quinta-feira, 12 de maio de 2011

A viagem sonhada a Cannes



Hoje tem início a 64ª edição do Festival de Cinema de Cannes. O mais competitivo, mediático e afamado festival de cinema do mundo.

Existem os prestigiados festivais de Veneza, Berlim, Sundance, mas nenhum se compara, em importância e glamour, ao de Cannes. E não há realizador no mundo, novato ou veterano, que não gostasse de ter os seus filmes a concurso neste festival ou, claro, ganhar a Palma de Ouro. Claro que Cannes é, também um mundo inesgotável de negócio (que o diga Paulo Branco) e de comércio, mas isso faz parte da essência de qualquer festival. Há também frivolidades andantes, figuras públicas e estrelas de pacotilha que se pavoneiam pela carpete vermelha para verem e serem vistas. No entanto, o cerne de Cannes sempre foi e será o cinema, os filmes, os artistas. Isso é que fica para a posteridade.

Poucos serão os cinéfilos que não gostariam de poder assistir ao festival. Sentir o frémito e as emoções resultante do visionamento dos grandes filmes a concurso, partilhar os aplausos ou os apupos aos filmes, assistir às concorridas conferências de imprensa com realizadores e actores, sentir o ritmo frenético da exibição dos filmes em catadupa, as várias secções competitivas, a entrega dos prémios, etc.

Foi o que tentei fazer um dia: ir a Cannes - através de um concurso nacional. Corria o ano de 1990 e o concurso, designado, "Sê um Crítico de Cinema e Vai a Cannes!" (cito de memória) era dinamizado pelo Instituto Português da Juventude. A coisa funcionava de forma muito simples: qualquer jovem com menos de 25 anos podia participar; bastava ver um filme que na altura estivesse em cartaz e escrever uma crítica ao mesmo segundo algumas regras pré-estabelecidas. Os autores das 20 melhores críticas nacionais eram seleccionados para irem a Lisboa verem outro filme, outra crítica e, a melhor considerada pelo júri, tinha como prémio uma viagem ao festival de Cannes durante dois dias (ou três, já não me recordo) com todas as despesas pagas (tempos áureos, hoje já não existem estes prémios chorudos!).

Fui seleccionado, a nivel nacional, para a lista dos 20 participantes de Lisboa com a crítica ao filme "Presumível Inocente" (1990) de Alan J. Pakula (com Harrison Ford), um interessante thriller que marcou aquele ano de cinema. Lá fui a Lisboa para a competição final, sempre com Cannes em vista. Cheguei numa sexta-feira. Logo nessa noite, eu os restantes concorrentes decidimos assistir a uma sessão num sítio óbvio, a Cinemateca. Recordo-me que vimos um clássico mediano do Raoul Walsh. O grupo de concorrentes era constituído por jovens estudantes de todo o país, e a única coisa em comum entre todos era a paixão pelo cinema. No sábado seguinte, logo de manhã, eu os outros 19 participantes, fomos visionar o filme para a crítica final que iria decidir quem iria a Cannes. Era um filme tão medíocre e comercial que já nem me lembro que objecto era aquele. As críticas foram entregues ao júri que deliberou no dia seguinte. Quem ficou em primeiro lugar foi um jovem de Lisboa que ganhara o privilégio de conhecer Cannes. Eu fiquei em 5º ou 6º lugar e tive direito a um prémio de consolação: um bilhete para assistir ao Estoril Open! Como não gosto de ténis, despachei logo o dito cujo para outra pessoa interessada. Ir ao Estoril Open em vez de ir a Cannes era consolação para quem quer que fosse?

Foi a única vez que estive perto de ir a Cannes, por intermédio de um concurso juvenil, imagine-se. Talvez um dia programe umas férias em Maio na Côte d'Azur para servir de pretexto para conhecer o festival. Talvez.

4 comentários:

Anónimo disse...

Parece-me que só podem ir profissionais.

Bruno Cunha disse...

Pelo menos tentaste. Um dia tentarei a minha sorte.

Abraço
Frank and Hall's Stuff

Anónimo disse...

Johnny Guitar

é curioso como por vezes certas pessoas ou situaçoes alteram o percurso da nossa vida. Situaçoes ou pessoas que nos impedem de agir por mais bons que sejamos ou pelas nossas melhores intençoes.
Gostei de ler a sua pequena historia

Abraço

PortoMaravilha disse...

Olá Víctor,

Tentei escrever antes, mas ia sempre abaixo.

O diário Libération de 11 de Maio tem a originalidade de ter sido escrito por 40 cineastas.

Comentem a actualidade com referências a filmes históricos ( e fotos destes ).

Penso que é uma edição a ler para quem gosta de cinema ( Não sou acionário do Libé ).

Está realmente muito uma edição muito boa, respeito a foto a preto e branco tal como o cinema a preto e branco.

Outra info : Hoje pareço a AFP : O Canal Franco Alemão "Arte", é um canal aberto, apresenta quinta e sexta desta semana um folhetim construido a partir do filme "Les Mystères de Lisbonne" . Começa às 20h30 hora de Paris.

Nuno