domingo, 1 de março de 2015

Mr. Turner: o mestre da luz


"Mr. Turner" de Mike Leigh é um filme magnífico. Se houvesse justiça nos Óscares seria nomeado para várias categorias (realização, fotografia, direcção artística, interpretação...). Para já só ganhou o prémio em Cannes para o esplêndido actor Timothy Spall no papel do pintor inglês.
William Turner, pintor da época do Romantismo inglês (século XIX), elevou a pintura paisagística quando tendeu ao quase abstraccionismo nas suas telas, sendo considerado hoje, além de génio universal da arte, precursor do Impressionismo.

O filme "Mr. Turner" retrata os últimos anos de vida e obra do pintor na Londres de meados do século XIX, um homem controverso e excessivo obcecado com o perfeccionismo da sua arte - ao ponto de ficar amarrado a um mastro de um navio em plena tempestade para reunir todos os dados empíricos dessa experiência que servissem para as suas pinturas.

Das várias sequências memoráveis do filme destaco desde logo a primeira que surge aos olhos do espectador: plano fixo de uma paisagem incrivelmente bela, um campo verdejante, um moinho e o pôr-do-sol resplandecente. Duas mulheres vão-se aproximando e a câmara começa a movimentar-se para a esquerda (a fazer lembrar um plano-sequência de Tarkovski) para acompanhar a deslocação das referidas mulheres. De repente, no exacto momento em que as mulheres deixam de estar em cena vislumbra-se ao fundo o vulto de um homem. A câmara fixa-se e revela o homem bem ao centro do plano, até que um close-up nos mostra que se trata de William Turner a tirar notas para as suas pinturas de paisagem. 

Esta sequência, que tem pouco mais de 2 minutos, é um espantoso trabalho ao nível da realização e da composição plástica e visual. É minha convicção que o realizador Mike Leigh quis mostrar, logo a partir do primeiro plano, a beleza da paisagem que tanto inspirou Turner. Mais: estas imagens são como telas da pintura paisagística do pintor inglês, mestre da luz e das cores. Trata-se, em suma, de um pequeno momento de cinema tão superlativo e tão belo esteticamente que nos deixa sem palavras.

Eis a sequência de que falo:









Nota: esta paisagem foi filmada em Herringfleet Mill, Suffolk, norte de Inglaterra.

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