quarta-feira, 13 de fevereiro de 2013

Dia Mundial da Rádio


Há uns anos, o saudoso radialista António Sérgio respondia assim à pergunta da revista BLITZ - "Quais foram para si os anos áureos da rádio em Portugal?"
António Sérgio - "Os anos dos programas de autor na antiga Rádio Comercial, ainda pertencente à RDP. A rádio era ouvida com uma clubite muito especial. Uma das funções da rádio é espalhar magia: nós não temos cara, temos vozes, e isso ajuda a incendiar o imaginário dos ouvintes. E esta rádio de hoje, coitada, não incendeia absolutamente nada. Põe o ouvinte a um canto e diz-lhe: ouve isto, que não te maça, não te assusta, não te provoca, não te faz comprar discos. Outra verdade: a rádio de hoje não te faz comprar discos - as rádios de autor conseguiam fazer as pessoas ter paixão por comprar música."
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É disto que se trata. A rádio portuguesa já não incentiva ninguém a comprar música, a motivar a paixão pela música. Nas palavras de António Sérgio: já não "incendia o imaginário dos ouvintes".
A rádio precisa de um abanão. Precisa de renovar a sua função como meio de comunicação, dado que a internet lhe roubou o protagonismo. Já não se sente o mesmo prazer a ouvir rádio como há 10 ou 15 anos atrás, com programas de autor como os de António Sérgio, Aníbal Cabrita, Rui Morrison, ou Luís Filipe Barros e dos programas da XFM.
A rádio deve livrar-se das convenções, da pressão dos critérios economicistas e da ditadura das audiências/playlists. A formatação generalizada da rádio portuguesa é deprimente. A letargia criativa e a falta de conhecimentos dos radialistas são notórias. Depois do despedimento do último grande radialista nacional e responsável por alguns dos melhores programas de rádio de autor - António Sérgio, não resta quase ninguém. Sobram algumas rádios universitárias, com tendência independente e de forte marca autoral (RUC e RUM).
Em Espanha, o panorama das rádios nacionais é totalmente diferente. Para (muito) melhor. Primeiro, a percentagem de música espanhola que passa nas rádios é significativamente maior do que a de origem anglo-saxónica; segundo, há tanto espaço para divulgar os músicos consagrados como as bandas em início de carreira, com um notável empenho e interesse por parte das rádios. Os programas de rádios espanhóis de autor não se limitam a passar música para preencher o éter hertziano. São criteriosos, informados, esclarecidos, actualizados, cultos, com conhecimentos de música.
Ou seja, atributos que não fazem parte da maior parte dos animadores de rádio nacionais (salvo honrosas excepções, todas da Antena 2 e 3). É claro que os espanhóis têm dois defeitos que os portugueses se orgulham de não ter: têm péssima pronúncia inglesa e falam frequentemente no meio das músicas (mas estes dois pormenores são menores comparados com as características positivas acima referidas).
A Radio 3 espanhola, emissora nacional de serviço público, tem programas de grande qualidade, num horário consecutivo - de manhã à noite. Podemos ouvir, em horário nobre, world music, jazz, rock experimental, clássica, electrónica, flamenco, debates sobre livros, cinema e arte, etc.
Com o estado actual das rádios portuguesas apetece trazer de novo as rádios piratas dos anos 80!