quarta-feira, 12 de junho de 2013

O rosto de Montgomery Clift

Ontem revi um dos grandes clássicos (por vezes esquecidos) do mestre Alfred Hitchcock: "I Confess", de 1953. Um filme com exactos 60 anos que não perdeu um pingo de inquietação e fascínio. A história é tipicamente hitchcockiana: o padre Michael Logan (fabuloso Montgomery Clift) ouve a confissão de um homem que lhe confessa ter cometido um assassinato. O padre Logan, face às regras da Igreja, não pode revelar às autoridades o assassino, mesmo quando ele próprio se torna suspeito do crime...
Hitchcock preferia actores mais seguros e carismáticos como James Stewart ou Cary Grant. Mas  a verdade é que Montgomery Clift revelou-se um actor absolutamente notável na composição de um padre dizimado pela dúvida moral e pelo amor de uma mulher (o título brasileiro faz justiça à essência do filme: "A Tortura do Silêncio").
Clift dá ao filme um verdadeiro clima de suspense e intriga, num ambiente sombrio de crescente angústia. Não é por acaso que "I Confess" era o filme preferido da geração da Nouvelle Vague francesa. Este é um dos filmes de Hitchcock mais densos e frios. E raramente o realizador terá feito tão perturbadores "close-ups" do rosto de um homem como aqueles que fez com o belo e inquietante rosto de Montgomery Clift. O actor contava uns jovens 33 anos quando fez este filme e a sua carreira terminou abruptamente aos 45 anos de idade (em 1966).
"I Confess": um clássico para rever sempre.

1 comentário:

Bússola do Terror disse...

Aliás, o que parece ter feito a carreira dele entrar mais em decadência foi exatamente o acidente de carro que ele sofreu, deixando marcas no rosto dele.
A partir dali, ele entrou em depressão e começou a se afundar no álcool e nas drogas.
Foi um dos antigos galãs hollywoodianos que tiveram o fim mais trágico.