sexta-feira, 24 de abril de 2009

A angústia


Ontem, num debate sobre o livro e a leitura (no âmbito da comemoração do Dia Mundial do Livro), um orador disse que a maior angústia de um leitor apaixonado é a de ter consciência de que, por mais anos que viva, jamais conseguirá ler todos os bons livros que gostaria de ler. Esta sensação é tanto mais verdadeira quanto entramos numa grande livraria (em dimensão e qualidade) e nos deparamos com dezenas (centenas, milhares) de bons livros que ansiávamos ler mas que, por factores económicos e de falta de tempo, nunca conseguiremos ler. Se acontece isto com os livros, acontece comigo, exactamente na mesma proporção, com a música e o cinema. Entrar no site da Criterion é uma angústia porque perante tamanha qualidade da oferta de filmes em DVD, dificilmente conseguirei adquirir todos os que gostaria.
O mesmo quando entro na Fnac e me deparo com o suculento escaparate de DVDs clássicos e de autor. No campo da música, apesar do facilitismo de acesso à informação na Internet, a angústia prevalece porque não há tempo para ouvir tudo o que gostaria de ouvir e conhecer (tenho largas dezenas de discos à espera de lhes por os ouvidos em cima). Em suma: se quiséssemos ter satisfação plena em relação às coisas da fruição do espírito, teríamos de viver muitas vidas. E mesmo assim, ficariam milhares de livros por ler, milhares de discos por ouvir, milhares de filmes para ver. Aprendamos a viver com angústia, portanto.

2 comentários:

Gema disse...

Eu também sofro da mesma angústia - em relação aos livros e filmes, não tanto da música.
Mas enquanto viver e puder dispender o meu tempo, vou tentando encurtar as longas listas dos que gostava de ler e ver ;)
Bjs

Rolando Almeida disse...

Confesso que não sinto qualquer angústia por uma razão especial. Perco algum tempo a procurar bons filtros, como este blog, que me vão encurtando caminho directamente ao que vale a pena ouvir ou ler. Costumo pensar que melhor que ler muitos livros é aprender com os poucos lidos a pensar pela própria cabeça. Não creio ser necessário ler e ouvir tudo o que há de bom para ler e ouvir. Daqui a 100 anos, por exemplo, será certamente importante ouvir uns 2 discos dos Sonic Youth para compreender o rock urbano, mas não é necessário ouvir todo o rock urbano, a menos que se pretenda fazer uma especialização.