Robert Wyatt é um extraordinário songwriter inglês que fez parte dos lendários Soft Machine, banda fulgurante do rock psicadélico e progressivo dos anos 60 e 70. Um fatal acidente em 1973 confinou-o para sempre a uma cadeira de rodas (ficou paraplégico). Não foi por causa disso que deixou de fazer música, lançando-se numa irregular mas muito fértil carreira a solo. Ao longo dos anos trabalhou com Henry Cow, David Gilmour, Elvis Costello, Marc Ribot, Björk ou Carla Bley, e alguns dos seus discos são verdadeiras pérolas como "Old Rottenhat" (1985), "Dondestan" (1998), "Cuckoland" (2003). Tal como o seu mais recente trabalho, "Comicopera", editado em finais de 2007. Na altura em que saiu ouvi-o apenas uma vez e não me despertou particular interesse. Achei até estranho que tivesse sido escolhido, por muita imprensa especializada (portuguesa e estrangeira), como um dos melhores discos editados em 2007.
Passado quase um ano, voltei a ouvir "Comicopera" e percebi que na primeira audição tinha subvalorizado, enormemente, o trabalho de Wyatt. Com colaborações de Phil Manzarena (Roxy Music), Paul Weller e do grande Brian Eno, "Comicopera" contém algumas das mais inspiradas canções do músico de Bristol. Notáveis canções cantadas em várias línguas (inglês, italiano, espanhol) no seu registo vocal inconfundível (e tecnicamente impressionante - a sua tessitura vocal atinge 5 a 6 oitavas). Dividido em três partes, o cantor de longas barbas fez em "Comicopera" um magnífico trabalho de cozedura sonora, com melodias de puro encantamento (vide "Just As You Are" ou "Del Mundo") e estruturas instrumentais de grande rigor estrutural. Sem dúvida um grande disco de 2007, de 2008 e de qualquer ano.
2 comentários:
Estou quase de acordo com tudo o que o Victor Afonso escreveu, mas falta uma referência essencial. Claro que depende muito do gosto de cada um, mas «Rock bottom» é uma das obras-primas absolutas do século XX (naquela lista a que ninguém liga mas todos têm uma, fará, para mim, sempre parte dos 10 melhores álbuns de sempre). Quanto ao «Comicopera» também não aderi imediatamente, mas fui mais rápido a reagir às esplendoras canções de Wyatt. Um abraço.
(...) às esplendorosas (...)
Malditos comentários não revistos!
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