sábado, 17 de novembro de 2012

David F. Wallace: a exigência


Há já algum tempo que tenho ouvido falar no escritor David Foster Wallace, considerado um génio literário maldito americano que se suicidou aos 46 anos.
O livro pelo qual recebeu elogios rasgados é o monumental "The Infinite Jest", "A Piada Infinita" na versão portuguesa" (edição Quetzal). Segundo refere a crítica especializada (como na edição desta semana do suplemento cultural Ípsilon do Público), trata-se de uma colossal e complexa obra literária em todos os sentidos: na forma e no conteúdo inovadores, representando, por isso, um dos grandes acontecimentos literários e editoriais do ano. São 1200 impressionantes páginas de uma escrita minuciosa e arrojada.
Sobre o livro, escreveu a jornalista Filipa Melo (Sol): "A Piada Infinita é um romance sobre depressão e várias outras desordens mentais e físicas, sobre família, consumos compulsivos, drogas, indústria do entretenimento, terrorismo e agências de segurança e mil outros subtemas explorados pelo autor com a minúcia de um pesquisador de nanopartículas. Por tudo isto, A Piada Infinita é um desafio ao qual poucos leitores conseguem aceder por completo, mas um feito extraordinário, que ficará na história da literatura."
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Tento acompanhar, na medida do possível, os fenómenos literários. Mas desta vez não vou aderir a este livro. Até o poderia comprar, mas sei que depois não teria tempo nem disponibilidade (mental e física) para mergulhar, concentrado, em tão intrincada obra literária. Sei-o porque já me aconteceu em anteriores situações, nomeadamente, com o livro "2666" de Roberto Bolaño e com o fantástico "As Benevolentes" de Jonathan Litell (e antes me acontecera com o clássico "Ulisses de James Joyce).
Ambas obras têm à volta de 1000 páginas e, apesar da indiscutível qualidade literária inerentes, não consegui ler mais do que umas 200. Acabei por sucumbir perante a monumentalidade e exigência formal destes livros (talvez um dia volte a eles num futuro próximo...).
Por isso não vou investir esforço e tempo para ler "A Piada Infinita", porque sei que este livro - como diz Filipa Melo - "é um desafio ao qual poucos leitores conseguem aceder por completo". Há escritores que colocam a fasquia demasiado alta para o leitor menos preparado e exigem dele entrega incondicional.
Pode ser que um dia consiga reunir coragem, tempo e devoção totais para "aceder por completo" a Wallace.
 

6 comentários:

Gonçalo Mira disse...

Podes sempre ler as peças mais pequenas :) há bons contos e geniais peças de não ficção. Para ti, apaixonado de cinema, recomendo este ensaio: http://www.scribd.com/doc/27992934/David-Lynch-Keeps-His-Head

Anónimo disse...

Quando li o título decidi vir cá falar-te do 2666, vejo que já conheces. Ainda não o acabei mas vou acompanhando o que foi escrito no site bolanobolano (leitura de grupo) e é deveras útil aquilo que lá foi escrito. Foi lá que ouvi falar de DFW, a maioria dos leitores de Bolaño são fãs incondicionais do mesmo (e de J L Borges também).

Gonçalo Mira disse...

Eu, que já li 8 livros do Bolaño e vários contos e ensaios do Foster Wallace, posso dizer que não têm absolutamente nada a ver um com o outro. São autores completamente diferentes. Muito bons cada um à sua maneira e é natural que se goste de ambos, como eu gosto. Mas não são, de todo, semelhantes. A única semelhança é terem escrito um livro com mais de mil páginas cada um.

Unknown disse...

Gonçalo e anónimo: sim, Bolaño e Wallace são escritores muito diferentes, mas ambos exigentes, cada um à sua maneira - também pelo número de páginas. Obrigado pela sugestão do ensaio, irei ler.

Rolando Almeida disse...

Eu tenho uma opinião diferente da tua Victor. Em regra quando os críticos alegam que um determinado livro não é para qualquer um, é porque das duas uma: 1) ou a crítica é pedante ou 2) o livro é pedante. Isto pelo menos tem norteado as minhas escolhas já que, com o tempo, passei a apreciar mais a clareza com que se dizem e escrevem as coisas do que com o armadilhanço literário que muitas vezes não é mais do que isso mesmo. Desconheço o livro, mas tive a infelicidade de ler a crítica do Ipsilon e percebi logo que não iria apreciar por aí além o livro. E assim me safei de mil páginas :-)

Anónimo disse...

Rolando, a crítica é possível que o tenha incluído no lote de autores pós-modernos, mas ele é sobretudo um crítico do pós-modernismo. A exigência da sua leitura deve-se ao número de páginas, sobretudo (embora também a todo o enredo). Mas garanto-te que ler este livro é ler acima de tudo uma obra-prima. Mas não daquelas do género Jonathan Franzen, ou aqui entre nós, pelo sobrevalorizado Gonçalo M. Tavares. A obra do David Foster Wallace está para lá do que alguma vez se fez em toda a história da literatura.