O filme tem o título português "Cenas de Natureza Sexual" (2006) e é realizado por um desconhecido Ed Blum, numa produção britânica independente. Os actores cobraram um cachet simbólico e o filme vive muito à conta do argumento. Teve uma estreia nacional discretíssima. Mas vale a pena deitar-lhe os olhos em DVD. A história aborda as questões eternas do amor, do sexo, da felicidade e da (in)fidelidade. Tópicos que fazem lembrar um determinado realizador... Ah! Woody Allen, claro. "Cenas de Natureza Sexual" não tem a desenvoltura prodigiosa e a inteligência melodramática das comédias existencialistas do autor de "Hannah e Suas Irmãs", mas acaba por não envergonhar a profissão de argumentista. Com um subtil humor (por vezes cínico) na abordagem dos temas em questão, com interpretações muito razoáveis e uma realização segura, o filme vive e respira encantamento.
O filme passa-se quase todo num parque público, no pico do Verão. Encontros e desencontros de pessoas comuns com desejos comuns, terrenos e imediatos. A menina do cartaz do filme está a ler um livro. Pose atrevida, pernas lascivas. Ao lado encontra-se um homem que, disfarçadamente, olha obcecado para as... cuecas da adolescente. A mulher repara no olhar insistente do marido e acusa-o: "para onde estavas a olhar?". O marido, embaraçado, responde a balbuciar: "hum, nada de especial, hum, estava a olhar para aquela moça que está a ler um livro interessante". A mulher olha e lê: "L'Etranger", Albert Camus. O marido finge que conhecia o livro, mas na realidade nunca tinha ouvido falar dele.
Repare-se no enquadramento da coisa: uma adolescente, estendida no esplendor da relva, pernas abertas e a ler, no original francês, "O Estrangeiro" de Camus! Ele há ironias da vida que só um argumentista inspirado poderia imaginar
1 comentário:
este filme escapou-me. mas promete. "O estrageiro" de Camus é um dos meus livros da vida.
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