Revi a curta-metragem "The Heart of The World" de Guy Maddin e reforcei a ideia de que se trata de uma obra-prima do cinema, apesar da sua curta duração (6 minutos). Ou seja, os grandes filmes não se medem nos minutos.
O realizador Guy Maddin é muito mais do que o "David Lynch" do Canadá. É também o Eisenstein, o Tim Burton, o Fritz Lang e o Dziga Vertov do Canadá. Tudo somado e espremido dá um cineasta profundamente original que transforma o cinema em qualquer coisa de novo. Mesmo se 90% da sua inspiração e referências estéticas estejam ancoradas no período do cinema... mudo. Ou seja, Guy Maddin, que deixou o curso de economia para se dedicar à exploração das imagens, assimilou até ao tutano as coordenadas da vanguarda dos anos 20 e 30: o cinema expressionista alemão e o soviético. Juntando a isto a imaginação visual delirante de Maddin, a provocação surreal de Salvador Dalí e o universo sinistro de Edgar Allan Poe, chegamos a um resultado artístico único.
É nas curtas-metragens que Guy Maddin revela toda a sua arte da manipulação da imagem, numa linguagem estética que bebe do passado mas aponta, claramente, para o futuro. Da sua relativa vasta produção, "The Heart of the World" (2000) foi multipremiado. Um filme mudo (paradoxal nos tempos de hoje fazer filmes mudos!) que em pouco mais de 6 minutos, o realizador homenageia a arte suprema do cinema mudo com uma surrealista história de dois irmãos que amam a mesma mulher responsável pela "saúde do coração do mundo".
O ritmo frenético da montagem, a composição plástica das imagens, o fulgor expressivo dos planos e a fabulosa música do compositor russo Georgy Sviridov, constituem elementos que fazem lembrar os áureos filmes de Eisenstein e Vertov.
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