Confesso que não compreendi o alcance da crítica que foi publicada na revista de cinema Premiere a propósito do filme "O Cavalo de Turim" de Béla Tarr. Num tão pequeno texto encontram-se contradições ("pretensioso, mas repleto de planos belíssimos"), abordagens dúbias ("este filme é bastante problemático") e dislates incompreensíveis ("talvez funcionasse melhor num museu do que no cinema"):
"Este filme húngaro, vencedor do Urso de Prata na Berlinale de 2011, é bastante problemático. Objecto de um cinema art house digno de festival, 'O Cavalo de Turim' é um filme que goza de uma fotografia e de uma técnica cinematográfica esplêndidas, mas cuja concretização é demasiado penosa para ser apreciada. Apesar de ser uma reflexão interessante sobre a inevitabilidade da morte, metaforizada na figura do cavalo, o filme aprece ter sido feito para ser celebrado pela pureza rígida da sua arte. Pretensioso, mas repleto de planos belíssimos, talvez funcionasse melhor num museu do que no cinema"
Ana Luís Pinheiro, Premiere
7 comentários:
Permite-me só corrigir uma coisa : nao é na Premiere, é na Empire
E sabes porque é que este filme não tem uma boa ''nota'' ?
Porque nao é comercial... e ninguem me garante q estes ''criticos'' percebam algo de cinema
A partir do momento em que Vasco Câmara é crítico de cinema, vale tudo.
Há um filme do Truffaut (um da sequência de Antoine Doinel) em que o pai tem uma conversa com o filho
"...e não te esqueças de praticar muito para seres um grande músico.
-e se eu não praticar, o que é que acontece?
-Hmmm nesse caso serás só um crítico"
É esta a imagem(redutora ou não) que tenho dos críticos portugueses
Sim, é na revista Empire e não na Premiere. Fica a rectificação.
Bem lembrado, Vasco.
A Premiere não acabou já?
Rato: tanto quanto sei, a Premiere acabou. Mas nada garanta que não volte, uma vez que há uns anos deixou de ser publicada e passado algum tempo voltou com nova redacção.
E eis que me deparo com o seu comentário. Caro blogger, sou a autora da crítica que tanto critica. Sabe, nós os “críticos” (achei curiosas as aspas de um Unknown) temos a missão quiçá ingrata de avaliar esta arte particular que é o cinema. Digo ingrata porque a nossa avaliação passa por um processo que toca o gosto pessoal, o reconhecimento técnico e artístico da obra e, até certo ponto, uma expectativa face à reacção do público. Ou seja, dificilmente o “julgamento final”, obrigatoriamente subjectivo, agradará a gregos e troianos. Posto isto, e porque não quero que se sinta atormentado pela incompreensibilidade que atribuiu ao meu texto, aqui vai um breve esmiuçamento dos meus argumentos:
- O uso do “problemático” prende-se com uma questão extremamente pragmática – a bilheteira. Não esperando, de todo, que este filme chegasse aos valores de outros mais comerciais (e olhe que, apesar de ser “crítica”, até gosto de ver um independente aqui e ali), compreenderá certamente que é um título extremamente problemático de vender. Sim, o cinema é arte. Mas é uma arte que precisa de ser vendida para se sustentar. Talvez uma obra destas não seja para ser vendida, mas sim apreciada. Num museu, talvez?
- O uso de “penoso” prende-se com o simples facto de não ter gostado do filme. Sim, é verdade, não gostei. Porque o achei “pretensioso” no sentido em que abusa da esteticidade em detrimento da narrativa. Muitos já o fizeram com resultados mais aprazíveis na minha opinião. Mas fico feliz por Bela Tárr ter um admirador na sua pessoa, e digo-o sem quaisquer ironias. Se assim não fosse, o cinema entraria num marasmo crítico catastrófico, e há que defender a pluralidade de obras, de autores e de opiniões. O caríssimo blogger aprecia, eu não.
- Apesar dos meus problemas com o título em causa, reconheço-lhe uma excelência técnica e estética consideráveis. A fotografia e os planos são, sem dúvida, belíssimos. Na minha singela opinião, contudo, emanam uma beleza demasiado rígida. Pretensiosamente pensada. Talvez volte a entrar, neste último ponto, no gosto pessoal. Mas foi a mim que coube a tarefa de escrever sobre o filme, e esta foi a minha apreciação.
E sim, foi na Empire.
Cordialmente, Ana Luís Pinheiro.
Cara Ana Luís Pinheiro: agradeço o seu comentário.
Sempre dei valor à diversidade de opiniões sobre a arte e o cinema. Temos duas opiniões diferentes em relação ao filme do Béla Tarr e cada um tem direito a ela. Não irei esgrimir ou contrariar os argumentos que agora apresenta porque são legítimos. A subjectividade da crítica é isso mesmo: subjectiva.
Continuação de bom trabalho na Empire.
Volte sempre.
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