"A Grande Beleza", filme que estreia hoje em Portugal, é um verdadeiro prodígio cinematográfico. Opulento, excessivo, quase barroco, magistralmente bem construído, filmado, imaginado. O realizador italiano Paolo Sorrentino recusa as comparações com o universo de Federico Fellini ("La Dolce Vita"), mas é quase impossível não pensar nesta influência. Nem que mais não seja, pela apaixonada e crítica declaração de amor que Sorrentino faz à cidade de Roma. Uma Roma exultante mas também decadente, bela mas também presunçosa e profundamente hedonista.
"A Grande Beleza" é, mais do que tudo, um título enganador. Há efectivamente muita beleza plástica que ressalta das imagens de monumentos, planos, movimentos de câmara faustosos, mise-en-scène elaborada. Mas há também muita fealdade por detrás das aparências. Porque Sorrentino desfere um duro golpe a uma certa franja fútil da sociedade romana. O estilo ostensivo dessa burguesia é arrasado subtilmente pelo olhar do protagonista, um homem de 65 anos amargurado pelo vazio da sua existência e pelas suas memórias de vida.
E o filme é sobre isso: um dissertação visual melancólica (e efusiva, como na sequência inicial da festa) sobre a condição humana contemporânea. Há muito sarcasmo pelo meio, muitos devaneios e até alguns elementos surrealistas, mas "A Grande Beleza" é feito de todo esse conjunto fascinante das coisas boas e más da vida. A banda sonora é excelente, complementa na perfeição o lado contemplativo do filme, assim como também acentua o lado mais feérico e excessivo, como na irresistível sequência inicial da festa hedonista.
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1 comentário:
Os primeiros dez minutos são de encher os olhos.
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