A rádio portuguesa precisa de um abanão. Precisa de renovar a sua função como meio de comunicação, dado que a internet lhe roubou o protagonismo. Já não se sente o mesmo prazer a ouvir rádio como há 10 ou 15 anos atrás, com programas de autor como os de António Sérgio, Aníbal Cabrita, Rui Morrison, ou Luís Filipe Barros.
A rádio deve livrar-se das convenções e da ditadura das audiências. A formatação generalizada da rádio portugeusa é insolúvel. A letargia criativa e a falta de conhecimentos dos radialistas são notórias. Depois do despedimento do último grande radialista nacional e responsável por alguns dos melhores programas de rádio de autor - António Sérgio, não resta quase ninguém. Em Espanha, o panorama das rádios nacionais é totalmente diferente. Para (muito) melhor. Primeiro, a percentagem de música espanhola que passa nas rádios é significativamente maior do que a de origem anglo-saxónica; segundo, há tanto espaço para divulgar os músicos consagrados como as bandas em início de carreira, com um notável empenho e interesse por parte das rádios. Os programas de rádios espanhóis de autor não se limitam a passar música para preencher o éter hertziano. São criteriosos, informados, esclarecidos, actualizados, cultos, com conhecimentos de música.
Ou seja, atributos que não fazem parte da maior parte dos animadores de rádio nacionais (salvo honrosas excepções, todas da Antena 2 e 3). É claro que os espanhóis têm dois defeitos que os portugueses se orgulham de não ter: têm péssima pronúncia inglesa e falam frequentemente no meio das músicas (mas estes dois pormenores são menores comparados com as características positivas acima referidas). A Radio 3 espanhola, emissora de serviço público, tem programas de grande qualidade, num horário consecutivo - de manhã à noite. Podemos ouvir world music, jazz, rock experimental, electrónica, flamenco, debates sobre livros e arte, etc. Um exemplo a seguir pelos responsáveis portugueses das rádios.
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