quinta-feira, 11 de outubro de 2012

Renato Seabra num filme de Lumet

Renato Seabra está por estes dias a ser julgado em Nova Iorque pelo homicídio do jornalista Carlos Castro. Um jurí constituído por onze jurados vai decidir o veredicto final: culpado ou inocente. Este caso faz-me lembrar um dos melhores filmes da história do cinema: "12 Homens em Fúria" (1957) de Sidney Lumet.
No filme de Lumet, 12 homens, com personalidades e formações díspares, cujos nomes não conhecemos, fazem parte de um jurado que se reúne numa sala do tribunal para decidir qual a sentença a aplicar a um jovem que é acusado de ter assassinado barbaramente o pai. A pena máxima prevista para o réu é a condenação à morte. No início da reunião, onze jurados estão convencidos da culpabilidade do réu. Apenas um, o jurado nº8 - interpretado por um enorme Henry Fonda - levanta dúvidas sobre a culpa do jovem e tenta convencer os demais da sua tese...
Dado que não há unanimidade entre os jurados e todos têm opinião diversa sobre os acontecimentos do crime, vão ocorrer conflitos nas negociações e lutas verbais acérrimas, para encontrar a verdade. Aos poucos, os jurados vão mudando de posição e o ambiente torna-se incrivelmente tenso e emotivo. A cada nova votação para alcançar um veredicto, a tensão cresce até ao desenlace final dramático... No fim do filme, nunca saberemos se o jovem era realmente culpado ou não, mas o que este filme, brilhantemente filmado e adaptado por Sidney Lumet, vem trazer à baila é a fragilidade e o poder da justiça, a possibilidade de juízos morais dúbios, o preconceito como entrave à verdade (tal como diz um dos jurados: "Os preconceitos ocultam sempre a objectividade da verdade").
A sala onde os jurados discutiam, "em fúria", o veredicto final - qual ringue de combate - era, igualmente, um microcosmos da sociedade americana da época, com homens com idades diversas e diferentes visões do mundo, de condições sociais e culturais muito distintas, que se servem daqueles momentos para exercer um poder que o Estado lhes concedeu.
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Imagino que o julgamento de Renato Seabra possa ter circunstâncias análogas à história de "12 Homens em Fúria". Resta saber se os jurados (homens e mulheres de várias idades) terão tantas dúvidas e preconceitos como no filme de Lumet para chegar ao veredicto final. Mais uma vez, a realidade mistura-se com a ficção (ou vice-versa).
 

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