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segunda-feira, 13 de outubro de 2014

O fabuloso e desconhecido Pelechian


Há dois anos, o Lisbon Estoril Film Festival tinha no seu programa uma secção denominada "Cineastas Raros". Um dos cineastas raros que o festival promoveu foi o fascinante Artavazd Pelechian (1938), realizador arménio praticamente desconhecido (mesmo do público cinéfilo).
Tive a ocasião de conhecer o seu trabalho há uns anos devido a uma edição em DVD das obras documentais (1967 - 1993) de Pelechian (edição Costa do Castelo).

Pelechian é de facto um cineasta raro pela forma como encena e constrói os seus filmes (recorrendo a filmagens originais mas também a imagens de arquivo), pela linguagem cinematográfica que utiliza (reminiscências de Eisenstein e Vertov) e pela forma como nos revela o mundo. O seu cinema documental assenta num trabalho plástico e poético das imagens em sintonia magistral com a música e o espantoso trabalho de sonoplastia. O realizador considera indissociáveis a imagem e a música como elementos que dão ritmo e coerência estética ao seu trabalho.

Pelechian praticamente só realizou curtas-metragens (oito) e a duração total da sua filmografia não ultrapassa - imagine-se - as 3 horas. Mas não é pela curta duração do seu trabalho que o cineasta deixa de ser um grande cineasta. Os seus filmes centram-se no homem e na sua relação íntima com a natureza. Para o realizador arménio, a natureza é o laço que une todos os seres vivos. Os filmes de Pelechian revelam-nos a consciência humana através de uma sensibilidade única. Não têm diálogos nem narração. As imagens explicam tudo.

Não terá sido por acaso que Jean-Luc Godard referiu uma vez que Pelechian é "um dos maiores cineastas vivos" e que Sergei Paradjanov disse que o cineasta arménio "é um dos poucos génios do cinema universal". Por sua vez, o grande realizador da Trilogia Qatsi, Godfrey Reggio, referiu que conheceu a obra de Pelechian em 1988 e que foi uma "experiência espiritual".

Uma das suas obras mais aclamadas é "Seasons", na qual Pelechian aborda os costumes da sua terra e a ligação que une o homem com a natureza. Ou o fabuloso "The End" com o início do comboio, os incrível trabalho sonoro com os sons e a música.

O seu cinema está repleto de pura poesia visual e é um cineasta de génio que urge conhecer.

(No Youtube encontram-se outros filmes do realizador, inclusive um documentário sobre a sua obra).

Recensão crítica da sua filmografia.

terça-feira, 4 de fevereiro de 2014

"Manhattan" vs "Koyaanisqatsi"

Que belo e tão simples exercício: alguém se lembrou de pegar no filme "Manhattan" de Woody Allen  e na sua famosa  sequência inicial e transformá-la numa filme assinado por... Godfrey Reggio. Este realizador é o autor da extraordinária Trilogia Qatsi, já por diversas vezes abordada neste blogue. O primeiro filme desta trilogia, "Koyaanisqatsi" (1982), foi um marco inovador no documentário não-narrativo, pela forma como foi filmado, pelo poder das imagens e pela relação com a inspirada música do compositor Philip Glass. 
Voltando ao início: alguém adaptou a música que Glass compôs para o filme de Reggio e colou-a na sequência inicial do clássico de Woody Allen. Adaptou também o título do filme para se assemelhar ao título vermelho de "Koyaanisqatsi" e não mexeu na montagem original. O resultado é desconcertante e será melhor percebido quanto mais o leitor conhecer ambos os filmes (e música) citados: é como se "Manhattan" tivesse mesmo sido feito sob a visão estética de Godfrey Reggio, tal o encaixe perfeito entre as imagens e preto e branco e a música.
Pequenas experiências do YouTube que conferem um outro significado aos filmes e à música.

sábado, 21 de dezembro de 2013

Carta ao Pai Natal


Querido Pai Natal: este ano de 2013 portei-me bem. Por isso peço-te gentilmente que me ofereças estas prendas em baixo descriminadas. São algumas caixas de DVDs e Blu-Ray que gostaria de receber este ano. No total serão apenas algumas centenas de euros, não é um valor significativo no teu gigantesco orçamento anual para prendas para todo o planeta. Obrigado pela tua atenção, Pai Natal.
Então faz o favor de apontar:













sexta-feira, 1 de março de 2013

O novo filme de Godfrey Reggio

Boa notícia: o realizador Godfrey Reggio, autor da fenomenal e ímpar Trilogia Qatsi (documentários não narrativos), encontra-se em fase de pós-produção do seu novo filme intitulado "The Holy See". Uma vez mais, conta com a colaboração do compositor Philip Glass para a música original.
"The Holy See" reflecte sobre a forma como os homens percepcionam a realidade que os rodeia num mundo ultra-saturado de referências visuais em todas as áreas da actividade humana. Mais uma vez se trata de um documentário sem palavras e com um cuidado único ao nível plástico e visual.
O trailer deste novo trabalho de Reggio é magnífico e belo na sua intrínseca concepção minimalista e estética, sempre bem relacionado com a música de Glass (aconselho ver o trailer até ao fim).
"The Holy See" deve ter estreia durante este ano.

domingo, 13 de janeiro de 2013

"Samsara" - A desilusão



Finalmente vi "Samsara".
As expectativas eram elevadas, depois da alta fasquia artística conseguida com "Baraka" (1992). Ron Fricke, o realizador, aprendeu tudo quando trabalhou - como director de fotografia - com Godfrey Reggio na fantástica trilogia Qatsi (já por diversas vezes comentada neste blogue). 
As expectativas eram altas porque "Samsara" demorou 5 anos a ser concluído e foi filmado em 25 países diferentes. Mas, quanto a mim, as expectativas não foram alcançadas. Depois de ver o filme uma frustrada sensação invadiu o meu espírito. Visualmente e esteticamente, "Samsara" é de uma notável beleza plástica, mas pouco mais há de novo. Ron Fricke limitou-se a filmar sequências da natureza e das mais variadas culturas do planeta (do Oriente ao Ocidente) sem coerência. "Koyaanisqatsi" ou "Baraka" tinham um fio condutor, uma montagem rigorosa e exigente. "Samsara" parece andar à deriva, salta abruptamente de imagem para imagem sem aparente nexo. Daí que o ritmo se ressinta, visto que a própria música não ajuda. 
Apesar de gostar muito do trabalho de Lisa Gerrard (Dead Can Dance) e de Michael Stearns, a verdade e que a música de "Samsara" quase nunca consegue estabelecer uma relação efectiva com as imagens (ou vice-versa). Ao contrário do irrepreensível trabalho de Philip Glass na trilogia Qatsi, aqui a música não impõe uma coerência ao discurso visual, parecendo mera decoração de fundo. A título de exemplo, a toada ambiental predomina em 80% do documentário e só ao fim dos primeiros 40 minutos de filme houve uma sequência musical com ritmo (para contrastar com os 39 minutos anteriores). 
Não há dinâmica, não há um climax e um anti-climax, não há surpresa nem originalidade em tudo o que "Samsara" apresenta (toda a estética é devedora da herança Qatsi). Minto: houve uma sequência verdadeiramente nova e inquietante que me deixou surpreendido - o momento de uma performance impressionante do francês Olivier de Sagazan chamada "Transfiguration" (que pode ser vista aqui). Tirando essa sequência de grande impacto, nada mais me entusiasmou. 
E é pena, porque Ron Fricke poderia ter feito uma trilogia de elevada qualidade artística à semelhança da trilogia Qatsi - "Chronos" (1985) + "Baraka" (1992) + "Samsara" (2012), mas não o conseguiu.

sábado, 15 de dezembro de 2012

Metropolis, a revista

Já está disponível online a nova edição da revista digital Metropolis, provavelmente, a melhor publicação sobre cinema actualmente em Portugal.
Nota: o jornalista Nuno Galopim escreveu uma interessante reportagem sobre a Trilogia Qatsi que eu no post mais abaixo mencionei.
Para ler a revista online ou fazer o respectivo download, é favor carregar aqui.

quinta-feira, 13 de dezembro de 2012

Trilogia Qatsi em Blu-Ray

Eis uma boa notícia para coleccionadores de edições especiais: com a extrema qualidade da editora Criterion Collection, acaba de ser colocada à venda a fantástica "Trilogia Qatsi" em Blu-Ray. Esta  trilogia de filmes representa uma revolução na linguagem audiovisual contemporânea. 

Com a herança da linguagem visual das primeiras experiências do documentário sem palavras de Dziga Vertov, Hilary Harris ou Walter Ruttmann, o realizador Godfrey Reggio preconizou uma nova forma de olhar as imagens e ouvir os sons, propondo uma nova relação expressiva entre ambos meios de comunicação e criando uma verdadeira obra de arte audiovisual. 

Com a música sublime de Philip Glass, Godfrey Reggio mostra-nos um mundo saturado de imagens pré-fabricadas, fruto da sociedade hiper-acelerada e materialista, uma sociedade onde a Natureza foi suplantada pelo advento maciço do modelo de vida moderno tecnológico e digital. Ao mesmo tempo uma meditação hipnótica em imagens e música e uma crítica feroz ao estilo de vida alienado do homem moderno, esta trilogia produz no espectador um impacto que tem tanto de emocionante como de atordoador. "Koyaanisqatsi" (1983), "Powaqqatsi" (1988) e "Naqoyqatsi" (2002), cada um à sua maneira, cada um com um notável ângulo de visão sobre o homem e a natureza, são filmes de uma beleza estonteante, uma viagem espiritual e fascinante que será, certamente, potenciada com a qualidade digital (som e image) proporcionada pelo Blu-Ray. eu já tinha adquirido há uns anos esta trilogia em DVD, numa cara edição estrangeira. Agora sinto-me compelido a comprar esta irrepreensível edição da Criterion...
É que a edição da Criterion, que pode ser vista aqui, não se resume aos três filmes. Contém um magnífico lote de extras que fará as delícias do cinéfilo mais exigente: documentários, making of, entrevistas aos criadores, ensaios de análise, fotografias, etc.
Esta obra, dado o seu enorme valor artístico, faz parte da colecção permanente do The Museum of Modern Art (Nova Iorque) e do The British Film Institute (Londres).

segunda-feira, 3 de dezembro de 2012

"Samsara"

Se há filmes que merecem - e têm - de ser vistos em grande ecrã, numa sala escura e com as melhores condições de imagem e som, este é seguramente um deles: "Samsara" de Ron Fricke. O mesmo realizador que fez o magnífico "Baraka" (1992), aventurou-se num incrível projecto de filmar em 25 países durante vários anos para captar a complexidade e essência do tempo, da natureza e do homem. 
À semelhança do que fizera com "Baraka", este "Samsara" é um documentário sem recurso a palavras, cuja mensagem é transmitida unicamente pelo poder das imagens e da música, resultando numa autêntica experiência imersiva para o espectador. 
Estreou há uns meses nos EUA e tem feito um percurso triunfal, recebendo excelentes elogios da crítica especializada e do público (apenas dois exemplos: "Sumptuous, thoughtful and profoundly gorgeous - one of the most immersive things the screen has shown us in years" ou "One of the best films of 2012: Samsara is a profound spiritual experience").
Diz-se que visualmente é arrebatador e eu acredito; não só porque a sensibilidade estética e plástica de Fricke já foi mais do que comprovada, mas também porque este documentário foi filmado num formato raro hoje em dia: o imponente 70mm.
Infelizmente, duvido que "Samsara" estreie em salas portuguesas, visto que os distribuidores deverão achar que se trata de uma mera curiosidade "étnica" à moda da National Geographic. Nada mais errado: "Samsara" é, certamente, uma prova das potencialidades estéticas que o cinema, enquanto arte, tem ainda para oferecer (e surpreender) ao mundo.
Site oficial.

quinta-feira, 26 de julho de 2012

"Samsara" a caminho

Nem de propósito: escrevia eu no último post sobre o filme "Baraka" e eis que hoje é lançado o segundo trailer oficial do novo (e esperado) filme do mesmo realizador, Ron Fricke: "Samsara"
Trata-se de uma nova viagem multicultural sobre o nosso mundo, uma vez mais filmado com grande rigor estético, em 25 países diferentes e durante 5 longos anos. 
Mas a maior novidade é mesmo esta: Ron Fricke filmou num formato que já não se usa: 70mm, o maior formato possível para ver em ecrãs gigantes (de forma a que a experiência audiovisual seja totalmente imersiva). Outra novidade interessante é que a banda sonora é da responsabilidade de uma das metades do duo Dead Can Dance, a fantástica cantora Lisa Gerrard
O trailer dura apenas 1 minuto, mas tem imagens de uma beleza estonteante, o que antecipa um documentário visualmente fascinante. 
"Samsara" estreia em sala já em Agosto nos EUA.

quarta-feira, 25 de julho de 2012

Sopro de vida


"Baraka" é uma palavra sufi que significa "Sopro de Vida" ou "Benção".
E "Baraka" é um sublime documentário (1992) sem legendas nem narração em voz-off (no estilo da obra-prima "Koyaanisqatsi" de Godfrey Reggio) sobre a natureza e a condição humana no planeta Terra, revelando os contrastes entre civilizações muito diferentes.
No fundo, é um filme que enaltece a humanidade (mesmo que mostre a destruição e a degradação humanas) e a relação entre distintas raças, religiões, línguas e culturas. Realizado por Ron Fricke (ex-director de fotografia de "Koyaanisqatsi"), "Baraka" é um hipnotizante poema visual filmado em estilo "time-lapse" e "super slow-motion", no qual as imagens incluem rituais religiosos, maravilhas naturais, processos de mecanização e diversos estilos de vida. Sendo um documentário visual, a música desempenha um papel fundamental, desde logo, com a fabulosa música original de Michael Stearns; depois, com a inclusão do clássico tema "The Host of Seraphim" dos Dead Can Dance.
Particularmente impressionante é esta sequência de 6 minutos e 39 segundos: um ritual religioso (não consegui identificar a origem) seguido de espantosas imagens da natureza. Superiormente filmado, com uma leveza e elegância estética a toda a prova, "Baraka" em geral e esta sequência em particular, influenciaram grande parte da linguagem visual dos documentários, reportagens e publicidade dos últimos 20 anos. 
Pegando no significado do título do filme, é um portentoso "sopro de vida" e um hipnótico sopro de cinema.

domingo, 20 de maio de 2012

As imagens e sons da Serra Pelada


Do trabalho árduo dos mineiros da Serra Pelada (minas de ouro do Brasil) extrai-se beleza visual ao ritmo da música tribal e de um coro de crianças sul-americanas. A vida em transformação, em consonância com o chamamento original da terra, o sacrifício humano em prol do desenvolvimento civilizacional. O suor destes homens é vertido em ganância alheia. O trabalhador morto que é carregado aos ombros pelos colegas (no final do vídeo) transforma-se numa espécie de "Pietá" dos tempos modernos.
As imagens são captadas por um dos maiores documentaristas de sempre, Godfrey Reggio, musicadas por um dos maiores compositores contemporâneos, Philip Glass.
"Powaqqatsi" é o segundo capítulo de uma trilogia magistral e única na história das imagens e dos sons - "Trilogia Qatsi".
Esta sequência inicial pode ser vista aqui.

sexta-feira, 2 de março de 2012

A música em "Baraka"

"Baraka" (1992) é uma palavra sufi que significa "Sopro de Vida" ou "Benção". Este é um sublime documentário sem legendas nem narração em voz-off (no estilo da obra-prima "Koyaanisqatsi" de Godfrey Reggio) sobre a natureza e a condição humana no planeta Terra, revelando os contrastes entre civilizações muito diferentes. No fundo, é um filme que enaltece a humanidade (mesmo que mostre a destruição e a degradação humanas) e a relação entre distintas raças, religiões, línguas e culturas.
Realizado por Ron Fricke (ex-director de fotografia de "Koyaanisqatsi"), "Baraka" é um hipnotizante poema visual filmado em estilo "time-lapse" e "super slow-motion", no qual as imagens incluem rituais religiosos, maravilhas naturais, processos de mecanização e diversos estilos de vida. Sendo um documentário visual, a música desempenha um papel fundamental (como a música de Philip Glass desempenhava em "Koyaanisqatsi"). A música original de "Baraka" foi composta pelo compositor Michael Stearns, mas há um momento do filme - porventura o mais belo e, ao mesmo tempo, o mais triste - em que a música é dos Dead Can Dance.
O tema que acompanha a sequência (em baixo) de pobreza extrema em países subdesenvolvidos da Ásia, é "The Host of Seraphim", retirada do álbum "The Serpent's Egg" (1988). Um tema deveras pungente e quase místico, do qual emanam emoções à flor da pele, exacerbadas pela força inquietante das imagens:


O realizador Ron Fricke prepara a estreia do seu novo e muito esperado filme: "Samsara", com lançamento previsto ainda este ano.

domingo, 2 de outubro de 2011

As crianças e a televisão

Pode ler-se aqui mais em pormenor de que trata a curta-metragem "Evidence". O filme é do premiado realizador Godfrey Reggio, autor da fabulosa trilogia "Qatsi", já dissecada neste blogue.
Basicamente, "Evidence" aborda a reacção expressiva das crianças quando estão a ver televisão (e o subsequente fascínio que exerce sobre elas), neste caso, o filme "Dumbo". A música, como habitualmente nos filmes de Reggio, é de Philip Glass:

domingo, 26 de junho de 2011

A trip

Ron Fricke, ex-director de fotografia de Godfrey Reggio (responsável pela fantástica trilogia Qatsi), realizou o filme "Chronos" em 1985. Trata-se de uma possante meditação sobre o lugar do homem no mundo. O filme, em forma de documentário unicamente visual, percorre várias regiões do planeta para captar imagens da natureza em confronto com a actividade humana.
O excerto de vídeo de "Chronos" em baixo é, quiçá, o momento mais perfeito de todo o filme. Para captar toda a poderosa informação audiovisual, é imprescindível ligar as colunas de som e colocar o volume bem alto, para sentir a música que acompanha os 3'40'' de imagens frenéticas e assombrosas (até ao clímax final). Um claro exemplo de como a música e as imagens podem aliar-se de forma perfeita na experiência cinematográfica.
Há um comentário no YouTube referente a este vídeo que se adequa na perfeição: "What a trip!". E é disso mesmo que se trata.

quarta-feira, 22 de setembro de 2010

Os mineiros da Serra Pelada


Do trabalho árduo dos mineiros da Serra Pelada (minas de ouro do Brasil) extrai-se beleza visual ao ritmo da música tribal e de um coro de crianças sul-americanas.
A vida em transformação, em consonância com o chamamento original da terra, o sacrifício humano em prol do desenvolvimento civilizacional. O suor destes homens é vertido em ganância alheia. O trabalhador morto que é carregado aos ombros pelos colegas (no final do vídeo) transforma-se numa espécie de "Pietá" dos tempos modernos.
As imagens são captadas por um dos maiores documentaristas de sempre, Godfrey Reggio, musicadas por um dos maiores compositores contemporâneos, Philip Glass.
"Powaqqatsi" é o segundo capítulo de uma trilogia única na história das imagens e dos sons - "Trilogia Qatsi".
E estes cinco primeiros minutos de filme são arrebatadores. Digo eu.

quarta-feira, 30 de junho de 2010

Philip Glass e a música para cinema


Philip Glass já era um compositor reconhecido no final dos anos 70. Nessa altura era o porta-estandarte da estética minimal repetitiva, com Steve Reich e Terry Riley. Foi nessa altura que foi convidado para fazer a primeira banda sonora original para cinema.
Apesar de alguma relutância, aceitou o desafio de musicar a fantástica viagem através de incríveis imagens que é o documentário (faz parte de uma trilogia) "Koyaanisqatsi" (1982) de Godfrey Reggio. A partir desta bem sucedida experiência, Glass nunca mais parou de fazer música para cinema.
No site oficial do compositor, estão recenseados 36 filmes para os quais compôs a música original. Apesar de não conhecer todos esses filmes (há uns 10 que ainda não vi), arrisco a elaborar as dez bandas sonoras de que gosto mais (não necessariamente as melhores):

1 - "Koyaanisqatsi" - Real. Godfrey Reggio
2 - "Kundun" - Real. Martin Scorsese
3 - "Powaqqatsi" - Real. Godfrey Reggio
4 - "Dracula" - Real. Tod Browning
5 - "The Fog of War" - Real. Errol Morris
6 - "The Hours" - Real. Stephen Daldry
7 - "The Secret Window" - Real. David Koepp
8 - "The Illusionist" - Real. Neail Burger
9 - "Naqoyqatsi" - Real. Godfrey Reggio
10 - "North Star" - Real. François de Menil
Post sobre Philip Glass.

segunda-feira, 8 de fevereiro de 2010

A tecnologia como modo de vida


“I think it's the tragedy of our time that we're not aware of the affect of the manner in which we've adopted technological tools. Those tools have become who we are.”
Godfrey Reggio, realizador da Trilogia QATSI (vários posts sobre a mesma)

terça-feira, 19 de maio de 2009

Música e cinema: possibilidades estéticas


(clicar para melhor visualização)
Nesta quinta-feira, dia 21, irei à Universidade da beira Interior, convidado pelo Departamento de Comunicação e Artes, no âmbito da primeira Jornada dedicadà à Música e ao Cinema. O tema será a abordar: "Possibilidades Estéticas da Relação entre Música e Cinema", tendo como ponto de partida a Trilogia Qatsi, de Godfrey Reggio.
A Trilogia Qatsi representa uma revolução na estética audiovisual contemporânea. Herdeiro da linguagem visual das primeiras experiências do documentário sem palavras de Dziga Vertov, Hilary Harris ou Walter Ruttmann, o realizador Godfrey Reggio preconiza uma nova forma de olhar as imagens e ouvir os sons, propondo uma nova relação expressiva entre ambos meios de comunicação e criando uma verdadeira obra de arte audiovisual. Com a música de Philip Glass, Godfrey Reggio mostra-nos um mundo saturado de imagens pré-fabricadas, fruto da sociedade hiper-acelerada e materialista, uma sociedade onde a Natureza foi suplantada pelo advento maciço do modelo de vida moderno tecnológico e digital.
Ao mesmo tempo uma meditação hipnótica em imagens e sons e uma crítica feroz ao estilo de vida alienado do homem moderno, esta primeira obra da trilogia produz no espectador um impacto que tem tanto de emocionante como de atordoador. A música minimal do genial Philip Glass, composta milimetricamente para cada sequência visual, acrescenta uma mais valia estética que enriquece de forma admirável o primeiro filme da trilogia. Esta obra, dado o seu enorme valor artístico, faz parte da colecção permanente do The Museum of Modern Art (Nova Iorque) e do The British Film Institute (Londres).
A apresentação vai procurar estabelecer as relações entre as imagens e a música do filme "Koyaanisqatsi", assim como as principais características e virtudes do cinema inovador de Godfrey Reggio e de como ele configura uma nova era da comunicação audiovisual que influenciou o cinema, a publicidade, a produção televisiva e a cultura do videoclip. Não serão descuradas as influências que o próprio Reggio assimilou oriundas de várias correntes do cinema experimental.
A jornada contará ainda com os temas “Taxi Driver: Motivos e Estilos Musicais”, por Paulo Dias, e “Significação Musical e Definição de “Espaços Cinematográficos”: Trilogia da Morte de Gus Van Sant”, por Helder Gonçalves.

segunda-feira, 18 de maio de 2009

Na Cinemateca


Quem vive em Lisboa não pode perder uma sessão de cinema, esta terça-feira, na Cinemateca, pelas 21h30: "Koyaanisqatsi" (1981) de Godfrey Reggio, com música de Philip Glass. É uma rara oportunidade de ver uma das grandes obras de cinema em ecrã gigante e em formato película. "Koyaanisqatsi" é o filme mais conhecido da trilogia que inclui "Powaqqatsi" (1988) e "Naqoyqatsi" (2002), um documentário sem narração nem diálogos, com sequências visuais (e musicais) de cortar a respiração, passadas a várias velocidades e acompanhadas pela música do compositor americano. Um filme poético, contemplativo, visualmente contemplativo, que nos dá uma nova dimensão do mundo que nos rodeia.
Sobre a Trilogia Qatsi, já falei aqui.

sábado, 13 de dezembro de 2008

Cápsula do tempo - guardar a memória

Um dia Andy Warhol lembrou-se de guardar, em caixas de cartão, objectos do dia-a-dia. Objectos que iam de desenhos a canetas, bilhetes de cinema ou discos de estimação. A ideia é que essas caixas (centenas delas) servissem de marcas de uma época, e que fossem abertas muitos anos depois da sua morte. Warhol chamou a estas caixas de “Cápsulas do Tempo”, conceito que remete para a salvaguarda da memória colectiva e que ainda hoje acolhe defensores e praticantes.  É um desafio interessante pensar que objectos guardaríamos, pessoalmente, como referências culturais e sociais do nosso tempo, para servirem de testemunhos para o futuro (daqui a dezenas ou centenas de anos). Esse desafio foi lançado pela revista Sábado, convidando várias personalidades para escolherem sete objectos para a “Cápsula do Tempo”.

As minhas escolhas seriam estas:

  1. Os discos “Closer” e “Unknown Pleasures” dos Joy Division
  2. Filmografia completa de Andrei TarkovskiJacques Tati e Michael Haneke
  3. A trilogia “Qatsi” (DVD) de Godfrey Reggio/Philip Glass
  4. O livro “As Benevolentes” de Jonathan Littell
  5. Um caderno Moleskine com apontamentos
  6. Um computador portátil MacBook
  7. Uma guitarra eléctrica Fender Telecaster
Nota: a minha cápsula do tempo deveria ser aberta em 2069.