Quando acabei de ver "12 Anos Escravo" pensei que este último filme de Steve McQueen contém, na temática, muito do que já explorara nos seus dois primeiros filmes: "Fome" e "Vergonha". Levando à letra estes dois títulos, repare-se como os conceitos 'fome' e 'vergonha' estão bem representados em "12 Anos Escravo". Os tormentos do escravo à força Solomon Northup comprovam - se necessário fosse - que a escravatura foi uma infâmia histórica que envergonhou a raça humana.
Quanto ao filme propriamente dito, esta última obra de McQueen já não ostenta um certo exercício de estilo estético que os dois primeiros filmes revelavam. Aqui o olhar do realizador é mais humano e menos estilizado, porque haveria pouca margem de manobra para estilizar a escravatura. "12 Anos Escravo" é um filme corajoso, impiedoso e que abre feridas ainda não totalmente fechadas acerca do racismo na livre e democrática América.
Quanto a mim, o momento mais belo e possante do filme: quando vemos um plano fixo de Solomon no meio de outros escravos negros a cantar. No início ele mostra um rosto gélido, sem expressão, enquanto se ouve o cântico. Aos poucos, como se estivesse a fazer um esforço sobre-humano, Solomon começa a acompanhar o canto e, progressivamente, canta com mais e mais intensidade (e raiva). Uma sequência sublime de emoção que prova o poder libertador da música e que sintetiza todo o espírito do filme.
2 comentários:
Sem dúvida, um retrato que envergonha a humanidade. Mas o facto de ser inspirado numa vida real é que sem dúvida nos faz reflectir sobre esse homem. A esperança é a última a morrer.
Estou curioso para conferir.
Abraço
Enviar um comentário