Hoje a comunicação social fez eco da notícia da praia artificial de Mangualde, uma pequena cidade do interior do país a 100 km da verdadeira costa. A praia tem não sei quantas toneladas de areia, não sei quantas toneladas de água salgada e até possui um cenário de céu azul e nuvem a servir de horizonte.
Isto fez-me lembrar o filme "The Truman Show" (1998) de Peter Weir, com um soberbo Jim Carrey no papel de um malogrado homem que desconhecia viver num mundo de total ficção num contexto de reality show televisivo. A partir de um determinado momento, Truman desconfia da "perfeição" da sua aparente cidade e resolve conhecer o resto do mundo, apesar de ser dissuadido a tal pela sua alegada família. Então, num dia parte com o seu pequeno barco à procura desse novo mundo e, não sem espanto desesperado, bate contra um cenário gigantesco que representava o céu azul (na imagem). Aí toda a sua vida se desmoronou, e compreendeu que toda a sua vida tinha sido artificial, montada numa espécie de super-produção televisiva moderna da "Alegoria da Caverna" de Platão.
Ora, com a praia artificial de Manteigas, acontece um pouco do mesmo: a praia também possui os elementos aparentemente reais mas essa "realidade" desmorona-se quando olhamos para o horizonte: a praia tem montado um cenário praticamente igual ao do filme do Peter Weir. E há outra diferença significativa: enquanto que Truman desonhecia a grotesca realidade da sua vida e do seu mundo à volta até ter batido contra o cenário que o aprisionava, os turistas que usufruem da praia artificial, vêm do mundo real para um mundo artificial, de ficção, e de forma totalmente consciente.
E chegamos à questão eterna: a realidade imita a ficção ou é o inverso?
4 comentários:
Por acaso pensei exactamente nisso quando vi a reportagem no Telejornal: Olha o The Truman Show...
Um abraço e obrigado por este seu blogue! Delicioso!
Não é Manteigas é Mangualde. No texto trocaste.
É verdade, troquei. Obrigado Américo.
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