Se o panorama cinematográfico anda morno ou até parado em termos de novidades, nada melhor do que lançar um comunicado estrondoso para abanar o sistema: segundo notícias recentes, o realizador George Lucas, autor da trilogia "Star Wars", pretende recorrer à tecnologia digital de última geração para concretizar o seu novo filme. Até aqui nada de novo - não foi o que fez o seu amigo James Cameron com "Avatar"?
Sim, mas a ambição de Lucas é bem mais - como dizer - ousada. Pretende fazer "renascer" estrelas do cinema clássico já falecidas e integrá-las num filme actual. E Lucas deu um exemplo: "Seria fantástico ter lado a lado Orson Welles e Barbara Stanwyck com actores da actualidade" (já tinha havido uma experiência efémera, há uns anos de recuperação da imagem de Humphrey Bogart para uma cena de um filme esquecido, mas este projecto de Lucas é outra história...). Para concretizar esta ideia, o realizador diz que irá "comprar os direitos cinematrográficos" dessas estrelas.
A mim não só não me parece fantástico como julgo tratar-se de uma autêntica aberração. Qual o intuito e contributo artístico de ter a imagem digital de Orson Welles a "contracenar" com (por exemplo) Brad Pitt num filme actual? Ou de James Stewart? Ou de Catherine Hepburn? Não vejo qual o interesse, a não ser pelo lado manifestamente comercial da ideia ou numa espécie de tentativa desesperada de querer apresentar uma "salvação criativa para o cinema".
Para além disso, a utilização da imagem de um artista morto levanta não só questões de ordem legal, como também moral e ética. E tenho quase a certeza que Orson Welles, caso pudesse manifestar-se, estaria completamente contra este propósito de George Lucas.
7 comentários:
Muito má ideia. O sr. Lucas já "sossegava"...
subscrevo inteiramente a sua estupefacção e indignação.
Sim, se tivesse quieto...ele e o cameron.
Ridículo. Mas acho que vai alguém o fará. Afinal trata-se de dinheiro...
Mas como todas as coisas ruins, pode ter algo de positivo inerente. Que seria gerar um maior interesse nos clássicos nos mais incautos. De qualquer das formas seria só uma boa desculpa para fazer dinheiro.
Com isto lembrei-me da, ainda fresca, tirada do Harrison Ford no Conan a propósito da possibilidade de um novo Indiana Jones: "It would be more than fun [$$$]"
Sim, sim, mas ainda assim, acho que era fabuloso o Tarantino fazer um filme nesses pressupostos, com o John Wayne ou o Lee Marvin, eheh
Lucas a relembrar-me porque é o maior senil de Hollywood.
O Lucas vê o cinema, não como uma arte, mas como uma forma de fazer dinheiro. Para ele, trabalhar numa repartição de finanças, num conselho de administração duma qualquer empresa ou na cadeira de realizador é igual, está lá para ganhar o seu... o pior é que tem conseguido, mas a culpa não é dele, mas sim de quem alimenta a máquina, ou seja, de quem vê os seus filmes, compram os seus dvd's ou aderem ao seu merchandising.
Pessoalmente não o critico, mas também não contribuo, pelo menos directamente, para lhe encher os bolsos.
No fundo penso que se trata de um uma questão de opções, e o Lucas optou pela parte monetária em detrimento da via verdadeiramente artística e parece-me que vive muito bem com isso.
Secalhar enquanto o Béla Tarr ou o Sokurov têm que se contentar ao almoço com um prato de bifanas acompanhadas com batatas pála-pála, o Lucas tem como maior preocupação a escolha do melhor pinot noir para degustar o seu suculento filé mignon. A vida nem sempre aparenta ser justa nestas coisas.
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