quinta-feira, 4 de dezembro de 2008

Buster Keaton no último filme mudo (em 1965)


O génio de Buster Keaton decaiu depois da obra-prima "The General" (1925), na imagem. Ao contrário de Charlie Chaplin, Keaton - o actor que "nunca ria" - não resistiu ao cinema sonoro e afundou-se no alcoolismo e em filmes menores durante anos a fio. Ironia das ironias, o seu último grande filme consistiu num duplo regresso: por um lado, o regresso ao imaginário dos comboios que o celebrizou em "The General", por outro, o regresso à linguagem do cinema... mudo. Refiro-me à curta-metragem "The Railrodder" (1965), realizada um ano antes da morte de Buster Keaton. Esta comédia, com 25 minutos de duração, foi rodada no apogeu da redescoberta da obra de Keaton, para muitos, um actor e realizador maior que Chaplin (afirmação sempre arriscada e controversa).
Keaton tivera uns anos antes uma má experiência no filme "Film", em que contracenava com o célebre escritor Samuel Beckett. Com "The Railrodder", a experiência foi bastante mais proveitosa e positiva, uma vez que representou o regresso de Keaton ao seu universo cómico muito pessoal. Keaton aceitou o convite do realizador canadiano Gerald Potterton para, em seis semanas, rodar um filme com uma história simples: Keaton faz o papel de um londrino que deseja visitar o Canadá. Chegado ao Canadá a nado (!), Keaton encontra uma dresina amarela (pequena locomotiva a motor utilizada para puxar comboios na linha férrea) e com ela percorre milhares de quilómetros atravessando o Canadá de lés a lés .
A locomotiva está equipada com uma caixa mágica que fornece ao passageiro tudo o que é necessário no quotidiano para que possa comer, dormir, lavar-se, aquecer-se, tomar chá, lavar a roupa, caçar, tudo isto enquanto a vagonete rola pelos carris muitas vezes perigosos. Uma viagem na qual não faltam as peripécias mais rocambolescas típicas do humor burlesco dos anos 20 do século passado.
"The Railrodder" é, pois, um prodigioso exercício de comédia minimalista na esteira dos filmes mudos. Sem diálogos, um veículo rolante e um Buster Keaton magnífico que recupera, orgulhosamente, os trejeitos interpretativos que o tornaram famoso muitas décadas antes. Vale a pena descobrir este, para todos os efeitos, "road movie". Existe uma belíssima edição portuguesa (agora está barata), em duplo DVD, do filme "The General" - "Pamplinas Maquinista" que contém, como extra o filme "The Railrodder" - aqui.
Para quem quiser aguçar o apetite, pode sempre ver a primeira parte do filme de seguida (as restantes partes estão no YouTube):

2 comentários:

Anónimo disse...

Não sei demasiado, mas vou deixar aqui um brevíssimo comentário. O filme "The Railrodder" é fantástico. Foi um dos clássicos que adquiri na edição do Público dos "Grandes Realizadores". Brilhante. E quando ele perde a paciência com a mulher que salva porque ela não percebe o que deve fazer? Brilhante. O que eu me ri...

Pedrita disse...

é muito bárbaro mesmo e essa foto é genial. vi recentemente. bejios, pedrita