Às vezes sou assaltado por uma dúvida metódica: será possível que haja pessoas que gostem ao mesmo tempo de artistas ou objectos artísticos, aparentemente, antagónicos. Por exemplo: gostar dos filmes de Béla Tarr e do blockbuster "Man of Steel"? Ou ser um apaixonado da música de Bach e de Shakira? Ou da literatura de Marcel Proust e de literatura 'light'?
Sinceramente, apesar de conhecer pessoas que se assemelham muito a esta configuração de gosto, a verdade é que não me parece ser "possível" haver gostos estéticos tão antagónicos. É que gostar de uma determinada manifestação artística é partilhar de um ideário estético determinado que não pode relacionar-se com outro completamente diferente.
Ou seja, quem gosta do cinema exigente e formalista do húngaro Béla Tarr, não pode gostar (atenção: do mesmo modo e no mesmo sentido) que um blockbuster qualquer de Verão cuja linguagem é vazia de conteúdo estético.
6 comentários:
Concordo!
Quando ouço alguém dizer que gosta de todos os géneros de música ou filmes, só penso que não gosta realmente de nenhum, porque para mim, prova que não aprecia verdadeiramente a essência de nenhum dos géneros ;)
Inteiramente de acordo.
Podemos gostar de produções artísticas que usam linguagens e meios muito diferentes, mas entre elas haverá sempre entre algo em comum: o mesmo patamar de qualidade, seja na inovação, na técnica, na riqueza da mensagem, no seu simbolismo, etc. Estou a pensar, por exemplo, na pintura. Pode-se gostar de El Greco da mesma forma que se gosta de Picasso. Já não percebo que se consiga ouvir e gostar do mesmo modo Bach e um qualquer artista pimba.
A meu ver, essa incapacidade nossa de conceber que alguém posso gostar de igual forma de Bela Tarr e de Man of Steel tem mais a ver com pedantismo e/ou preconceito da nossa parte. Já me tenho surpreendido com algumas pessoas, falando com tanto entusiasmo de filmes intelectuais como de filmes pipoca.
Alguém gostar bastante de Bach e música pimba parece-me mais inacreditável mas... porque não? Tudo é possível.
é muita "salsada junta", é como estar a comer lagosta e sardinha ao mesmo tempo- não funciona.
Pois, eu para desenjoar de torresmos, por vezes, como uns peixinhos do rio e admiroo a forma de confecçao e estética da apresentacão. Ainda ontem adormeci a ouvir satie e acordei a ouvir a Helena de dino Meira. É foda.
Esqueçi de dizer que os peixinhos são com molho de escabeche. Pimba!!!!
Não podemos comer lagosta e sardinha ao mesmo tempo, mas podemos gostar de lagosta e sardinha. não percebo qual o problema em se ser eclético no gosto, quer musical quer de cinema. Bacj para música pimba é um extremo, mas Bach para música rock ou até fado, porque não? depende dos estados de espirito, podemos apreciar, embora preservando as nossas preferências. dito isto, o Bela Tarr e o Men of Steel não são dois filmes ou géneros para se gostar da mesma maneira. Podemos ter um apreço maior pelo Bela Tarr que representa a consagração do cinema puro como forma de arte mais pessoal, mas isso não nos impede de ir ao cinema ver o Men of Steel e passar ali duas horas de puro entretenimento e até achar piada ao filme, mas no fundo acho que são produtos incomparáveis, cada um cumpre (ou não) aquilo a que se propõe.
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