quarta-feira, 2 de fevereiro de 2011

Huxley e Ridley Scott?


Durante uns meses foi um mero rumor. Agora parece que é oficial: Ridley Scott, o realizador de um dos mais significativos filmes de ficção científica de sempre - "Blade Runner" (1982) com base no livro homónimo de Philip K. Dick, vai adaptar para cinema outro clássico da literatura futurista - "O Admirável Mundo Novo" de Aldous Huxley.
O cineasta revelou que foi Leonardo DiCaprio quem desafiou Scott a avançar com esta arriscada adaptação cinematográfica. O realizador de "Alien" e "O Gladiador" disse que é um projecto ainda embrionário e de difícil adaptação, dada a complexidade da obra de Huxley.
Não admira esta apreensão do realizador, uma vez que "O Admirável Mundo Novo", livro originalmente editado em 1932, antecipou uma série de desenvolvimentos tecnológicos e sociais que são realidade presente, como a inseminação artificial, a neurolinguística, o predomínio da tecnologia sobre o conhecimento, a eutanásia, a prevalência do colectivo em detrimento do individual, o crescimento desumanizado do progresso científico e material, ou o poder do estado de pendor totalitário disfarçado de democracia.
Huxley ficou famoso por essa criação de uma espécie de sociedade distópica, caracterizada por um regime opressivo, controlador e autoritário que elimina a identidade individual em prol de um suposto "bem colectivo". Um mundo altamente perigoso e distorcido, no qual valores como família, arte, ciência, liberdade ou cultura, são suprimidos em nome de um ideal comum propagandeado pelo estado controlador.
Lembro-me que li primeiro "1984" de Goerge Orwell e só depois li a obra de Huxley (que tem o segundo capítulo - "O Regresso ao Admirável Mundo Novo", menos interessante) e senti, em ambos autores, fortes conexões na crítica social e no modo de interpretar o mundo através da sátira política e de um fortíssimo sentido de antecipação histórica. Agora que, pelos vistos, Ridley Scott vai adaptar um dos livros de ficção científica fundamentais da primeira metade do século XX, fica a pergunta: conseguirá o realizador perturbar-nos com esta adaptação cinematográfica com a mesma eloquência formal e estética com que o fez com o clássico incontornável "Blade Runner"?

8 comentários:

Rato disse...

Óptima notícia! O "Admirável Mundo Novo" foi um dos livros que marcaram a minha adolescência nos anos 60, pelo que fico desde já muito curioso pela adaptação do Scott

João Ruivo disse...

Parece-me uma óptima notícia!
Conheço um pouco da obra de Huxley e de Orwell e também há tempos estabeleci essa comparação lá no meu espaço (afinal tiveram uma relação "mestre e aprendiz"). Foi precisamente quando li o 1984 e o Admirável Mundo Novo que me apercebi das semelhanças entre as histórias, ambos caracterizadores de um mundo (então muito) futurista que, de formas diferentes, se aproximam do mundo que temos hoje. (um cartoon muito interessante relativamente a isso: http://www.recombinantrecords.net/docs/2009-05-Amusing-Ourselves-to-Death.html )

Curiosamente também li recentemente Do Androids Dream of Electric Sheep? (já muito antes havia visto Blade Runner) e fiquei a admirar ainda mais Ridley Scott por aquela brilhante adaptação. Só se esperam coisas boas se isto seguir em frente (embora espere ver neste filme um Scott mais ao estilo introspectivo de Blade Runner do que tenho visto nos seus filmes mais recentes).

joao amorim disse...

já tinha visto algumas imagens do di caprio, quando recentemente li o livro de huxley, e já na altura fiquei interessado...

quanto à comparação entre as duas obras, a mim parece-me que o admirável mundo novo é mais pessoal, enquanto o 1984 é mais político, na medida em que no primeiro existe uma forte reflexão felicidade vs liberdade, contendo ainda uma jornada (do selvagem) de auto-conhecimento... de qualquer das formas são dois belíssimos e obrigatórios livros...

cumps

Anónimo disse...

Ora agora temos o "clássico incontornável". Um apanhado de lugares-comuns e frases feitas deste blog dava para uma tese de doutoramento!

Unknown disse...

Se este blogue fosse objecto de uma tese de doutoramento, ficaria muito satisfeito, pelos melhores ou piores motivos.

Agora o anónimo pode continuar a dizer "apanhado de lugares-comuns e frases feitas".

Pedro Arruda disse...

Boa, gostei muito desse livro.

Anónimo disse...

Este livro tá cheio de peidos e bufas

DiogoF. disse...

Há muito que anseio pela notícia desta adaptação, mas fico apreensivo com a escolha de Scott.