terça-feira, 31 de maio de 2011

O fim do clube de vídeo


Creio que hoje entrei, pela última vez, num clube de vídeo. Dificilmente voltarei a este espaço.

Durante muitos anos - ainda do tempo áureo do velhinho formato VHS e quando era impensável haver uma coisa chamada DVD - vi muitos filmes sendo sócio de um clube de vídeo. Numa cidade pequena como a minha, sem salas de cinema que exibissem cinema minimamente condigno, ir ao clube de vídeo era uma forma de poder, na medida do possível, acompanhar as novidades do cinema. Havia muita oferta comercial e sem interesse, mas sempre conseguia alugar aqueles títulos mais independentes e alternativos, filmes de autor, alguns clássicos, com inegável qualidade cinematográfica.

Nos últimos anos, com advento dos canais temáticos por cabo e com a internet, parece que a oferta dos clubes de vídeo entrou em completo e inexorável declínio. Há alguns meses que não entrava no último clube de vídeo existente na minha cidade. Resultado: saí enfadado ao fim de 5 minutos de vistoria à oferta disponível. Com o acesso fácil à internet e aos canais televisivos de cinema por cabo, os clubes de vídeo não tem capacidade de concorrência e de acompanhamento das novidades. Daí que a sua própria sobrevivência esteja praticamente condenada.

Os títulos que vi expostos para o cliente não passam de filmes comerciais que já passaram nas televisões, já se encontram nas bancas dos supermercado a um custo irrisório ou já estão disponíveis há muito na internet. Para quê, pois, gastar 2 euros para alugar um DVD? Das centenas de títulos, apenas vislumbrei dois ou três que seria capaz de alugar, mas este facto não era motivo suficiente para me fazer sócio. Em suma: os clubes de vídeos, tal como os conheci há muitos anos atrás, estão em fase progressiva de decadência até à morte definitiva. Creio que hoje seria já impossível alguém dizer que formou o seu gosto cinéfilo num clube de vídeo moderno - como disse em tempos Quentin Tarantino quando trabalhou, na sua juventude, numa clube de vídeo.

É o resultado da evolução dos tempos que impõem novas formas de consumo cultural e de regras de mercado. Para o bem ou para o mal.

6 comentários:

Sheron Neves disse...

Muuuuito bom o teu texto. Tamb´me me sinto assim qndo visito uma locadora (conforme chamamos no Brasil). Ah os áureos tempos em que você alugava um VHS para o final de semana, que sensação deliciosa, quantas promessas naquela caixinha. Hoje o lugar que me faz sentir mais próxima desta sensação é numa FNAC ou algo do gênero. mesmo assim não é o mesmo.Fico um pouco triste pelas novas gerações..
Incluo aqui o link p dois artigos meus q falam de um tema bem próxima a este. Acho que irá gostar:
http://sher-meditationsinanemergency.blogspot.com/2011/03/tv-em-tempo-real-versus-dvd-parte-2.html

Cumprimentos!
Sheron.

Francisco Maia disse...

Então peço uma opinião sobre o assunto.

Há muito tempo que ando a tentar convencer os meus amigos que a única saída viável para um clube de vídeo nos dias que correm seria a personalização do atendimento.

Se eu vou a um clube, tem de ser o mais pessoal possível. Ter colecções da Criterion. Os empregados têm de saber tudo que é cinema, saber sugerir e aconselhar mediante o gosto do cliente.

Um cliente quer entrar e dizer: "Gosto de terror asiático com anões ruivos e romances impossíveis" e ter de imediato duas ou três opções na mão.

Que achas? Salvação viável?

Unknown disse...

Sheron: compreendo bem o seu texto.

Francisco: claro que essa seria a situação ideal - haver um atendimento personalizado e uma correspondente diversidade e qualidade na oferta (nunca vi um clube de vídeo com filmes da Atalanta ou da Midas, quanto mais da Criterion!). Mas não é isso que acontece. Na maioria dos casos, as pessoas que estão atrás do balcão percebem tanto de cinema como eu de lagares de azeite.

Anónimo disse...

lagares de azeite? mt bom !

Spark disse...

Costumo ir ao Cineteka, que além dos filmes mais comerciais, tem uma grande variedade de filmes alternativos e independentes, além de estarem a repor os clássicos. O espaço está interessante, já que fizeram também restaurante e uma zona de utilização da internet. Ainda bem que ainda existe gente que gosta de cinema e ainda consegue gerir espaços como este.

http://www.cineteka.com/

Anónimo disse...

Acompanhei os clubes de vídeo desde criança, e a eles devo a minha formação enquanto cinéfilo. Os dois clubes de vídeo de Portalegre já fecharam, o último há um ano, e pelo menos fico com a consolação necrófaga de os ter "limpado" a preços irrisórios, com a conivência dos donos, claro...

Não sou anti-pirataria, mas também sou contra a ditadura dos que acham que é obrigatório ver todos os filmes desssa forma, que quem ainda gosta de ir ao cinema é um tolo. Nem 8 nem 80...