sábado, 13 de dezembro de 2008

O terror que vem do homem, não dos monstros

O filme “The Mist” (“Nevoeiro Misterioso”) de Frank Darabont – o mesmo que fez o celebrado “Os Condenados de Shawshank” – é uma parábola sobre o medo civilizacional. Baseado num livro do mestre do terror Stephen King, “The Mist” não é um simples filme com criaturas alienígenas. É uma profunda reflexão sobre o comportamento humano face a um perigo eminente e desconhecido. É um estudo sobre o confronto entre o racional e o irracional, a lucidez e a paranóia, num mundo onde o fanatismo religioso se pode tornar tão perigoso quanto monstros medonhos. Um grupo de cidadãos fica retido num supermercado por causa de um ameaçador nevoeiro que esconde perigos desconhecidos. No entanto, percebe-se ao longo do filme que o verdadeiro e mortal perigo se encontra entre o s humanos, incapazes de estabelecer laços de confiança e entre-ajuda. 
O desejo de sobrevivência a todo o custo provoca consequências violentas e imprevisíveis e, perante o perigo, surgem os instintos de sobrevivência mais primários. Stephen King, grande conhecedor dos mecanismos da psique humana, soube engendrar uma história que se torna profundamente assustadora, não tanto pelas tais criaturas que não se sabe de onde surgem, mas porque as reacções humanas face ao perigo desencadeiam acontecimentos conflituosos e terríveis. “The Mist” remete directamente para outros ensaios decisivos, em forma de cinema, sobre o medo do desconhecido, como os clássicos “O Nevoeiro” (1980) e The Thing(1982), ambos de John Carpenter. Mas “The Mist” vai mais longe nas consequências desse medo imanente no ser humano, bem patente no final do filme. Um final que, de tão imprevisível e angustiante, se torna num perturbante manifesto de ausência de fé e esperança na raça humana (não me alongo no final para os que ainda não viram o filme) . O realizador Frank Darabont encena o medo e o terror de forma magistral, com personagens bem definidas e o tal final chocante e apocalíptico, que contraria o habitual “happy end” dos filmes de Hollywood. Aliás, depois do murro no estômago que é a sequência final de “The Mist”, o final do filme Seven – 7 pecados Mortais” parece-se mais com um final da Disney do que com um thriller puro e duro (que é, de facto). Uma das mais fascinantes e bem conseguidas experiências de terror dos últimos anos.


2 comentários:

Anónimo disse...

Por acaso nao sou grande fa do filme. Acho que as reaccoes dos personagens dentro daquele supermercado sao pouco plausiveis e dao jeito ao avancar da historia. E como tudo se desenrola ali dentro...mmm... nao me convenceu muito. Nao sei se ja viste, mas aconselho o visionamento de um filme chamado The Living and the Dead. Foi um dos melhores filmes de terror que vi nos ultimos tempos.

The movie_man disse...

Este The Mist é realmente um dos melhores filmes de terror dos últimos tempos. Para além da critíca que Darabont nos apresenta e do estudo da paranóia que assistimos, o realizador consegue ainda criar uma hábil história de terror (adaptado da obra de Stephen King, lá está) e dar-nos um verdadeiro clima de suspense e tensão. E aquele final...