Durante exactamente 30 anos (de 1960 a 1990), o realizador Federico Fellini apontava diariamente num caderno, os seus sonhos e pesadelos, numa espécie de antologia onírica que muitas vezes servia de inspiração para os seus próprios filmes. Os apontamentos eram em forma de texto, desenhos e pinturas, com personagens, rostos, figuras, cenários, no fundo, um imaginário excêntrico, bizarro e surreal (como muitos dos seus filmes).
Fellini, falecido há 15 anos, dizia mesmo que vivia duas vidas, ou seja, a vida real propriamente dita, e a vida dos sonhos. Chegou a sonhar com personalidades da vida artística como Ingmar Bergman, Orson Welles, Salvador Dalí, Pablo Picasso, e protagonistas de alguns dos seus filmes, como Anita Ekberg ou Marcello Mastroianni. A sua devoção às experiências oníricas era desmesurada, mas essa devoção tinha uma vertente prática bastante útil: ajudava-o a conhecer melhor a psicologia humana, os seus mistérios e enigmas. Fruto desse intenso trabalho de anotações e ilustrações durante três décadas, surgiu em Itália há um ano, o "Livro dos Sonhos" de Fellini.
Como base nesse livro e nos sonhos e pesadelos fellinianos, a Academia de Cinema de Los Angeles vai homenagear o autor de "La Dolce Vita" com uma grande exposição de 100 desenhos e ilustrações do realizador italiano. A exposição vai ter 8 secções temáticas diferenciadas, sendo que uma das mais interessantes é aquela dedicada à sua musa, companheira e actriz, Giuletta Masina (protagonista da obra-prima "A Estrada"). Noutras, surgem plasmadas as suas fantasias nocturnas eróticas, com bizarras e volumosas mulheres em poses sensuais e provocadoras em cenários idílicos.
Em suma: o sonho ao serviço da arte.
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