domingo, 27 de outubro de 2013

Na morte de Lou Reed


Hoje morreu Lou Reed.
Figura icónica do rock, Lou Reed foi para mim o génio que revolucionou o rock com os seminais The Velvet Underground (apadrinhados por Andy Warhol). Foi com esta banda, em Nova Iorque, que Lou Reed marcou toda uma geração e influenciou várias outras de ouvintes e de músicos e guitarristas.
Neste dia e nos próximos, muitas homenagens irão acontecer, sobretudo ao som dos seus hinos "Perfect Day" ou "Walk on The Wild Side". Mas na carreira a solo de Reed há um disco que poucos conhecerão mas que se tornou num disco maldito da história do rock (e se formos rigorosos, de toda a história da música).
Lou Reed, uns anos após o fim dos Velvet Underground, em 1975, grava essa infâmia e embuste (para uns) ou obra genial e visionária (para outros tantos): "Metal Machine Music" (incluo-me no segundo grupo de opiniões).

Num aspecto todos estão de acordo: trata-se de um registo radical, concebido e gravado sem concessões, feito à base de feedback de guitarra e de manipulação de ruído branco. Reed disse que gravou o disco "completamente pedrado". Acredito. Já foi considerado o pior álbum de rock de sempre e já foi incluído na lista dos discos mais inovadores de sempre. Em que ficamos?

Na verdade, o disco vale sobretudo como testemunho conceptual e experimental, mais do que estritamente musical. Deve tanto ao rock de guitarras dos Velvet como aos princípios estéticos e teóricos de La Monte Young, de John Cage ou dos concretistas Pierre Schaeffer e Pierre Henry. Deve também à teoria dos "intonarumori", as célebres máquinas de produzir ruído industrial do futurista italiano Luigi Russolo. E é um disco que influenciou bandas tão diversas como os Sonic youth, Glenn Branca ou Throbbing Gristle, Merzbow e todos os subgéneros do noise, do industrial e do electro-acústico. Ouvi-lo na íntegra é deveras uma experiência exigente e dura, muito diferente de ouvir uma canção de Lou Reed do álbum "Transformer" (1972).

Mas a verdade é que, ao longo destes 30 e tal anos, não acredito que alguém, alguma vez, tenha ouvido "Metal Machine Music" do princípio ao fim sem ter tido lesões cerebrais irreversíveis. Mas quem sabe, tratar-se-ia de uma experiência limite no teste à capacidade auditiva humana. Não eram os Einstürzende Neubeutan que defendiam que "é preciso ouvir com dor"?

O disco já foi apresentado ao vivo por diversas vezes, como demonstra esta actuação do colectivo de música experimental Zeitkratzer com a própria presença de Lou Reed (versão mais soft do que no disco):

2 comentários:

Rui Gonçalves disse...

Para mim genial foi a forma como ele conseguiu sintetizar o volume, o ruído e a eletricidade que invade o álbum, no corpo de algumas das suas melhores canções. Quanto ao disco em si, provavelmente, não se conseguirá escutar do princípio ao fim.

Rato disse...

Concordo aí com o Rui: nunca consegui escutar o album até ao fim - de todas as vezes que o tentei os meus ouvidos queixaram-se. E eu prezo muito os meus ouvidos... Mas o homem fez coisas muito boas, até bem melodiosas (a faceta que mais gosto)