quinta-feira, 4 de julho de 2013

Gostar e não gostar

Às vezes sou assaltado por uma dúvida metódica: será possível que haja pessoas que gostem ao mesmo tempo de artistas ou objectos artísticos, aparentemente, antagónicos. Por exemplo: gostar dos filmes de Béla Tarr e do blockbuster "Man of Steel"? Ou ser um apaixonado da música de Bach e de Shakira? Ou da literatura de Marcel Proust e de literatura 'light'? 
Sinceramente, apesar de conhecer pessoas que se assemelham muito a esta configuração de gosto, a verdade é que não me parece ser "possível" haver gostos estéticos tão antagónicos. É que gostar de uma determinada manifestação artística é partilhar de um ideário estético determinado que não pode relacionar-se com outro completamente diferente. 
Ou seja, quem gosta do cinema exigente e formalista do húngaro Béla Tarr, não pode gostar (atenção: do mesmo modo e no mesmo sentido) que um blockbuster qualquer de Verão cuja linguagem é vazia de conteúdo estético.

6 comentários:

Susana disse...

Concordo!
Quando ouço alguém dizer que gosta de todos os géneros de música ou filmes, só penso que não gosta realmente de nenhum, porque para mim, prova que não aprecia verdadeiramente a essência de nenhum dos géneros ;)

Alice N. disse...

Inteiramente de acordo.

Podemos gostar de produções artísticas que usam linguagens e meios muito diferentes, mas entre elas haverá sempre entre algo em comum: o mesmo patamar de qualidade, seja na inovação, na técnica, na riqueza da mensagem, no seu simbolismo, etc. Estou a pensar, por exemplo, na pintura. Pode-se gostar de El Greco da mesma forma que se gosta de Picasso. Já não percebo que se consiga ouvir e gostar do mesmo modo Bach e um qualquer artista pimba.

Ricardo disse...

A meu ver, essa incapacidade nossa de conceber que alguém posso gostar de igual forma de Bela Tarr e de Man of Steel tem mais a ver com pedantismo e/ou preconceito da nossa parte. Já me tenho surpreendido com algumas pessoas, falando com tanto entusiasmo de filmes intelectuais como de filmes pipoca.

Alguém gostar bastante de Bach e música pimba parece-me mais inacreditável mas... porque não? Tudo é possível.

Rui Carvalho disse...

é muita "salsada junta", é como estar a comer lagosta e sardinha ao mesmo tempo- não funciona.

Anónimo disse...

Pois, eu para desenjoar de torresmos, por vezes, como uns peixinhos do rio e admiroo a forma de confecçao e estética da apresentacão. Ainda ontem adormeci a ouvir satie e acordei a ouvir a Helena de dino Meira. É foda.
Esqueçi de dizer que os peixinhos são com molho de escabeche. Pimba!!!!

Carlos Branco disse...

Não podemos comer lagosta e sardinha ao mesmo tempo, mas podemos gostar de lagosta e sardinha. não percebo qual o problema em se ser eclético no gosto, quer musical quer de cinema. Bacj para música pimba é um extremo, mas Bach para música rock ou até fado, porque não? depende dos estados de espirito, podemos apreciar, embora preservando as nossas preferências. dito isto, o Bela Tarr e o Men of Steel não são dois filmes ou géneros para se gostar da mesma maneira. Podemos ter um apreço maior pelo Bela Tarr que representa a consagração do cinema puro como forma de arte mais pessoal, mas isso não nos impede de ir ao cinema ver o Men of Steel e passar ali duas horas de puro entretenimento e até achar piada ao filme, mas no fundo acho que são produtos incomparáveis, cada um cumpre (ou não) aquilo a que se propõe.