Se há filmes que podem ser considerados marcantes e pertencentes a toda uma geração, este é um deles. Wim Wenders realizou esse filme de uma geração. E há poucos realizadores, há poucos filmes que podem reclamar esse epíteto. O filme chama-se "As Asas do Desejo" (1987) e marcou toda a geração dos anos 80. Não conheço ninguém da minha geração que, depois de ter visto o filme na altura da estreia, não tivesse ficado marcado para sempre. É um filme sobre anjos. Sobre o amor de um anjo pelas coisas terrenas, por uma bailarina (angelical, diria). É um filme sobre Berlim, uma Berlim lúgubre e decadente, poiso de artistas da vanguarda, cenário imagético. De criatividade febril. Mas é um filme sobre qualquer otura cidade que se queira imaginar.
"As Asas do Desejo" revela também uma Berlim a duas cores, como Wenders conseguiu tão bem retratar: o preto e branco do olhar dos anjos, e a cor da vida terrena (ou seria o contrário?). O filme de Wenders é uma alegoria fantasista sobre os desejos do homem, sobre a natureza da eterna insatisfação humana.
Nesta sequência, antológica, os anjos assistem a um concerto de Nick Cave & The Bad Seeds. Um concerto em que Cave canta uma das suas melhores canções de sempre: "From Her to Eternity" (variação do título de um grande filme: "From Here to Eternity", de Fred Zinnemann, de 1953).
O anjo observa, impávido mas prazenteiro, ao decorrer da acção: a bailarina, de vermelho, frui o espectáculo que Cave dá no palco (animalidade ainda remanescente da época dos Birthday Party). É uma das melhores sequências de concerto ao vivo jamais filmadas para cinema (e estou a considerar o "Control" sobre os Joy Division). É poesia pura, visual e sonora. Em estado visceral e intenso. Inesquecível.
1 comentário:
esse está no meu top 15 (sim vou tendo um top 15 :)
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