Hoje é um dia triste para a comunidade cinéfila (e não só) da internet e da blogosfera: as autoridades norte-americanas fecharam o sítio Megaupload, um dos mais conhecidos e populares servidores de partilha de informação à escala global.
Esta medida afecta muitos milhões de utilizadores da internet, entre os quais o criador do fantástico blog My One Thousand Movies.
Este blog, único a nível nacional e até internacional, disponibilizou 2700 filmes ao longo de quase 4 anos de intensa actividade. 2700 filmes de irrefutável qualidade artística, o melhor do melhor que a história do cinema nos deu estava neste sítio que foi um espaço de partilha e de fruição de filmes clássicos, de autor e raros. Mas havia muito mais: filmes representativos de todas as décadas da história do cinema, de variadíssimas cinematografias mundiais (portuguesa incluída), com sinopse detalhada para cada filme apresentado e um resumo vídeo do YouTube. E ainda muitos títulos que nem sequer têm edição nacional em DVD.
Ao longo destes anos, muitas centenas ou milhares de pessoas puderam conhecer filmes e cinematografias através do MOTM, numa espécie de processo de formação cinéfila online que muito enriqueceu, sobretudo, as novas gerações de amantes da 7ªArte. Eu próprio, enquanto cinéfilo, conheci e vi muitos, muitos filmes que o MOTM tinha no seu sítio.
Em suma, uma verdadeira mina de ouro e um serviço público irrepreensível para cinéfilos que agora foi completamente dizimada por causa desta medida.
Em segundos, os 2700 filmes disponíveis online, desapareceram como que levados por um tornado de leis que querem defender os "direitos de autor" de uma minoria e beneficiar economicamente deste encerramento forçado (e se as propostas de leis antipirataria PIPA e SOPA foram aprovadas nos EUA, é certo que a liberdade de informação na internet, tal como a conhecemos, vai ser fortemente abalada e até destruída).
A morte do MOTM constitui, pois, uma verdadeira perda para o ideal de liberdade da partilha da informação e da circulação do conhecimento nesta nova era digital.
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Por isso, resta-me agradecer, com enorme respeito e sentimento de gratidão, o trabalho incansável do Francisco Rocha, autor do My One Thousand Movies, pela sua paixão pelo cinema, pela sua abnegação e pela forma como enriqueceu as vidas de muitas pessoas com o seu labor diário.
Como forma simbólica de homenagem, deixo aqui ao Francisco o trailer do seu filme preferido de sempre. Eu sei que ele já viu muitas vezes este trailer e este filme, mas serve apenas de reconforto e de estímulo para continuar, quiçá por outra via, a demonstrar o seu amor pelo cinema. Obrigado!
15 comentários:
Muito obrigado Victor :(
Não será demasiado cedo para lhe "celebrar exéquias"? :)
O Megaupload costuma ser bastante incisivo sempre que lhe movem processos jurídicos...
Eu ainda acredito na ressureição do My one thousand :)
O que o Chico faz é serviço público
Sam: desta vez o caso é mesmo sério e definitivo, não há dúvidas.
Loot: subscrevo.
A sério? Já começo a ver alguns recuos por parte de instâncias legislativas norte-americanas...: http://noticias.r7.com/tecnologia-e-ciencia/noticias/senadores-dos-eua-abandonam-lei-antipirataria-apos-protestos-na-internet-20120119.html
Acredito, como o gabriel, que o My one thousand movies ressuscite. E acho que essas batalhas ditas defensoras dos direitos autorais com os sites de downloads na internet, só fazem com que os filmes grandes sejam mais vistos e os filmes pequenos, menos vistos. Enfim, é de uma hipocrisia muito grande, porque só servem os interesses das grandes corporações. Fazer subir os ganhos de filmes já por si lucráveis até ao irrisório completo... a diferença entre a nova chafurdice do Bay estrear em 3500 salas ou 5000.. Desculpem o desabafo, até porque provavelmente é uma visão distorcida da realidade, mas a coisa incomoda-me..
É lamentável tudo isto que sucedeu do caso do Megaupload. Ver o "cinemateca MOTM" do Francisco assim arruinada de um momento para o outro é tremendamente uma desmoralização que se abateu sobre ele.
Torço para que as condições se alterem e lhe surja novo meio para estar o quanto antes no activo.
Ele promove a mais profunda cultura cinéfila!
Disso ninguém se engane.
Vários autores comunicaram a sua discórdia perante a SOPA, aqueles que a lei pretende mais proteger.
Acredito no regresso do megaupload, mas temo que os 2700 filmes do Chico alojados lá se percam. Temos de esperar para ver.
Eu nem faço downloads de filmes que estão no cinema, e em termos de filmes recentes o Chico nem deve ter lá nenhum a partir de 2000. Talvez até nem tanto.
Aposto que nada no My one thousand incomoda a indústria mas é daquelas coisas que pagam todos quando há medidas destas. E claro perdemos mais nós, afinal de contas não podemos resolver o assunto indo ao cinema e em alguns casos nem comprando o dvd.
Penso que o MOTM vai ter de rever onde aloja no futuro os seus conteúdos. Deve pensar nisso depois de passar esta fase conturbada da ciber-guerra. Talvez se justifiquem armazenamentos duplos...
Loot: pelo menos até 2007, tem lá vários títulos... ainda neste Janeiro entraram uma série deles de 2000 para cá... eheheh!
Ups...
De qualquer das maneiras certamente que os mais recentes serão filmes fora do circuito mais comercial :P
Porquê as aspas nos "direitos de autor"? E de 'uma minoria'?? Essa minoria são... os autores, correcto?
Ou não terão os autores direito a ser pagos pelo seu trabalho, como qualquer outra pessoa?
Claro que os autores têm direito a ser pagos... agora não venham é mandar areia para os olhos das pessoas e dizer que 100% do dinheiro que rende um CD, um DVD ou um Livro vai para os autores quando na realidade se calhar nem 10% do dinheiro gerado chega à mão dos mesmos...
Basta ver os inúmeros casos de artistas que disponibilizam gratuitamente as suas músicas para quem as quiser...
Pois, estas medidas não são, certamente, para salvar os pequenos criadores. Há muitos músicos pop consagrados que estão contra o fecho do Megaupload e contra qualquer censura na internet no que se refere à partilha de ficheiros (até o Obama é contra!), porque até as grandes estrelas musicais já perceberam que, quer queiram quer não, a principal fonte de rendimentos do seu trabalho são os espectáculos ao vivo e o merchandising. A venda de discos é residual e quem leva a maior fatia dos lucros são sempre as editoras. Porque é que a Universal, uma das grandes editoras mainstream, foi uma das principais forças de bloqueio à partilha de ficheiros? Se esta medida radical tivesse tido lugar há uns 10 anos atrás, ainda poderia ter algum efeito. Nos tempos que correm, para além da indignação, já não surte efeito porque igual ao Megaupload há dezenas de outras plataformas de partilha de ficheiros. Censurar a livre circulação de informação na internet, hoje em dia, é absurdo e praticamente impossível (e contraproducente, a avaliar pelos ataques informáticos em jeito de retaliação). Já repararam que se as leis antipirataria PIPA e SOPA forem aprovadas até o Youtube (entre muitas outros sites similares) corre o risco de fechar?!
Uma bela homenagem a um fantástico blog. Abraço
Eu até dou de barato que a música pode ser uma excepção, há os concertos, etc. Mas quem é que vai ao cinema ver um filme depois de o ter sacado e visto à pala? Ou um livro, em que a pirataria tb. está a crescer? É óbvio que os autores e as "malvadas" editoras vão ter que fazer alguma coisa.
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