sexta-feira, 23 de novembro de 2007

Da violência estilizada


O tema da violência no cinema é um tema recorrente e polémico desde as primeiras experiências com imagens em movimento. Há estudos académicos e livros teóricos que abordam ao detalhe a relação entre a violência e a imagem. 1971 foi um ano particularmente fértil na produção de filmes sobre a violência: “Dirty Harry” de Don Siegel (com o implacável polícia interpretado por Clint Eastwood), “A Laranja Mecânica” de Stanley Kubrick (um dos realizadores que mais explorou a violência das imagens) e “Straw Dogs – Cães de Palha” do mestre Sam Peckinpah. Os dois últimos filmes foram banidos e censurados ao longo de décadas, inclusive, em países ditos liberais como a Inglaterra e os EUA pela sua violência explícita e estilizada. “Cães de Palha” é um impressionante manifesto sobre a violência, sem moralismos facciosos. É a história de um homem comum, um perturbante Dustin Hoffman, que vai viver para o campo com a sua mulher no intuito de encontrar sossego para o seu trabalho. Acontece que a partir de dado momento, os habitantes da aldeia invadem o território do casal e inicia-se uma incrível espiral de violência gráfica e realista (como a sequência da violação, à data altamente polémica e inusual). É também um filme sobre como um cidadão comum reage sob extrema pressão psicológica face a situações de brutal adversidade. Um estudo sobre o lado negro da mente humana. Sam Peckinpah, decididamente, foi o cineasta que mais influenciou realizadores como Quentin Tarantino ou Robert Rodriguez, não só como este filme, mas também com aquele que realizou dois anos antes: "A Quadrilha Selvagem", o western ultra-violento que "acabou com a mitologia nobre da tradição do western", nas palavras de John Wayne.

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