sexta-feira, 20 de fevereiro de 2015

Um massacre estilizado



6 de Dezembro de 1989. Um jovem armado entra na Escola Politécnica de Montreal (Canadá), uma instituição voltada para a formação de engenheiros. Aparentemente motivado pelo ódio às feministas, o jovem dispara com toda a calma do mundo contra estudantes (sobretudo mulheres), causando um massacre com o saldo de 14 mortes e dezenas de feridos. O ataque é resultado de um plano de anos e os alvos foram pré-escolhidos. Os eventos são contados a partir de três pontos de vista: o do atirador, que conta os seus motivos e culpa terceiros pela sua frustração, o de uma aluna chamada Valérie e o de seu amigo Jean-François. Apesar do filme retratar um acto sanguinário mostrando o homicídio de 14 mulheres e outras dezenas feridas, não deve ser visto apenas com esse olhar de filme de suspense clássico. É muito mais.

O realizador, Denis Villeneuve (47 anos) é sobretudo conhecido por ter realizado em 2013 o filme "Enemy" com a estrela Jake Gyllenhaal. A sua curta carreira começou em 1998 e em 2009 realiza o filme "Polytechnique" sobre o massacre real da escola politécnica canadiana. Filmado num preto e branco de grande contraste, com um trabalho de câmara em registo quase documental, "Polytechnique" é um magnífico pequeno filme (em duração) que segue as coordenadas estéticas de "Elephant" (2003) de Gus Van Sant (este sobre o massacre do Liceu de Columbine). A diferença é que no filme de Sant as cores eram fortes e intensas e o ritmo narrativo bastante mais lento; no filme de Villeneuve o branco da neve contrasta com o escuro do sangue e dos corpos, a ambiência é estilizada e quase (por vezes) onírica, a violência não é gratuita nem explícita. Mas o horror está estampado no rosto do jovem assassino atormentado e no dos colegas que persegue e mata.

"Polytechnique" é um belo exercício de estilo de Villeneuve, quase como se fosse Alain Resnais da fase "Hiroshima, Mon Amour" a filmar esta tragédia. A fotografia é esplêndida, os ângulos e planos originais, a montagem simples e eficaz, as metáforas visuais deveras sugestivas. E a música é de puro bom gosto que sabe acompanhar e sublinhar as imagens. Um filme que só agora vi e que considero uma pequena pérola do cinema independente contemporâneo.

Fica o trailer:

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