiente (e muito divertida). Para além do mais, está muito bem filmado e montado. Só mesmo nos últimos segundos do filme percebemos o porquê das desventuras do pobre rapaz. A conclusão é deveras desconcertante. E há que dizer que a mensagem é mesmo esta: nunca devemos subestimar uma grande história (e as grandes histórias cabem tanto numa longa-metragem como num filmezinho de 1 minuto).

quinta-feira, 22 de outubro de 2009

Momentos e imagens - 41


Klaus Kinski num acto de afecto com um cachorro.

Groucho Marx encarnando uma gueixa.

"The Greatest Movie Never Made"


Sabe-se que foi o grande projecto nunca realizado de Stanley Kubrick: um filme monumental e definitivo sobre a vida do imperador Napoleão Bonaparte. A pré-produção começou em 1967, o filme teria 3 horas de duração, cerca de 50 mil figurantes e um orçamento de 5,2 milhões de dólares (cerca de 69 milhões de euros actualmente). Ao longo dos anos foram sondados, para integrar o elenco do filme, os actores Peter O'Toole, Jack Nicholson, Alec Guiness, Jean-Paul Belmondo, Charlote Rampling e Audrey Hepburn. Só Nicholson filmaria com Kubrick mas no filme "The Shining" (1980).
A obsessão de Kubrick em adaptar para o grande ecrã a vida de Napoleão e da sua amada Josefina não tinha limites. Durante décadas o realizador coleccionou esboços de guião, imagens da época napoleónica, protótipos das fardas militares, 500 livros sobre Napoleão e até recolhas dos solos dos campos de batalha. Ao todo, Kubrick reuniu 88 caixas com documentação e material diverso para servir de base para o seu ambicioso projecto. Durante 40 anos, nunca se soube nada deste material que o realizador guardava tão religiosamente. Até que a Taschen resolveu editá-lo numa edição de luxo para coleccionadores, com o sugestivo título "Stanley Kubrick's Napoleon: The Greatest Movie Never Made". Esta edição contou cm a preciosa colaboração da ex-esposa do cineasta, Christiane Kubrick, e foi colocada à venda no passado dia 18 de Outubro com uma edição limitada a mil exemplares. Custa 500 euros e inclui o guião anotado pelo punho de Kubrick, manuscritos e ilustrações de trajes e adereços, mapas de filmagens, cenários, etc. Um verdadeiro tesouro para cinéfilos e coleccionadores.
Aqui pode assistir ao vídeo explicativo deste magnífico livro.

Perguntas indiscretas - 6


Daqui a dois meses, o realizador Manoel de Oliveira vai fazer 101 anos de idade e continua a fazer novos filmes. Até que idade pensa divertir-se?

Saramago, Deus e o descanso ao sétimo dia

Clicar para melhor visualização.

"Bartoon", in Público, 22 Outubro 2009

quarta-feira, 21 de outubro de 2009

O silêncio e o ruído de John Cage em exposição


Até 10 de Janeiro de 2010, o Museu de Arte Contemporânea de Barcelona - Macba - tem patente uma extensa exposição retrospectiva do trabalho artístico revolucionário de John Cage. Chama-se "A Anarquia do Silêncio - John Cage e a Arte Experimental" e compreende a obra de Cage desde 1030 até à data da morte, 1992 (com pinturas, documentos, vídeos e partituras musicais). Conta também com obras de outros importantes artistas com os quais colaborou, como Marcel Duchamp, Andy Warhol, Robert Rauschenberg, Nam June Paik e outros ligados ao seminal movimento Fluxus.
John Cage foi um artista experimental visionário e inovador, responsável por algumas das mais importantes rupturas conceptuais, teóricas e estéticas do século XX, como a formulação do conceito de "piano preparado" (na imagem)e a introdução do ruído, do silêncio e da aleatoriedade na linguagem musical (foi também pioneiro na música electrónica, elecro-acústica e concreta). O trabalho e o pensamento de Cage acabariam por contaminar outras artes, como a dança, o cinema, a performance, e as artes plásticas.
Quem for a Barcelona até Janeiro próximo, terá uma excelente oportunidade de ver a maior exposição realizada sobre John Cage desde a sua morte.

Discos que mudam uma vida - 79


My Bloody Valentine - "Loveless" (1991)

25 anos sem Truffaut

François Truffaut, o realizador que um dia perguntou se o cinema não era mais importante do que a vida, morreu há 25 anos. Não sei responder objectivamente à inquietação de Truffaut, mas tenho a certeza de uma coisa: sem os filmes do realizador francês, o cinema teria sido bem mais pobre.

terça-feira, 20 de outubro de 2009

“The Children” e “Orphan” - as crianças e o mal



Hoje em dia são raros os bons filmes de terror. Os clichés e os pastiches são recorrentes e abunda a falta de ideias dos realizadores para projectos inovadores. Mas a verdade é que vi recentemente dois bons filmes deste género: "The Children" (2008) de Tom Shankland e "Orphan" (2009) de Jaume Collet-Serra. São abordagens muito diferentes no universo do terror, mas com um elemento em comum: ambos têm crianças como personagens do mal. Fazer terror com crianças está longe de ser original (as referências serão sempre "Village of the Damned" e "The Omen"), para além de constituir um risco de possíveis consequências nefastas. Filmar com crianças, e para mais num registo de terror, não é pêra doce até para os realizadores mais experimentados. Porém, estes dois filmes resultam num excelente trabalho, quer ao nível da originalidade das histórias, que ao nível das interpretações infantis.
"The Children" foi exibido recentemente no Motelx, o festival de cinema de terror de Lisboa, e foi considerado um dos melhores do programa. O argumento gira à volta de um grupo de crianças normais e saudáveis que, fruto de um estranho (e nunca explicado) fenómeno de contacto com a natureza, assumem atitudes violentas para com os adultos. O clima geral do filme é de tensão permanente, de desnorte perante o desenrolar dos terríveis acontecimentos. Não há propriamente uma mudança de personalidade nas crianças, apenas parecem possuídos por uma espécie de vírus do mal, e nem as próprias crianças compreendem porque se rebelam contra os pais.
Quanto ao filme “Órfã” (que está a passar praticamente despercebido em Portugal), trata-se de uma incursão no terror psicológico cuja crescente intensidade provoca calafrios nos espectadores mais insensíveis. Ambientado numa cidade americana, em época de inverno (neve sempre presente), “Órfã” é uma obra que aborda a adopção de uma criança por parte de um casal com dois filhos. Ao princípio tudo parece correr bem, até que a criança adoptada, uma adorável menina de 10 anos, começa a ter comportamentos anormalmente violentos e terroríficos. A realização do jovem realizador espanhol é segura, o ritmo narrativo muito bem conseguido, e as interpretações convincentes, com especial para a actriz Vera Farmiga e a criança que interpreta a Esther, a órfã, Isabelle Fuhrman, numa notável encarnação do mal.
Com o avolumar dos episódios terríficos perpetrados pela criança, o espectador começa a desconfiar da verosimilhança da história. Mas o “twist” narrativo final (não vou revelar para não causar “spoilers”) explica e credibiliza, objectivamente, o contexto (causas) da violência interior da sinistra órfã. Em suma, “The Children” e “A Órfã” são dois magníficos exemplos de duas obras de terror que, sem grandes inovações formais, se inscrevem na melhor da tradição de “horror movies” dos últimos anos.

As gargalhadas

"Every man has to go through hell to reach paradise."
Max Cady (Robert De Niro) in "Cape Fear" (1991) de Martin Scorsese

segunda-feira, 19 de outubro de 2009

A poesia tocante dos Rammstein


Os Rammstein tocam por estes dias em Portugal. Ouvi na rádio um dos novos temas da banda alemã e fiquei absorvido pela criatividade musical dos moços. Mais: fiquei rendido à verdadeira volúpia poética que transborda de um tema com o belo título... "Pussy".
Atente-se no refrão da música. Quem não ficar comovido com esta transbordante erupção poética de cariz erógena, é porque não tem sentimentos (e atenção que tem de ser recitado com voz cavernosa, tal como se ouve aqui):
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Just a little bit, just a little bitch
You’ve got a pussy
I have a dick

So, what’s the problem
Let’s do it quick
So take me now before it’s too late

Life’s too short so I can’t wait
Take me now, oh, don’t you see
I can’t get laid in Germany
To short, to tall
Doesn’t matter, one size fits all

You've got a pussy
I have a dick
So, what's the problem
Let's do it quick

Jonas Mekas e as cidades


O realizador underground e vanguardista Jonas Mekas está em Lisboa como convidado especial do festival DocLisboa. O jornal Público entrevistou-o. Apreciei a honestidade do homem e do artista e a visão que manifesta do mundo. Foi, particularmente, testemunha das revoluções culturais e artísticas de Nova Iorque da década de 60. Eis o que diz a propósito:
PÚBLICO - "O ambiente artístico na Nova Iorque contemporânea tem alguma coisa de comparável ao que era nesses tempos?"
JONAS MEKAS - "Não. Continua a ser uma cidade muito activa. Na música, sobretudo. No cinema e na pintura acho que está bastante... morta. Não há a mesma energia. Nos últimos 30 anos deixou de haver uma capital mundial da arte. Nos anos 20 era Paris. Depois, nos anos 60, era Nova Iorque. A partir do final dos anos 70 tornou-se uma coisa mais dispersa. Há uns centros, nos EUA, em França, em Inglaterra, na Alemanha, mas não há uma capital. Não há uma cidade de que se diga: é ali que as coisas se passam. E se há é sempre muito efémero, dura umas semanas. Aparece um artista em Pequim e fala-se de Pequim durante dois meses, depois aparece um artista na Nova Zelândia e toda a gente se esquece de Pequim."
________________________
Se me fosse possível escolher duas décadas do século XX em pudesse viver, teria escolhido, precisamente, a febril Paris dos anos 20 e a inebriante Nova Iorque dos anos 60. Nem mais. Ou seja, como diria Lou Reed: "Take a Walk on The Wild Side".

Momentos e imagens - 40


Alfred Hitchcock boeceja (ou grita?)

Luis Buñuel dirige Catherine Deneuve no filme "Belle de Jour" (1967)

domingo, 18 de outubro de 2009

The Edge - o guitarrista inimitável


The Edge dos U2 foi sempre a minha grande referência no universo dos guitarristas de rock. Os dois primeiros três discos dos U2 (tenho-os em vinil) marcaram-me, e mais do que a voz de Bono Vox, era a guitarra de The Edge que me impressionava. O seu estilo de tocar guitarra é único. Não é um virtuoso tecnicista (característica que nunca apreciei em guitarristas). Privilegia a (aparente) simplicidade técnica, e prefere a exploração rítmica dos acordes, os solos curtos e contundentes. Depois há a sonoridade da guitarra. Poucos guitarristas sabem fazer uso tão original de efeitos como o delay, que é minuciosamente modulado em stereo, de forma a criar os ambientes tão característicos das canções dos U2.
The Edge recorre a uma grande variedade de pedais de efeitos e de amplificadores no seu "setup", ao que se junta a sua incrível colecção particular de guitarras (modelos clássicos e modernos, sobretudo Gibson e Fender). Um guitarrista vulgar de uma banda vulgar, pode mudar 5 ou 6 vezes de guitarra durante um concerto. O guitarrista dos U2 não faz por menos e, numa actuação de duas horas, pode alternar entre 17 e 19 das 45 guitarras que leva para o palco (no seu estúdio contam-se mais de 200 guitarras). Muitos guitarristas famosos tentaram imitar o som de The Edge (mesmo com o material que ele usa), mas as tentativas foram fracassadas. E há quem faça análises pormenorizadas de todo o equipamento de som utilizado por The Edge, como este desenvolvido estudo do som do guitarrista.
Na discografia dos U2 há muitas canções em que a criatividade de The Edge sobressai, como os riffs dos temas "I Will Follow", "Pride", "Streets", "Bad", "New Year's Day", "Where The Streets Have No Name", entre muitas outras. Mas há um tema que eu gosto particularmente, da primeira fase da banda irlandesa, em que a guitarra adquire uma função avassaladora: "Electric Co." Esta versão ao vivo (Chicago, 2005) é deveras espantosa, na qual o som de The Edge exulta potentíssima energia com os riffs iniciais e o magnífico solo a meio da música. Por isso Edge é único e provavelmente um dos melhores guitarristas rock dos últimos 25 anos.

sábado, 17 de outubro de 2009

Perguntas indiscretas - 5

Depois de José Sócrates ter admitido que deu pouca atenção ao sector da Cultura no anterior mandato, será que, com o novo Governo e com um (presumível) novo Ministro da Cultura, Portugal terá, definitivamente, uma política cultural objectiva, activa, responsável e determinada a apoiar a criação contemporânea, os seus artistas e as instituições culturais?
Nota - A edição de hoje do Diário de Notícias dá conta que o nome de Clara Ferreira Alves está entre os possíveis para a pasta da Cultura.

O legado de Leni Riefenstahl


A realizadora Leni Riefenstahl representa um fenómeno excepcional na história das imagens do século XX. Odiada e adorada em igual proporção, Leni Riefenstahl será sempre conotada com o hediondo regime nazi. Adolf Hiltler e Goebbels escolheram-na para ser a cineasta da propaganda (Fritz Lang tinha negado tal "convite", exilando-se nos EUA), impressionados com o talento artístico revelado nos seus primeiros documentários (anos 30). Fruto dessa colaboração, Riefenstahl realizou dois monumentos estéticos de exaltação da raça ariana germânica. "O Triunfo da Vontade" (1935) e "Olympia" (1938), duas obras belas e grandiosas ao serviço de uma ideologia ditatorial e racista que preconizou o Holocausto.
Há quem assuma não poder apreciar a obra da realizadora alemã por causa da sua óbvia ligação ao nazismo (ainda que desmentida ou relativizada pela própria Leni); outros há, como eu, que conseguem estabelecer uma separação no âmago da obra de Riefenstahl: separar a vertente estética da vertente política e ideológica. O pioneiro trabalho da realizadora alemã foi determinante para a história do cinema, sobretudo ao nível da linguagem do documentário - Leni era uma vanguardista visionária, experimentalista, na forma como utilizou inovadoras técnicas de filmagem, planos, enquadramentos, movimentos de câmara, fotografia, montagem, etc.
Mas a obra de Leni Riefenstahl não se resumiu aos dois enormes monumentos estéticos em prol do ideal nazi. Antes dessa colaboração, fez outros documentários importantes. Além disso, manteve-se activa até ao fim da vida (morreu em 2003 com 101 anos!), filmando o mundo subaquático e tribos africanas. Neste preciso fim-de-semana, o blogue de cinema My One Thousand Movies, dedica um ciclo especial à obra desta controversa cineasta. Vale a pena descobrir.