segunda-feira, 16 de março de 2015

A educação do meu gosto - 2

A educação do meu gosto – Música

Somos o que somos e gostamos do que gostamos porque estivemos sob influências de determinadas condicionantes. Ou como diria Ortega y Gasset: “Eu sou eu e a minha circunstância”.





É lugar-comum dizer-se que ma adolescência se forma a nossa personalidade e os nossos gostos. Um estudo recente indica que a idade média de influência da música para o resto da vida se situa no período entre os 14 e 18 anos. Não tenho vergonha de dizer que cheguei a comprar singles (singles!) de Madonna ou de Wham! Estávamos em meados dos anos 80 e basicamente ouvia apenas o que a rádio passava. Aos 12 anos comecei a aprender guitarra clássica e esta experiência deu-me bases para gostar de música erudita. Aos 18 entrei para um curso superior de música que me possibilitou contacto com as várias facetas da música contemporânea. Comecei a ouvir música na rádio espanhola que passava muito jazz, world-music e rock alternativo. 

Da mesma forma que me aconteceu com o cinema, amigos mais velhos serviram de farol. Lembro-me uma vez um amigo que me sugeriu ouvir Echo & The Bunnymen, Jesus & Mary Chain, Joy Division, The Fall e Bauhaus (na imagem). Gravou-me cassetes e passei meses a ouvi-las. Tinha a felicidade de ter uma mesada bastante razoável que me possibilitou comprar discos em vinil. Comprava o semanário Blitz religiosamente todas as terças-feiras e ouvia atentamente o programa “Som da Frente” do António Sérgio (Rádio Comercial) à procura de novidades musicais. Cada disco que recebia em casa era uma relíquia guardada a sete chaves. Passei a corresponder-me com largas dezenas de amigos por todo o país que tinham gostos comuns e trocávamos gravações e listas. 

Assim consegui juntar quase mil cassetes áudio com música de todos os géneros. Um amigo (mais uma vez) gravou-me compilações de músicos e bandas muito diferentes a que chamava “Heterodoxos”, onde podia caber Jimi Hendrix e Krafwerk, John Cage e Meredith Monk, John Coltrane e Einstürzende Neubauten. O meu gosto musical expandiu-se exponencialmente para todas as correntes que ousavam desafiar as convenções e procuravam a criatividade e a originalidade. Felizmente que hoje ainda mantenho esta curiosidade militante e este amor pela música.

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