Só hoje vi "A Árvore da Vida" de Terrence Malick. Como não tenho tempo para dissertações longas (na blogosfera li autênticos ensaios teóricos sobre o filme), limito-me a expor as minhas impressões telegráficas:
- No cômputo geral, creio que é inegável que estamos perante um filme do qual emana uma sensibilidade muito peculiar e que desafia o olhar comum do espectador.
- Parece-me também óbvia a influência directa do universo estético e temático de Kubrick.
- Julgo tratar-se de uma obra que precisa de alguns anos de amadurecimento para perceber se se trata de uma obra-prima visionária ou de um filme pretensioso que se esgota da sua própria linguagem estética.
- Não me admira que o projecto deste filme tenha demorado mais de dois anos a concluir: a montagem deve ter sido um trabalho extremamente intrincado, complexo e meticuloso.
- A ambição do realizador em construir uma meditação visual sobre a vida, o universo, a morte, as relações familiares, a infância e o amor é desequilibrada. A título de exemplo: apesar de muito bem conseguida visualmente, julgo que a sequência da criação do universo deveria ter ficado de fora da montagem final.
- Apesar da fotografia do filme ser excelente (demasiado "perfeita", diria), há um exagero na utilização de imagens de estética "postal ilustrado": contém dezenas e dezenas de planos com o sol a brilhar com raios atrás de árvores, de edifícios e personagens. Parece que Malick se preocupou em demasia na beleza plástica das imagens em detrimento da história que acaba por não ter a devida profundidade narrativa e dramática.
- Há sequências maravilhosas, extremamente bem filmadas e montadas; outras há que são redundantes, confusas e pretensiosas. Fiquei com essa sensação dúbia no final.
- Percebo o alcance da visão mística e quase metafísica de Malick com a história central do filme, mas acaba por se tornar previsível e sem surpresas. Os últimos 10 minutos resvalam para uma certa confusão entre sonho, memória e realidade.
- O trabalho de mistura e edição de som é magnífico. Idem para a selecção musical, na qual não brilha apenas o compositor Alexandre Desplat mas também clássicos como Brahms, Berlioz ou o contemporâneo Ligeti. A música sempre foi um elemento fundamental em toda a obra de Malick.
- As interpretações são de grande nível, e não é só Brad Pitt que brilha no papel do pai autoritário com as crianças. Já a presença de Sean Penn me parece meramente comercial e subaproveitada em todo o filme. Creio que não tem sequer uma linha de diálogo em todo o filme, limitando-se a vaguear pelos cenários...
- Em suma, "A Árvore da Vida" é uma obra de grande fôlego visual, do tamanho da Humanidade, com um notável trabalho de realização, montagem e fotografia, mas que ainda assim, necessita de um segundo ou terceiro visionamento (daqui a algum tempo) para comprovar se supera as suas inerentes fragilidades (veremos se o tempo atenua ou amplifica essas fragilidades...).
- Concordo com a classificação que um amigo meu atribuiu: 7/10
9 comentários:
Sean Penn gravou varias cenas para o filme mas elas acabaram sendo cortadas na edição final. Malick planeja lançar uma nova versão do filme com cenas excluidas que duraria mais de 6 horas, mas eu duvido que isso chege a acontecer...
É isso mesmo, identifico-me bastante com a tua opinião. O filme é um espectáculo visual e sonoro ímpar, mas que peca infelizmente na sua condução narrativa. Ainda assim creio estarmos perante um novo 2001: Odisseia no Espaço, pelo menos gostava que assim fosse - o tempo o dirá.
abraço
Identifiquei-me muito com este texto. A experiência que tirei do filme foi muito similar.
Ao terminar de ver e ainda a digeri-lo não conseguia formular uma opinião sólida sobre o mesmo.
O filme tem momentos grandiosos ninguém pode negá-lo é estéticamente muito perfeccionista, mas por outro lado na sua tentativa de ser transcendental, penso que não o consegue.
Gostei do filme é bastante bom e um dos produtos mais interessantes que vi este ano. Necessita sem dúvida de mais uma ou duas visualizações. O tempo tal como já foi referido será crucial para o avaliar mas se tivesse de responder hoje diria que nunca virá a ser o que o 2001 de Kubrick é, claro que posso estar enganado.
Jack: era perfeitamente escusado este comentário insultuoso.
Eu não fiz crítica, emiti apenas a minha opinião sobre o filme como qualquer espectador. Peço desculpa se não corresponde à tua opinião, mas é para o debate sadio de opiniões que se inventou uma coisa chamada "democracia".
Como é óbvio vou continuar a escrever sobre os filmes que me apetecer, dizendo bem ou dizendo mal, mas apresentando argumentos. Coisa que tu não fizeste para contrariar a minha opinião.
johnny guitar
desculpe victor mas ja que fala em democracia nao deveria remover o comentario do tal jack. Pois eu fiquei curioso em saber o que ele escreveu. Não "limpe" os comentarios por mais ordinarios ou negativos que sejam, isso tambem evidencia a qualidade do blogue e o espaço á critica construtiva.
nao vi o filme
gostei do que li
abraço
Johnny Guitar: eu não removi a mensagem do Jack. Nunca eliminei qualquer opinião negativa ou até ofensiva para comigo ou este blog. Deve ter sido ele próprio que, arrependido, a removeu. E se foi ele que o fez, fez muito bem.
"Esta mensagem foi removida pelo autor." autor do comentário, tá visto q o tal jack se arrependeu e envergonmhado coitadinho removeu o comentário.
Nobre amigo,
Sugiro a leitura desse ensaio brilhante.
http://martimvasques.blogspot.com.br/2013/08/as-maravilhas-de-terrence-malick.html
A minha opinião, embora não tenha solicitado (haha), é que o filme é maravilhoso. Daria nota acima de 9 facilmente.
Abraços!
Doni
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