domingo, 15 de janeiro de 2012

O horror em estado puro


Há muitos filmes sobre serial killers mas há poucos como perturbador "Henry, Retrato de um Assassino" (1986) de John McNaughton. Vi-o no final da minha adolescência e ainda hoje tenho cravadas na minha memória algumas das imagens do filme, a frieza gélida que toda a película transpira, o horror banal levado a cabo por um homem aparentemente banal mas alheio a quaisquer sentimentos (baseado nas confissões de Henry Lee Lucas, um dos mais prolíficos assassinos da história dos Estados Unidos). Um filme que se tornou rapidamente num 'cult movie' por todos os festivais que passou e granjeando uma legião de fãs. O seu realizador, por seu lado, nunca mais fez um filme decente...
Henry divide o apartamento com Otis, um funcionário de uma estação de serviço que é um ligeiro retardado mental. Os dois conheceram-se na prisão, onde Henry cumpriu pena por ter assassinado a sua mãe e Otis por ter morto um homem durante um assalto. Um dia, Becky, a irmã de Otis, instala-se na casa dos dois e deixa-se apaixonar por Henry, mas este, apesar de a acolher com agrado, é incapaz de corresponder ao seu amor. Os três acabam por se unir num mundo de crueldade e depravação sem motivação aparente...
"Henry: Portrait of a Serial Killer" é um filme completamente amoral em sem rodeios, é quase um documentário sem tomar partido de nada nem de ninguém, um misto de violência e sinceridade assente numa realização livre de artifícios ou elementos decorativos, que traça o retrato de um homem cuja natureza predadora força a viver e a agir de acordo com o seu íntimo mais violento; alguém que, em última instância, não passa de um produto nefasto de uma sociedade enferma capaz de gerar as maiores aberrações.
A realização de McNaughton, a música, a montagem e a interpretação assombrosa de Michael Rooker no papel de Henry, tornam "Henry, Retrato de um Assassino" um verdadeiro marco dos filmes de terror sem piedade nem dó. Conta-se que no final da estreia do filme, na qual estava presente o realizador, um espectador profundamente perturbado com o que tinha visto, foi ter com John McNaughton insurgindo-se contra a violência do filme dizendo: “o senhor não pode fazer isto: deixar um assassino em série escapar desta maneira, sem punição, sem resolução moral, sem castigo!”. Ao que o realizador respondeu: “Bem, pois foi o que fiz”.
E é esta frieza absoluta perante o mal que incomoda tantos espectadores, tanto mais que os acontecimentos perturbantes do filme são baseados em factos reais. É que são raros os filmes nos quais o crime povoe todo o filme e não haja o respectivo castigo, tão habitual em produções de Hollywood (mesmo em filmes de terror mais alternativos). Neste filme, castigo é uma palavra proibida. É a banalização do mal absoluto que se mostra, o instinto mais animalesco e macabro, tal como ocorre na vida real. Uma verdadeira viagem aos confins negros e violentos da mente humana.
Para quem ainda não viu e quer atrever-se a ver, pode descarregar o filme neste sítio ou, pelo menos, ver o trailer.

2 comentários:

Hugo disse...

Vou aproveitar para baixar e assistir.

É um daqueles filmes que tem curiosidade há anos e ainda não conferi.

Abraço

My One Thousand Movies disse...

É um dos meus filmes de culto. Também levei algum tempo para conseguir vê-lo, até que consegui alugar a vhs. Depois acabei por comprar o dvd por importação.
Não é por acaso que tenho uma foto do filme no cabeçalho do meu blog.