quinta-feira, 19 de agosto de 2010

O cinema e a publicidade


No filme "Estranha em Mim" (2007), de Neil Jordan (na imagem), com uma Jodie Foster que pratica a justiça pelas próprias mãos, há uma cena numa carruagem de metro na qual dois jovens negros, manifestamente delinquentes, acossam um jovem que está a ouvir música num iPod. Perguntam:
- "Meu, que estás a ouvir?!"
- "Radiohead".
- "Radio... quê?"
- "Radiohead!"
- "Não interessa, passa para cá o iPod!"

Já não sei que filme vi o outro dia cujo adolescente ostentava uma t-shirt dos The Strokes. No "Exterminador Implacável 2", o actor Edward Furlong envergava uma t-shirt dos Public Enemy. Estas opções não são inocentes nem casuais. Muitos outros exemplos existem. Na linguagem da publicidade e do marketing, chama-se a isto "product placement", ou seja, uma estratégia subtil mas intencional de colocar produtos comerciais reais (marcas de todo o tipo) em filmes, videoclips, conferências de imprensa, etc. O filme "O Náufrago" (ver post mais abaixo), surgiam constantemente referências directas à companhia de distribuição FedEx e a outras marcas de consumo.
Quando se vê um personagem de um dado filme beber 7Up ou a comer chocolates M&Ms, a ouvir música numa determinada marca de aparelhagem de som, a lavar os dentes com uma dada marca de dentífrico, ou usar um cartão de crédito específico, estes produtos não estão lá por acaso. As marcas pagam, e muito, para que os seus produtos surjam nos filmes (nem que seja por breves segundos) como forma subliminar de incutir no espectador produtos comerciais.
A série James Bond regista um manancial infindável de "product placement" (publicidade a bebidas, relógios, passando pelos inevitáveis automóveis).
Pegando de novo no exemplo do filme "Estranha em Mim", constatamos que é um claro exemplo de nova estratégia de "music placement". O miúdo ouvia no seu iPod os Radiohead porque o contrato entre os produtores do filme e a editora do grupo (ou a respectiva agência promocional) assim o quiseram. O negócio e o lucro imperam nas escolhas. Simples.

7 comentários:

djamb disse...

O product placement é uma das técnicas favoritas das marcas, quando têm orçamento para gastar. Curiosamente, e ao contrário do que se pensa, a participação da FedEx no "Cast away" teve um custo de... zero dólares! Isto porque a equipa de produção precisava de uma empresa real para incluir na história e a empresa, pelo seu lado, procurava uma boa estratégia de comunicação para divulgar os seus serviços. Em termos de clausulas contratuais, não está claro o que foi negociado mas, mesmo assim, não há dúvida que a empresa se tornou numa referência e o filme num óptimo exemplo de p. placement, visto que não é desgastante para os espectadores / consumidores.
Bom post!

Micael Sousa disse...

Apesar de ser contra a selvajaria do neoliberalismo e dos mercado sem regulamentação, aqui parece-me estar um caso bicudo. Não poderão ser essas manifestação publicitárias modos de expressão artística e que podem ser essências para realizar a ideias dos criadores desses filmes? Não poder escolher uma marca é também um acto de atentado à liberdade.

Excelente texto este, faz-nos levantar questões pertinentes!

DiogoF. disse...

às vezes é win-win x)

::Andre:: disse...

Nem sempre.. Duvido que os Sonic Youth ou a editora pagassem o que quer que seja para que uma das personagens do Virgem aos 40 Anos usasse uma tshirt deles. Ou as extintas Electrelane para que fossem mencionadas no recente Lo Sono L'Amore. De qualquer maneira, gostei muito de ler.

vasco disse...

the strokes é no Transformers..o shia usa a tee shirt!

The Occult disse...

No "Marte Ataca" aparece uma t-shirt, se não estou em erro, dos Alien Sex Fiend. Será o humor negro de Tim Burton ou outro caso de product placement? Embora, a meu ver, os Alien Sex Fiend não sejam propriamente uma banda comercial, julgo que já fizeram bandas sonoras para jogos de computador e talvez já estejam a usar estratégias de promoção diferentes das dos tempos do "Smells Like Shit".

Anónimo disse...

No filme "Unknown" de 2011, a marca
"Mercedes" aparece quase tantas vezes como o 23 no filme "número 23"...