segunda-feira, 4 de agosto de 2008

Conhecer música nova: o papel dos amigos

A revista Blitz resolveu fazer uma sondagem aos seus leitores no seu site para saber qual o melhor meio para descobrir nova música. O resultado pode ler-se aqui. O resultado não é de espantar, dado que a preferência maioritária (57%) diz preferir a internet para conhecer música nova. O curioso é que, logo a seguir à utilização da internet, está o item "recomendação de amigos" (14%), bem à frente da opção "imprensa especializada" (9%), da "rádio" (6%) e da "televisão" (4%). Ou seja, esta sondagem meramente demonstrativa, vem provar algo que já se sabia: os jovens (e menos jovens) conhecem hoje música nova quase exclusivamente pela internet, e dando mais crédito aos conselhos de amigos do que às propostas da comunicação social. Acaba por não ser muito diferente de quando eu era mais novo - à excepção da internet - que não existia ainda.
Tinha 16 anos quando comecei verdadeiramente a gostar de música e a conhecer/consumir sofregamente sonoridades novas. E uma das formas mais importantes e decisivas que eu tive para conhecer música nova estimulante (dos mais variados géneros - do jazz ao rock, da electrónica à erudita experimental) foi através da tal "recomendação de amigos", geralmente, mais velhos e conhecedores. E com mais dinheiro para comprar os discos em vinil que estavam na berra (gravei centenas de cassetes áudio à custas dos amigos). Só a seguir vinha a imprensa especializada, que à altura se resumia ao então semanário BLITZ, ao fugaz LP, ou à imprensa britânica - Melody Maker e New Musical Express (sem esquecer o papel importante dos fanzines). E, claro, a rádio. Mítica foi a importância que a figura do radialista António Sérgio teve para toda a geração dos anos 80 , com programas de autor como o seminal "Som da Frente". Dantes, lia-se uma crítica no jornal sobre um disco ou grupo que despertava a minha atenção e que queria conhecer e ouvir. Para tal, esperava que tocasse na rádio ou que o disco ficasse à venda na discoteca. Este processo entre conhecer o grupo pela imprensa (ou por um amigo) e conhecer a sua música, podia levar semanas. Actualmente, este mesmo processo leva um minuto - basta abrir o myspace do grupo que queremos conhecer e pronto, está lá a informação que pretendemos. Hoje mesmo acabei de ouvir o single (que foi lançado hoje mesmo)do novo álbum da dupla Brian Eno e David Byrne, como já tinha referido neste post.
Agora o paradigma da informação/comunicação é outro e a internet monopoliza praticamente todo o espectro de preferências ao nível de pesquisa de informação e de consumo cultural. E muitas vezes penso se a minha formação musical (enquanto consumidor e músico) teria sido muito diferente se, na altura própria, tivesse acesso à inesgotável sociedade da informação digital como hoje acontece...

3 comentários:

Ana disse...

Oi!
Realmente a tua frase sobre o Kevin Spacey foi melhor que a minha lol.
Eu ainda sou do tempo em que esperava ansiosamente aos sábados pelo Top+ para ver (e ouvir) as novidades musicais. Hoje em dia tudo está á distância de um clique...
Beijos

Anónimo disse...

Este seu artigo, Victor, só vem reforçar uma tese que já defendo há muito tempo. Os críticos de música escrevem cada vez mais para eles próprios e para alimentar o ego. O que é uma pena. Porque, embora continue convicto de que só o João Lisboa tem categoria e cultura para ser (muito) bom em qualquer lugar do mundo, há por aí alguns excelentes divulgadores de música (como o António Pires, por exemplo) e outros que não escrevem nada mal mesmo quando não estou de acordo com eles (estou-me a lembrar do Nuno Galopim ou do Ricardo Saló). E ainda um dia destes li um texto extraordinário sobre o Leonard Cohen escrito pelo Luís Miguel Oliveira que nem sequer é crítico de música. Um abraço.

Unknown disse...

Rui: o Luís Miguel Oliveira é um óptimo crítico de cinema e tem capacidades também para a área da música.
E claro que o João Lisboa e o Saló são uma referência incontornável na crítica musical portuguesa. Gostaria era que tivessem mais espaço no jornal para escreverem mais. Mas se está recordado, já tinha dissertado um pouco sobre o papel da crítica neste texto - http://ohomemquesabiademasiado.blogspot.com/2008/05/o-papel-do-crtico-musical.html