segunda-feira, 16 de setembro de 2013

Tati e "Parade"



O realizador Jacques Tati, apesar de ter realizado apenas seis longas-metragens ao longo de várias décadas de carreira, é um dos mais importantes cineastas franceses de sempre (e um dos meus preferidos de sempre).
Tati captou os contrastes do nosso tempo com um olhar meticuloso: a evolução do mundo, desde a vida rural (o carteiro de "Há Festa na Aldeia", 1948) até à cidade moderna e futurista de "Playtime" (1967).
Neste universo de convulsão e tecnologias, quase sempre à beira do caos, aparecia sempre a figura do homem alto e magro, o Sr. Hulot, que encarnava o desconcerto, o inadaptado, o desajustado dos tempos modernos. Tati sempre fez uso de um humor poético e cirúrgico, que só Tati sabia pensar e executar (que herdou dos mestres do burlesco mudo).
Depois do desastre financeiro (mas não artístico) que foi "Playtime", Tati ficou vários anos sem filmar. Até que em 1971 realizou "Traffic", talvez um Tati menor, mas ainda assim um Tati imprescindível (é a velha máxima: um Tati menor é sempre melhor filme do que muitos filmes grandes de outros realizadores).
Em 1974, Jacques Tati foi convidado pela televisão sueca para fazer um filme que se passa integralmente no circo - um espaço que o cineasta francês conhecia bem. O resultado foi o filme "Parade" (a sua última obra em cinema), uma película menos conhecida do mestre francês da comédia. Um filme no qual o riso volta ao estado puro da arte de Tati, numa metamorfose sensível da realidade, na qual o cineasta prescinde do Sr. Hulot: de volta ao circo e à genuína pantomima (quase sem palavras), acompanhado por palhaços, mágicos, músicos, engolidores de espadas, equilibristas e malabaristas, Tati, pela primeira vez, inclui os espectadores na diegese do filme. O tema de "Parade" é o público, a capacidade que este tem de, por intermédio da arte, tornar-se igualmente artista.

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