Um dia, o famoso dramaturgo e escritor Samuel Beckett, autor de uma das mais revolucionárias peças de teatro do século XX ("À Espera de Godot"), resolveu aventurar-se pelo cinema. E fê-lo de forma esteticamente ousada, fazendo um curto filme experimental assumidamente mudo em pleno ano de 1965. Para tal, recrutou um génio do período dourado do cinema mudo: Buster Keaton (a preferência de Beckett era Charles Chaplin). E pediu ao realizador Alain Schneider para realizar o dito filme, ainda que sob total orientação artística de Beckett.
O filme em questão chamou-se, singelamente, "Film" e é baseado no princípio do filósofo irlandês Bishop Berkeley: "Ser é ser percebido". Buster Keaton interpreta uma espécie de figura fantasmagórica de um velho (de quem só se vê o rosto no final) que deambula pelas ruas, em total desnorte, até chegar a um quarto em ruínas... Durante os 17 minutos que dura esta curta-metragem minimalista filmada no verão de 1964 em Nova Iorque, não existem diálogos nem som.
Um ano depois da participação de Buster Keaton em "Film", o actor "que nunca ria" morreria e três anos mais tarde, Samuel Beckett seria galardoado com o Prémio Nobel da Literatura.
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