sábado, 14 de junho de 2008

Livros a mais ou leitores a menos?


Apesar da crise económica, apesar de Portugal ter baixos níveis de hábitos de leitura, a indústria livreira e o seu respectivo mercado, valem cerca de 530 milhões de euros (o último grande negócio foi a compra da editora Dom Quixote pelo grupo Leya). Para um pais com a dimensão de Portugal (dimensão geográfica, editorial ou cultural), não deixa de espantar o frenético dinamismo editorial existente. A título de exemplo, em 2007, foram publicados cerca de 40 livros por dia, ou seja, 1250 por mês e cerca de 15 mil num só ano. Há uma desproporção ente a oferta editorial e a procura de leitura, uma vez que as estatísticas levadas a cabo pela Marktest, referem que 77% dos portugueses lê menos de um livro por ano e apenas 17,9% lê dois livros por ano. Cada vez mais o livro é entendido como um produto meramente comercial, vendido como se vendem batatas ou latas de ervilha. Os bestsellers pulverizam as listas de venda e transformam-se no objectivo primordial dos grandes grupos editoriais. As estantes das livrarias enchem-se de centenas de títulos que pretendem emular o sucesso de obras como “O Segredo” e “O Código Da Vinci”.
A ideia de negocio puro e duro ergue-se no cenário livreiro português. Sobretudo desde que, no início deste ano, a Leya irrompeu como um grupo livreiro aglutinador e economicamente poderoso, ao ponto de ter exigido à organização da feira do Livro de Lisboa, um espaço só para si (daí a polémica e o atraso na abertura da Feira). Perante este cenário, não é de espantar que um dos editores portugueses mais experientes – Nelson de Matos, ex-líder da Dom Quixote que editou Cardoso Pires ou Saramago – tenha saído de cena para regressar à edição em formato intimista, criando uma pequena e independente editora, a Edições Nelson de Matos. Com tempo para ler os manuscritos e editá-los em limitadas edições de 1000 a 1500 exemplares. Sem pressões de outra ordem que não as relacionadas com o verdadeiro valor literário. Um regresso ao tempo em que Nelson de Matos podia fruir o gosto pela descoberta e pela aposta em autores menos conhecidos mas de reconhecida qualidade.

1 comentário:

Rolando Almeida disse...

Olá Victor,
O problema continua a ser alguma falta de diversidade, muito embora me pareça que o mercado está bem melhor que há uns anitos atrás.
abraço
Rolando