"Ensaio Sobre a Cegueira” permite tantas leituras que a toda hora me pego conferindo se este ou aquele viés da história estão contemplados no que tenho filmado. Cada vez que me asseguro de um ponto, outras quatro dúvidas aparecem.
Esta é apenas uma passagem do blogue "Blindness" que o realizador brasileiro Fernando Meirelles manteve durante a realização do filme baseado na obra "Ensaio Sobre a Cegueira" de José Saramago. O blogue mantém-se online neste sítio. Li-o quando soube da adaptação ao cinema do livro, mas devido à longa ausência de actualizações, acabei por ser um leitor muito irregular...
Já é prática relativamente comum os realizadores produzirem informação sobre o desenrolar das filmagens e produção de um determinado filme. Na era da globalização cultural, da comunicação digital e inerente velocidade de informação, é imperioso que os artistas desenvolvam estratégias actualizadas de relacionamento com o público. Nada melhor do que criar um blogue pessoal no qual seja possível fornecer informações sobre o ritmo de criação do filme, numa espécie de diário dos acontecimentos. O problema é que as actualizações nem sempre são frequentes, dado o natural escasso tempo disponível dos realizadores. É o caso do realizador Darren Aronofsky que desde que ganhou o Leão de Ouro do último Festival de Veneza com o filme "The Wrestler", nunca mais actualizou o seu blogue.
Regressando a Fernando Meirelles: o interessante desde cineasta é que, para além da escrita para o suporte digital que era o blogue acerca da produção de "Blindness", acabou também por editar um livro a que chamou, sem surpresas, "Diário de Blindness" (Edições Quasi). Trata-se de um livro que aborda as rodagens diárias da ambiciosa adaptação ao cinema do livro de Saramago. Como é natural, o livro, de apenas 96 páginas, é um prolongamento informativo dos conteúdos constantes no blogue. A diferença é que os textos estão mais escorreitos e desenvolvidos, com um cuidado na escrita que ultrapassa a leviandade dos textos diarísticos. Na verdade, não deixa de ser um óptimo complemento informativo em relação ao filme e ao próprio livro de Saramago, uma vez que Meirelles revela segredos das filmagens, dúvidas artísticas (como aquela que encabeça este post), explica processos criativos, relaciona a adaptação com a obra literária e disserta sobre o seu relacionamento com o próprio escritor.
Seria bem interessante que começassem a florescer livros como este no mercado editorial.
2 comentários:
Victor, você sempre a frente. Fiquei encantada com seu post. Muito informativo, adorei saver do blof do Fernando Meirelles sobre o filme. E se ele ler seu comentário tenho certeza que o acrescentaria ao livro.
Beijos.
Leia adorei saber do blog. Desculpe-me estou ceguita. hhehehe
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