segunda-feira, 8 de agosto de 2011

Ritmo às imagens

O videoclip que está em baixo é um clássico absoluto que representou um marco na criação audiovisual contemporânea.
Tem por título "Ohi Ho Bang Bang", foi filmado pelo video-artista Akiko Hada com música do alemão Holger Hiller. Estávamos em 1988 e eu lembro-me de ter gravado em VHS este vídeo num mítico programa de televisão espanhola (TVE2) dedicado às correntes artísticas de vanguarda - "Metropolis".
Quando vi este vídeo pela primeira vez fiquei de queixo caído: pela originalidade, pela invenção musical e pela meticulosa montagem e sincronia entre imagem e som. Em 1988 ainda vinha longe a era da tecnologia digital, pelo que tudo foi filmado em sistema analógico, de forma extremamente minuciosa e paciente (hoje é muito mais fácil sincronizar som e imagem). A música foi feita com base nos sons gravados durante a própria filmagem (não são samples electrónicos!) e posteriormente trabalhados e misturados em estúdio.
Sons que, diga-se, são trabalhados ao mais ínfimo pormenor, e cuja mestria rítmica é desconcertante. Ou seja, cada som que ouvimos vemos representada a respectiva fonte sonora. E o trabalho de manipulação sonora é verdadeiramente notável, para não falar no trabalho de montagem visual. Ritmos vocais, ruídos de scratch, feedbacks de guitarra, sons de objectos - tudo em espantosa harmonia conceptual.
Durante anos apresentei aos meus alunos (Educação Musical) a cassete com este videoclip, e o seu visionamento proporcionava sempre estupefacção na cabeça das crianças. Viam-no com espírito crítico, facto que estimulava o debate de opiniões acerca deste videoclip. Não era para menos. "Ohi Ho Bang Bang" foi um trabalho totalmente pioneiro na experimentação som-imagem, quer ao nível da criação musical (influenciou grande parte da produção musical electrónica dos anos 90), quer ao nível da realização de videoclips - os Coldcut têm dois videoclips que partem exactamente do mesmo conceito deste, mas já realizados com recurso à manipulação digital das imagens.
Passaram mais de 20 anos desde a data em que foi feita, mas esta pequena obra-prima de Holger Hiller/Akiko Hada, mantém a mesma frescura, ousadia formal e originalidade - apesar da qualidade de imagem ser menos boa.

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